sábado, 22 de novembro de 2014

A diferença entre a elite européia/estadunidense e a brasileira



Ufa!Este blog não  é só de política não  e agora eu desejo voltar ao outro tema dele:a cultura.
A cultura se associa ao problema político ,nacional, e o meu tema hoje trata exatamente desta relação.A pergunta que está no titulo deste artigo pode ser exemplificada pela opinião que o historiador Evaldo Cabral,agora na Academia Brasileira de Letras,emite num documentário sobre  as elites brasileiras.
Segundo ele existe uma diferença muito grande entre as elites do século xix e as atuais.As primeiras mandavam os seus filhos para estudar na França,os segundos,de hoje, para gastar o dinheiro em Orlando...
O mesmo ocorre nos dias de hoje e é uma característica nacional.
Nos momentos de maior competitividade os capitalistas europeus e estadunidenses sempre tiveram uma referência nacional para suas ações.
Os Vanderbilt ,os Rockfelleres,Gugenheim ,por mais predatórios que fossem sempre tiveram preocupação em dar uma contribuição às suas nações e à História.
Gugenheim fez um museu ,Rokfeller uma instituição de pesquisa e assim por diante.
Aqui no Brasil nós temos vários  exemplos do contrário  disto,mas particularmente um que nós estamos acompanhando:Eike Batista.
Sabe-se lá porque resolveu ser o homem mais rico do mundo,como se amealhar significasse algo.
Porquê não  investiu  ,com uma pequena parte da sua fortuna, na fundação de uma grande universidade nacional?
Ou num grande projeto científico que desse nome  ao Brasil?
Até   a   década de  50 a  elite brasileira  era  mais ou menos  como Evaldo Cabral  disse,mas  já estava  perdendo  esta  qualidade.
A física  brasileira de então,precisava  de apoio.Tinha o maior  físico brasileiro  de todos os tempos,César  Lattes  e ninguém,privadamente,quis apoiar este segmento  profissional,que se  tivesse poderia  estar  no mesmo  nível da física  de outros países.
O  investimento  privado é  comum nos outros países.Nós vemos que  Niels  Bohr só  pode  fazer  as suas  pesquisas  porque um  cervejeiro  o apoiou...
E nós  temos muitos  exemplos.
Agora Eike vai  servir  de exemplo num outro sentido,que é um  membro da elite ser condenado pela justiça,mas ele o devia pela falta de visão.Os gregos  entendiam a imortalidade  como  a  obra virtuosa  que transcendia  o tempo,nós  valorizamos  o depósito do  Tio Patinhas.


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Perigo à vista.



