quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

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Amigos  não esqueçam de acessar o meu scribd Brasil,onde ponho artigos  mais aprofundados para apreciação de vcs.Se não tiverem condições de contribuir  para o trabalho   do professor ernesto,imprimindo e respeitando os direitos autorais,leiam os artigos no monitor e enviem comentários.

Proselitismo na família





Seguindo o artigo anterior eu sou,dentro do espirito republicano laico moderno,contra qualquer forma de proselitismo,de qualquer poder sobre a sociedade civil e ,notadamente dentro da família. Embora,como disse no artigo  anterior,a Igreja Católica tenha deixado muito recentemente de realizar vocações impostas,a parte  mais verdadeira do pensamento de Pio XII ,ela ainda usa mecanismos de intermediação forçada das relações sociais,como ficou evidenciado em muitos  dos discursos do Papa Francisco. Ele disse que a África(e os outros continentes)deveria ser construída na base do amor cristão,sem deixar deixar margem para outras formas de amor legítimas. Apesar de  aconselhar que não haja invasão da privacidade dos homoafetivos,nunca mudou a sua opinião de que isto é coisa do diabo. Com a posição da igreja contra o controle populacional ela tem mais influência sobre a sociedade do que o Estado,que é conivente por razões eleitorais e manipulatórias.
Mas neste artigo eu quero dizer,no âmbito do espirito moderno de que é a comunidade a base de qualquer poder,conceito que nasce do protestantismo,mas se amplia em formas não religiosas,que toda a forma de proselitismo é coisa da idade média mais obscura.
A preparação do indivíduo na família,por exemplo,é tida como um direito inalienável dos pais e estes têm o direito de impor as suas concepções ideológicas ou religiosas,como derivação disto,mas esta  concepção é uma  imposição,como explica o existencialismo. Psicologicamente,aquele que vem ao mundo recebe a existência como algo de fora para dentro. Nem Jesus Cristo,na manjedoura,escapou disto,a menos que ele tenha sido(e isto escapou aos evangelhos),como Buda,que assim que nasceu,falou à mãe,como gente grande ”Vim ao mundo para aliviar o sofrimento dos homens”,depois  do quê voltou à condição de bebê ,no berço. Esta situação só tem similar no evangelho ,quando ,em Mateus(pareço um pastor),Maria perde de vista o bendito fruto,para encontrá-lo,recitando a Torah como rabino. Quando ela reclama ele diz; “ Que tenho eu contigo mulher?”,demonstrando não malcriação em relação à nossa senhora,mas consciência do seu papel no mundo,na adolescência,um pouco mais tarde do que o Sidarta.
Nem se fale na questão do batismo O articulista que vos fala,ateu ,como seu pai,foi batizado às escondidas,por sua mãe católica,porque senão algo sério aconteceria...Jesus foi batizado na idade adulta e a criação deste batismo de recém-nascidos é uma invenção política de Constantino ou pelo menos começa a ser forjada no interesse político que este Império  Romano atribuiu ao cristianismo:legitimação do mesmo,pela adesão da maioria cristã.
Mas tudo isto permanece hoje,de uma forma oculta,como o mostraria Foucault,nestes conceitos pseudo-democráticos que a igreja joga cada vez mais e que servem para manter a situação como está. Pergunto de novo,a quem serve um  discurso papal de crítica ao abandono das populações s e este continua?Enchentes,todo ano,pessoas desabrigadas...Tenho certeza de que a caridade não é suficiente.
Ora o espirito de liberdade,se deve surgir desde o momento da existência  é não ampliar a imposição que já nasce com ela,mas começar a oferecer consciência,reconhecendo as limitações claro,mas não admitindo proselitismo nenhum. O mais impositivo destes proselitismos, a religião(depois que a ideologia foi embora) vende a sua legitimidade pelo amor,mas o amor é uma coisa,construída,que não se identifica só com a religião,pois existem formas de amor ,afeição e sexualidade. A admissão desta pluralidade é a condição da liberdade de escolher. Assim sendo,por mais bem intencionados que os pais sejam,o amor paterno só o é enquanto a educação é feita para os filhos e não para eles e isto só se faz admitindo a escolha dos filhos,logo,a educação por um valor religioso é obrigatoriamente impositiva,uma forma de vocação imposta,que só é válida se o sujeito ,se o filho aceita,o que,muitas vezes,acontece por impossibilidades da criança  que se frustra e talvez por causa da relação inevitável de relação amorosa entre pais e filhos.Para pedir a atenção dos pias ele aceita a religião Mas em qualquer caso existe o risco geral de repressão daqueles que discordam,porque as maiorias,ou dentro delas,muitos gostariam de sair e quando vêem os que saem os atacam ou reprimem,num mecanismo claro que une repressão e ressentimento.
Quando cristo no Getsemani pede ao pai que o afaste do cálice ele está revelando esta verdade existencial que quem sabe surgiu intuitivamente diante dos homens do passado,segundo a qual existe,pelo nascimento,uma ditadura dos pais,in potentia e que há que buscar uma superação disso sempre.
Muitas vezes o cristão, no afã de se aproximar de seu Deus,esquece esta virtude do cidadão,a liberdade. Ele passa ao largo do Estado,porque Deus é mais importante e nisto a sociedade perde.
Eu não aceito nenhuma forma de proselitismo,prioritariamente familiar,porque o maior ensinamento é a escolha.

