segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Venceu a teocracia



A vitória de Crivella no Rio de Janeiro consagra o atraso mental do Brasil,que em vez de ir para o caminho da laicização,faz uma identificação entre religião e política que só levou,em outros países,a problemas graves.
Por mais que o candidato reforce o seu caráter laico,por mais que diga que respeitará esta disposição constitucional,ele não vai chegar a uma posição de destaque como esta,com a ajuda da Igreja Universal,sem dar nada em troca aos seus apoiadores,por tabela,favorecendo os preceitos religiosos em geral e a festa que o Pastor Silas Malafaia já fez ontem com a vitória de Crivella,demonstra isto.
O Rio de Janeiro,sendo a caixa de  ressonância do Brasil,servirá de modelo para este retrocesso em outros lugares,porque o que as religiões têm a oferecer ,em termos eleitorais,aos candidatos, não está no gibi.
As discussões políticas cederão lugar à pura identificação personalista com os candidatos,porque os valores que serão levados para as eleições ,serão previamente  decididos nos templos e cultos.
A consciência de rebanho consagrou um fenômeno terrível deste processo eleitoral,que é a vitória da anti-politica.Em dois estados do Brasil,embora a religião não esteja lá,predominou esta idéia,que não é muito diferente da de Crivella:de um lado,o gestor Alexandre Khallil,de outro João Dória.
Tudo isto transforma o eleitor mais preocupado com soluções práticas,que não virão,porque estas precisam de fundamentos politicos para serem abordadas e resolvidas.
No fundo no fundo,passou para os votos válidos a visão de quem anulou o voto:os políticos e a política não servem para nada,a religião e outras coisas  sim,o que desobriga cada vez mais o estado não só de ajudar o povo brasileiro,mas de representá-lo,numa deslegitimação geral que só serve ao mau político e à política do conchavo.
Lutar contra isto é a tarefa dos setores democráticos daqui por diante.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Freixo e o IPTU



Freixo e o IPTU
Para mim e para os setores mais tradicionais da esquerda o IPTU é como dizia o meu velho pai stalinista “ imposto de burguês”,porque,na verdade,é difícil encontrar o seu fato gerador e os seus critérios,que dependem muito da política burguesa.
No entanto,embora esta discussão ainda seja válida,o que me preocupa no PSOL,como preocupava no PT,é entender que é possível aumentar  este imposto,dentro desta premissa de “ imposto dos ricos” e colocar nesta denominação(ricos)setores da classe média trabalhadora.
Falta à esquerda  reconhecer o caráter produtivo da classe média e os seus setores complexos,ou seja, que mostram que ela não é uma só,homogênea.
Esta dicotomia anti-sociológica entre ricos e pobres dá margem a incompreensões deste tipo,e como eu dizia em relação ao PT tais distorções favorecem a  direita que está crescendo a  olhos vistos.
Voto em Freixo,dentro de uma perspectiva crítica e preocupado com o PSOL cometer os mesmos erros do PT.Nâo tenha dúvida de que do ponto de vista histórico é o PSOL,ainda gramsciano que tem a condição de absorver  a autocrítica histórica dos comunistas e ir além deles,mas aparentemente há elementos programáticos muito preocupantes como este aí do IPTU.  
Voto no PSOl para lutar contra este avanço da direita,mas temo que os seus métodos sejam os mesmos do PT.Por isso ,preconizo que o PSOL não receba o PT pura e simplesmente ,mas submeta o apoiamento a um rigoroso teste do tempo e dos fundamentos.
É hora de colocar a verdade histórica de que o tempo do PT de 1979 já passou,mas as massas que ele ainda reúne não podem se dispersar, não podem ficar no limbo.
Todas estas variantes estão aí em volta do PSOL do Rio de Janeiro,cuja responsabilidade histórica por isso é grande.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Todos têm que ser investigados



