segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A tarefa histórica dos democratas



Eu    me  referi  aqui  à  evolução  histórica  do  partido  democrata  dos Estados Unidos,que ,no  passado,ora  pelo imperialismo  ou  pela  guerra-fria,sempre  oscilava  entre  uma  postura  mais social  com  aquelas  atinentes à  média  do  pensamento  eleitoral  estadunidense.
Theodore  Roosevelt  foi  social  ao  reprimir  os  monopólios,mas  foi  imperialista  inaugurando a  política  do “ Big  Stick” na  América  Central  e  na  América  Latina.
O  próprio  Wilson,tão  cantado em prosa   e verso,teve  atitudes  internas  sociais,mas  começou a  constituir  a hegemonia  mundial e  européia de  seu  país.
Franklin Roosevelt,o  mais  social e  liberal,tinha,como já  demonstrei,um vice  extremamente  à  direita,Truman,que  defendia  o  isolacionismo  estadunidense na  Segunda Guerra,inclusive  dizendo  no  Congresso  que o  melhor  para  os  Estados  Unidos  é  que  Rússia  e  Alemanha  se  matassem.
Mas  Truman  fez  outras  coisas  terríveis,que  convêm  relatar  aqui.Foi ele  quem  inaugurou a política  da  guerra-fria,junto  com Churchill, e neste  contexto  toda  atuação  dos  Estados  Unidos  foi  um assomo  crescente de imperialismo  e  hegemonia  americana.
  provas de  que  Ho-Chi-min  pediu  ajuda  ao  seu  governo  para  lutar  contra  a França,alegando  o  grande  vietnamita,  o passado  de colônia  dos  Estados Unidos.Truman  se  recusou  criando a    teoria  do  dominó”,pela  qual  era  preciso  reprimir  países  comunistas  para  que a  Ásia  não  fosse tomada  pela China  principalmente.
No  filme “  Corações  e mentes”  um ex-ministro  da  defesa  francês relatou  que  os Estados Unidos  ofereceram  duas  bombas  atômicas  ao  governo  francês  para  acabar  com a guerra.
Os  papéis  do  Pentágono,publicados  pelo  jornalista  e  eleitor  dos  democratas,Ellsberg,provam  estes  dois  fatos  e  analistas  interpretam  estas  decisões  como  tentativas  de  domínio  imperial  na  Ásia ,tentando  comprometer  os  franceses(tirando  os  Estados  Unidos    da  condição de  único a  usar  a  bomba),bem  como  fazendo  com  que  a  França,tradicional  adversário  do  imperialismo americano,se  desmoralizasse  e  ficasse  na dependência  dos    Estados  Unidos,perdendo a  Cochinchina.
Kennedy  viveu uma  dualidade  semelhante  com  Lindon Johnson,mas  neste  caso  nós  precisamos  fazer uma  digressão  quanto  à  compreensão  da  História  do  Estados  Unidos e  dos  governos democratas.
Quando  Roosevelt faleceu ele  deixou  os  Estados  Unidos  como potência  moral  e  social,construindo  o  Welfare  State.Quando  Truman  saiu  do  governo  ele  deixou  aquilo  que  o republicano Eisehower  denunciou  como  o “ complexo  industrial  militar”,criado  nas  condições  citadas  acima  aproveitadas e  desenvolvidas  por  ele.
Até  ao  fim dos  regimes  comunistas e um  pouco  no  governo Clinton(Iuguslávia)a  posição  americana  seguiu  este  figurino  que  foi,no  entanto,se  diluindo e ,a  meu ver,tem  condições  de  desaparecer no  governo Obama.
Isto  cria  condições  propícias  para  que  de uma vez  por todas  o  complexo  industrial  militar e  seus  acólitos  do  petróleo  e outras  empresas multinacionais  sejam desmontados  por  um  partido  democrata  só pensando na questão  social e ambiental.
Por  isso  repito,nenhum republicano  pode  ganhar a  próxima  eleição.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O problema da transição em Cuba



Muita   gente me  criticou pelo meu  último artigo,em função  de uma  suposta  visão  otimista minha.É  lógico  que  as razões  que  eu apresentei  nele  mostram  o  porquê  eu tenho esta visão ,direi  mesmo,de  desafogo,com  relação a  este problema.
