quarta-feira, 30 de maio de 2018

Momentum crucis


No inicio da ciência moderna falava-se que uma hipótese era provada num experimentum crucis .Foi assim com Newton,Galileu na Torre de Pisa e Torricelli com o experimento de Magdeburg,que provou o vácuo.
Como tenho dito aqui o paradigma da ciência natural não serve para o estudo da sociedade.Não há uma indução semelhante (há algumas tentativas)que prove uma hipótese,mas apenas a descrição dos fatos sociais em busca de um sentido.
Toda a conjuntura que o Brasil vive hoje é a de um golpe de estado.As condições estão dadas aí.No artigo anterior eu criei uma hipótese de quando seria o melhor momento para dar este golpe,no afã,democrático,de evitá-lo.Chamei este momento,agora,de  momentum crucis
Em volta deste momento muitas variáveis e problemas são observáveis:a posição de Temer;o dos caminhoneiros;de Bolsonnaro e do povo brasileiro,que bateu panela contra Temer.
O fato de Temer ter recuado no domingo à noite não prova que ele não esteja no golpe.O golpe intentado teria condições de ser dado se o Brasil estivesse no caos,criado por uma eventual renitência do Presidente.Dizer que ele enfraqueceu por aceitar as exigências do sindicato não prova também que ele o esteja.Entenda bem o leitor:o que se deve garantir é o esquema conservador trazido para o proscênio por Lula/Dilma.
Não importam os nomes,importa o esquema,o programa conservador.Pode ser o Temer,pode ser o Moro,pode ser qualquer um,desde que a máquina conservadora do PMDB continue dando as cartas.Isto significa que o recuo de Temer pode não ter sido senão uma jogada para ,num momento(crucis?)ulterior exigir o seu poder de fato,num aprofundamento autoritário,junto com os militares,que estão falando o tempo todo,ora defendendo a  democracia,ora tecendo loas a 64.
A posição dos caminhoneiros se mede pela relação duvidosa com   supostos infiltrados.É oportunismo da esquerda,principalmente do PSOL,ficar do lado deles,porque é evidente que eles estão no esquema provocativo.A presença dos patrões é um sinal de participação da burguesia.E o momento de fazer isto,com intervenção federal,que pode se tornar militar,não é fortuito,mas fruto de uma escolha,convenhamos.
Bolsonnaro é só a bucha do canhão,só a centelha,mas como o Brasil já elegeu azarões ou bizarros como Collor,Jânio e Dilma,não o descarto na disputa presidencial,depois,inclusive,da sua chegada no aeroporto.
O povo brasileiro precisa ser analisado com calma.Que extrato de classe bateu panela?Foi a classe média?Se o foi é um fato positivo,porque se prova que a classe média está mais afeita ao Brasil do que a um suposto seu representante,do PMDB,considerado sempre um partido de classe média(desde os tempos de Ulysses).
Mas se for uma representação média do povo em geral também é positivo porque  isto demonstra um grau de conscientização,nos termos agora ditos.Mas seria melhor ser esta média,porque  o povo,como um todo,estaria disposto a lutar contra um possível golpe.
O  momentum crucis era esta semana,se Temer não tivesse recuado.Mas outros momentos vão aparecer se outras confrontações e provocações continuarem,como a greve dos petroleiros,aparentemente adiada,mas que não perdeu o seu “ valor” de ameaça.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Já está ficando chato


