sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O que me irrita na “ nova “ direita



Surgiu nos últimos anos uma “ nova” direita que vive batendo no marxismo para justificar a retorno a 64.
Tem um representante deles aí(não vou citar o nome dele não porque ele só me joga indiretas)que só é o que é porque fez escândalo com o marxismo e só tem independência intelectual,por fora da academia,por causa do marxismo,que é um pensamento crítico.
O Brasil está cheio de pessoas que não sabem trabalhar.Ora fazem escândalo com a vida pessoal de notórios artistas,ora se escudam em fenômenos graves,como 64 ,para adquirir uma notoriedade que não teriam se eles  não houvessem.
E este mesmo “ filósofo” de Youtube vive cartando independência ,mas é avalizado por grupos integristas que lhe dão sustentação.Cometeu crimes estalinistas na sua vida toda,sente-se culpado e aí inventa um modelo oposto de ditadura para esconder as suas responsabilidades.
Os outros representantes são a mesma coisa.
Mas o que mais me irritou foi um debate que eu vi no Youtube sobre Che Guevara,” mediado” pelo anticomunista William Waack,em que não se disse coisa com coisa.
Não é nada demais ter uma postura crítica em relação a qualquer coisa,muito menos sobre Che Guevara,mas é preciso conhecer o marxismo para poder falar sobre algumas delas.
Depois que deixei de ser comunista eu aprendi a ler e a conhecer os meus inimigos ou “ diferentes”,antes de falar.
A perspectiva dos intelectuais de hoje é só dar vazão a modelos de interpretação que não são eles que constróem e geralmente não abordam o próprio tema,mas se lhes aplicam,como se esta fosse um atitude ética.
Neste debate um “famoso” historiador afirma que a aventura de Che na África foi “ engraçada”,porque ele achava que as relações sócio-econômicas do Congo eram desenvolvidas,em termos capitalísticos.
Em sã consciência ,ainda que sendo inimigo da figura,é possível fazer uma afirmação deste tipo,irresponsável?Será que o Che não sabia disto?
O que o Che tentou fazer foi a tri-lateral dos países pobres,uma forma de forçar o imperialismo a gastar com guerras,pelo mundo todo,uma estratégia que é base da atividade do terror nos dias de hoje e que segundo uma reportagem da revista Carta Capital,há muitos anos,sobre a dívida pública dos Estados Unidos,foi a base da atividade de Osama Bin Laden,que a provocou.
Por mais que se critique o Che é preciso se atualizar nos conhecimentos que se têm sobre ele.Quem se atualiza não são os doutores das universidades porque estes estão mais preocupados com o poder do que com o conhecimento,que se modifica e acrescenta.
Por isto,não raro obras feitas por jornalistas são melhores do que os papers universitários.O livro do jornalista Lira Neto sobre os bastidores da escolha  do Presidente Castelo Branco em 64 é mais importante e elucidativo do que quilos de obras acadêmicas.
No caso do Che,o livro recente de Jon Lee Anderson traz informações muito importantes sobre a atividade do líder argentino:que ele acusou  a URSS e  a China de fazerem  o jogo do imperialismo e de serem,afinal,países imperialistas;que os soviéticos,por isto,mandaram-no sair(não foi por causa da possibilidade de ser assassinado([como diz o Waack]{isto sempre pode acontecer});que o Che afirmou que continuando a atuar assim o socialismo,a longo prazo,seria liquidado(uma consciência que os comunistas (quase)todos já tinham depois de 68).
Eu aprendi que ler é bom,mas ver tudo o que sai sobre os fatos e fenômenos da vida é importante.Historiador brasileiro parece não ver documentários,por preconceito contra jornalismo e televisão.
Há um documentário muito recente sobre as relações de Fidel e Che após a exigência dos russos.Che sabia que ,segundo o marxismo,não há revolução comunista nacional e a sua  idéia  de espraiar a revolução era para cumprir este fundamento.
Che alegava que a revolução cubana ia entrar para o mesmo caminho do culto à personalidade se ficasse isolada,se não levasse esta verdade em consideração.
Historicamente todo mundo sabe(menos os acadêmicos que falam sobre marxismo)que os escritos de juventude de Marx e Engels que tratam do problema, só foram publicados na URSS em 32 ,por Riázanov.
Che não era trotskista,ele era marxista.A idéia de uma revolução universal está em Marx e é uma conseqüência da concepção moderna,iluminista ,do comunismo.Trostki sabia deste último fato e publicou livros sobre isto,sem conhecer os textos marxianos de juventude,mas sabia que era assim.
Quando Che foi para o Congo,tinha esta consciência.Não foi engraçado nada.A articulação com a África Central dependia dos esforços de construção da tri-lateral,que estava sendo feita pela Argélia e principalmente o Marrocos,através de Ahmed Ben Barka.
Quando este último foi preso,torturado e morto pelo general Oufkir,o esquema gorou e a importância do Congo cresceu na razão inversa da sua impossibilidade.
Nos diários do Congo de Guevara fica claro que sem este suporte o líder da Independência Congolesa,Laurent Kabila não aceitou a visão  internacionalista do Che,se recusando a fazer do seu problema um problema mundial.
Che voltou para Cuba ,fez a viagem internacional em que acusou os países socialistas e planejou,mesmo com a  derrota africana,a tri-lateral,a partir da Bolívia.
Primeiro discutiu muito com Fidel o culto à personalidade,o isolamento da revolução cubana,as perspectivas futuras do socialismo.
Antes de chegar à Bolívia,foi para a Techoeslováquia, onde escreveu alguns textos sobre estes problemas,afirmando o liquidacionismo do socialismo,por causa do chauvinismo de grande potência,notadamente da URSS.
Desde o inicio a revolução cubana alegou diferenças em relação ao socialismo real,mas dependeu dele e Che ,ao se sacrificar(é uma discussão se valeu a pena ou não)visava exatamente seguir os paradigmas  básicos do Marxismo.
Gramsci e Guevara permanecem por razões diferentes,mas Che é um mito porque ele defendeu aquilo que todo mundo sabe:resolver o problema social hoje é resolver no âmbito mundial.É isto que o torna ainda um mito.
É lógico que há problemas:o fato dos cubanos o colocarem no tribunal que fuzilou opositores do regime,foi uma atitude oportunista pois  que não queriam se indispor com os seus cidadãos.Isto prova que a aderência ao socialismo não era tanta assim.É lógico que isto pôs a vida do Che em risco,mas há mais coisas em torno de tudo isto,não o que é conveniente para esta direita ruim que só cresce por causa da pobreza igual da esquerda.
Eu não gosto de citar nomes,mas no caso aqui vale como fecho cristalizador destes argumentos:na época do impeachment de Dilma Fernando Morais acusou Marco Antonio Villa de ser intelectualmente pobre,mas numa entrevista no Senado,Fernando disse que era chavista porque ele ia distribuir dentaduras para os venezuelanos.
Quer dizer, as pessoas que estudam,que se dedicam,que são profissionais, estão entre estas duas pobrezas e a realidade vai se complicando.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

