quinta-feira, 30 de abril de 2015

Macunaima,herói de nossa gente



Volto  aqui para  tratar  de  Macunaima e  Mário de  Andrade.É  claro  que  ,sendo  o  modernismo paulista  financiado  pela plutocracia paulista  a  imagem  de Macunaima  como  “herói  sem  nenhum cacráter”,que  nós    explicamos,serve  possivelmente  a um propósito  desta burguesia  industrial nascente  e crescente  de  justificar  um projeto nacional  novo(com  base na  indústria[que  atingiu o  seu auge  em São Paulo  na  década  de 20])sob a  sua liderança.
Paulo  Prado  teve  um  papel  decisivo  neste  acontecimento.Paulo  Prado  é  autor  do  livro  clássico  “ As  três  raças  tristes”,sobre  o  qual  falaremos  mais  adiante.
Tanto  este  seu  trabalho,como  esta  vinculação com  o  modernismo  expressam  aquele  desejo desta  nova  burguesia de liderar  um  novo  processo.Este  processo  é  progressista,mas  num  capitalismo  atrasado  como  o  do  Brasil  e  que eu  caracterizei  no artigo  anterior,  pode-se  seguir  o  mesmo  caminho de  outras  paragens e  reproduzir  ,dentro  do  progresso  material  e  institucional  do país ,as  mesmas  situações  de  exploração e  concentração de  renda  ocorridas em  outros países  que  fizeram  este caminho,sem  uma  sociedade  civil previamente desenvolvida(como  na Inglaterra e  nos  Estados Unidos).
O  que  se    com  Macunaima  é  parecido com  o  Jeca  Tatu  de Monteiro  Lobato.Este  escritor  paga  um  preço alto  até  hoje  por  querer,dentro dos seus  limites  de tempo,mostrar  o  atraso(científico e  educacional  )do  Brasil  com  um  personagem  que  seria  padrão,  o  Jeca Tatu ,tão  descuidado  de  si  que  estaria  fadado  novamente  a  ser dominado  ou  excluido  para sempre.
A  acusação feita  a  Monteiro se repete,às vezes,com  Macunaima,embora  bem  menos  e  tais  personagens  e  suas  reações  contrárias  servem  de  baliza  para  discussões  nos  dias  de  hoje.
A  questão  é  saber  se  em  nome  do  progresso  é   justo  expor  as  mazelas  sociais  e  culturais  do  Brasil  deixando-o  enfraquecido  ,quiçá,diante de outras  nações,que  querem nos  dominar e  manipular.
Existe no cotidiano  brasileiro  esta  criteriologia.Não  criticar o  Brasil  diante  dos  estrangeiros,mas a  intenção deste escritores  era  colocar um espelho  diante  do povo  brasileiro.
  se  modifica  a  realidade,coletiva  ou individual,  quando  este  espelho da  verdade  é  reconhecido  por  quem  se questiona.Não se  muda  na  base  das  ilusões,nem  na  ciência  ,nem  na  vida.
Mais  sério  é  que  numa  época  de racismos,  estas a firmações  podem ser  cooptadas  por  concepções  que  nos  maculem ,em  definitivo,com a  pecha  de  “ incorrigivelmente  atrasados”.
Quando  o  Brasil  saiu  daqui  para ser  campeão de futebol  na  Suécia  em  1958,todo o time  era  praticamente branco e  europeu.Hoje  se nega  isto,mas quem  viveu  aquilo  sabe  que  a negativa de  colocar  Pelé  e  Garrincha  era  extamente  por  causa  do racismo,da  idéia de  que  eles não estavam  preparados  para  ganhar  e enfrentar  o  mundo.E  mesmo Didi,quase  foi  descartado  logo  depois  das Eliminatórias,em  1957.
Como a culpa  de  50  fora posta  em Bigode  e Barbosa,era  preciso  colocar  jogadores  com  outra  configuração  genética e  social.
Não s iludam  que  o problema  continua  aí.Garrincha  é o  Macunaíma  do futebol  e  Mazzaroppi  é o  Jeca,mas um  Jeca  critico,porque  demonstra  que  apesar de  todas  as  insuficiências  atribuidas  a ele  pelos escritores  e cientistas  ele  tem  imaginação e  modos  de superar  as  limitações  e  sobreviver e  produzir  cultura.
Nos  Estados  Unidos  polêmica igual  atingiu  o  (grande)escritor  Mark  Twain em  seu  extraordinário  “ As  aventuras de  Huckleberry  Finn”,que  muitos,como eu,consideram um  livro  comparável  à  “Odisséia” de Homero.Certamente é a  Odisséia  dos  Estados Unidos.
Um  menino  abandonado(mas  safo)no  Mississipi,encontra  um escravo  fugido , Jim,o qual  lhe  ensina  muitas  coisas(como se livrar  de cobras[como  sobreviver  na  mata]{nadar  no rio}).Quando  Huckleberry  é  encontrado  todos  o  instam  a  denunciar e entregar  Jim,mas  ele  escolhe  a  felicidade  de  ter  tido um  amigo  como  Jim  e  se  nega,sendo este  um  dos  grandes  momentos  da  literatura universal.
Mas  o  movimento  negro  dos  Estados  Unidos  implicou  com  o  fato de  Twain  usar  constantemente no  livro  o  termo pejorativo  “Nigger”,para  designar  Jim,sem  considerar  as coordenadas  de  tempo  e  lugar  do escritor.
Todos  estes  exemplos  nos  ajudam  a  entender  estas  relações  de  classe,que  são essenciais  para  a construção de um  projeto  de  nação  e  de uma  nação.
Tenho certeza  de  que  nehum  dos  escritores  citados  revelou a  verdade  sobre  os problemas  dos  povos  de  seus  países  com a  intenção de justificar  posturas  racistas,de classe,de  dominação  ou império.
Eles  queriam  mover  a  sociedade  e isto    é possível  admitindo,com o espelho na  mão,o  que  aparece  lá.
Macunaima é  deste jaez.O  livro  não  é  muito  consentâneo  com  o filme,porque  Joaquim  Pedro de Andrade  o  misturou com Oswald,com a  verve  e o humor  de  Oswald  de  Andrade.O  livro  mais  afeito a  Paulo  Prado.
Para  este escritor  o  Brasil  foi  constituido   pelas  três  raças  tristes  da humanidade,uma  tese  para lá  de  discutível  e que  eu  rejeito,exceto  num ponto:que esta alegria  do  brasileiro é  para esquecer  e  reprimir  o sofrimento do dia-a-dia.