Hegel  afirmava  que no auge  do desenvolvimento  de uma  tendência  ,era este o  momento  propicio  para  ela  começar  cair.
Todos comemoraram  o  fato  de  a  nossa  democracia  ter atingido  um ponto  que  nunca tivera  antes.Por  isto mesmo e pelas  coisas  que tenho dito  aqui,vejo  enorme  perigo  nestes próximos quatro anos e na  eleição  de  2018,porque ela  pode significar  uma base inicial para  a sua consolidação  definitiva,ou...para  cair.
Já falei antes,em passent,sobre isto,mas  diante  das  manifestações francamente de  direita que tem acontecido,pedindo abertamente  a intervenção militar,não posso  deixar de aprofundar o tema.
Antes que  alguém aí  diga  que isto não  tem  importância,que  eu  estou  fazendo alarde  por  interesse pessoal e,no fundo,repercutindo  a  direita,como   ela  quer,eu digo  que  quem  conhece  história do Brasil  sabe que  não se  deve  subestimar movimentos  deste  tipo.
A  história  é conseqüencial.Os  próximos  passos  podem  significar arrefecimento  destes  arroubos  e assim  espero,mas  enquanto eles estão aí é preciso analisá-los  e se  preparar  para eventualidades.
Ninguém  vai  negar  que existe  uma contraposição,provocada  por  ambos  os  lados,o  do  PT e  o  do PSDB.Grande  parte da culpa  da dificuldade  em  fazer o referendum  ou plebiscito é do PT ,que vem  agindo,embora  negue,por  dentro do estado,numa  postura  semelhante  ao  chavismo.Tal semelhança  serve  de espantalho para a direita,que vem aterrorizando  com  a possibilidade  de golpe.O plebiscito  como norma constitucional  brasileira é  enfraquecido por  estas  duas  ações,do  PT  e da  direita,mas  a  iniciativa  errada  é  do  PT,que dá  a entender que  o plebiscito legitimaria  mais  o seu governo do que a vontade do povo,e,no  final  das  contas,isto tudo enfraquece  a  constituição.Forças  externas  e internas  desmoralizam  o  estado de  direito  brasileiro.
Ocorre que há muitos anos,desde que  Alckmin  adquiriu força  no PSDB,este partido  vem pendendo mais e mais   para a  direita,o  que reforça  a chance  de confronto.O discurso pós-eleição  de  Aécio foi muito  pouco  produtivo em desautorizar   um  terceiro turno ou uma  desqualificação da vitória de Dilma.
Não acredito  que  Aécio  pense  numa desestabilização,num  golpe,mas há que ver  que o  PSDB tem revelado  uma  omissão  muito grande quanto  à  defesa  da  democracia,de vez que quer  apenas ser  uma  alternativa de governo,quando,na  verdade,deveria  se portar  como alternativa institucional,diante do continuísmo.
Não ficou  bem  claro para ninguém o que o  PSDB  entende por mudança.Aécio  ficou o tempo  todo  dizendo  que  manteria o bolsa-família,na  defensiva(outro erro que o levou à derrota).
O  fato é  que dentro deste contexto de confrontação,insuflado  pelos  dois  lados,a falta de uma reforma política joga sobre os partidos a tarefa de propor e fazer  estas mudanças,mas  se  eles permanecerem  neste  jogo,em vez  de orientar o  processo político para  calmaria das  resoluções,vamos  colocar  gasolina  para apagar o fogo.
Aécio se  tornou  imbatível  em  2018,com os candidatos que  estão aí.Dilma,pela lei,não poderá  se reeleger e  Temer e nenhum  outro peemedebista  é  páreo  para  ele.
O chamado lulopetismo,irresponsàvelmente,  desestabilizou Dilma,colocando  a volta  de Lula no horizonte  ou,pelo  menos,mantendo  a  sua influência  excessiva.E o PSDB se colou à  direita.
Aécio tem que  se lembrar  de  seu avô  e pensar que  esta  é a  hora de  ,através  dos  partidos colocar a democracia  num patamar mais seguro e isto ele  só conseguirá se colocar o PSDB  no  caminho  certo  da centro-esquerda,voltando com um programa  social mais moderno,alternativo ao assistencialismo,que  esta é  a mudança  real que  a  sociedade quer.É acrescentar  a classe  média ao  processo político-social.É novamente tentar recuperar  o projeto  moderno da social-democracia,que desde 1980 parecer ir ,mas  não  vai.
Se  ele  não ocupar o centro a  confrontação é inevitável,com conseqüências  de risco  para  a democracia.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Leandro Konder






Ainda me lembro,quando  terminava o   meu  curso  de Direito,em  1985,de ter  ido assistir em  Niterói a uma  aula,como  ouvinte,de Leandro Konder,na  UFF.E também,de como fiquei aborrecido  quando  um  colega  que  estudava  no IFICS,não me avisou  da  defesa de  doutorado dele.
Isto tudo  não  abalou  a minha admiração por esta figura a  quem   eu tenho me  referido inúmeras  vezes aqui neste  blog( e continuarei  a me  referir),como  parte  do processo político  do  Brasil,visto pela óptica marxista,que na época era  a única para mim.
  falei  aqui sobre  o livro  “Conceito de Fascismo”  sua importância  na  polêmica  entre  os radicais e os comunistas.Não me referi,mas me  refiro  agora,ao livro  lançado  quase  na mesma época  “Marxismo  e Alienação”,no qual  ele  aventa idéias originais,sobre  a singularidade  dos homens,unindo Marx  a Levi-Bruhl.
Mas na  minha trajetória pessoal,o que tem mais  importância(não única),é que eu,como tantos(?)que  ainda  estão por aí,me formei dentro de um  conceito falso de”marxismo-leninismo”,criado  com  interesses escusos,por Stálin,distorcendo  o sentido original das palavras de Marx.Ele  e  Carlos Nelson Coutinho,trouxeram o verdadeiro marxismo,que nada  tinha  a ver com  o que  era defendido na URSS.
No livro  “O   marxismo  na  Batalha  das Idéias”,aprendi o que devia saber desde sempre,que podia  gostar de Marx,mas não precisava,por isso,aceitar  tudo  o  que  ele dizia.
Enfim  ,tais contribuições  ainda são úteis nos    dias   que correm,porque  a maioria esmagadora  de quem  é  de esquerda ,no Brasil,(incluindo  a Presidente da República),ou não  sabe ou sabe  distorcidamente,o  que é  o marxismo,fato que  seria sem importância  se  estas esquerdas  não  tivessem poder e não pensassem segundo estes  erros  de compreensão(e leitura).
De  modo que  a homenagem  que eu faço a Leandro Konder é uma advertência   quanto  a  este  descalabro,este  diletantismo,que sempre permeou  a esquerda brasileira  e que ainda   pode  se extender ao país,como  é próprio  de todo diletantismo,de todo  amadorismo,em qualquer coisa,mas também  em  política.
Obrigado professor.Se tivéssemos crença no além-túmulo,poderia dizer agora:quem sabe um dia  possamos continuar aquelas  conversas nas barcas de Niterói.