A Coréia do Sul




O que a Coréia do Sul fez na última quarta-feira ,para irritação de Trump ,é o que deve ser feito para evitar a catástrofe.E é o que o ditador norte –coreano quer com toda esta agitação.Sempre foi isto.
Sendo a Coréia do Sul a mais ameaçada ela não teve outro jeito senão oferecer ajuda financeira,mas isto é apenas inicio de um processo diplomático a ser  continuado.
Kim Jon Il quer legitimar o seu regime através da chantagem,mas o efeito de uma relação com os outros países é mais benéfico para uma transição pacífica de regime,como se viu e se vê em Cuba.
O ditador sabe que é uma responsabilidade histórica terrível destruir um país inteiro.E os sul-coreanos mais do que ninguém,sendo eles “ Coréia” também,com familiares morando até hoje no norte.
A perspectiva de Trump é a de um espectador longínquo,mas obrigado a proteger suas alianças e as suas áreas de influência.
Aí entra o Japão,que fica numa situação ambígua de pedir esforços diplomáticos,mas querer igualmente “ independência “ no pacífico.
Contudo a atitude humanitária é a da Coréia do Sul,pelo motivo acima exposto,das famílias divididas e é base que deve servir de fundamento à diplomacia,se se quiser humana.
Mas o imponderável continua atuando em favor da guerra nuclear.


A cólera das legiões




O pronunciamento do general  na última semana é a continuidade da História como farsa.64 continua aí:os erros crassos da esquerda ,que quer resolver os problemas na força e a reação da direita se fazendo mais presente.
O ato em si do general Mourão(que não é o vaca fardada...)não ter sido punido demonstra a fraqueza da autoridade e de outro lado se punição houvesse a repercussão seria muito maior e favorável à direita.Ou seja,estamos num beco sem saída.Só falta catalisar um sentimento de medo na sociedade civil brasileira,tão desorganizada ,para o rastilho de pólvora explodir o paiol.
E o pior de tudo:a intervenção constante e já de anos nas comunidades,nos problemas sociais,cria na imaginação de todos um arremedo de segurança que pode ser este catalisador.Tudo conspira novamente  para uma solução de força.
E ninguém duvide de que esta fala foi casual e fortuita,porque ela já segue uma estratégia,uma temporização,nas quais se encaixa o militar.
Os políticos,corruptos, perderam e perdem ,cotidianamente, o respeito do povo e a esquerda só fez besteira nos últimos 12 anos.Então o cenário está pronto para mais esta pantomima.

