Levando
em consideração os pródromos desta discussão nacional expostas
por mim nos dois últimos artigos nós temos que pensar o Brasil
distintamente dos partidos e dos governos e mais do que isto devemos
tomar emprestado o juízo hipotético de Kant e trabalhar com a
possibilidade destas queimadas terem sido induzidas pelo governo para
provocar uma situação de descalabro na Amazônia e com isso
justificar a intervenção das forças armadas,como ocorre agora.Isto
é uma hipótese.Não tenho como provar isto,mas tenho direito de
levantá-la,junto com Kant.Mas o fato é que com o governo Bolsonaro
as queimadas aumentaram e isto gerou um ruído com o G8,que já está
“discutindo” sobre o Brasil.O interesse do G8 é só nos tirar a
Amazônia.
A
minha interpretação destes fatos todos é a seguinte:o
Brasil,que,como eu disse acima,ainda não é um país unificado,é
como a Alemanha e a Itália no século XIX,um país por fazer e se
insere,nesta qualidade,naquilo que Gramsci chamou de “ revolução
passiva”.A unificação da Itália(e da Alemanha,digo
eu)equivaleu,segundo Gramsci,a uma revolução,só que patrocinada e
realizada pelas classes altas.
A
oportunidade que as queimadas deram ao Presidente Bolsonaro de
intervir é mais um ganho para a direita,para as classes altas e
média ética do povo brasileiro, de defender e garantir,segundo o
seu programa conservador,a soberania nacional.A esquerda perdeu de
novo(a direita tá dando olé)e a possibilidade de uma revolução,de
direita,passiva,se coloca claramente.
Muita
gente me acusa de ser catastrofista ,principalmente nesta questão da
Amazônia,mas como sou estudioso,recomendo a leitura de Jorge
Caldeira e seu livro sobre o barão de Mauá para ver que as
tentativas de tomar a Amazônia vêm desde o processo de
independência,que começou em 1808 com a transmigração da família
real portuguesa.Estou preparando um livro sobre esta questão.
Este
ruído atual se insere neste processo longo,mas alguns elementos de
seu contexto,que eu já ressaltei mais acima,lhe dão um significado
diferente e mais perigoso para nós:como eu disse a crise com a
Venezuela colocou as grandes potências em torno da Amazônia e os
Estados Unidos,afinados até à promiscuidade com o governo
Bolsonaro,saíram na frente,como “ garantidores” da soberania
nacional,no que eu acho uma anedota de mau gosto,mas que é fato
consumado.
Também
me acusam de ser conspiracionista.Eu volto à hipótese acima:não
tenho como provar se isto tudo foi de caso pensado,mas favoreceu o
governo nos seus propósitos autoritários(para não dizer
golpistas).Hoje,domingo,dia 25 de Agosto,o guru do Presidente afirma
que Bolsonaro bate de frente demais com a midia e isto o
enfraquece.Como não pensar que esta afirmação não encaixa bem no
enfraquecimento do Presidente,que ,saindo,poria na cadeira
presidencial um general?Que guru é este que atua contrariamente ao
direito do Presidente de governar?Como não ser conspiracionista?O
Presidente sempre foi um laranja.Por isto insisti tanto na campanha
na improcedência de um vice militar reformado há tão pouco tempo.
O
esquema fica claro:quem melhor para defender a amazônia do que um
militar?O que impede,como eu já disse,a consecução deste projeto é
a divisão entre os apoiadores do governo,as suas divisões
internas.Só agora as pessoas estão percebendo o óbvio:que Moro é
cria da Globo e não de Bolsonaro.A esquerda não impede o projeto
não.A única coisa que diz é :”Lula Livre!”,por interesse
partidário,exclusivista,mais importante do que o Brasil.Mamão com
açúcar para a direita.O Brasil não é o Lula,o Brasil não é
Bolsonaro,o Brasil é ele mesmo.