Gramsci,uma  vez,se  referindo ao  processo de mudança social,seguindo  os  cânones  da dialética,disse  que  enquanto  o  novo não se  estabelece  e  o  velho não  desaparece,a  realidade  adquire  características bizarras  de indecisão  e  sofrimento,que podem permanecer no  futuro.
A  leitura  deste  conceito  tem duas consequencias  para o  nosso tema.
A  sua indefinida continuidade   poderia  acarretar  aqueles  problemas a  que eu  aludi,mas,em segundo lugar,pode ainda.A  demora  certamente  as tornaria  inevitáveis,como eu disse,mas a  resolução antecipada deste nó górdio  da guerra-fria,cria condições  para controlar  a  situação de  modo  que tudo  ocorra  suavemente,sem  cataclismos  capazes  de  atingir,principalmente o  povo de Cuba,que  toda pessoa  de  bem deve  considerar.
O meu critério diante das  transições e mais  diante  desta que  me é pessoalmente  cara e é  em si mesma  bastante complexa,é  o  do  Barão do Rio Branco.
Em  1910,pelas contribuições  ao Brasil  dadas  por  ele,o Barão  era um candidato  presidencial imbatível,mas  ele  se recusou,de forma estranha,para  alguns.
No  entanto,para  quem  o conhecia,esta  decisão era lógica:o  Barão era  monarquista e quando  a monarquia acabou a intenção dele  era  se aposentar,numa  idade considerada  tenra,para  tanto.
Conta-se que quem o demoveu  desta  vontade  de aposentadoria precoce  foi  o  próprio imperador  Pedro II,que  teria lhe dito que os regimes políticos  passam,mas as  nações(e os povos)permanecem.
Toda pessoa  de bem que faz política tem que pensar assim,apesar das ideologias.O Papa João Paulo  II  demonstrou possuir  este mesmo conceito,quando  foi à  Cuba,na  década  de 90,para iniciar entendimentos com  o regime  comunista,sem ressentimentos,mas pensando  em  resolver esta situação da maneira a menos traumática possível.
Agora a  questão  é a  mesma:não adianta  pensar no passado,mas no futuro  do povo cubano.As mudanças que virão terão que melhorar  a condição do povo,mas isto  depende  daqueles valores  ditos no artigo  anterior  e  também das  pessoas  que vão conduzir o processo,nos próximos  anos.
Não me  parece,por  exemplo,que  os comunistas  cubanos possuam  o mesmo jogo de cintura dos chineses.Me parecem ainda empedernidos  e  isto  é  um  baita empecilho.
Se  houver uma  abertura em Cuba é natural que  setores  da  sociedade  queiram  apressar  a democratização e isto pode  a expor aos  mesmos  perigos  que conduziram ao massacre da praça da Paz  Celestial.
É preciso convencer os dois lados  da necessidade de aprender com a história  e fazer  tudo com a  devida calma.Os comunistas cubanos    terão aprendido  com  a  Paz  celestial?
Do outro  lado,eu já  disse que é fundamental  a continuidade dos democratas porque  eles é que têm condições e  legitimidade (porque propuseram  o fato político)de conduzir a  transição nestes moldes.Na minha  opinião,pensando  nestes dias,Obama  poderia ter feito esta ”jogada” antes  das eleições,porque certamente  o  partido dele seria  beneficiado e  politicamente era justo e  imprescindível  afastar  esta maioria republicana.Por causa  disto e  por  causa da natureza  mais social  do Partido Democrata. Não sei  porque não o fez.
Os  republicanos não  vão  se opor  ao fim do embargo se  forem  colocados macdonalds em  Cuba,mas  o conceito  deles  de democracia   não consagra  o aspecto social  e eles  são muito  ligados aos  ressentimentos dos exilados cubanos e  podem  acabar  chancelando    aquilo que  temo ser a  mais grave  consequencia disto  tudo, a  evitar:a  retaliação.O retorno de empresas privadas  nacionalizadas  para mão de   estadunidenses,algo,para mim,ilegítimo;a  caça  aos  comunistas,a volta  da  prostituição e da  máfia.
