domingo, 29 de setembro de 2024

Ernesto,o Libertino

 

Esta expressão “ libertino” adquiriu ,ao longo da História,uma conotação sexual,mas desde o inicio ,quando foi criada,por Calvino,ela teve este significado primordial de repressão àquele que tem liberdade no sexo(e na vida).

Mas ela não se refere a isto,principalmente a isto:se destina àqueles que não se diluem nos coletivos,que são muito comuns na história.

É claro que tem um reflexo na sexualidade,mas a sua essência é a liberdade.E liberdade significa viver pela sua cabeça,por suas escolhas,fazendo o seu caminho e lutando para que todos tenham esta condição.

Os libertinos,que nasceram no século de Calvino,o XVI,mas que tiveram o seu ápice no XVIII,notadamente na Itália,representam uma primeira “ libertação” da religião:em vista das inovações cientificas da Idade Moderna ficou claro que era bastante difícil encontrar Deus nesta “ nova” natureza.Até um “ crente” como Pascal,criou o conceito de “Dieu Caché”,o “Deus absconso” ou... escondido,em algum lugar do Cosmos.

Sendo assim e estando claro para alguns a improbabilidade de encontrar a base do controle da religião,tomaram o caminho de priorizar a  sua consciência e não a consciência de todos,no coletivo.

O libertino é uma antecipação do “ ueber-mensch”,o “ além-do-homem” de Nietzsche,o “ transvalorador de Valores”.

Eu não sou isto,mas não ofendendo as ordens moral e jurídica da sociedade ,faço o que eu quero e luto para que todos tenham  esta liberdade.

Sei que não é fácil para outros extratos sociais ter esta liberdade,mas a luta é de cada um ,com a ajuda de outros libertinos como eu.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Ernesto,o marginal

 




As fotos acima representam a figura de August Landssmeyer o homem que não fez a  saudação nazista.Evidente que olhando assim uma foto não dá para acreditar totalmente na sinceridade do homem.Mas no caso dele  sim,porque ele foi retaliado pelos nazistas,quando viram este foto.

Eu a uso aqui pois me sinto bastante identificado existencialmente,na minha maturidade,com este gesto de inconformismo.

Eu me tornei um “herói” marcusiano,filósofo que afirmou em 58, que diante destes totalitarismos que marcam a nossa época quem ficou como o portador da sinceridade,da verdade e da honestidade,foi o “individuo concreto vivo”(no dizer de Marx em “A ideologia Alemã”).

Esta é  a verdade:o que sobrou destes fracassos do século passado foi a ação de pessoas que mantiveram valores de coerência , “esquecidos” pelo movimento da história.

O cotidiano salvará a humanidade?É uma esperança pelo menos.O cidadão anônimo,correto.

Eu me incluo nesta trivialidade cotidiana individual.Eu sou sim um marginal,no sentido de que não me deixo diluir mais nos coletivos:ainda que na dúvida,eu fico com um pé atrás necessário em frente a estas “ propostas” tonitruantes de certos movimentos políticos.

À tentação de resolver tudo da maneira mais fácil,oponho a razão,o cuidado,ainda que isto seja considerado como manifestação de indiferentismo face ao sofrimento atual de muita gente.

Mas  eu não vou trocar nunca mais a violência(do capitalismo?)por outra,qualquer que seja ela.E se depender de mim não vai acontecer no Brasil(bem como ,espero,em outros lugares).


 

 



quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Ernesto,o incorruptível

 

Eu sou inteiramente infenso a qualquer forma de corrupção.Como todo mundo,desde há 10 mil anos,sou um ser errante e como tal cometi e cometo muitos erros,mas o maior prejudicado destes erros fui sempre eu,não os outros.

Ouvi,de meu pai stalinista,que a corrupção tinha a ver fundamentalmente com a burguesia e o modo de produção capitalista,mas eu cansei de ver do “ nosso” lado também.

De modo que me enganar hoje ,com promessas vãs e repetidas não é mais possível e diante deste reconhecimento,isto é,do reconhecimento de que não há muita diferença entre os “ revolucionários” e os “ reacionários”,naquilo que é essencial,desconfio permanentemente destes heróis,que dizem uma coisa na sua frente e pelas costas fazem outra.

