quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Posição da esquerda democrática diante de Bolsonaro.


Escrúpulo não é neutralidade.


Não estamos diante de nenhum golpe porque Bolsonaro foi eleito.Como tenho dito há interesses nesta direção,mas até hoje o Presidente-eleito não os apoiou.Aliás é ele que será sempre o fiel da balança,cercado por estes interesses.Ele tem que governar até ao final.
Nestes meus artigos ,durante tantos anos, tenho expresso a minha opinião ,obtida da minha experiência de vida e ,dentro dela,a minha experiência política:nós estamos numa situação semelhante aos anos de 67 e 68.O país polarizado e ressentido com questões do passado.Quem lê os meus artigos e os meus livros sabe das minhas convicções.
Está certo,é preciso reparar os crimes da ditadura,dar uma satisfação a mães que sofrem,tudo bem,mas eu repito aquilo que  disse há muitos anos atrás:esta questão não pode ocupar o Brasil ad infinitum ,não pode;há pessoas na esquerda que usam o problema para fazer carreira profissional;a  associação do processo específico de  tortura na ditadura tem sim relação com o problema social do Brasil,mas a esquerda não tem o direito de monopolizá-lo .E nem de alguns de seus integrantes construir carreiras ,profissionais ou politicas,prolongando esta questão.
Vamos ver se nos entendemos:o fato de eu criticar a esquerda não me torna apoiador de Bolsonaro.Ponto.A minha concepção de esquerda mudou   e,nesta mudança, a mediação nacional adquiriu caráter central,tanto quanto o capitalismo,ou mais:porque é na mediação nacional que as decisões são tomadas,não só por quem é votado,como Bolsonaro o foi,como por quem nele votou e por quem  não votou nele .
Acabada a eleição,a representação retoma o seu aspecto essencialmente nacional,porque se assim não fosse(se assim não for)o Presidente ,o politico ,governaria para um setor só da sociedade,o que é absurdo,mas muita gente não sabe.
Exigir que a oposição goste de Bolsonaro é uma coisa,mas da nação sim.Ela tem que entender que a decisão de eleger o  ex-soldado,ligado à ditadura,foi do povo,segundo a lei,o que lhe confere plena legitimidade. E é a partir daí que devemos pensar o modo de relacionamento com este governo.
Reforçar as suas posições em manifestações ,tudo bem.Manter-se unido e ganhar força,tudo bem,mas a confrontação,não.A discussão sim.
O que levou o ex-soldado ao poder foi exatamente a incompreensão que a esquerda devia ter dos limites de sua atuação no plano da democracia e do estado de  direito.O discurso é perfeito,mas é impossível não pensar em revanchismo quando a insistência nas reparações atinge os limites a que me referi acima;quando esta questão favorece politicamente algumas pessoas;quando o exército fica sem verbas e condições de fazer a  defesa nacional.
A insistência da esquerda em comparar as lutas lgbti,do negro,do feminismo ,num mesmo fundamento que o da luta de classes,induz a esta confrontação,como se ela fosse criativa,mas é destrutiva,como o foi em 64.
É  hora de  a esquerda incorporar ,de fato ,não só a democracia e os seus elementos indispensáveis(estado de direito),mas também,a nação,como vem fazendo o Partido Democrata dos Estados Unidos.Esta é a razão do seu crescimento e da reação violenta dos republicanos.
Não é só reconhecer os erros,mas criar uma visão positiva do mundo,de atuação dentro das mediações formais e institucionais em que se vive.
Há denúncias de provocação militar e o Presidente Bolsonaro tem a  obrigação de desautorizá-las o tempo que precisar,em nome da sua legitimidade,mas a esquerda tem que se elevar,não confrontar.


domingo, 28 de outubro de 2018

De como Karl Marx pode ajudar a democracia brasileira


Alguns cínicos radiofônicos têm propalado que a democracia brasileira tem que continuar,que o estado laico vai continuar e que a liberdade vai continuar.Mas têm assustado a classe média com frases do tipo:” Isto é Karl Marx”,”é ditadura”,é “querer acabar com a religião”.
Estes cínicos,comprometidos com o bicho e com as milícias no Rio de Janeiro,sem ter coragem de mostrar o rosto, usam uma minoria comunista e o espantalho de Karl Marx para defender um regime que lhes seria extremamente favorável.
Mas eles não se dão conta de que os valores da democracia(como os da religião )não são mensuráveis pelo critério da maioria.A defesa da liberdade,como a  defesa de Sodoma,depende do elemento transcendental do direito de pensar sem nenhuma forma de repressão.Ainda que não houvesse ninguém interessado em ler e comentar Karl Marx,a liberdade se fundaria naquele que viria a nascer e a se interessar.
O valor da liberdade é sempiterno,dependendo apenas do seu fundamento legítimo.
Eu aqui sempre demonstrei um espirito crítico em relação a Marx.Nem por isto votei em Bolsonaro.Após muitos e muitos artigos ,ao longo dos anos,tenho exercitado o meu direito de ser escrupuloso,procurando entender as teorias,as nações,o Brasil,de modo a poder ajudar no seu progresso e no da humanidade,através dele.
Criticando ou concordando com Marx o trabalho de estudo que eu realizo aqui vai continuar como expressão deste valor sempiterno da liberdade.
Neste sentido é que eu digo que Marx vai nos ajudar a manter  democracia funcionando.Jumento de direita e de esquerda,que acha imbecimente que a pessoa tem que ter lado, não vai entender o que eu digo porque cada um só pensa no seu lado,mas o que está em jogo agora é a democracia e a liberdade.
O uso do comunismo como forma de assustar o Brasil é o meio vergonhoso que certos grupos citados no artigo anterior têm para acabar com o direito de quem é comunista ,mas o de quem não é também.
É a conjuntura típica de 67/68 na qual o fenômeno politico de usurpação dos direitos políticos do povo surge como aditivo essencial  do golpe e do autoritarismo.Naquela época Roland Corbisier lembrou as formulações do téorico liberal francês Benjamin Constant a respeito de Napoleão,que roubou,segundo ele,os atributos da soberania republicana do povo,proclamando o império,o primeiro império francês.
A permissão,pois,de leitura de Karl Marx assume nestes dias ominosos o caráter de defesa da democracia e  da liberdade e eu vou continuar fazendo aqui,a despeito de jumento de direita e de esquerda.
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