Repito:para  mim  os  Estados  Unidos  não têm  nada a ver  com Cuba,mas nós  raciocinamos dentro do real,dentro  do  que é,segundo o  dever-ser,para  construir um futuro melhor.
Com este paradigmas e com  uma  transição  segura e  efetiva  a  relação Cuba/Estados Unidos  se  normalizará dentro daquilo que deve  nortear  as relações  entre os   países,a  paridade,sem tutela.
Finalmente,desatando  este nó  histórico nós desmontamos ilusões,grupos de pessoas  que vivem  do passado  e não propõem nada para o futuro  e podemos,assim,começar  a fazer política de novo,com  novas  idéias.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O problema das transições


Estou  otimista  quanto à  rapidez  das  conseqüências  positivas  esperadas  depois  do reatamento  das  relações  diplomáticas  Estados-Unidos-Cuba.Em  primeiro  lugar  porque entendo  que  isto  levará  a uma  liberalização  e os  republicanos ,maioria  no Congresso,não  vão  se  colocar  contra ela ,de  vez  que  o público  estadunidense  espera-o  há  cinqüenta  anos.
O  problema  é  esta minoria  na Flórida.As  transições,que  nós  vimos , a  partir  da Polônia  em  85,do  regime  comunista  para  os  regimes  nacionais  que temos  hoje,  padeceram  de problemas  que eu já  disse aqui e  por  isso   é  imprescindível evitá-los  no caso  de Cuba.
Na  própria  Polônia  a união  do  povo em  torno da  igreja  fez  com  o  processo de transição  não sofresse  nenhum abalo  por parte de  grupos  dentro  do país,que,assustados  com a  mudança,poderiam  ir  contra  ela,do  modo  que  nós  vimos  ,por exemplo,na  Rússia,URSS,anos  depois.
Preocupados com o fato  de que a  transição  iria  tirar  seus  poderes e privilégios  muitos  militares  se  uniram  com  interesses  belicistas  do Ocidente,bem  como  com  emergentes  criminosos de sue  próprio  país,para  formar  estes  cartéis  criminosos  que estão  aí  até hoje e alguns que financiam  o governo  Putin  e  a  Copa  do Mundo.
Coisas  semelhantes  aconteceram  na  Bulgária,na  Romênia,na  Albânia.Vemos  então  pessoas  que  eram  protegidas  por  uma  previdência,pedirem  esmolas  na  rua,em pleno  frio.Na  Rússia  da  época e  na  atual,soldados  pediam e  pedem as mesmas  esmolas.
Temos  que evitar  isto  em  Cuba.A homogeneidade  do país  parece  estar  garantida com a  mediação  da  Igreja  Católica,que une  Cuba,que  é  predominantemente  seguidora desta  religião.
O  que  falta  é  evitar  que  grupos minoritários se unam,de lado  a  lado  para  se  aproveitar  de  alguma  forma  da  transição.
Toda  transição  faz  fortunas  e  misérias.Até  na  Proclamação  da  nossa  república  foi  assim.Teve  gente  que  enriqueceu  do  dia  15 para  o  dia  16 de Novembro e  outras  queempobreceram.
Já  falei  da URSS.Agora  há  que  ter  este  cuidado.A  direita  predatória,que  sabemos qual é,vai  tentar  se  locupletar,alegando  necessidades de reparação,o  terrorismo dos  cubanos,a  fraqueza  de Obama e  assim por  diante,mas a maneira de escanteá-los  deste  processo  é  que  ele  evolua  seguro,nem  muito  rápido,nem  muito  devagar,porque  se for neste  último  caso  haverá  condições  para  que estes  interesses  cooptem  em  ambos  países  pessoas,que,se  organizadas  em  cartéis,do  tipo  a  que eu  me referi,serão  capazes  de  perverter  este  caminho  de  libertação e  de humanização que  se abriu  agora.Isto sem  falar,que é imperativo  que  ganhem,nas  próximas  eleições  presidenciais  estadunidenses,os democratas,por  razões    que  eu  citei  no artigo  anterior e que  vou  falar  no  próximo.