Eu pretendo me referir aos problemas  políticos nacionais,pela  última vez,pelo menos por enquanto.Já não agüento mais repetir os mesmos vaticínios de golpe.Também estou me envelhecendo demasiado alegando já ter visto este filme antes.
Agora com este Lokhout mais um ingrediente clássico para dar o golpe é usado para engrossar o pirão.O que eu posso dizer?As teorias clássicas da Ciência Política,indicam que  se está produzindo um processo paulatino de crise, de modo a justificar o emprego da força.que aliás já ocorre,para desmontar os bloqueios.
Pode-se dizer que ainda não se verifica uma articulação real,consistente ,para fazer o golpe.Quero dizer não há já um gabinete de crise que o prepare,mas não me venham dizer que já não há intervenção do governo conservador de Trump nos Estados Unidos.Isto, a meu ver,prova que há a intenção autoritária.pelo menos já há uma recepção no Brasil para tanto e os políticos profissionais já jogam conscientemente com esta possibilidade.Falta  criar uma homogeneidade de interesses e uma via rápida e imediata de sua realização.Dentro da evidente característica processual que se põe diante de nossos olhos não haverá propriamente um cataclismo desencadeador do fato,o que torna a nossa época muito parecida com 1937 e com a ascensão de Salazar em Portugal:o processo será natural e pacífico,mas inevitável.
O falecido Hélio Jaguaribe,em seu livro de História critica acertadamente as concepções de “ filosofia da história”,inclusive o marxismo,dizendo que a História é conseqüencial  e eu acrescento que a História é tempo qualificado.Em qualquer definição não se pode prever exatamente o que vai acontecer no próximo passo,existindo sempre uma possibilidade de se modificar algo esperado.Lógico que quando as circunstâncias determinantes se avolumam o fato seguinte é inevitável e inarredável,mas nós estamos em um momento prévio e ainda há como evitar o pior.
Se nós defendêssemos o golpe,qual seria o melhor momento para dá-lo?Faço esta pergunta porque se as coisas continuarem assim o momento vai ser inevitável e precisamos antecipá-lo para evitá-lo.Na minha opinião,tudo é tão favorável ao golpe que a grande questão é saber se as coisas vão se impor por si mesmas e eu entendo que os momentos serão muitos.De agora até depois de uma eleição presidencial  as condições de uma crise propiciadora,estarão presentes.
Então a resposta a esta pergunta é mais complexa e estrutural.






