quarta-feira, 13 de abril de 2022

A estratégia de Lula

 

Após fazer esta muito justa inflexão para o centro,Lula é como Sansão segurando duas colunas:de um lado a ultra esquerda que cria seguidamente muitos ruidos para esta aliança importantíssima;de outro a própria direita que se lhe oferece a condição de eleição,mas que exige (naturalmente) uma série de concessões por parte de Lula.

Tudo muito natural e esperado,mas que realmente põe problemas sérios para a candidatura de Lula.A última fala tonitruante de Lula sobre o aborto pareceu a muitos um erro tático,mas eu entendo que foi necessária para aplacar um pouco a agitação do lado esquerdo.Contudo é necessário que agora Lula faça alguma coisa em relação aos conservadores.

Alckmin disse algo anteontem,para justificar a aliança:segundo ele a crueldade de Bolsonaro impõe deixar de lado muitas dissensões do passado.É um caminho esta afirmação:nós estamos num periodo semelhante ao da redemocratização e é mais que necessário formar algo próximo de uma frente para enfrentar a ditadura,a qual já foi deflagrada,como golpe,no final do ano passado.Agora se trata de saber se cola.Neste contexto não há como não fazer concessões para poder abarcar toda a média ética da sociedade brasileira,que por uma reação aos erros de Dona Dilma,votou no atual Presidente.

Ganhar o centro,os conservadores,é ganhar a média ética do povo brasileiro,é ganhar o Brasil.Porque o povo brasileiro pode ser tudo mas ele sabe que os seus problemas estão no Brasil e não em Cuba.Não temos nada contra o povo cubano,mas é lógico que a prioridade de um politico brasileiro eleito no Brasil,é o Brasil.Simples assim,sem exaltação,sem nacionalismo,só o fato de que a prioridade é abordar e solucionar os problemas do Brasil,porque assim os problemas do povo são encaminhados.

O que está faltando agora é ter um discurso nacional,uma disposição de entender o Brasil,como já foi parte do movimento de esquerda no Brasil.

Isto não vale só para Lula.Vale para Ciro,que é um candidato de classe média,que precisa ampliar a sua fala para setores da população menos versados nas questões de que ele trata frequentemente.

Apesar das enormes esperanças tenho medo real de que o status quo permaneça,isto é,que se reeleja,o que será a base para a construção tranquila de uma ditadura.O que as pessoas não notam é que esta eleição é para evitar uma ditadura .

Era muito bem -vindo que a superioridade eleitoral de Lula se mostrasse agora e que a eleição já estivese decidida em primeiro turno,para dissuadir a tentativa de colar o golpe,que certamente virá,se a vitória da oposição for apertada.E uma derrota acachapante da direita agora diminuiria a sua influência no futuro:algumas das tarefas de Lula,ganhando a eleição ,é dissipar esta ameaça para sempre,fazendo um governo nacional,de esquerda mas nacional.Não há de se cometer o “ erro” de Biden.

Eu ,no entanto,vejo que há sinais de crescimento do outro.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Palinha de meu proximo livro sobre segunda guerra

 

Em primeiro lugar, a queima do Reichstag cristalizou esse medo das classes altas com a ameaça do crescimento do bolchevismo na Alemanha, após a crise de 29. Não foi simplesmente a inflação que causou o crescimento político dos nazistas, mas o perigo dos bolcheviques, como dissemos acima,chegarem ao poder. Diante dessa ameaça, os nazistas convenceram as classes possídentes e chegaram ao poder e mais tarde, como elemento de prova, encontraram um pretexto para excluir de uma vez por todas os partidos de inspiração marxista e todos os potenciais oponentes em fevereiro de 1933, apenas um mês depois o novo chanceler assumir o poder.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Esclarecimentos sobre Putin,Bolsonnaro e geopolitica.

 

Muita gente tem dificuldade em entender os critérios pelos quais faço alguns dos meus artigos aqui e por isto ,não raro,ponho-os no próprio artigo,mas nem assim consigo me fazer compreender.

No texto sobre o encontro abstruso entre Putin e Bolsonaro,em meio à guerra,eu disse que especulava.Mas esta especulação não fere o desenho geopolitico que se faz permanentemente pelos governos.E estes desenhos especificos estão relacionados com um desenho maior de que eu frequentemente trato aqui.Não vou repetir aqui os conceitos de haertland e rimland.Em outro artigo eu vou aprofundá-lo,com mapas inclusive,mas agora remeto-os aos artigos que eu já fizera por aqui no meu blog.

Pois bem, fatos históricos provam as possibilidades,pelo menos daquilo que disse:uma das razões porque o general Silvio Frota considerava Geisel comunista(pasmem)é que o Presidente reconhecera o governo comunista de Angola.Porque o general em um contexto de questionamento da linha-dura,um general de direita ia se importar com Angola,se não tivesse um motivo forte,que transcendesse os governos eventuais?Cuba apoiou a guerra de independência de Angola porque se o governo marxista de Agostinho Netto perdesse ,a Revolução cubana despareceria e se ganhassem os que eram apoiados pelos Estados Unidos(porque os Estados Unidos se importariam com Angola?)o Apartheid continuaria.Um governo de direita em Angola reforçaria a África do Sul,o governo racista.

