sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A burrice do “gênio” ou que culpa tem o nordestino?



Uma  das  grandes  verdades  da  história  da  humanidade  é  que  é  difícil,senão  impossível , unir  numa  mesma  pessoa  o  intelectual  e  o  político e  eu  não  vou  discutir  neste  artigo  porquê.Vou  me  ater  ao  fato  das  conseqüências  maléficas  de algumas  tentativas  causarem  espanto  e  até  riso  nas  pessoas.Ou  algo  mais trágico.
Quando  houve a  nova  política  econômica,patrocinada  por  Lênin  na  URSS,pela  qual   haveria  uma  liberação  capitalista  do  processo  de produção  ,de modo a  permitir  que  os  camponeses  tivessem  lucros  maiores ,depois  do  comunismo  de guerra,o  chefe  da  revolução  enviou  o  seu  pupilo  Bukharin  para  explicar  aos  mesmos  camponeses  que era  permitir  ter  lucros,para  inclusive  o  camponês  poder  viver melhor e beneficiar ,com  os  tributos,o  estado  soviético.
Bukharin  foi a  uma  reunião  e    pelas  tantas disse  uma  frase  que  seria  fatal  na  sua  vida  e que  usada  anos  depois  por  Stálin , ajudou a  matá-lo:”  enriquecei-vos!”,em plena  revolução  proletária  russa.Bukharin  passou  a ser  um defensor  da  burguesia...
O  problema  é  que  todo  intelectual  busca  desesperadamente a  verdade,a  confirmação de  suas  teorias,mas isto  não  se  coaduna  bem  com a  política.A  política  não  se entende pelo falar  dos  políticos,mas pelo  não-falar .Se  define  pela  ação  e  pelo  pensamento.Algumas  correntes  de pensamento  na história,inclusive  o  marxismo,tentaram  mudar  esta  verdade.O  falecido  Tancredo  Neves ,em  contato permanente ,na  época  da redemocratização,com  os  comunistas,ficava  impressionado  como  os  mesmos  explicavam  qualquer  coisa  até  à  exaustão.Nem sempre  explicar demais  significa  discernimento,que  é o  verdadeiro  conhecimento.
O ex-presidente  Fernando  Henrique  demonstra novamente  como  esta  relação  político/intelectual  causa  riso e dano,até  fatal.Ao  dizer  ,como  sociólogo,que  o voto  dos  nordestinos  em Dilma,revelava  que  ela  tinha  um eleitorado menos  esclarecido,jogou  os  indecisos  daquela  região,todos,no  colinho  da Presidente.Além  do  mais  gerou  um  mal-estar  quanto  à  possibilidade  de nesta  fala  haver  um  preconceito,ainda  que  indiretamente.
Ora ,tenho certeza  de  que  muitos  vão  dizer  que  os  políticos  precisam dizer a  verdade e não  ocultar  o  que  pensam,mas  em  política    que  ter  noção quanto  ao  papel da  verdade.Ainda  que  fosse  verdade  isto,que  culpa  tem  o  nordestino de querer  votar  numa  presidente  que cria  o bolsa  família,um dispositivo  assistencialista  que  ajuda  a minimizar  uma  situação  de miséria?Isto  não  é  legítimo também?Porque  o  nordestino  estaria trocando  o  seu  voto  por  comida,se ele  precisa  de ajuda?Isto  não  é  legítimo?Quer  dizer  que  a  Presidente  faz  chantagem com  o  pobre?O  melhor  era  tirar  a ajuda  e  deixá-lo em situação pior?Não se vê  por este exemplo  que  a verdade  é  complexa?
O  que  faria  um  intelectual mais  vivenciado  diante desta  complexidade?Entenderia  que  apesar  das  possibilidades  de  chantagem  política  ou  pouco esclarecimento quanto a isso,não  justifica  tratar  o nível de consciência  das  pessoas  como defeito,mas  algo a  se modificar.
Isto  seria  uma  perfeita  união entre  o  intelectual  e o  político,mas  é uma  verdade  que  a  vivência dos  intelectuais  não  passa  da leitura.É  necessário,obrigatório,  ao  intelectual  andar  na rua,senão  ele  comete estas  gafes  que  ajudam  o  seu  pensamento  a ser derrotado e formam  mais elementos  de preconceito,num  país   tão  pleno deles.E  não existe  político  sentado.   

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Qual a diferença entre reforma (mudança) e assistencialismo?



