terça-feira, 28 de novembro de 2023

O despertar da besta triunfante Os ricos são maus,os pobres são bons

 

Com o refluxo das revoluções e o fim da utopia(e agora José?) sobraram algumas de suas falácias,mas também verdades:as massas quiseram sair do sofrimento e isto é justo.Mas como não chegaram e ainda distorceram o processo,ficaram alguns “truques” perversos da era das revoluções ,que já tinham sido propostos neste tempo,mas que permaneceram num outro período,que é o nosso,de novas estradas abertas ao “paraíso”.

A maior destas sobrevivências foi o igualitarismo:já que os ricos continuam lá com seus privilégios,nós aqui,pobres não vamos reconhecer a sua humanidade.

Quero dizer,nós somos todos iguais,mas os ricos não sofrem,por sua condição privilegiada.

O resultado deste “ raciocínio” é o seguinte:só os pobres sofrem e se não houver reconhecimento total da necessidade deles,eles não reconhecem o sofrimentos dos ricos.

Em principio até se admitiria um “ raciocinio” deste jaez,embora já fosse de plano, perverso(como é de fato):o sofrimento de um pai rico é menor do que um pai pobre que vêm os seus filhos sendo estuprados ou torturados?

Sei que algum radical(não necessariamente boçal)vai me contestar com o argumento-chavão de sempre:mas os ricos têm mais recursos para enfrentar o problema,os pobres não.É verdade e isto põe o pobre ,ainda ,na prioridade universal da questão social,mas na perspectiva individual não há como fazer uma “medição” assim.

O problema é quando esta contraposição entre pobres e ricos serve a propósitos escusos patrocinados por oportunistas,tanto da esquerda como da direita(como de todo lugar).

A igreja católica,desde a Idade Média,jogou com a ambiguidade que é a noção de “ pecado”:certas coisas,que não são morais ou imorais(como se masturbar)passam a ser pecados com uma dose de terror,conveniente à manipulação da religião.

Foi preciso a ciência e o conhecimento desmentirem estes conceitos(masturbação como pecado)para  a religião diminuir o seu peso,depois de sofrer uma pressão de fora para dentro.

Hoje setores de vanguarda utilizam as mesmas técnicas de ambiguidade,exceto por um detalhe fundante:se as classes desfovecidas,eu vanguarda ,defino quando e onde e como o seu sofrimento de não-desfavorecido,vai valer.

Em principio se você “comer” na minha mão tem grande chance de eventualmente ser reconhecido,mas se me obedecer  eu o coloco entre os desfavorecidos e até quando você não sofrer,sofrerá,se isto nos ajudar.

Ainda que você more numa comunidade e tenha uma vida mais feliz do que muita gente de classe média,você sofre o outro não.

Este é um dos mecanismos complexos da inversão de valores em que vivemos hoje e eu continuarei analisando estes problemas.

 

 

Esclarecimentos sobre meu artigo Sobre o racismo reverso

 

Confirmo tudo aquilo que eu disse neste meu artigo anterior:está já em curso(não s e formando)um racismo reverso,ou seja,contra brancos.

Não possuo nenhuma pesquisa que dê sustentação ao que eu digo e nem o fato de ,desde o berço,eu sofrer com este tipo  de racismo,não há como fazer disto uma amostra do que acontece na sociedade como um todo.Em outro artigo eu citarei as minhas “calamidades” pessoais.Contudo vejo frequentemente tal coisa acontecer e não aprovo de modo algum.

Alguns dogmas se tornaram inarredáveis nas hostes da esquerda,obscurecendo a sua compreensão da complexa teia do real:luta de classes serve para tudo;o filho do patrão já nasce patrão ,por isto deve ser guilhotinado,torturado e morto;o negro e vitimizado,logo pode fazer o que quiser;a mulher,logo ...o mesmo que eu disse antes.

Vamos entender isto aí.O negro,no Brasil,não é minoria:ele é pelo menos metade da população brasileira ,isto sem falar na mestiçagem que atinge todo o povo brasileiro(inclusive a mim,em que sangue negro corre nas minhas veias[minha mãe era cabocla]).

