domingo, 30 de agosto de 2015

Pepe Mujica



A visita e  palestra de Pepe Mujica ao Brasil suscita muitas reflexões sobre a esquerda e o seu processo de aprendizado.Em primeiro lugar ela  ainda está no passado,pois  as manifestações  típicas do culto à personalidade havidas na concha acústica da UERJ o provam.
Contudo há sinais de progresso,na figura de Mujica.Quem,como eu,nos anos oitenta ,seguia  a URSS,tinha reações ambíguas com aquele fausto demonstrado pelos  governantes,Brejnev e Gorbatchov.Brejnev ia regularmente  a uma Dacha,onde era  fotografado depois de uma bela sauna,ao lado de uma piscina.Ele tinha uma coleção de carros  americanos caríssimos.
Mujica aponta para uma superação definitiva desta atitude  que não é admissível num revolucionário.O revolucionário deve  ser austero,no mínimo,e não se colocar acima do povo,pobre,que ele diz representar(embora nem sempre  com eleições...).Revolucionário não pode  ganhar 400 mil reais por palestra,sem,pelo menos ,dividir este valor com os outros.Tem muito esquerdista no Brasil que defende o povo ,mas não admite fazer conferência em hotel de  quatro estrelas,não admite que a  comida  seja ruim,um problema.
Apesar das minhas divergências com Prestes eu admirava esta coerência ,até excessiva,da parte dele.
Mujica podia receber o salário de Presidente,num valor menor,porque como funcionário público ele é um trabalhador,mas o tecido adiposo não.
Isto é uma característica do novo revolucionário.Outra é o que ele disse sobre usar o dinheiro para resolver o problema social.Que não há contradição entre uma coisa  e outra.Marx  substituiu na velhice o conceito de Alienação pelo de Fetichismo da mercadoria,o predomínio do mercado sobre as pessoas.A linha tênue que separa a administração do capitalismo e da sua superação,passa por este conceito,o de fazer com que as pessoas comandem o capital e não o contrário.
Se Lula e Dilma soubessem disso não estava esta bagunça...

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Liberdade e Norma

Desde que acabou o império romano,na Idade Média, se criou uma estrutura vertical,que está aí,mutatis mutandi,até hoje.Esta estrutura reconfirma o que veio do mundo antigo,das primeiras civilizações,que substituíram a comunidade primitiva.Substituíram é um termo discutível,porque a civilização destruiu o igualitarismo inicial da humanidade para colocar exatamente esta estrutura,que visava garantir o novo modo de distribuir a escassez,inclusive e principalmente ,através de repressão. A mais importante regra que vem destes períodos antigos é que tudo vem de cima,de cima par baixo,dos pais e dos reis,para os cidadãos e os filhos.Ainda que ,com Rousseau,em termos conceituais ,tenha havido uma suposta troca em favor dos debaixo,temos que concordar com Foucault sobre o fato de que o comportamento ainda não é mentalmente de acordo com estas novas regras de justiça e convivência social.Comparando com as afirmações de “ Vigiar e Punir”,ainda que as penas cruéis sobre o corpo tenham acabado,as formas de crueldade mental e cultural são igualmente excludentes e repressivas.Bobbio faz uma observação semelhante em seu livro sobre “ Direitos Humanos”,pois que estes são universalmente admitidos como verdadeiros e não aplicados. Nós podemos dizer a mesma coisa sobre a esquerda,os partidos,a politica moderna,em todo o seu diapasão.Fala-se na massa,nos direitos do trabalhador,na necessidade de sua emancipação,mas sempre a partir de uma perspectiva de vanguarda,de mando,de alguém que conduz o processo,nunca todos juntos o conduzindo. A estrutura medieval se baseava no fato de que os de cima não trabalhavam para proteger os de baixo,únicos encarregados disto.Os pais escolhiam os filhos,segundo critérios de poder,atinentes a eles,não aos filhos. No inicio da sociedade burguesa se pretendia ter superado esta situação,mas só quem tinha dinheiro votava,participava dos negócios públicos. Acaso não é assim hoje?Os Partidos recebem votos ,mas fazem o que bem entendem,os pais liberam os filhos,mas só pensam em educá-los quando já estão viciados.De uma maneira indireta o preceito medieval continua valendo. Naquele tempo,como na maior parte da História,o de baixo,só é reconhecido se aceitar regras impostas a ele ,desde o nascimento.Ainda que em nossa época se tenha a liberdade de sair,os constrangimentos sociais impedem-no,à maioria.Ainda que os filhos tenham a liberdade de procurar livremente o seu parceiro,só as mediações do sexo e do dinheiro importam e o pais não se importam com os filhos porque segundo eles a liberdade basta.Mas não existe liberdade sem norma,sem certo e errado(Kant). E até mesmo as “ soluções socialistas” repetem o critério medieval:você tem tudo para viver,mas não pode discordar do governo.É a mesma relação com a Inquisição:se você não acredita em Deus não é,simplesmente não existe.Por isto e outras coisas entendo que o socialismo fracassou:ele não se desvencilhou do passado. A história da humanidade é a busca desta mínima conjunção entre liberdade e norma.