       

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Grande Obama



Após  os  erros  que  o  Presidente  Barack Obama cometeu  na  questão  do  controle  de armas,no inicio de  2014,pensei  que  o  seu  governo  ia  ficar neste  rame-rame,que  equivalia a um  naufrágio,o  qual  facilitaria  as  coisas  para  os  recentemente  vitoriosos  republicanos,estes  últimos  interessados  em  recuperar  o salão oval.
Contudo  ,com esta  decisão histórica  de reatar as relações  com Cuba  tudo  virou de novo a  seu  favor  e  aos democratas,naquilo  que  pode  ser  a maior  decisão de seu  governo e  aquela  que  ficará  na  História.
Esta  atitude,que  vem sendo  preparada  pelo  Papa  João Paulo  II,quando  visitou a  ilha,só  seria  tomada  por  um democrata,mas  mesmo  para  este,seria um ato de extrema  complexidade e  coragem.
Isto  porque  ela  tem  um significado  de expressão  do  povo  estadunidense,mas também  atinge-o  em  seus  preconceitos  nacionais,os  quais  Obama  terá  que  tratar e  mudar  daqui  por  diante.
Não  é   a primeira decisão deste  tipo,basta  lembrar  do  problema  da  saúde  pública,que  pode ter  favorecido  as  coisas  para  os  republicanos.Este  modo  de  agir indica  um  papel  de  mudança que  os  Estados  Unidos  precisam  ter e  mais  do  que  isto,com  um  Partido  Democrata  no  poder,o  que  induz  no  mundo  uma  preocupação  maior  com  a  questão  social  em  vez  de   com  armas e segurança.
Esta  decisão  colocou de lado os  radicais  de esquerda e  de direita,respectivamente  os  que  acham  que  ainda  é  possível  manter  Cuba  como  está  e os  que   querem  o  pior  para  ela,a  vingança  do  capitalismo  predatório  sobre  uma  nação  soberana.
Os  oportunistas  da  Flórida,que  sempre  ganharam  eleições  na  base  da  espiroqueteação  do  anticomunismo e  do  anticastrismo,estrilaram  com  medo de  perder a  boca.Senhora  Yoani  Sanchez  teme  ficar  para  trás.
Apesar  das  imensas  dificuldades  pela  frente,duas  nações soberanas  acabaram com a  guerra fria e vão  discutir  como  duas  sociedades  preocupadas com problemas de grandeza  nacional e não  em  termos  de  interesses  particulares.
Eu  sempre  entendi  que  os  Estados  Unidos  não têm  nada a  ver  com Cuba e  continuo  pensando  assim,mas  em  função  dos  interesses  bélicos  que formaram  este  oportunismo  em relação  não    como  evitar a  constatação de que  sem  os  Estados  Unidos  não    para desencadear  um  processo  de  transição  na ilha  que  mantenha  as  conquistas  da  revolução  e ,se  não  puder  melhorar a condição  do  povo,que  não  piore.E  esta  intenção estadunidense,feita  por  um democrata,não  um republicano , nos    confiança para  acreditar  que os  critérios  das  conversações serão  neste  nível,no  nível  social  e humano e não,repito  à  farta,em  termos  de interesses ,armas e  segurança.
Acredito  que  apesar  da  maioria  republicana,a  média  da  sociedade  americana  não tem  mais  preocupações  com estas  palavras e  haverá  uma  pressão  para  que  não  tenha  recuos  nesta  problemática  cubana  o  que  nos  induz  a  pensar  que  Obama  fará  o  seu sucessor  e  isto  é  fundamental  se  quisermos  acabar  com  tudo o  que os  republicanos e  mesmo democratas ,como Truman, fizeram  durante a  guerra-fria,a  instalação  do complexo  industrial-militar.
Eu    disse  que o ideal  para  os  Estados  Unidos  e o  mundo são 30  anos de  governos  democratas tipo  Frank  Delano  Roosevelt,porque    a  questão  social  é  o  que  importará.Por  isso  é  fundamental  que os  democratas  tenham ,numa  época pós-guerra  fria,ou seja,sem  justificativa  para  guerras,continuidade e  destruam de  vez a  influência dos  cartéis  da  guerra  e  os  que  os  sustentam,os  interesses  econômicos,de modo  que  as  nações,com  preocupações sociais  e  humanitárias  predominem  sobre  a  venda  de armas  e  os  discursos  belicistas  ,para sempre.
Amén.