segunda-feira, 30 de março de 2015

Um expediente tolo e uma bola dentro



Na  última  semana  vimos  duas  noticias  políticas antitéticas:o expediente  tolo de  criar  um  novo  partido,por  parte  do PT  ,e  o  acerto da  escolha de  Renato  Janine  Ribeiro  para   pasta  da educação.
Neste  último  caso  é  mais um  round  entre  Eduardo  Cunha e  Dilma que desta  vez, ela  ganhou.O  professor  Renato  Janine  Ribeiro  me  chamou a atenção  há muitos  atrás  com  um livro  sobre Stendhal  e  a  sua  relação  com o  pensamento  de  Habermas  ,exposto em Conhecimento  e  Interesse.Aliás  um  bom tema para colocar  nos meus  blogs.Citando  um famoso  filme  de  Orson  Welles “O  Terceiro  Homem”,o  personagem  vivido por  ele  expõe  um  conceito  interessante:”a  violência  e o conflito  são importantes:veja  a Itália  renascentista,com  séculos  de  conflitos  e muito sangue produziu  as  mais  extraordinárias  obras  de  Ciência e   Arte,enquanto  que  os 500  quinhentos  anos  de  paz  da  Suíça  produziram  o  ...  relógio de  cuco”.
Este personagem,um rematado  criminoso,queria  justificar  as  suas  ações  com  este  conceito,segundo o  qual  o  progresso  depende  em última  instância  do  crime,da  transgressão.
Isto  preocupava  Stendhal,que  possuía  uma  relação muito  ambígua  com o seu  herói,o  personagem  oculto   de  “ O Vermelho e o  Negro”:Napoleão Bonaparte.Alguém  que  vinha  para  mudar  para melhor  a  humanidade,levando-a  ao  progresso e  que cometia  crimes,aparentemente  justificáveis.Para  um  artista  e  pensador  como Stendhal  esta  contradição  o  angustiava,como  angustia  até  hoje  as  pessoas  que acreditaram  em Stalin e  depois  viram o que  ele  era...
O  professor  Janine  sempre  analisou  estas  questões  radicais,algumas importantíssimas e  pouco  conhecidas do  grande  público.Tratou  das  relações  de  afeto  com a política,nos seus estudos  sobre  totalitarismo.
Enfim  ele tem as  qualidades  para  fazer um  bom trabalho,mas  eu  me  preocupo  que  a sua honestidade  pessoal  e esta  sua radicalidade batam de  frente com este  cinismo político  brasileiro e  ele  não resista.Semana  passada  no  Jornal da TV  Cultura  ele  denunciava  que  o  Judiciário  tinha  privilégios  iníquos  como o  de possuir  auxiliares  só para puxar  a  cadeira  do  juízes-deuses.
Não  sei  como  ele  vai conseguir  conciliar a  sua radicalidade com a  necessidade  de  fechar  os olhos  a  estas monstruosidades  que  quem  vê a  política  de  dentro encontra.Há  que  lembrar  que  o problema  do  mensalão  começou  no final  do  primeiro  governo  Lula  quando este  disse  que ia  finalmente mexer  na  “ caixa  preta  do  judiciário”.
A  fundação  de um  partido
Eu tenho  dito  aqui  que  a reforma política  vai  ter que  ser feita  com  a fundação de  novos  partidos,para  sair deste  confronto  entre grupos sem  programas e  propostas e  esta  tentativa  do PT,  através  mais uma  vez  de Kassab  ,de fazer  este  desvio  ,demonstra  que  o  desenho é este ,mas  o conteúdo continua  fugindo  à  percepção de todos os políticos.Não  se  trata  de  fazer  uma  legenda  e  colocar cupinchas ,mas  de  reformular a concepção da esquerda e  fazer  um novo programa  que ligue o povo  a  ele.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Macunaima Herói de nossa gente!Ou “ Ai que preguiça!”