Continuando  o artigo anterior ,o  que é uma  reforma realmente?Uma  mudança  real  destas que o povo  brasileiro precisa?Em outro artigo eu já abordei este  tema que vou aprofundar agora.Eu já me  referi à reforma  educacional  para o mal,do  Sr Jarbas  Passarinho.Lá  eu  dizia  ,e repito agora,  que  reforma  é fundamento,mudança  de fundamento.Não  é reforma    criar o  Enem,mas o  é,criar um sistema de  créditos na universidade pública,para acabar  com   a  solidariedade  da sala  de aula.
Reforma  é mudança  porque  refaz  os fundamentos  de  alguma  coisa.Aquilo que  chamamos  de  reforma  de uma casa,não  é mais do que uma atualização,pois  reformá-la  seria refazê-la  toda.Assim  é  na vida social e política.
Viver  numa  sociedade  cruel,que  não oferece assistência aos pobres é  ruim.É  muito  melhor    viver  em  uma  que se  preocupa  e procura  minimizar  os sofrimentos  dos excluídos e,portanto,não  nego a importância  de  assistencialismos e a  honestidade  de quem  o faz.Contudo, o assistencialismo  como finalidade  reproduz  os fundamentos  da  exploração e  se beneficia  dele,como  as classes e o períodos  históricos  que  os criaram.
Não  tem  sentido  falar  que  a escravidão causou  o catador  de lixo,se  o  máximo que uma  ONG  faz  é  dar  comida  a ele ,ou fazer  um filme,em que  ele  é  protagonista.Não  adianta dar expressão  a quem  vai continuar na  mesma situação.Aí é  a chamada liberdade formal.É incrível  que setores  radicais,restos de marxistas e comunistas  aceitem isto com tranqüilidade.Antigamente  se chamava  isto  de” administrar  o  capitalismo”.Se eles  conhecessem de fato  o marxismo  veriam  que,no fundo,agem dentro  de uma lógica burguesa.
Repito,eu ,como reformista que me tornei,não  acho dispensável o assistencialismo,mas ele  é apenas  parte inicial  de  um processo  de  inclusão  social,que  só se realizará quando,com  o bolsa família,todos os estudantes puderem deixar de trabalhar e se formar.
O problema  fundamental do povo brasileiro,do jovem brasileiro é  que ele não tem incentivo e condições  de só estudar porque  a  maioria tem  que trabalhar.Isto não é contemplado pelo  bolsa  família.
Eu  trouxe  esta  questão  para este artigo,como  continuação do anterior,em  que eu colocava a necessidade  de reformas  reais  para  o  povo  brasileiro.
Quais  seriam estas reformas  reais?Uma eu já coloquei,outras colocarei  progressivamente aqui,à discussão  de todos:mudança  do sistema  eleitoral,modificação do  papel dos partidos,melhorar  o ensino básico,ensino  público e gratuito,reforma agrária  ,reforma urbana e outros.
É  um  modo modesto,meu,de iniciar esta grande discussão no âmbito  da reforma política ,saia ou não.