Também repudio estas ideias de que um incorruptível é alguém que não tem mulher ,que não vive a vida,como o Imperador Augusto e Robespierre.

No filme de Andrei Wajda sobre a Revolução Francesa é exposto um encontro que nunca aconteceu entre ele e o corrupto Danton,no qual este ultimo o acusa de ser um castradão,sem conhecimento da vida.

Como se houvesse uma relação real entre corrupção,desvio e vida.Só o há se nós aceitarmos o conceito de Nelson Rodrigues “ a vida como ela é”.

Só que para o revolucionário,para aquele que tem compromisso com a mudança e a emancipação da humanidade, a vida como ela é,é para ser mudada,transformada ,num processo de luta constante.

Não existe este critério de aceitar as coisas como são.Isto é uma reinterpretação de novo de Nelson,quando ele fala sobre o “idiota da objetividade”(Nelson era kantiano e não sabia):o revolucionário é movido mais e mais pelo realismo da vontade.Ainda que as chances de mudança não estejam dadas ele deve expressar o seu pensamento.

Tal postura perpetua o conceito final da vida de Darcy Ribeiro: “defendi os índios e perdi;defendi as mulheres e perdi;defendi os pobres e perdi,mas eu não queria estar no lugar de quem me venceu não”.

Esquerda é incorruptível.

domingo, 22 de setembro de 2024

Ernesto, o fundamentalista

 

Uma vez, um jumento dirigente comunista disse que eu era fundamentalista porque não admitia certos desvios que eu via já no PCB. Ele disse que eu era “muçulmano”.

Desde pequeno, eu aprendi de meu pai (stalinista) que corrupção era coisa da burguesia (ele também não era santo). Mas eu vi este “comportamento” nas hostes dos heróis da esquerda, sob alguma justificativa canhestra e sofisticada dessas aí.

Mas que expressava (e expressa) a covardia, fraqueza e desonestidade natural de não poucas lideranças da vanguarda vermelha.

O que eu aprendi(de meu pai stalinista) é que os socialistas se ajudavam (e ajudam) e evitam colaborar com estas“ práticas do antigo regime”.

Não obstante, não foi isto o que eu vi lá e por isto me retirei orgulhoso desta farandola.

Eu sou fundamentalista, não no sentido religioso (ouviu jumento), mas no filosófico, seguindo o pensamento essencial de Aristóteles, que os marxistas não leem (mas Marx sim) em função do seu cientificismo e abandono do pensamento filosófico.

Busco sempre a essência das coisas, a finalidade e a funcionalidade das coisas, segundo o sistema de Aristóteles, que faz uma classificação em sua “metafísica”.

E aí eu não me desvio deste fundamento, de modo algum.

Então, eu tinha que parar de jogar botão no chão da sala para ouvir da honestidade dos comunistas. Corria para ouvir guantanameira no rádio, para ouvir o verso “yo soy um hombre sincero” e eu continuo assim. Continuarei assim.

Sou fundamentalista filosófico. Cada pessoa tem um conceito que a define: o tímido, o esperto. O meu é este.

 

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

A decisão de Macron III

 

Aprofundando os dois artigos anteriores, faço-o porque vejo nestes acontecimentos na França, possibilidades novas de renascimento real do movimento social.

Depois de muito tempo, a esquerda volta a ser fiel da balança de um fato político importante e se habilita, de fato, a ser governo, como era o caso aqui. A explicação de por que não foi, eu já dei no artigo anterior.

Agora, prescrutar estas possibilidades é que cabe realizar.

Pois, há que se saber aproveitar este momento, tirar dele as lições segundo uma premissa de renascimento, ou seja, de voltar para o proscênio da política e da história, em meio a esta crise global, que caracterizo como de acefalia: ninguém se responsabiliza pelo planeta e não há propostas ou intenção de atacar os problemas.