Inclusive Aécio,Eduardo Azeredo,o PSDB...A questão da corrupção não é uma questão partidária,mas nacional e do estado de direito democrático.
De modo geral quando vejo filmes sobre grandes figuras que lutaram contra a corrupção fico com um pé atrás,porque pode ser marketing para a própria pessoa.Contudo esta questão é muito complexa.
Às vezes a exposição é necessária para proteger a própria pessoa.A explicitação dos fatos garante sua vida,porque qualquer atentado contra ela será direcionado para os  que normalmente tentarão eliminá-lo.
Foi assim com Hélio Bicudo e o esquadrão da morte e com Sérpico nos Estados Unidos ,que denunciou corrupção policial.
Em outros casos a esta exposição não é admissível.Lembro-me do Presidente da STF colocado lá pela ditadura militar,Oscar Dias Correa,dizendo:” juiz não dá entrevista porque ele só trata de questões jurídicas normais e não há porque ganhar foros de importância por causa disto”.
Todos estas figuras públicas que estão sendo investigadas pelo juiz Sérgio Moro são iguais a todos perante a lei.O princípio é o mesmo.A notoriedade não obscurece o caráter que eles possuem de cidadãos com as mesmas obrigações dos outros.
Razão porque não vejo muito sentido em se fazer filmes sobre o juiz Sérgio Moro ou qualquer outro.No caso de Freixo,não foi ele o personagem do filme “ Tropa de Elite II”,mas um personagem.
O juiz Sérgio Moro não tem o direito de usar aquilo que é obrigatório e dever dele para se promover.É antiético e até certo ponto contra o estado do direito,porque um juiz assim pode  ser acusado de parcial.
O juiz tem que investigar todos,inclusive Aécio e o PSDB e esta falta me angustia até agora.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

O intransponível,mas distinguível:Freixo e as Igrejas

O processo de laicização




Esta eleição no Rio de Janeiro é um ótimo laboratório daquilo a que tenho me referido como necessário no Brasil:a laicização real do sistema político e ideológico  do Brasil.Não me venham com esta:dizer que isto aqui é uma república,uma federação,que existe separação entre  igreja e estado,público/privado,patati patatá,necas!!!
Nós somos um país por fazer nestes dois níveis,mas o que os une é exatamente esta idéia de separação,de distinção formal dos atributos,fenômeno essencial de um revolução mental e racional,que evite diluir os fundamentos da organização política e social de qualquer estado e muito mais o brasileiro.
Sem o fundamento da república todo mundo está acima da lei;sem o fundamento do público e do privado não há respeito à intimidade e à liberdade;sem o fundamento da federação uns se sobrepõem aos outros de maneira a romper o necessário equilíbrio de poder nacional;e sem o fundamento da separação entre igreja e  estado,os eleitores são não cidadãos,conscientes de tudo o que se disse acima,mas seguidores religiosos de pessoas que têm mais poder no âmbito nacional do que os que governam:os pastores,os padres,os orientadores espirituais do povo brasileiro, que ajudam  os crentes na falta renitente do Estado.
Desde Constantino que é assim:o Estado se desobriga a tomar o dinheiro do povo brasileiro para devolvê-lo em ajuda,porque as igrejas é que fazem isto,tirando os mendigos da rua,fazendo caridade,de forma honesta é verdade,mas ocupando um lugar que não é delas,sendo esta uma  responsabilidade dos governantes.E o dinheiro que vai para o estado fica com os que estão lá...
O espírito liberal do brasileiro ,principalmente nas grandes cidades como o Rio de Janeiro vai até ao ponto em que aqueles que não comungam de suas crenças não os atrapalhem.Nunca o crente vai entender a homoafetividade como um direito,enquanto ele não separar esta sua condição da de cidadão.Ele pode não aceitar a homoafetividade como crente,mas como cidadão não tem como negar-lhe o direito.
Freixo não vai realizar este processo agora.A sua derrota(até aqui)é para este atraso mental,esta indistinção.Mesmo que ele explicitasse o problema custaria tempo demais,não esta quinzena antes do segundo turno.
Mas como estão colocadas as coisas nesta eleição entrevemos um ponto de partida para discutir e avançar nesta questão republicana fundamental.