Mas ele se vê vitimológicamente(resquício  da luta classes e do milenarismo)como minoria  e aí está feita a inana.

Os negros brasileiros parecem os antigos trotskistas:se colocar três numa cadeia eles racham.O movimento negro é diferente,não se consegue unir três negros para lutar.


O diagrama acima mostra o paradigma da unidade negra.

A base desta dissensão é uma abstração,alegando Marx indevidamente(como sempre):o reconhecimento da discriminação por causa da cor da pele ,como fundamento da unidade é uma “plataforma racista” também.O próprio negro repete esta besteira,que o negro Abdias tonitruava corretamente:a cor da pele conta sim e como Marx pontuava: a “ verdade é concreta”.

Se a cor da pele influi não tem porque usar esta abstração vazia para não fazer nada:aí está o mote para unir o negro e construir um movimento reivindicatório a partir da  maioria  .

Ao  invés,este “movimento”,não realiza este intento e fica usando e outro estratagema para “ progredir”:um truque hobbesiano de ,no interior da sociedade, provocar as pessoas “ privilegiadas” da “ sociedade branca”,que ipso facto é “ privilegiada”.Todo branco é privilegiado (inclusive eu).Todo branco nasceu em berço de ouro(inclusive eu,apesar dos meus 7% de sangue negro deixados por minha mãe).

É a história que vem do socialismo:o filho família ,rico(mas também o pobre)já nasceu patrão e\ou com a vida resolvida,como herdeiro,segundo a lei “burguesa”.

O que uma pessoa assim,pobre ou rica,pode fazer para reparar  esta situação?Como no filme teorema  de Pasolini,entregar a sua propriedade aos operários?Praticar o cinismo dos bolcheviques de expropriar propriedades,inclusive residências de pessoas inocentes,para obter apoio politico,quando não têm?

Ninguém tem condições de solucionar o problema social destas  maneiras,porque o problema social é muito complexo e a sociedade tem que se entender.

Ao dizê-lo sempre me rebatem que é fácil eu falar quando tive uma vida “pródiga”.Em primeiro lugar (porra)dos 2 aos 6 anos eu tive momentos de fome,porque meu pai comunista(ou stalinista[que é outra coisa])não trabalhava,ficando na miséria como os “ condenados da terra” ficavam( e ficam).E em segundo lugar mesmo que eu fosse filho familia de uma família  carioca de Ipanema,herdeira  dos antepassados traficantes de escravos eu ajudaria ,MAS NÃO ME SENTIRIA CULPADO DE NADA,COMO NÃO ME SINTO DA CRUCIFICAÇÃO DE CRISTO,COMO CERTOS PADRES ME IMPÕEM.Para mim isto tudo é uma baboseira.

E também objetar-me-iam que há uma demora na solução da questão social e que eu já estou com a vida mansa(área de conforto). Área de conforto é a mãe  de quem falou!Depois de uma vida lutas,de trabalho duro eu consigo estabilizar.E aí aparece um leitor de orelha de livro de Karl Marx e diz que eu estou na área de conforto,pagando imposto,votando e trabalhando ,ainda ,por necessidade e ajudando a esquerda a chegar no poder e não fazer nada. Área d e conforto é a mãe de quem falou.

Estas baboseiras são fruto de más leituras que sustentam o famoso e infinito “momento egoístico-passional” de Gramsci.

Há países que conseguiram enorme progresso social e econômico em uma geração,sem sangue e violência.

O “ movimento” negro não foge à regra  de querer se aproveitar das benesses da “ sociedade branca” e prefere o truque hobbesiano de que falei acima.

Estes discursos bobalhóides de que todos têm que participar da politica e que têm a sua origem na democracia direta de Rousseau e Lênin,favorece o representante do povo que não faz nada(inclusive de esquerda),porque todo mundo esquece que neste tipo de democracia a responsabilidade cabe ao politico e não à pessoa comum.