Todo  mundo  conhece  o que significa  chamá-lo de    herói  sem  nenhum  caráter”.Não quer  dizer  que ele  seja  um criminoso ou    mau-caráter”.Quer  dizer  que  ele  não  tem  identidade.
Só se  pode progredir  se  se tem identidade.Com  a identidade há uma responsabilidade  e  é  imprescindível  na  senda  do  progresso,também de um  país,apurar a  responsabilidade  de quem erra.identificando os  erros,não se  os comete no  momento  seguinte,eis  o significado de  todo  aprendizado.
Existe  um  traço  de  união  entre  Macunaima e  os  Partidos  brasileiros  e  o  sistema  de  governo  brasileiro.No  Brasil  ninguém erra.As maiores  barbaridades  são  cometidas  nos  diversos  ramos  da atividade nacional  e  estes  mesmos  não  são  responsabilizados.E na  verdade são  exaltados.E  na  verdade  não  estou  falando  só de  erros  ,mas de  crimes ,que  parecem,dentro desta  sociedade  midiática  em  que estamos,insuflar  a  notoriedade  das  pessoas,causando  admiração.Hoje,no  Brasil(  e no  mundo)notoriedade  é  mérito.Trangressão  é  coragem.Transgressão  é  liberdade.
Quando  alguém  fuma  um baseado é  porque  tem  coragem de descumprir  a lei.Quando  alguém  transgride  a  lei  exerce  uma    liberdade  pura”,já  que  realiza  a  sua  vontade  sem  interferência  de  ninguém.
Desde  Kant,no  entanto,sabemos  que não existe  liberdade sem  norma,liberdade  sem  ius,direito.
Não    como  não  estabelecer uma  ligação  entre  estas  afirmações  e o  furor  com  que  a Presidenta  Dilma  defendeu  os traficantes  da Indonésia.E  não há  como  não  estabelecer  entre  ela  e  Macunaima,quando  pensamos  que a  droga  não  pode  ,pela  sua definição,fundamentar  uma  politica de governo  baseada no estado  de  direito.Se  Macunaima sente preguiça e  não  liga  para  nada,Dilma  não liga  para  o  estado de  direito.Não é possível.
Repito:Macunaima  pode  ser  acusado  de preguiçoso,de  praticar  maus  costumes  e  de ser  um tanto quanto amoralista,mas  não é  criminoso  ,nem  agressivo.
Como  todo  aquele      aque não  tem identidade,não  tem  propósito,não tem  sentido e  não tem e  não  faz  escolhas.
O  romance  de  Mário  são  aventuras aparentemente  sem  sentido  ,de  quem  quer  conhecer  o  mundo ,mas  não o  habita,não  aprende  um sentido,não  adquire  uma responsabilidade.Acaba  morrendo,numa  situação  tragicômica.Na  verdade  não  é  uma  morte,é  uma  diluição,daquilo  que    não  é.
Quem tem identidade  ,tem sentido,faz  escolhas.Erra  no caminho  ,mas    no  final deixa  alguma  coisa:o sentido,a  verdade  das  suas  escolhas.
É  muito  fácil  fazer  politica em  termos macunaimicos.A  partir de  conveniências e não  convicções.A  última  grande  frase de Darcy  Ribeiro,pouco  antes  de  se  ir,foi  esta:”Lutei  para proteger os indios e perdi;lutei  para desenvolver o  Brasil e  perdi;lutei para educar  o  povo  brasileiro  e perdi também.Mas a última  coisa  que eu  queria  era  estar  no  lugar de quem me  venceu  ”.
Esta é  a profissão de    do  militante progressista  moderno e de  todas  as  épocas,pois  não  adianta  estar no  poder a  qualquer custo.O progressismo  só o é  se  o poder é  caudatário  real  das convicções  bem fundamentadas.Ainda  que  haja  uma  derrota  esta  é  a  posbilidade  de  recomeço.Vencer,enganando,sempre,ao sabor  do  oportunismo,impede  o  progresso.
Darcy  é o  herdeiro de Mário  no  sentido de  que ele  compreendeu,como todos  devem  compreender  no  Brasil,que  a atitude  de  Macunaima  nos prejudica.
Os  partidos  e  a politica  moderna  do  Brasil  ainda  estão  no estágio macunaimico,dizendo:” Ai  que  preguiça!”.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Macunaima



Macunaima  não  tem a  mesma  repercussão  dos  outros  livros  importantes   no  século XX,no  Brasil,pelas  razões  a  que  eu  já aludi em  outro artigo,mas  também porque dentro  do  patrioterismo  brasileiro  dizer a verdade  não  pode.
O  “ Herói  sem  nenhum caráter”significa  que  o  povo  brasileiro  não tem  ainda  uma  identidade.Não  estou  falando  da  identidade  no  sentido racial,mas  politica,juridica,mental.É um  povo  que  segue  o  caminho sem  finalidade.Não por  culpa  dele,mas  por  causa  das  mazelas  que  todos conhecemos.
Estas  afirmações,eu  sei  que  vão suscitar  em  quem  não  exnxerga  mais  do  que  o  nariz,  as  mesmas  criticas  que  o livro  recebeu.Vão  dizer  que  eu  não  gosto  do povo  brasileiro,que  sou  como Berlusconi,etc.Aliás  este  último  insulto    me  foi  feito publicamente.Mas    poderemos  mudar  o  país  se tivermos  coragem de  ver  realisticamente  os  nossos  problemas.
Todos  os  paises  que  alcançaram  um  certo progresso  tiveram  sempre uma  mediação  fundadora  das  suas nações.Mesmo  que o resultado  não  tenha  sido  no  sentido  humanista  que  desejamos,nem  que  resolva  os problemas  sociais,o  pouco  de  progresso  se  deu,minimanente ,pela  presença  desta mediação.Na  Alemanha a  mediação é  a  guerra,a  militarização e  podemos  falar  o mesmo  do  Japão,só  acrescentando  o aspecto  mais  marcadamente  organizativo;nos  Estados Unidos  a  “ igualdade de  oportunidades”.Na  França    um  princípio de laicização e  republicanismo,que  pelo  menos,no  papel,  abre espaços  para todos.Na  antiga  Grécia ,a democracia.
No  Brasil  é  um  pega  para  capar  geral.É cada  um  por  si.Um darwinismo  social  em  alta  velocidade e  ultra-destrutivo.Eu    disse  que  o  Brasil  me  parece  o  país  mais  próximo da  Alemanha  nazista  porque  a  idéia  de uma  competição  violenta  e excludente  de  quem  não se  adapta , tem  uma  guarida  igual à  daquele  momento  histórico  fatídico.
Macunaima  expõe antecipadamente e  com  coragem  este  problema.Depois  da  fundação da  república  falta-nos  um  povo,um  estado de  direito,uma educação  universal,uma  laicização de fato,uma  mediação  republicana e uma  consequente  organização.Falta-nos  uma  civilização.Dizê-lo  é  obrigação de quem  quer  salvar  o  Brasil  da  diluição e morte(como  acontece  com o  personagem).Quem  se ufaniza e  que  põe  em  risco  a  tarefa  de  fazer  o  Brasil  progredir.Sem esta  capacidade  crítica  ficaremos  como o herói,na  preguiça!Tem  mais  não!