Porque um general anti-comunista como Geisel não ficou do lado dos EUA?Todo mundo sabia do anti-americanismo de Geisel.Geisel tinha um pé no primeiro Getúlio.No seu nacionalismo.

Porque um governo como o da Rússia se interessaria em apoiar um governo como o da Venezuela?Só por ser de esquerda?Ainda que o norte do Brasil e da América Latina sejam longe do Sul,do Atlântico,que eu citei no artigo anterior como fundamental,o desenho geopolitico admite numa eventualidade, a descida deste país até aqui.

Em termos históricos,esta possibilidade de aliança entre Brasil e Rússia sempre se colocou.É lógico que os russos vieram aqui pesquisar(Langsdorff) a Amazônia por interesse próprio também ,mas havia a chance desta aliança prosperar por interesse do Brasil e da Rússia.Porquê?

Como eu já expliquei em outros artigos a Rússia durante e após as guerras napoleônicas realizou seu grande potencial de ser o centro geopolitico da Europa,notado depois por Tocqueville.Mas neste tempo os Estados Unidos ainda estavam se constituindo e a politica européia se orientava para retirar a Rússia desta condição hegemônica sobre o continente.

De Talleyrand a Bismarck a tarefa era jogar a Rússia para o Oriente e da parte da Inglaterra impedir que isto acontecesse .A Inglaterra jogou a vida inteira na desunião do continente.Se este ficasse seguro,homogêneo ,era a Inglaterra que correria perigo.

As chances de gerar compensações para a Rússia não se limitavam ao oriente:houve esforços ,pouco conhecidos,de usar a América Latina como um todo.

Quando a França era governada por Napoleão e vivia as guerras revolucionárias os russos tentaram dominar um território naquilo que seria considerado depois o oeste americano.Falta de condições econômicas impediram-nos de fazê-lo.

Também a Inglaterra tentou recuperar as treze colônias ,durante estas lutas contra o corso,para enfraquecê-lo e ,sem conseguir,continuaram pelo século XIX a fazer novas incursões.

Mas neste periodo posterior a 1815,o imperialismo inglês ocupou o lugar dos exércitos:para isolar os EUA os banqueiros ingleses procuraram influenciar a América Latina.Bolivar foi exilado,porque não aceitou os investimentos que os ingleses queriam fazer na Venezuela e na Colombia,porque estes paises ficariam de joelhos.

No Brasil,na Argentina e no Paraguai a presença dos banqueiros ingleses Rotschilds foi muito importante ,causando animosidades principalmente entre argentinos e britânicos e britânicos e brasileiros.D. Pedro II não gostava dos ingleses,apesar de negociar com eles.

Neste contexto é que o Presidente James Monroe ,em 1832 lançou a frase “a América para os americanos”,ou melhor,a America para os Estados Unidos,porque a área de influência dos EUA devia ser a América Latina,contrapondo a sua influência mais legitima à dos ingleses ,que teriam que pensar nos seus problemas europeus.

O Presidente James Monroe é quem pôs em prática o conceito de seu antecessor Andrew Jackson ,o qual repeliu o primeiro esforço de recuperação das treze colônias,por parte da Inglaterra,em 1812,ano em que a França,depauperada e invadindo a Rùssia,não possuia meios de proteger os seus tradicionais aliados.Este conceito era o do “destino manifesto”,segundo o qual as áreas inabitadas do centro oeste americano eram das treze colônias,até por razões de defesa definitiva do país.

A Rússia sempre se apresentou como alternativa de aliança para uma América Latina acossada.Em função,no entanto,das estratégias da Europa para,como dissemos,isolá-la ou jogá-la para a Ásia,estas potenciais vias de diplomacia nunca se desenvolveram.

Em termos de geopolitica nunca houve dúvida de que a Rússia era o poder mais apto a cercar os EUA no Atlântico Sul.Lênin considerava que a vitória do socialismo passva pela África e especificamente pelos países que a URSS apoiou em sua independência,Angola e Moçambique.

Como dizia Helio Jaguaribe a história é consequencial.Eu diria :o é como o tempo é.No artigo que eu escrevi,eu especulei,mas o desenho geopolitico é real e não há como explicar esta aliança monstruosa entre entre um ditador e um pretendente,senão desta forma.Mas dependendo dos acontecimentos futuros,seguintes,imediatos e mediatos,tal desenho pode acontecer como não.

Na última semana Angola ficou numa posição de neutralidade em relação à guerra e não hostilizou a Rússia.Na hora H os interesses de longo prazo se sobrepôem aos humanitários e isto nem sempre encerra uma contradição.

Além do mais,não há nada demais em especular ou teorizar.