O negro legitima este politico e por tabela a casa-grande e joga a culpa do que está errado no branco de classe média,completando o ensinamento de Hobbes,que é mais fácil politicamente se aproveitar do outro, culpando-o,do que fazer uma politica positiva com boas bases.

Negro e politico branco juntos



Eu estou de saco cheio de ser vilanizado.






domingo, 26 de novembro de 2023

Nuvens negras(escuras) Na Argentina

 

A vitória de Milei no país vizinho é um novo desastre neste nosso mundo em que o rochedo e o mar se digladiam e o marisco,no meio ,se ferra(para não dizer um palavrão).

Confirma a tendência horrível de nossos dias:o ping-pong esquerda\direita inócuo e destrutivo.O ping-pong entre estas correntes mortas do passado que nos encadeiam nos erros reiterados.

Mas isto tudo é culpa de quem tem normalmente a iniciativa histórica de tratar dos problemas fundamentais:a esquerda.A esperança ,no inicio do governo Lula,de um governo nacional,se esvaiu progressivamente abrindo espaço,como eu previra,para a continuidade da direita.E a continuidade da direita é a sua eventual e permanente possibilidade de chegada ao poder.

Num país eivado de peronismo não esperava mesmo a vitória de um ultra-direitista.Não sei se esta vitória não vai sepultar de vez o general Perón.Uma cientista politica,logo depois da eleição,afirmou que o peronismo segue,mas eu não sei,assaltam-me dúvidas.

Apesar de não ser peronista ,a sua “ morte” eventual,seria um tremendo atraso,porque dele,da subsistência de uma esquerda,ainda que cheia de problemas,é a base da renovação que eu tanto preconizo.

Aqui no Brasil defendo um governo de centro esquerda e o PT ,se evoluísse,chegaria a este ponto,mantendo a esquerda numa progressão histórica benéfica e que poria um fim nas justificativas de crescimento da direita.A direita só cresce nos erros da esquerda e usando momentos de susto do povo quanto ao perigo “ comunista”,que não existe em lugar nenhum.

Mas este perigo vem sempre “ distorcido” por outras formas de “ diabolização”:o ataque à família,aos costumes médios do povo e assim sucessivamente,aqueles velhos chavões sobre os comunistas,que estes ajudam a valer.

Deste modo vamos estar ainda neste contexto e correndo risco,aqui no Brasil e nos Estados Unidos,de a direita,que eu sonhava sumir com a eleição do metalúrgico,ter grande chance de retornar ao poder e como eu disse em outra ocasião,a nossa sorte é que não tem nenhum quadro bom do lado de lá,uma Margareth Tatcher,por exemplo,porque senão nós estaríamos fritos pelos próximos anos.

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Os descaminhos do movimento negro brasileiro A formação do racismo reverso

 

Em pleno dia da consciência negra ,dia de Zumbi(o qual era escravocrata),reconheço que é um procedimento extraordinário do movimento negro brasileiro,expandir esta data para outros locais do Brasil.

Por enquanto ainda são poucos e  está principalmente no Rio de Janeiro,mas  a tendência natural e justa é se espraiar.

A minha vivência pessoal,dividida em atividades de trabalho ,de pesquisa e de relacionamentos mudou um pouco a minha visão deste movimento negro,que é afinal ,totalmente justo.

Contudo ,esta  mesma experiência mostra que este caminho  não é tão simples,como aliás de todo movimento social revolucionário.Eu acho o movimento negro em todos os lugares do ocidente uma revolução,no sentido cultural,de Hannah Arendt.

Quando o negro ocupar realmente o lugar que lhe é de direito a sociedade ocidental(e em geral[a comunidade universal])será totalmente diferente e certamente melhor.