sábado, 22 de agosto de 2015

Nova apresentação de minha tradução

Amigos,como ninguém conseguiu ver os detalhes da capa do  meu novo livro,resolvi modificá-la para corrigir este problema .Aí  está:


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Cunha:vai,por favor.



Justiça seja  feita:o PT  luta.Este tiro(no meio do tiroteio)no pé  de Cunha é ótimo também.É obrigação do Presidente da Câmara sair para não prejudicar e desgastar o Congresso.Contudo isto não soluciona a crise,antes  pode  aprofundá-la.
Alguém mais forte ou mais fraco para substitui-lo só significará continuidade deste tiroteio,cujas balas perdidas nos atingem aqui embaixo.Apenas alguém que  se  compusesse com o prosseguimento do governo,com a  anuência  de todos,debelaria a  crise.Isto se  a crise  econômica acabasse.Aliás  se este último fato ocorresse a  crise debelaria.
O trágico na esquerda brasileira
Insisto neste tema:é  uma tragédia  uma tradição de esquerda achar que compensa a  corrupção se  mais pessoas comem.É uma tragédia e uma chantagem.É o mesmo que dizer,do ponto de vista da lógica,da linguística, “ o crime  compensa”.É terrível  ver que não foi a  direita  que trouxe este  conceito,segundo o qual combater a  corrupção não tem nada a ver com inclusão social.Um das razões  da corrupção é  a pobreza.O pobre,muitas vezes,se  corrompe porque  não tem alternativa  e esta é uma das mazelas do estado hegemonicamente  burguês.Um das suas formas clássicas(expostas inclusive na literatura)de cooptação do pobre e para impedir o impulso de  mudança.
Prestes exagerava um pouco,mas tinha coerência.Se o mundo operário vivia na miséria  por causa da exploração e  da incapacidade da burguesia  de ouvir as suas reinvindicações,o revolucionário,como ele,Prestes,não podia  ter uma vida diferente.
Quando Mandela assumiu a  primeira de suas presidências,me  chamou muito a  atenção,num documentário,que ele não quisesse usar fraque,alegando que não queria se  colocar num patamar superior  ao de  seu povo.Queria  usar um terno simples,bom e digno,mas não ostentatório.
Não sei se os  leitores  lembram de uma polêmica  no primeiro governo Lula dando conta de  que Lula também se negou a usar fraque(como Fernando Henrique)usando os mesmos argumentos de Mandela.Parece que ficou só nisso o PT...e  que o fato de ele não usar fraque basta...

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Nova Publicação do prof.: Ernesto

Amigos  confiram a minha tradução e comentários À Constituição Revolucionária do Haiti,patrocinada pelo grand e revoluciona´rio negro Toussaint Louverture.Quem quiser um exemplar só me pedir pelo email ecaxeiro@hotmail.com.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Nem Aécio,nem Dilma,nem Lula:programa



