Muita
gente tem dificuldade em entender os critérios pelos quais faço
alguns dos meus artigos aqui e por isto ,não raro,ponho-os no
próprio artigo,mas nem assim consigo me fazer compreender.
No
texto sobre o encontro abstruso entre Putin e Bolsonaro,em meio à
guerra,eu disse que especulava.Mas esta especulação não fere o
desenho geopolitico que se faz permanentemente pelos governos.E estes
desenhos especificos estão relacionados com um desenho maior de que
eu frequentemente trato aqui.Não vou repetir aqui os conceitos de
haertland e rimland.Em outro artigo eu vou aprofundá-lo,com mapas
inclusive,mas agora remeto-os aos artigos que eu já fizera por aqui
no meu blog.
Pois
bem, fatos históricos provam as possibilidades,pelo menos daquilo
que disse:uma das razões porque o general Silvio Frota considerava
Geisel comunista(pasmem)é que o Presidente reconhecera o governo
comunista de Angola.Porque o general em um contexto de questionamento
da linha-dura,um general de direita ia se importar com Angola,se não
tivesse um motivo forte,que transcendesse os governos eventuais?Cuba
apoiou a guerra de independência de Angola porque se o governo
marxista de Agostinho Netto perdesse ,a Revolução cubana
despareceria e se ganhassem os que eram apoiados pelos Estados
Unidos(porque os Estados Unidos se importariam com Angola?)o
Apartheid continuaria.Um governo de direita em Angola reforçaria a
África do Sul,o governo racista.
Porque
um general anti-comunista como Geisel não ficou do lado dos EUA?Todo
mundo sabia do anti-americanismo de Geisel.Geisel tinha um pé no
primeiro Getúlio.No seu nacionalismo.
Porque
um governo como o da Rússia se interessaria em apoiar um governo
como o da Venezuela?Só por ser de esquerda?Ainda que o norte do
Brasil e da América Latina sejam longe do Sul,do Atlântico,que eu
citei no artigo anterior como fundamental,o desenho geopolitico
admite numa eventualidade, a descida deste país até aqui.
Em
termos históricos,esta possibilidade de aliança entre Brasil e
Rússia sempre se colocou.É lógico que os russos vieram aqui
pesquisar(Langsdorff) a Amazônia por interesse próprio também ,mas
havia a chance desta aliança prosperar por interesse do Brasil e da
Rússia.Porquê?
Como
eu já expliquei em outros artigos a Rússia durante e após as
guerras napoleônicas realizou seu grande potencial de ser o centro
geopolitico da Europa,notado depois por Tocqueville.Mas neste tempo
os Estados Unidos ainda estavam se constituindo e a politica européia
se orientava para retirar a Rússia desta condição hegemônica
sobre o continente.
De
Talleyrand a Bismarck a tarefa era jogar a Rússia para o Oriente e
da parte da Inglaterra impedir que isto acontecesse .A Inglaterra
jogou a vida inteira na desunião do continente.Se este ficasse
seguro,homogêneo ,era a Inglaterra que correria perigo.
As
chances de gerar compensações para a Rússia não se limitavam ao
oriente:houve esforços ,pouco conhecidos,de usar a América Latina
como um todo.
Quando
a França era governada por Napoleão e vivia as guerras
revolucionárias os russos tentaram dominar um território naquilo
que seria considerado depois o oeste americano.Falta de condições
econômicas impediram-nos de fazê-lo.
Também
a Inglaterra tentou recuperar as treze colônias ,durante estas lutas
contra o corso,para enfraquecê-lo e ,sem conseguir,continuaram pelo
século XIX a fazer novas incursões.
Mas
neste periodo posterior a 1815,o imperialismo inglês ocupou o lugar
dos exércitos:para isolar os EUA os banqueiros ingleses procuraram
influenciar a América Latina.Bolivar foi exilado,porque não aceitou
os investimentos que os ingleses queriam fazer na Venezuela e na
Colombia,porque estes paises ficariam de joelhos.
No
Brasil,na Argentina e no Paraguai a presença dos banqueiros ingleses
Rotschilds foi muito importante ,causando animosidades principalmente
entre argentinos e britânicos e britânicos e brasileiros.D. Pedro
II não gostava dos ingleses,apesar de negociar com eles.
Neste
contexto é que o Presidente James Monroe ,em 1832 lançou a frase “a
América para os americanos”,ou melhor,a America para os Estados
Unidos,porque a área de influência dos EUA devia ser a América
Latina,contrapondo a sua influência mais legitima à dos ingleses
,que teriam que pensar nos seus problemas europeus.
O
Presidente James Monroe é quem pôs em prática o conceito de seu
antecessor Andrew Jackson ,o qual repeliu o primeiro esforço de
recuperação das treze colônias,por parte da Inglaterra,em 1812,ano
em que a França,depauperada e invadindo a Rùssia,não possuia
meios de proteger os seus tradicionais aliados.Este conceito era o do
“destino manifesto”,segundo o qual as áreas inabitadas do centro
oeste americano eram das treze colônias,até por razões de defesa
definitiva do país.
A
Rússia sempre se apresentou como alternativa de aliança para uma
América Latina acossada.Em função,no entanto,das estratégias da
Europa para,como dissemos,isolá-la ou jogá-la para a Ásia,estas
potenciais vias de diplomacia nunca se desenvolveram.
Em
termos de geopolitica nunca houve dúvida de que a Rússia era o
poder mais apto a cercar os EUA no Atlântico Sul.Lênin considerava
que a vitória do socialismo passva pela África e especificamente
pelos países que a URSS apoiou em sua independência,Angola e
Moçambique.
Como
dizia Helio Jaguaribe a história é consequencial.Eu diria :o é
como o tempo é.No artigo que eu escrevi,eu especulei,mas o desenho
geopolitico é real e não há como explicar esta aliança monstruosa
entre entre um ditador e um pretendente,senão desta forma.Mas
dependendo dos acontecimentos futuros,seguintes,imediatos e
mediatos,tal desenho pode acontecer como não.
Na
última semana Angola ficou numa posição de neutralidade em relação
à guerra e não hostilizou a Rússia.Na hora H os interesses de
longo prazo se sobrepôem aos humanitários e isto nem sempre encerra
uma contradição.
Além
do mais,não há nada demais em especular ou teorizar.