Mas como estudioso das revoluções de esquerda que sou,falo normalmente nos problemas que estes movimentos apresentam em diversos passos de sua caminhada:existe muito ódio indiscriminado contra aqueles que desfrutam das benesses da vida social e neste momento há uma certa idealização,no sentido de culpar todo mundo pelo que ocorre com os desfavorecidos;nem todas as pessoas que integram o movimento revolucionário entram nele de forma consciente e idealista ,mas por razões pessoais de ascensão;os ressentimentos por parte dos desfavorecidos os faz cometer injustiças de modo reverso,como culpar todo branco de ser beneficiado do navio negreiro;toda pessoa desfavorecida que se ressente(por não ver um horizonte de libertação)se une aos seus semelhantes para ,com uma maioria ,reprimir os outros,reprimir os “ opressores”,noção mais emocional do que cientifica ou axiológica.

Os padrões aristotélicos e de luta de classe,que sempre puseram todas as pessoas no mesmo saco da culpabilização passa para estes movimentos e passou para o movimento negro brasileiro.

Está se formando e em curso(de crescimento?)um racismo reverso  sim.Na minha experiência própria supra-dita a minha constatação ao chegar à idade provecta é que desde pouco depois de sair do berço este tipo preconceito ao contrário foi sempre jogado contra mim.Mas vejo em outras pessoas(senão algum cretino vai dizer que me dou muita importância).

Uma das maiores emoções da minha vida foi  ler“O Mulato” de Aluisio de Azevedo,autor injustamente esquecido.Sentado sobre a minha cama,já no final do romance,o personagem central tem um  insight  e volta atrás em muito dos acontecimentos narrados e toma consciência de que tudo se dera em razão de sua condição de negro.

Os psicólogos chamam a isto de anamnese ,o processo pelo qual,com a ajuda do terapeuta ,o paciente relembra certos fatos do passado e lhes dá um sentido que pode ser muito traumático para ele.

Nos dias que correm,de revisão da vida,no final dela,a minha anamnese é constante e neste caso da relação com o povo negro,as coisas têm ficado piores:quando s e é jovem toda a festa que os pais fazem á sua volta é tida só como amor aos filhos,mas dependendo da família e se esta  prefere as relações de poder ao amor ,isto é só bajulação para depois cobrar no mesmo patamar do puxa-saquismo.

Pais que exaltam demasiado os filhos exaltam a si mesmos.E ao colocar papéis de liderança nos filhos primogênitos brancos é para exigir deles retorno,em termos de dinheiro,compensações indevidas e assim por diante.Este filho,ao crescer,quer viver uma vida autêntica,mas percebe que é só poder e carteira de dinheiro.

No meu caso e no de outros primogênitos brancos o papel deles,a eles atribuído pelas famílias,sem consultar-lhes as vontades,é uma imposição infinita e eterna da qual no minimo se custa a sair(ou não).

O batismo católico,criação de Constantino,chancela este abuso desde o berço:a partir daí a criança está presa a um tipo de família,muito pouco interessada em afeição e  amor(que afinal são os fundamentos da família).

Ao surgir o movimento negro esperava-se que ele revolucionasse tudo,mas acaba por repetir estes conceitos,que no Brasil,derivados da casa-grande , acusam todo o branco de ser um seu beneficiário.Acusam todo branco de ser supremacista,com a ajuda de Lula,que não raro relembra a incúria cultural e linguistica de Dona Dilma.

O termo  “supremacia branca” Presidente tem valor designativo de um movimento de direita e nem todo branco,ainda que bem sucedido pode ser associado a ele.

Existe supremacia da miséria,da pobreza,não é o Brasil igual aos Estados Unidos ou Alemanha.Lá também não faz sentido tudo isto.

No fundo a estrutura mental dos movimentos ,e  o movimento negro brasileiro não escapa,é so uma forma de opressão que quer ocupar o lugar da antiga.

domingo, 12 de novembro de 2023

Como entender a democracia Em termos de esquerda

 Quando comecei a militar no inicio dos anos oitenta,a grande discussão(que já era atrasada em relação à europa)da democracia brasileira,que se esperava renascer ,era a democracia como “ valor estratégico”.