É chavão falar que  toda  crise enseja uma renovação positiva.Mas é  verdade e dever ser repetido agora neste momento de crise.A questão é saber se o povo  brasileiro vai ser protegido por sua democracia num momento em que se  discute se há  governo ou não.Sim,porque  quando a presidente Dilma afirma  que está buscando um agenda  positiva é  porque  admite subliminarmente que não está  conseguindo  governar,já  que a agenda positiva é  obrigação,não alternativa.
Não se  alegue também que ela  não o consegue porque está  ilegitimamente acuada,por um golpe  em marcha.Duas razões  para não pensar assim:Dilma  é  fraca,repito,no momento em que ela derrapasse,em que ficasse clara  esta  fraqueza a  pressão seria total  e  isto aconteceu quando ficou claro que ela mentiu para se eleger e teve que revelar a mentira para  governar.
A situação de Dilma é  igual a de Sarney,no plano cruzado II.Ele mentiu também,mas ele é  do ramo,tinha uma vida partidária  extensa   e intensa  e fazia os conchavos necessários para  governar.Não estou dizendo que isto o legitimou,não.Só estou dizendo que o cargo de  Presidente da República exige provações,tempo,lutas,prova da capacidade.Dilma foi colocada por ser manipulável e por  encaixar neste esquemão que vem desde o segundo governo Lula,o mensalão.
Foi uma irresponsabilidade que  agora  cobra o seu preço numa situação trágica de compasso de espera  ,em que provavelmente  o único que  não se beneficiará,em qualquer caso,com qualquer solução,é o povo brasileiro  e a  democracia.
Todo mundo já  fala  em que partidos  vão substituir a Presidente,quais os  nomes,mas a  prioridade é  um programa  que  consagre  o fim do passado,o reconhecimento  das reinvindicações  modernas do povo  brasileiro,de modo a apontar o futuro.
Uma das coisas que devem ser deixadas no passado é esta dicotomia,direita  e esquerda,que  respinga na oposição classe  média e  classe “ operária”,conceitos  da  guerra-fria,sem lugar neste mundo atual.
É preciso uma nova esquerda( e a direita que se adapte...)que  não finja ser democrática e  encontre reais  soluções  coletivas,ou seja,nacionais.
De uma vez  por todas é responsabilizar os partidos  por esta corrupção e se  comprometer a  associar toda  mudança progressista,inclusiva,com o combate ,final,à  corrupção.
Como é  que o PT consegue repetir este erro do passado,ao não perceber que faz  parte do processo de inclusão acabar com a corrupção?Acaso a  corrupção não viceja na mais extrema desigualdade e não se  reproduz  dentro dela?Desviar dinheiro público não atinge as necessidades do povo?Esta  é  maior  traição da esquerda nestes  dias e nesta crise ,a  solução que vier tem que  se comprometer a unir estas duas coisas,honestidade e progresso social.
Falemos sério:quem garante que o partidos  que estão aí vão garantir  isto quando substituírem Dilma?Vai mudar realmente?
Há que se criar uma alternativa para implementar este programa.É mentira  que  os partidos  escolham candidatos de  acordo com o critério de honestidade,então há que obrigá-los a escolher,digo,dentro da lei.
Eu sempre tenho defendido aqui o pacto de governabilidade  porque  acho que não se  pode  romper com a Lei e  Dilma foi eleita,mas a continuidade do impasse  prejudica ao povo e  isto não pode  continuar.
Um partido já está fechado com o Impeachment,o PSDB.Agora só falta o PMDB deixar Dilma  sozinha(nem o Lula com ela ajuda) e desencadear o processo de retirada.Contudo Dilma(e  Lula)só sairá se tiver certeza de que não há alternativa.O processo de impeachment demora e neste caso,o tempo abre  brechas para a reação  do PT.Neste confronto,a  bagunça  é maior ainda e os  riscos  são tenebrosos de uma situação sócio econômica deteriorada.Sem falar no motivo para fazer o impeachment,que não há ainda.
A maioria exigir a renúncia  impedindo a  Presidente de governar é  golpe,que mancha a oposição.
No último artigo em que eu me referi à  crise preconizei um pacto de  governança,mas neste momento,diante destas variáveis,falo em pacto para proteger o Brasil e o povo,e a democracia.
A demora  não é aceitável.
Fala-se em Marina,mas uma candidatura de alternativa só é válida para mim se comungar deste programa que eu proponho.