A reocupação das comunidades pelo crime



Eu já tinha dito antes da copa do mundo que a ocupação das favelas do Rio de Janeiro era só cosmética,para dar segurança aos estrangeiros e uma aparência de normalidade.Além do mais era uma promessa política de resolver o problema social,mas como eu já afirmei também,em texto sobre o Haiti ,nós vivemos num mundo em um imenso impasse,porque muito embora a direita e os hedonistas de plantão e de todas as épocas afirmem que está tudo bem,nós sabemos que o fim do comunismo não significou isto de forma alguma e a questão social continua na ordem do dia e se avolumando em problemas maiores ,cada vez mais.
Se o Brasil ajudasse na solução do problema fundamental do Haiti seria obrigado a solucionar o seu próprio e não implementou soluções sociais junto com as ocupações porque se o fizesse o teria que fazer com o Brasil todo.
É muito melhor viver num mundo em que as pessoas praticam caridade ao invés  de construir campos de extermínio.Mas a caridade é  medida deste impasse geral.É uma forma de aplacar a consciência culpada e incapaz de solucionar o problema social.É incapaz porque se o fizer terá que reconhecer os problemas internos dos países e a responsabilidade(histórica) dos mesmos.
Quem vai convencer a Alemanha de Angela Merkel,que está se tornando eterna no poder,de que ela e o seu(dela) país causaram a crise da Grécia?Eu me lembro que todos mostravam a vantagem e a necessidade de alternância do poder frente aos regimes comunistas,que tinham líderes eternos.E agora com Angela Merkel?Ninguém vai protestar não?
Os comunistas italianos entenderam que a alternância era essencial para evitar os conluios,os esquemas de poder e de corrupção,que geram e se reproduzem na miséria,inclusive na caridade.
Os esquemas eleitorais tradicionais acabariam se a vida social das favelas fosse melhorada,se os direitos dos seus cidadãos fossem reconhecidos e implementados.Por isso não houve e não há interesse em mudança.Por isso a exigência de implementação de direitos sociais nas favelas não se  seguiu à ocupação,que obedeceu,desde o início ,à lógica sul-africana dos “bantustões” e que agora ,com a superveniente crise de autoridade dos governos,vai ser atropelada pela bandidagem,que aterrorizará as comunidades,como sempre,inclusive se vingando.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

A Coréia do Norte



Para analisar o que acontece na Coréia do Norte e seu entorno,é preciso recordar como eu encaro os países do chamado “ socialismo real”.Estes regimes ofendem  a teoria e não têm fundamento.São “ gigantes” de pés de barro,prontos para cair.Como a maioria dos analistas o problema todo é o imponderável que esta situação básica provoca,mas existem alguns outros problemas ignorados.
Um dos problemas ignorados é a  relação do Japão com os Estados Unidos,porque no seu contexto ainda não acabou a 2ª Guerra Mundial,pois a Constituição nipônica é ainda tutelada.Os ataques da Coréia sobre o Japão são uma estratégia calculada para romper este equilíbrio que já devia ter sido modificado pelo passar do tempo e pela importância do Japão no mundo de hoje,aparentemente diferente do do século passado.
Digo aparentemente porque a sua continuidade pode indicar que,pelo menos da parte dos Estados Unidos,o Japão ainda é um perigo.
Os desenvolvimentos históricos do Japão até ao episódio Mishima em 1970 parecem indicar que o desejo de revanche ,principalmente insuflados pela potente direita japonesa(a qual pertencia Mishima),revelem que ,sob as cinzas,há brasa.
Outro aspecto:o físico brasileiro José Goldemberg concedeu uma entrevista ao Globonews no ano 2000 afirmando que a Coréia não tinha arma nuclear nenhuma,usando uma metáfora até engraçada:” é como se porque existe ferro nas montanhas de Minas,o Brasil estivesse com mais industriais e carros”.
De lá pra cá a situação mudou de um jeito drástico,chegando ao ponto de a Coréia poder ter,supostamente ,um arsenal próximo do dos EUA(eu não acredito).Então neste meio física/Mídia/agências internacionais,há um ruído de informação,proposital ou por incompetência  mesmo.
Mas a verdade é que a Coréia sempre fez este escarcéu para negociar nas suas bases algo que não tem nada a ver com transição para um regime democrático.É o mesmo o  que acontece em Cuba:se houvesse uma intercambiação,pelo menos comercial ,entre os EUA e Europa com a Coréia o regime tinha tudo para cair,mas o que impede isso é a China,porque ela teme uma catástrofe humanitária ,com milhões de migrantes  chegando nela,famintos e sem nada.
Não há como separar a questão da Coréia de uma transição e como ela não o quer, os elementos casuais,a falta de fundamentos naquele país e ,agora,a entrada de um doido na casa branca põem em imediata possibilidade  de acontecer aquilo que eu já pensava quando da queda da URSS):o acaso,a presença de um doidão(ou dois).A URSS, juntamente com os Estados Unidos,tinha meios de evitar,no contexto nuclear, o mais perigoso fator para o desencadeamento da guerra nuclear(que já começou[em Hiroshima e Nagasaki]{Hannah Arendt}),que eu penso que não será universal(pois só a China é aliada oportunista da Coréia).
Se houver um ataque dos Estados Unidos a China pode intervir e aí outros países podem vir a ajudá-la,mas eu não acredito,porque a China está empenhada em competir economicamente com os EUA e não sairá deste foco.