Muita gente me tem acusado de ficar em cima do muro na questão da
dualidade de poderes na Venezuela.Olha, eu penso que o Brasil não
devia tomar partido nisto aí.Ajuda humanitária tudo bem,embora eu
ache que a ONU e as organizações humanitárias é que deviam
fazê-lo.
Esta situação é a necrose da guerra-fria,o paroxismo,a convulsão
antes da morte(será?),da confrontação esquerda e
direita(velhas).Lógico que é um problema complexo de efeitos
reais,mas tinha que ter sido evitado,porque em essência há outros
problemas politicos mais urgentes:milhões de desempregados no
Brasil(e na Colômbia)e a fome na Venezuela.
Eu quero dizer que uma solução militar para uma situação de
conflito entre nações favorece mais uma vez a soluções de força
aqui dentro e em outros países,como a Colômbia.É muito conveniente
o Brasil(e a direita)posar de herói humanitário na América Latina.
A solução pacifica passa pela constatação de que são dois
países,Brasil e Colômbia,contra um.Assim como em1932 no Brasil,a
Revolução Constitucionalista,que acabou com a aliança entre Rio
Grande do Sul e Minas Gerais,contra São Paulo.Minas temia o
crescimento deste último estado,apesar de não gostar de
Getúlio,por isto fez a aliança com ele.
Durante muitos anos me foi incompreensível a atitude belicosa de
Solano López ao provocar a Triplice Aliança,mas na verdade o
objetivo do ditador era simplesmente obter mais espaço vital para
acomodar a classe apoiadora do regime ,os estancieiros.O Paraguay não
obteve propriamente o que quis,mas a guerra estava acabada em dois
anos.O Brasil é que a prolongou com objetivos politicos internos.
Os ditadores latino-americanos sempre buscaram esta estratégia,mas
no caso de Maduro a coisa se complicou, porque desde Chavez,a
Venezuela,que nunca foi um país neutro na guerra-fria(por causa do
petróleo),está conectada com a geopolitica geral.A China e a
Rússia,países tão distantes da AL apóiam por questões de
estratégia a Venezuela e esta “ inserção” digamos assim,vem
dos tempos da relação Chavez/Fidel.
É muito dificil de entender os atos atuais de Maduro,mas nos anos
subsequentes à morte de seu mentor,era esperado que ele mantivesse o
plano.
Esta aliança distante é para garantir a soberania da Venezuela e
dar aos seus governantes bolivarianos condições de ,através de uma
revolução, distribuir as benesses do petróleo por toda a
população.Mas mesmo um processo revolucionário tem que garantir
uma certa estabilidade social e isto não é factível com as pessoas
não tomando banho e não comendo.A politica de classe de Maduro
desandou.
Se deu errado o projeto era natural que o lider se demitisse para
evitar o pior até para seu movimento.Contudo parece que Maduro
aguarda alguma coisa que ninguém sabe o que é.
Ele se escuda na geopolitica e neste novo estado de coisas em que,por
intermédio da Venezuela, a América Latina entra no processo
politico geral mais diretamente.
A Rússia,que não é mais comunista,se beneficia ainda do eixo
Cuba-Venezuela,que facilita seus investimentos e a compra de
petróleo.
A China,todo mundo sabe,está investindo na América Latina
fortemente,inclusive no Brasil,em que empresas falidas estão sendo
reerguidas pelos chineses.
A estratégia de Guevara,de incuir a AL no processo geral da
revolução continua,mas isto é só a constatação óbvia de que o
que fecha o caminho dos Estados Unidos é esta região do globo.
Pela teoria do rimland,de Reatzel,o atlântico sul é decisivo para
as pretensões hegemônicas dos Estados Unidos.Bem antes de Guevara
esta estratégia já era conhecida e continuou sendo aplicada,por
exemplo,por Osama Bin Laden.
Isto sem falar nos interesses predatórios sobre a Amazônia , a
questão da água e das riquezas de nosso continente.
O que os Estados Unidos querem e o estão conseguindo com Bolsonaro,é
entrar nesta disputa hegemônica(imperialismos?),de dentro, e talvez
a manutenção do problema venezuelano por um certo tempo os ajudem
,porque desta forma se justifica a presença dos irmãos do norte por
aqui.
A resolução do imbroglio só vai se dar se todos os interesses
externos e internos forem consagrados,numa necessária transição
para um novo governo.