sábado, 15 de agosto de 2015

Outro petição de princípio



Estes  artigos  que eu escrevo aqui e  nos meus  outros e  diversos  blogs temáticos  expressam,como eu já disse,uma  visão ética do conhecimento.O conhecimento é a  favor de todos.Este é o corolário necessário da frase básica  que  anima a minha atividade:o conhecimento é de  todos,apesar  das instituições,dos governos e das pessoas.
Esta  visão  é  uma  aplicação às ciências sociais  que eu faço da  visão democrática que tinha Julio Verne sobre as ciências naturais.Para ele a  ciência  uniria os  homens, porque as divisas dos países não são capazes de impedir  que o homem conheça  e  produza  algo novo,senão a partir  do seu esforço de  estudo e de dedicação.Sozinho ou em conjunto,mas dispondo dos  dados  comuns a  todos.
Santos-Dumont comungava desta  opinião e  viveu de  acordo com ela a  vida toda.O esforço  foi sempre  necessário  ,mesmo para os maiores  gênios  da  História.Até  chegar às suas descobertas Einstein levou 10 anos;Mme Curie e  seu marido Pierre  levaram 4  anos  para  achar menos de um grama  de rádio,quatro anos,os dois  sozinhos;Kepler,o herói da ciência  ,a vida toda, para formular e  provar as suas leis  do movimento.
Isto tudo confirma a  afirmação de Thomas Edison,1 % de inspiração e  99 de  transpiração e  também confirma  uma das minhas fábulas preferidas ,a da  lebre e  da tartaruga.Genialidade só não basta.
Durante a  primeira  guerra mundial,o Astrônomo Arthur  Eddington  tentou fazer   a  prova  da Relatividade geral de  Einstein em vários lugares  do mundo(inclusive no Brasil,em Sobral no Ceará),para demonstrar,com o apoio do físico alemão, que a ciência era de todos e  que podia  unir os povos,ainda que em meio a uma guerra.
Isto tudo eu mostro para  aplicar nas ciências sociais  também, estas  “ ciências”(que eu prefiro chamar de  saberes)são menos  favoráveis a esta  visão transcendente e universal das ciências naturais,porque  elas são permeadas pela  ideologia,sistemas de poder e pelos  desejos  subjetivos  dos  que produzem os conhecimentos sociais e  os  discursos  que lhe  são atinentes.Estas subjetividades ganham poder e prestígio com discursos que não são confirmados depois(isto também vale para as ciências naturais).
Mas como eu já  disse aqui,se  a mediação for a experiência e se admitirmos que ,claro,as ciências  sociais também formulam hipóteses  que precisam ser  provadas,nós  vemos  que  há uma analogia  entre estes dois  grupos de ciências e por  isso eu só me interesse pelos  conhecimentos empíricos,submetidos aos  procedimentos metodológicos,às teorias,evidentemente,sendo então provados,que  ajudem à  humanidade e  ao seu progresso,não só material,como espiritual.Eu só cito intelectuais,nestas condições  de  prova superveniente de seus  discursos e se a sua presença não atrapalha a  compreensão de  todos.
E também partindo do princípio marxista,(embora me considere um ex-),de que  a  separação entre  conhecimento  acadêmico,das elites  e o popular por  atender a interesses  de exploração  eu não comungo desta  barreira por  acha-la,por isso mesmo,falsa.
Quando  a  sociedade  como um todo se  empenha e libera as cadeias  do poder,para  pesquisar a natureza  e a sociedade,ela  consegue o que  quer,quer dizer,produzir  conhecimento,arte e técnica,diz  Marx na Ideologia  Alemã,a respeito do renascimento,conceito que,no entanto, poderíamos extender  ao nascimento da Filosofia e  da Ciência  na Jônia do sexto século Antes de Cristo.
Eu penso como Benjamin Franklin.O conhecimento naõ precisa ser tutelado por instituição ou pessoa  nenhuma para valer por  si mesmo e dar a   sua contribuição ao bem da  humanidade e isto vale para os discursos  sociais  também.
De modo que eu aqui não escrevo contra as pessoas mas a favor delas.Se elas se sentem atingidas de alguma  forma,podem ,repito,podem,se desconectar dos meus blogs,porque  eu não quero passar por  cima de ninguém.O pressuposto de universalidade do conhecimento é a adesão a ele,a adesão livre.Por  obrigação o conhecimento não entra nos corações  e mentes das pessoas ,o que trairia os  meus objetivos de blogueiro.