Laicização e ateísmo




Existem movimentos no Brasil que confundem  laicismo com ateísmo. A URSS ,desde as constituições patrocinadas por Lênin,afirmaram o ateísmo como política de Estado,defendendo o seu proselitismo.
Dentro de uma tradição que remontava ao século XVIII(talvez até antes,séc. XVII),como resposta às guerras religiosas,a luta pela tolerância foi construindo um pensamento ,que desembocou no republicanismo moderno,de que a religião não devia se misturar com a política. É um aprofundamento de concepções que vêm de um Erasmo de Roterdam,por exemplo,que acusava os  Papas de não serem pastores,como mandava a Bíblia e Cristo. A precipitação da Reforma e a consequente Contra-Reforma,rivalidade que gerou as terríveis guerras religiosas,colocou para debaixo do tapete estas concepções.
Depois do século XVIII,o problema judaico ,na Europa,trouxe de volta o problema religioso. Muitos judeus (como o pai de Marx,por exemplo),na Alemanha ,se aculturavam alegando uma atitude agnóstica diante da religião. Que a questão da crença em Deus era uma questão pessoal e que o problema era a religião,uma questão de poder como qualquer outra e em nome desta aculturação afirmavam que o Estado Moderno não devia se imiscuir na religião,porque assim,embora estes judeus se aculturassem,não ficavam mal com seus irmãos,que resistiam.
O deísmo,na Europa,de um Voltaire ou de um Robespierre,era uma forma de amplificar o direito inerente de cada cidadão,principalmente nas cidades Européias protestantes,pós-guerras,de manter as suas crenças como algo estritamente privado.
O direito protestante de ler a bíblia e interpretá-la com mais liberdade colocou a possibilidade ,para alguns corajosos,de não interpretá-la,de deixá-la de lado,bem como a Deus.
Vê-se por aí que a separação entre igreja e Estado,como representante dos cidadãos e o ateísmo estão juntos. Contudo ,dentro da liberdade civil não estão.
Na Revolução Francesa a afirmação do estado laico é absoluta,depois de 1792,com a primeira república francesa. Contudo os excessos e libertinagem política  e social geral  forçaram Robespierre a criar um símbolo deísta,que transcendendo às pessoas,lhe desse propósito e motivo de obediência e disciplina do cidadão. Este símbolo foi o culto do ente Supremo ,que poria os cidadãos numa humilde constatação de que há algo maior do que ele. Robespierre ainda era um homem do passado,porque o cidadão ,no sentido moderno da expressão,não deve respeito a um Deus medroso de aparecer,mas à lei,ao Estado,se este o representar de fato. A lei é que era fraca,não   Deus.
Dentro deste cadinho,estas ideias,laicização e ateísmo adquiriram contornos precisos. Elas,lógico,se relacionam,mas laicização é um processo coletivo e social amplo,pelo qual o homem,dentro daquilo que Horkheimer chamou de “ desencantamento do mudo”,percebe que pode dominar a  natureza,sem medo de atingir entidades supostamente perigosas e transformara  a si mesmo,sem a religião. O ateísmo deriva de atitudes individuais,com as famosas,de D´Alembert e Laplace. Tanto um como outro elaboraram sistemas matemáticos do mundo. Quando Laplace apresentou o seu projeto para D´Alembert,este teria perguntado:” Onde está Deus no seu sistema?”,ao que Laplace teria respondido:” Não tenho necessidade de Deus para construí-lo”.Quando um soldado fez uma afirmação semelhante diante de Napoleão ele teve reação idêntica. O soldado,depois de uma manobra bem-sucedida teria dito” Graças a Deus conseguimos !” ao que Napoleão teria afirmado “Deus não tem nada a ver com isso!”,como a dizer “ fui eu!”.
Esta atitude muito escandalosa para a época,começou com a ciência moderna ,que a custo teve que admitir que o Deus dos cristãos estava abalado. Apareceram os arranjos filosóficos para mantê-lo,como é o caso do Deus que dá um “ peteleco”na máquina do mundo ,mas não intervém. Ou mesmo as tentativas de religiosos sofridos como Pascal,com o seu “ Deus absconso”,” escondido”.E com a famosa aposta:” Creio em Deus fazendo uma aposta,porque se ele não existir eu não serei punido;e se ele existir não terá motivo para fazê-lo”.Apesar de tudo esta concepção abala a fé dos religiosos e das religiões.
De tudo resulta que a separação entre a igreja e o estado é cada vez maior e que dentro deste processo o ateísmo se afirma. Contudo,a laicização é um prolema geral e o ateísmo uma atitude individual. O ateísmo é assim chamado como um movimento geral na História,mas não há como ser um movimento político ou cultural porque ele reside no nada,na não-crença,em algo inexistente,logo,ex-nihilo nihil. O ateísmo só é importante de  se colocar enquanto medida do proselitismo da sociedade. Quer dizer ,o direito de ser ateu impõe à religião uma atitude plural que ela admitiu muito a contragosto a partir da década de sessenta do século passado,acabando com as vocações impostas. Mas substituir o proselitismo da Igreja pelo do Estado,como fez o stalinismo, é incorrer no mesmo erro,fazendo do ateísmo uma religião ,o que é um absurdo.
O meio de lutar contra a intolerância é fazer do estado um apoiador de todos e mostrar aos cidadãos que eles podem e devem levar os seus valores religiosos,mas que,na vida social e política,o que relevam são os problemas práticos e não ideológicos.