Superando Lênin a democracia passava ,para a esquerda moderna, a ser uma finalidade e não um meio para se chegar ao poder,para depois suprimi-la.

George Orwell e Carlos Lacerda(que seguia o primeiro)cansaram de mostrar esta contradição que estava afastando o comunismo,principalmente o ocidental,das sociedades democráticas que  não queriam nos seus países o que se dera no stalinismo.

No rastro da desestalinização, de Kruschev,o “uso” da democracia para se chegar à utopia foi admitido,mas não nos termos leninistas,de implantação subsequente da ditadura do proletariado.

A democracia não era mais “ usável”,manipulável,mas  sua ampliação era a condição de se chegar à utopia.Era um revérbero da II internacional,não muito reconhecido pela comunismo ocidental.

Contudo,já naquela época (e hoje) eu notava alguns problemas fundamentais nesta “ renovação”,uma renovação que rompia com Marx:a questão da democratização do estado burguês,pela pura e simples ampliação da democracia sempre foi discutível.

Para mim a questão continua aquela:para criar uma sociedade comunista no sentido real do termo(não socialismo real),há que ter uma cidadania democrática e moderna de trabalhadores e capacidade produtiva,para criar abundância de bens e distribuí-los entre todos ,como Marx queria.

Se isto não está presente não há como “ democratizar o estado burguês”,porque ele vai sempre garantir uma distribuição desigual.Esta distribuição não é necessariamente de natureza “ burguesa”:ela consagra o principio da desigualdade,presente na sociedade de classe ,inclusive burguesa,mas como eu já expliquei a desigualdade natural dos homens transcende a estas sociedades,desde Jericó.Mesmo no comunismo esta desigualdade permanece e Marx o reconhece na ideologia alemã.

Assim sendo o controle público do mercado,da maioria sobre o estado,a diminuição da distância entre os homens ,no âmbito do capitalismo, é legitimo e é base para a utopia.O comunismo não é  religião ,não é  contra  o capitalismo,mas a partir dele.

Então é a partir da sociedade capitalista,em sua forma nacional inclusive,que se constrói a utopia.

Neste contexto a democracia continua como uma finalidade em si mesma,mas não no seu sentido meramente formal .A meu ver reside aqui o problema.

O conceito de social-democracia é epocal,porque ele expressa o reconhecimento da questão social ,que no mundo foi ganho dos anarquistas(não do marxismo),sem prescindir do ganho da democracia moderna,que os comunistas ortodoxos levaram quase um século para assumir(se é que assumiram).

Numa visão democrática republicana moderna a equidistância dos movimentos e partidos é exigível.Esta afirmação acima parece colocar a social-democracia em idêntico patamar do cientificismo marxista,cujo paroxismo é o stalinismo:mas não é fato.

A exigência  do reconhecimento do problema social não é absoluta,porque há sociedades que o superaram,sem ter este foco em mente:a Áustria ,que sempre foi um país conservador e aristocrático ,chegou lá,com uma experiência socialista muito boa(bruno kreysky),mas curta,pequena.

No plano sociológico geral não há como não reconhecer esta questão e o que impede que uma visão modelar totalitária (porque modelar)derive da social-democracia é que ela se põe na voragem do tempo,na alternância de poder, de fato .

Os comunistas italianos admitiram na bacia das almas a alternância de poder,mas de modo geral,a  ditadura do proletariado sempre esteve à espreita.Sempre ouvi da esquerda ,na minha militância ,que se o cavalo passasse encilhado,ela montava e é assim até hoje.

A razão deste oportunismo é não entender a democracia como “ valor estratégico”:ela tem que ter conteúdos precisos para mudar a sociedade.Se não é assim,a esquerda se iguala ao formalismo liberal,que tem o seu lugar mas não investe num processo de mudança.

O que se viu na impeachment de Dilma foi isto:ela se considerava moderna e democrática por dizer que  só no parlamentarismo ela devia ser apeada.Ela,que advogava assertividade,não o estava sendo,porque este é um principio formal,a ser retido,mas não ser mantido como critério suficiente.