segunda-feira, 21 de maio de 2018

A acusação contra o general Geisel





È um problema para todo analista como proceder diante de uma figura histórica.Principalmente quando esta figura tem na sua responsabilidade pública pessoal catadupas de ilegitimidades e cometimento de violências e ,até,crimes.
É fácil olhar Hitler e separar esta questão da sua contribuição histórica eventual.Mesmo porque neste caso só há destruição.Mas como não considerar um destrutivo,como Cortês,que iniciou a colonização da América?Isto aí não tem um elemento  de mérito?
A solução deste suposto impasse ético é considerar os políticos e as figuras históricas como portadoras de valores,idéias,conceitos,que não são necessariamente deles,mas de uma época.
Quando se fala numa “ política trabalhista” pensa-se logo que tudo foi feito por Getúlio Vargas ou Lindolfo Collor,mas o trabalhismo é feito muitos e Getúlio,em última instância,o sanciona,o chancela.O mesmo se pode dizer do plano real e de outras ocorrências históricas e políticas.
EU NÃO TENHO NENHUMA SIMPATIA PELO GENERAL GEISEL,UM GOVERNANTE ILEGÍTIMO.PONTO.Mas a  análise da política que eu(sempre) faço não é de natureza pessoal,embora,não raro,isto seja inevitável de considerar.E eu já citei exemplos disto acima.
A “ revelação” da CIA quanto ao seu papel decisório na tortura e morte de opositores do regime militar é um segredo de polichinelo(outro).Era impossível os generais não saberem do que acontecia nos quartéis e delegacias de polícia e demais lugares de sofrimento.Aqui e acolá ,nos depoimentos e pesquisas,avultam em importância a revelação da presença de militares,bem como de sistemas complexos de tortura e ainda de certos locais que  tinham uma função diversionista,cujos usos estavam conectados evidentemente com a  repressão.
A ditadura militar,em seu périplo usurpacionista,sempre se utilizou de uma tática muito clara:o que garantiu a consolidação do governo Costa e Silva foi a suposta inconformidade das  forças armadas com  a sua aparente incapacidade de reação diante dos protestos estudantis(provocados pelo regime).O General Jayme Portela(portelinha)conta em sua biografia do general Costa e Silva que o general Sizeno Sarmento estava de prontidão no dia anterior à decretação do AI-5 e estava disposto a “ultrapassar  o chefe” de acordo com as palavras confirmatórias de Jarbas Passarinho.Costa teria dito ao mesmo Passarinho ,nesta noite,que ninguém o incomodasse porque não atenderia mais pessoa alguma.” Não diga que eu estou dormindo,diga que eu não atendo”.
Isto tudo ,para mim,é  história da carochinha.Não os fatos e dizeres,mas que fosse tudo espontâneo:isto era um truque,um truque de gestão e de justificação,típico da administração do exército,no contato que tem normalmente com a política.
O primeiro exemplo disto aí se dá na relação de Antônio Moreira César( o mesmo de Canudos)com Floriano ,no episódio de 1895, de assassínio dos 197 republicanos históricos de Santa Catarina(daí a alcunha dada a César de “ corta-pescoço[pois foi assim que ele os matou]).Depois de realizar a “ obra”,Moreira César recebeu um telegrama de Floriano  pedindo relatório dos fatos,ao que ele respondeu:” já o fiz”.Não é à toa que Floriano era retratado nos jornais como a esfinge,porque fazia tudo de modo sibilino,como seus subordinados.Mas isto é uma forma de gestão tipicamente militar,adequada para as suas  tarefas difíceis ...
Até à redemocratização foi sempre assim.Medici e Geisel(linha dura e sorbone),Figueiredo e Waldir Pires,Leônidas e Waldir Pires.
É evidente que este procedimento visava evitar o desgaste das forças armadas e liberar algumas de suas figuras representativas das culpas do regime ( e também justificar a repressão),o que abriria sempre a possibilidade de retorno do regime,logo depois da redemocratização e agora.
A esquerda não desiste das reparações e exige a liberação dos arquivos do exército,que as tornariam mais que inevitáveis.Dentro de um critério republicano de respeito à cidadania esta exigência é legitima,mas usá-la para propósitos políticos de afirmação partidária não.Isto torna a esquerda mentalmente igual à ditadura,isto é,revanchista,que é um modo de obter dividendos políticos,quando se não os consegue em eleições.
Qual é a idoneidade da CIA,para a esquerda,para lançar uma “ prova” deste  jaez e fundamentar o pedido de abertura dos arquivos?Como se pode imaginar que a CIA iria interagir com esta reivindicação dos radicais ,contra quem ela lutou,apoiando a ditadura?
Esta “ prova” é o que se chama um “ balão de ensaio”,que a CIA,junto com os setores conservadores que querem o golpe,lança para provocar uma reação irresponsável(como sempre)dos radicais.
Ninguém aprendeu nada do lado da esquerda.A direita faz o de sempre(como fez em 68,fazendo provocação,na UNB,na Maria Antônia,na passeata dos cem mil).
É a pior hora para aceitar tal provocação e exigir os arquivos militares.OUÇAM BEM VOCÊS DA ESQUERDA QUE ME LÊM:EU TENHO INTERESSE PESSOAL NISTO AÍ,QUERO DIZER,NA ABERTURA DOS ARQUIVOS,MAS É PRECISO COLOCAR O BRASIL E A SOCIEDADE (OU SEJA NÓS)ACIMA DISTO TUDO,PORQUE A ESQUERDA NÃO TEM (COMO SEMPRE)CONDIÇÕES DE IMPOR UM GOVERNO(E NEM DIREITO ORA)E A SUA INSISTÊNCIA VÃ SÓ FARÁ O QUE SEMPRE FEZ,COLOCAR A DIREITA NO PODER,COMO EU TENHO ALERTADO DESDE 2012.
NÃO ME VENHAM COM ESTA DE QUE DEFENDO A DIREITA,GOSTO DO GEISEL,NÃO TEM NADA A VER.FAÇAM UM ESFORCINHO DE COMPREENSÃO.
ANALISO A POLÍTICADE UMA MANEIRA NÃO FRIA,MAS RACIONAL.NÃO SOU GETULISTA,MAS A LEGISLAÇÃO TRABALHISTA SIGNIFICOU UM AVANÇO.NÃO SOU DEFENSOR DE GEISEL ,MAS A  MINHA POSTURA,SEM OS EXAGEROS, É SEMELHANTE A DE GLAUBER ROCHA E DO PCB .QUANDO O GENERAL ASSUMIU A PRESIDÊNCIA,SE FICOU CLARO QUE ELE TINHA DISPOSIÇÃO DE ABIR O PAÍS,NÓS NEGOIARÍAMOS COM ELE,EM BASES DIGNAS.GEISEL SEMPRE SE OPÔS AOS AMERICANOS E SUA INGERÊNCIA(QUE SE REPETE AGORA[E É POR ISSO QUE OS AMERICANOS INTERFEREM DE NOVO]).NESTE SENTIDO GEISEL FOI O PRIMEIRO A RECONHECER A INDEPENDÊNCIA DO GOVERNO  COMUNISTA  DE ANGOLA.REPITO:GOVERNO COMUNISTA DE ANGOLA.POUCA GENTE SABE (SÓ OS QUE SE INFORMAM ANTES DE FALAR)QUE OS EUA QUERIAM A MANUTENÇÃO DO APARTHEID E PARA ISTO ERA DE SUMA IMPORTÂNCIA MANTER O GOVERNO COLONIAL EM ANGOLA.A INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA,APOIADA POR GEISEL E FIDEL CASTRO,SIGNIFICOU O FIM DO APARTHEID.REPITO:O FIM DO APARTHEID.
Então,por favor,esquerdas radicais,se informem antes de  me criticar e não caiam no truque da direita,mais uma vez  jogando  o país na ditadura.