Neocolonialismo e futebol





Os primeiros impérios,como expliquei antes,eram baseados só na força,mas depois impérios modernos fundamentaram as suas conquistas em motivos ideológicos. Desde Livingstone e o imperialismo inglês nós vemos que existe sempre um motivo de civilização ou ensinamento que um povo deve dar a outro e neste processo de “ ensinar” ele introduz os mecanismos vários de dominação. Do citado Livingstone até Lawrence da Arábia,a ideologia vai  da religião até as aventuras,mas em todos estes argumentos falaciosos existe o propósito de criar uma comunhão com o dominado que não existe de fato,porque em última instância ele está excluído.
No futebol é a mesma coisa. Os clubes e estes dirigentes brasileiros despreparados vão manipular constantemente o povo brasileiro. Uma hora cobram de mais outra de menos,mas o fato é que o brasileiro que faz o futebol, está fora,vai ficar assistindo televisão e enriquecendo as empresas de comunicação.
Todo o dinheiro arrecadado por este novo futebol,por este novo modo de torcer não vai para a educação e nem mesmo para o esporte ,mas para os dirigentes,para as relações perigosas entre os dirigentes e a política.
A violência nos estádios só vai acabar quando estas relações acabarem. As torcidas são violentas porque financiadas e legitimadas pelos dirigentes,interessados em manipular a assistência para efeito de  crescimento dos ganhos econômicos e eleitorais em todo o ano e se o povo brasileiro não for confrontado com esta contradição em nome dele não há como superar o problema. Como o indivíduo comum que só evolui quando ,reconhecendo o seus erros e responsabilidades no seu surgimento,corta a própria  carne.
Era preciso uma concepção consequente republicana de “ público” para fazer este corte,mas isto só é possível se substituirmos este dirigentes por cidadãos brasileiros que conhecem o futebol desde pequeno e que queiram devolver este esporte de novo a eles mesmos.
Nada há de mais revolucionário do que isto.