Na ocasião, quem expressou melhor esta realidade foi Jarbas Vasconcelos,quando disse que ela “ mentira à nação”.

Pode-se discutir qualquer tecnalidade naquele processo ,mas não é só na democracia formal que as coisas se decidem e tal devia ser compreensão fundamental de qualquer pessoa de esquerda.

Não é só dizer que é democrata ,mas provar o seu comportamento no cotidiano,como fizeram os italianos.

Quando eu militava, a democracia era vista como congregação de pessoas,que a democracia como “valor estratégico” se fazia assim,reunindo as pessoas,mas eu sempre batia de frente,exigindo que esta “ congregação” se fizesse em torno de ideias,de conteúdos.Senão seria um quase-democratismo.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

EU RESGATEI O CENTRISMO E O TROUXE PARA O BRASIL

 

Tenho recebido na minha caixa postal contatos cada vez maiores de céticos de todos os tipos,simpatizantes de Kant e de centristas,pessoas que buscam uma politica de centro esquerda para o Brasil e o mundo.

Eu fui portanto o gatilho desta busca de uma renovação da esquerda,diante deste mundo aí que repete o passado,por falta de vontade de mudar,em nome da vida.

A renitência da esquerda,no mundo todo,reforça a minha convicção de que ela continua egoísta e  egocêntrica,achando que está no lado certo e detendo em si o modelo definitivo de emancipação social.

As pessoas não entendem bem o que eu digo aqui:politica não é um jogo,como a vida não é.

Às vezes o jogo e a vida se identificam,mas não são a mesma coisa.A vida é sentido ,é construção e sentido e na politica ela busca solucionar problemas sociais.

Com o paradigma da luta de classes,que já veio crescendo desde a Revolução Francesa,a vida politica se tornou um maniqueísmo,uma luta entre o bem e o mal:as pessoas que estão estabelecidas na sociedade estão do lado errado e só conseguiram a sua legitimidade,às custas da maioria oprimida.

A vida,no entanto,mostrou que o problema é mais complexo.No inicio de minha atividade de pesquisador eu citei um dos fundamentos de  minha mudança em relação a estes esquemas milenaristas,que me formaram também e com os quais militei  parte da minha vida(de novo).

A maturidade,no entanto,mudou o meu curso numa direção compreensiva em que a complexidade do real vai além do simplismo voluntarista destas posições revolucionárias radicais.

Não abandonei de forma alguma a compreensão das imensas injustiças que vemos todos os dias, mas não é assim:quem se preocupa com elas está do lado certo e quem não está ,do errado.

Os ricos são maus e os pobres são bons.A vida não é assim.

Mas as esquerdas continuam reproduzindo este esquema tosco e tolo que não só não resultou em nada,mas distorceu  o real e causou tantos problemas quanto a  sociedade que se quer superar.

Ninguém tem condições de conter em si um modelo perfeito de solução politica dos problemas.

Ernst Cassirer mostrou o quanto isto é impossível  e mais do que isto,tal visão inverte as  coisas:a realidade concreta,social e politica fica submetida previamente a este modelo,quando o contrário é ver a realidade concreta,a experiência humana,para depois extrair as possíveis soluções que levem em consideração esta realidade,onde estão as pessoas reais,com suas escolhas.

É uma lição que deriva dos direitos humanos e do cidadão:esta plataforma se identifica realmente com a sociedade e sua pluralidade.

Os modelos explicativos posteriores a 1789 ,raça,espirito do povo,socialismo não alcançam esta pluralidade porque falseiam a realidade da sociedade ,deixando de lado os direitos.

Não há como pensar a vida social em qualquer época sem o direito,sem a mediação da norma,que é vista como um atraso,diante da vontade,mas no fundo,pode ser mais rápida se a compreensão da sociedade se basear num esforço legitimo de investigação.