Não sou saudosista e não vou cair nesta de sentir saudade do âmago da guerra-fria, mas naquele tempo, pelo menos, se discutia e alguém assumia a responsabilidade pelo que se passava diante dos olhos.

Como penso que ainda vivemos o rebotalho da guerra-fria, não serei nostálgico, mas houve mudança para pior depois da queda do socialismo e do muro.

A resignação é total e eu ponho este conceito à frente da falta de ideias porque  este vácuo é onde não há nenhum interesse em começar a se debruçar sobre os problemas e, a meu ver, isto ocorre em razão de se ater ainda aos modelos explicativos do passado.

As pessoas não entendem o que faço aqui nos meus blogs, no plano da política: estou há anos tentando convencer a todos de que a queda referida não foi falta de vontade ou esforço e sim em função de que a teoria não tinha base e precisa ser substituída por uma concepção nova.

E entendo que, como já disse, tal renitência, empedernimento é devido ao egocentrismo da esquerda, que não admite os erros e as derrotas.

Aliás, mais as derrotas do que os erros. Os erros são sempre relativizados e as derrotas não admitidas, a partir de uma premissa falsa de que ela tem a verdade científica definitiva e que, portanto, é só se atualizar, quando, na verdade, ela perdeu a batalha da História, da Política e da Teoria e necessita, como qualquer movimento, se renovar.


 

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

A decisão de Macron II O futuro da esquerda Começa no passado

 

Continuando a análise da decisão de Macron(de escolher um representante da direita[apesar de a esquerda o ter ajudado e ter maioria]),se nós observarmos bem,o Presidente usou  a esquerda:vendo que ia ficar acuado(pela direita)e sabendo da força da esquerda,que não podia ficar acuada também por um governo de direita,marcou as eleições.Quando o perigo de perder açulou a esquerda,ela se mobilizou na bacia das almas e garantiu um avanço do Presidente.Mais do que isto,lhe garantiu a continuidade do poder.

Quando era hora de Macron retribuir ele volta-se para a  direita.É o esquema de sempre,desde 1930:a direita se vale dos erros da esquerda para poder chegar e ficar no poder.

Mas desta vez os erros da esquerda apontam possibilidades para o futuro,porque têm a ver com erros do passado,que podiam ter sido evitados,garantindo a subida da esquerda ao poder.

Qual foi este erro?É uma questão de fundo:a sociedade francesa,a mesma que votou na esquerda,para o legislativo,não faz nada para impedir a direita,porque embora reconheça o papel histórico da esquerda ,a sua média ética é mais próxima da centro direita e não raro da direita,que cola com ela.

É semelhante às razões a que aludi que impediram o sorpasso  italiano:a sociedade como um todo não abraçou o comunismo democrático italiano do PCI,para não isolar o Papa e o Vaticano.

Na França é diferente,mas ,de outro lado,é igual,porque a sociedade não encampa os radicais,a menos que eles demonstrem apego permanente à democracia,admitam sempre a alternância de poder e mantenham,depois do processo de mudança ter iniciado,os valores da sociedade democrática,quais sejam:respeito à propriedade e às liberdades humanas universais.

O caminho está aberto para um renascimento da esquerda,na Europa Ocidental,se estes valores forem incorporados  comprovadamente ao campo “ progressista”.


 

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

A decisão de Macron

 

A decisão do presidente da França de nomear alguém da direita para o cargo de primeiro ministro,apesar da vitória da esquerda não me surpreende de forma alguma.

A opção histórica de escolher a esquerda é sempre radical.Se esta escolha não s e apresenta de uma maneira bem fundamentada não adianta porque o absurdo de escanteá-la não vai chocar ninguém.

Historicamente, a esquerda existe para mudar ,mas este processo não se faz de uma hora para outra e quando não fica claro para o eleitor que esta mudança virá ,ele prefere deixar a esquerda onde ela sempre  esteve :como auxiliar das mudanças;como um peso a favor da democracia ,nos momentos de perigo.

A esquerda,ao longo do tempo,funciona como Trump no partido republicano:é(era)só para manter o elefante à direita.A esquerda é só para manter a democracia ,mas para chegar no poder e mudar é uma dificuldade,que nem os melhores comunistas italianos conseguiram fazer.