Alta dos juros O fio da navalha



A alta  dos juros,em  níveis  estratosféricos,que lembram  antigos  períodos  da nossa  história,mostra  como  eu tinha razão nos artigos     anteriores  em  que  até citei  os  juros.Talvez haja uma  certa  irresponsabilidade  do governo  de não fazer a alta no período das  eleições,por  motivos  óbvios.Isto é,manipulação  eleitoral.
O  fato  é  que  estamos  sim  numa situação  em  que   é preciso  evitar  um PIB  pequeno e  uma  inflação,principalmente  porque  o   governo  faz   investimentos  assistenciais  ,que  são  só despesas.
Nunca  defendi  ditadura do orçamento,fechar  a  bica  e não  fazer nada.Isto é inadmissível  notadamente  em  quem  tem  uma visão social  das  coisas.Mas  perder o  controle  do  crescimento,a partir  de  necessidades  políticas imediatas(imediatistas),é  um risco  terrível.
A minha  análise  é  a de  sempre.O  PT  teve  que realizar um acordo com os conservadores  e  para manter a  ligação com  o  povo  montou  este pacto  com  as classes  médias  e mesmo com  os setores  mais  pobres.Não  me venham  com  esta  história  de que  o PMDB,como representante  deste conservadorismo  político se  assusta com  isso,muito pelo  contrário.O Bolsa Família,o  sistema d e  créditos  para que as classes  mais  baixas   possam  comprar,tudo isto  é uma  forma  de manipulação  conservadora das necessidades reais das  classes subalternas,através  da  figura carismática  de  Lula,que,como eu já  disse,ficou  refém  por causa  do mensalão.
O  que  ocorre,pois,é um  grande  pacto  bamboleante,que  repercute  na  economia,a  qual  foi bombardeada  por despesas  dos eventos  esportivos.Acrescente-se a dívida  interna e os problemas políticos.
Não estamos,de forma  alguma,num  mar de tranqüilidade.O  sucesso também traz  problemas.As exigências  sobre  Dilma  ficarão maiores,sem necessariamente  haver legitimidade.
A proposta dos conselhos,parece querer  construir  um governo paralelo,para setores supostamente legítimos,deixando de lado ,outros.
Nesta conjuntura,a reforma política vai adquirir  uma premência  ainda maior e a ação inicial da presidente Dilma,conduz a um desequilíbrio político que pode prejudicar  a  elaboração  de reformas  realmente importantes  para o povo,diante de um congresso já muito sem  vontade de largar o osso.
O primeiro movimento  de Dilma  também indica   que  forçar o congresso a uma  reação  torna-o  mais  maleável,num segundo momento,a  uma cooptação,porque eu não acredito  que ela tenha  a intenção de partir para um confronto,tipo “dualidade de poderes”  de Lênin.
Isso seria o  caos,mas tenham certeza  de que muita gente nas esquerdas joga  com  isso.
Nós não temos que  andar no  fio  da  navalha  não,temos  que andar seguros e com  consciência e  realizar  uma  reforma  política verdadeira,para os próximos anos,não  para  o imediato.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Má notícia:conselhos populares ou uma no cravo outra na ferradura



Depois  de uma  boa  intenção,que foi aceitar o referendum,Dilma vem com uma proposta que eu não aceito,os  conselhos populares.Conforme eu  disse  no artigo anterior,se  a constituinte,o referendum  e o  plebiscito são legítimos,esta  idéia,como está proposta,é também usurpação.Ela  é  como   um    segundo  parlamento”.
O que eu  sempre propus  foram  órgãos  de fiscalização e  de agilização da relação  povo/governo.Nós todos  sabemos que as  leis  feitas  pelos  parlamentares   não  pegam.Para  isto estes órgãos   informariam  e  criariam condições  para  que o povo pudesse  resolver seus  problemas com  rapidez.
Existe o  estatuto do idoso,que proíbe  que  pessoas com determinada  idade  fiquem na rua,mas o que se vê é  isto.Neste caso  pessoas preparadas poderiam ir  às cidades  e  tirar estes excluídos da  rua.Isto vale para outros problemas nacionais  e  certos  órgãos da justiça    possuem  esta  obrigação,sem  cumpri-la.Outro  dia  eu vi uma reportagem  de    um  menino  jogado  na  rua  pela  família,por ter  AIDS  e ser homoafetivo.Ele  está lá até hoje e  o  ministério público  não se interessa  em ver o caráter  criminoso  desta  conduta  familiar.
Um  conselho  popular  não tem o direito,aí  sim,de legislar no lugar dos deputados.Isto  sim   tem semelhança   com o que  aconteceu(e  acontece)na Venezuela.Há nesta proposta um questionamento da representação,pela democracia  direta.
É como se cada um de nós,indo fiscalizar a atuação  de  nosso deputado,pudesse  descer  as  galerias  dos parlamentos  para  legislar.
Nesta proposta existe uma idéia de ligação  direta,deixando   de lado a    necessária     crítica  reformadora dos  partidos    e  nos  induz  a  pensar  que esta ligação  pode favorecer  as  evidentes  tendências  autoritárias dos partidos em geral  e  dos da base do governo  em  particular.
Quem  quer  entrar  na política e não  tem  dinheiro  ou nome  sabe  que  é muito  difícil e  que  os partidos   são  muito  fechados,a começar pelo fato  de  que não  há discussão  nenhuma  dentro deles,valendo o  princípio de  que  tudo vem de cima  para baixo.
Se  amanhã  houver  uma  ditadura  do executivo,os partidos  estão  prontinhos  para  aderir.
Parece  que a Presidente Dilma joga  uma no cravo  outra na ferradura,procurando  interagir com  o congresso  e depois  mostrando  força,mas não     saída  sem o congresso,por pior  e  resistente  às mudanças  que  ele seja.