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

A ONU e a Guerra-Fria

 


Mais uma prova de que tenho razão em caracterizar a nossa época como ,pelo menos, um rebotalho da guerra fria, é esta situação ominosa da ONU em face de conflitos tão  graves e que ela não consegue nem intermediar.

Mas já há algum tempo as demandas politicas do globo exigem uma participação mais efetiva do organismo  na promoção de uma paz social,que evite inclusive,novas guerras.

A ONU está tão entranhada na consciência humana ,como uma  inarredabilidade,que apesar dos inúmeros erros fatais que cometeu ao longo da história, continua resistindo.

Existem certas criações humanas que são assim: apesar de tudo resistem a tudo.

A cruz vermelha ,indiretamente,  apoiou o sistema de campos de concentração nazistas ,que depois se transformou em  extermínio. Em 1938 houve um clamor imenso contra o internamento de pessoas nestes campos,especialmente pessoas de escol,isto é,reconhecidas pelas suas qualidades.Tal foi o caso de Teresinsdat,em que só ficavam os judeus proeminentes,nas ciências ,artes e tudo o mais.

A Cruz vermelha foi instada a verificar as condições do local,porque acusações de maus-tratos espoucavam na imprensa.Os nazistas maquearam o local(porque as denuncias eram verdadeiras) e a Cruz Vermelha fez um relatório róseo do que viu:tudo mentira.Até hoje se discute se houve cinismo.

A ONU teve uma participação vergonhosa na morte de Patrice Lumumba,ajudando na intervenção das forças mais oportunistas do país e solidificando uma das ditaduras mais corruptas da África.

No genocídio do Timor outra vergonheira:Kofi Anan praticamente não fez nada.

Estas organizações superam estes desgastes pela sua necessidade,diante dos inúmeros problemas cotidianos da humanidade,nos quais elas participam obrigatoriamente,para evitar crises ainda mais terríveis.

Estas organizações são iguais ao futebol brasileiro,que é um milagre do povo brasileiro:apesar das falcatruas,desvios de dinheiro,fraudes ,permanece.

E agora,com estas duas guerras,a inana prossegue.A razão disto aí,no passado supra-citado,é o contexto politico que resultou na guerra fria,que continua até hoje.Não  adianta me objetar que o caso da Cruz Vermelha é antes da guerra-fria,porque esta última é derivada da segunda-guerra e mais do que isto,como já expliquei,o contexto da guerra-fria se inicia em 1917,só parando por causa da presença do fascismo,conduzindo à guerra.

No que diz respeito à ONU propriamente dita,o que emperra tudo e tem a ver diretamente com este conflito que não se realizou numa guerra convencional é o poder de veto dado à potências que tinham vencido a II Guerra.Tal poder prova que a guerra e o conflito ideológico entre as partes fundamentais da politica universal continuaria pelas décadas vindouras,ainda que as promessas fossem de uma paz definitiva.

Nós vivemos num período ainda de guerras.O pensamento de direita entende que  a guerra-fria foi  a  terceira guerra mundial. O discutirei em outro texto,mas a verdade é que vivemos em conflito há muitos séculos e estamos no contexto de eventuais guerras mundiais.Ainda não saímos disto e é forçoso sair,para dar atenção ao verdadeiro problema:a questão social,a questão da utopia.

 O que disse o Presidente Lula esta semana é certo:acabar com este direito de veto,no que seria o começo do fim da guerra-fria:a assembléia geral decide e todo mundo cumpre.

 Não há necessidade mais de poder de veto e aí teríamos uma comunidade universal pela primeira vez “igualada” de fato em direitos,que é um dos objetivos mais decisivos da história e um dos seus sonhos quase que milenares.

Tratarei deste tema (de que eu já falei)em outro texto também,mas há que ressaltar o seu valor:esta proposta,que vem do cristianismo,de Dante Alighieri,é uma das exigências de solução para os conflitos humanos.

A disputa também milenar por hegemonia é causa politica imediata destes conflitos recorrentes,principalmente no velho mundo,da Mesopotâmia e o Egito até a estas guerras a que estamos no referindo.