A esquerda ou cai na voragem do tempo e admite que só s e pode mudar aos poucos,dentro da alternância de poder, ou ela vai ficar neste impasse ad infinitum .

Quando ainda existia o PCI,a idéia de alternância de poder foi considerada como algo a se incorporar na tradição democrática comunista,mas havia pessoas que se preocupavam  com a descaracterização do Partido,isto é,com sua radicalidade .

No meu modo de entender ,porém,não tem saída:ou se mantém a radicalidade no movimento politico na alternância (criada pelos liberas)ou não há como a  esquerda  ganhar confiança por parte do eleitorado.

As minhas razões para explicar porque os comunistas italianos não deram o sorpasso  eu vou tratar em outro texto,mas  de modo geral ,o padrão do fracasso é este,é esta moldura explicativa aí.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Dou a mão à palmatória II

 

Os procedimentos que o governo brasileiro tem feito contra a Venezuela me deixaram mais tranquilo,porque se o Brasil não agisse assim,a direita cresceria novamente.

Noticias alvissareiras dão conta de que há divisões do outro lado.

Se houvesse ambiguidade no caso do país vizinho era possível a ela encontrar um meio de união,novamente acusando a esquerda de querer uma ditadura.

Penso que não deveria haver reconhecimento do governo Maduro e o Brasil deveria continuar as relações com a Venezuela,dentro das necessidades dos dois povos:comerciais,culturais e assim sucessivamente,mas a pressão deve prosseguir indefinidamente para que a democracia se restabeleça naquele país.

Talvez desencadear um processo de  transição,a partir da constatação de que a eleição de Maduro não tem base.

Mas mesmo que esta prova não seja feita ,o discurso tem que permanecer,no sentido de uma recuperação geral do papel moderno da democracia.

Esta á a luta que a esquerda tem que iniciar agora,porque esta é a tendência da História e principalmente para construir um caminho de emancipação real do povo.

O poder para o povo,como dizia Marighella,não é dar-lhe armas,mas insistir em propostas fundamentais,hoje esquecidas,como a  educação.

Depois que Brizola e Darcy morreram não se fala mais neste item fundamental de uma plataforma de esquerda.

Alias com esta polarização,nem o Brasil mais é objeto da politica,mas um dos lados ou os dois lados ,que são considerados por cada lado ,nesta disputa inócua(mas perigosa) e  que atrasa.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

A centro-esquerda

 

Todo mundo sabe que defendo uma centro-esquerda,no poder,para evitar a continuidade desta inócua polarização,que nunca devia ter se instalado num país como o Brasil.

Por centro esquerda entendo um movimento que prossiga na questão social(que mal começou a ser resolvida)e que incorpore ,criticamente naturalmente,estas plataformas dos movimentos lgbtqI,negro,feminista e assim por diante.

Plataformas de costumes e questão racial,poderíamos chama-las assim.

Todos os possíveis candidatos de centro ,Marina,Aécio,Tebet,Doria,são de direita,porque defendem privatizações,mercado livre e não têm uma concepção politica republicana que eu considere moderna.

Isto sem falar na distância que têm em relação aos sindicatos.

Mas dentro do contexto atual,levando em conta que o PT fica muito à esquerda e não tem interesse real no centro e na classe média e também levando em conta que não sai desta polarização(que é ruim para ele[a médio e longo prazo]),vai ser necessário e urgente dar uma parada nisto aí,com um candidato de centro.

Pelo menos que possa ter sensibilidade para dar uma guinadinha para a esquerda,quiçá nas referidas plataformas.

Como fazer isto?Discutirei em próximos artigos isto aí,mas o candidato que tem condições de dar esta guinada é Aécio Neves.

Mas é um intrincado problema politico,como ,ele,sendo  um politico de bases mineiras conservadoras ,poderá juntar estas duas tendências,em principio contraditórias.

Mas fica claro porque estas observações sobre o centro implicam numa real perspectiva de mudança no Brasil.A mudança não vem dos radicais,mas do centro.