Futebol como media do pensamento do povo brasileiro





Eu já me referi também nestes artigos aos pactos demagógicos da História,ao coliseum,como forma de congraçamento de patrícios e plebeus,ao teatro shakespeareano e ao futebol brasileiro.
Toda a vez que eu falo sobre futebol tem sempre alguém que demonstra preconceito em relação ao tema,mas é  preciso ver que ,em primeiro lugar,o esporte é uma atividade legítima ,porque de saúde. Em segundo lugar a mobilização do povo brasileiro em torno do futebol ,ainda que o aliene dos problemas hierarquicamente mais importantes,oferece um campo de visão de porque esta alienação acontece.
Não acho que o Brasil,como nação,possa ser  explicado pelo futebol,mas no cotidiano sim,o futebol mostra um campo de pesquisa sobre como o cidadão brasileiro conceitua sobre assuntos os mais diversos. O pesquisador e o político se atualizam com o futebol No cotidiano só se entende o que o povo brasileiro pensa pelo futebol,andando frequentemente em táxis e investigando a relação que a  média tem com os seus parceiros(sexuais),mas o futebol avulta em importância na medida em que é mais universal e opõe(e integra) mesmo o mundo masculino ao feminino.
Tirando o fato de que o futebol não deve ser diminuído como força mobilizadora,pelas razões que eu aduzi em outro artigo anterior(mobilizar o povo brasileiro para mudar o país),nós devemos colocá-lo exatamente como este laboratório de concepções do brasileiro,de modo a compreender a nossa realidade social(e nisto eu aprofundo o artigo imediatamente anterior),premissa essencial de quem quer mudá-la para melhor.
A noção de que o povo brasileiro se mobiliza é de se preservar. O primeiro passo depois disto é mostrar,como num espelho,a face do povo  brasileiro,para ele mesmo,demonstrando o quanto ele não é beneficiado do que se obtém neste esporte. O quanto ele está numa posição passiva diante do esporte que ele mesmo viabilizou,muita vezes por cima dos erros e crimes cometidos pelos dirigentes.
E os últimos acontecimentos,com esta cada vez maior invasão da Fifa,uma organização feita com influência  do fascismo,também revela isto que eu estou dizendo.
Ninguém protesta quando se faz esta imensa elitização do esporte,nem mesmo o Flamengo,o clube de massa,do trabalhador comum,o qual com seu dinheirinho,sustentou e sustenta o clube de maior torcida no mundo.
Quando estes estádios foram feitos,muitos acertadamente  denunciaram o caráter de elefantes brancos de alguns,como o Estádio de Brasília e o de Pernambuco. Para evitar críticas os governos destes estados cooptaram os dirigentes dos quatro grandes do Rio de Janeiro para levarem os seus times para jogar neles por uma merreca,longe de suas torcidas. Será que terem jogado o inicio do campeonato brasileiro longe das torcidas não contribuiu para ficar na parte de baixo da tabela?
E depois ,na final da Copa do Brasil,o Flamengo,que ganhou aquela merreca,aumentou o ingresso,estratosfericamente,excluindo o torcedor pobre,alegando necessidade de ganhar 9 milhões. Não poderiam os governos de Brasília e Pernambuco,que encheram a burra com estes elefantes, dar estes 9 milhões  e permitir que o Flamengo baixasse os ingressos,permitindo aos seus maiores apoiadores assistir ao jogo e não somente as elites?
Também se faz um discurso de que é preciso qualificar a assistência nos estádios para acabar com a violência. Alguém viu algum trabalhador pobre nas cenas de vandalismo da última rodada?E nas das rodadas intermediárias?
De tudo isto se depreende que ,no mínimo,as elites,os dirigentes não vêem sequer o povo brasileiro.
Isso sem falar no problema do neocolonialismo que se esconde por debaixo destas atitudes.