Melhorismo,no Brasil?



Uma  das  provas  cabais  de que  o  Brasil   é um  país-reflexo  dos  outros  é  nas  esquerdas e  suas  teorias.Hoje ,só se  fala,inclusive  no PT,em  melhorar  o  capitalismo.
O  melhorismo ,que  foi  propagandeado  pelo antigo  Partido  Comunissta  Italiano,através  da  CGIL,centrale  generale  italiana  del lavoro,defendia  que  sem  uma  alternativa  ao  capitalismo,como  ficara  claro com os  descaminhos  do    socialismo  real”,era  mais  justo    melhorar  o  capitalismo”.
Foi o  melhorismo  que  jogou a  última    de  cal  no  comunismo,levando  o  secretário-geral  do  PCI  de  então ,Achille  Ochetto a  dizer:”  o  comunismo  morreu”,instigado também pelo  massacre  da  praça  da  paz  celestial.
  que ser  melhorista num país avançado  como a  Itália  é uma  coisa,outra  é  fazê-lo no  Brasil,que  não  tem o  mesmo nível  industrial  que  aquele  país,exatamente  por  um aspecto que  eu tenho  ressaltado  inúmeras  vezes  nestes  artigos  aqui:nós  somos um  país  industrializado sim,moderno e  ocidental,mas  as indústrias  não são  nossas,são multinacionais.Nós  não  temos  as  patentes,a  capacidade  de  invenção,de  criação  própria  nossa,pelos  nacionais,revertendo  em  nosso  benefício.
Uma  das  condições  de  solução do problema  amazônico  é  criar  doutores  capazes  de  produzir  bens  e  conhecimentos especificamente nacionais e  que  sejam  mantidos   conosco.
O problema,aliás,de  fazer  privatizações  no  Brasil  é  desnacionalizar mais  ainda  aquilo que    é  deveras  desnacionalizado,porque as empresas  nacionais não  compram  as  empresas nos  leilões,pois  não  podem  competir  com  as  indústrias  transnacionais.
Neste  sentido  o  Brasil  é  ainda  um  país  subdesenvolvido.O  termo “  em desenvolvimento”  serve  para expressar  uma  intenção  e um  crescimento  que  não  são  nossos,quer  dizer ,feitos  com a  nossa  orientação  e  nos servindo  para  as  nossas  metas nacionais.
Não adianta  dourar a  pílula  não.Então  não há  como falar  em  melhorar  um  capitalismo  que  ainda não  se  desenvolveu plenamente,além  do  mais  um  capitalismo  sem uma  sociedade  civil  organizada,dependente  do  estado(autárquico),extremamente predatório e  concentardor  de  renda.Não  me  venha o PT  dizer  que  com a  concessão  bancária de  empréstimo aos mais pobres  isto aí  está  resolvido.O  consumo  não  define  sozinho  a  inclusão  das  pessoas  no  processo  econômico,nem  reduz  de  forma  segura a  desigualdade.Isto aí  muda  de uma  hora  para  outra  se  não houver  emprego  e  salário,  e  emprego e  salário  é educação,e  esta  ainda  está  longe  de  proporcionar  estas  mudanças  apregoadas pelo  governo.
As  tarefas  da  esquerda,portanto,se  não papagaiar  o que  vem  de fora(como sempre  faz[por  falta  de estudo e  compreensão  da  realidade  nacional][pois  são internacionalistas}),é  desenvolver  o   objetivamente o  capitalismo ,aprofundando as  liberdades  democráticas e  neste  contexto  fazer a  distribuição de  renda  real  que  todos  exigem.
No  mais  é  administração de  capitalismo  selvagem.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Corrupção,História e pragmatismo político



Aqueles  que assistiram  ao filme  “Lincoln”,ficariam horrorizados com  o modo como  a abolição  nos  Estados  Unidos foi feita.E  acaso aqui  no Brasil  foi diferente?No filme nós  vemos que    foi  possível garantir  a Proclamação  de  Lincoln  pelo Congresso  dos  Estados  Unidos,oferecendo  cargos,dinheiro e  influência de todo  tipo,escusas.
Aqui no Brasil  o processo  de abolição  seguiu  aos  mesmos parâmetros políticos correntes.Interesses,oferta  de empregos,tráfico de influência,etc,etc.
Recentemente  comemoramos  Tiradentes,mas também  Tancredo Neves e  a  sua morte.Tancredo chegou ao poder  de que forma?Com  as  mãos  limpas,como  Lincoln,que não se envolveu  em  nada.Mas  “em baixo”,como aconteceu?Ninguém  pediu vantagens,dinheiro,influência?Tancredo  não sabia disto?
Eu me  lembro  que  na  primeira  eleição da abertura ,Brizola ganhou alegando que  o  candidato do PMDB,Miro Teixeira  e  o PMDB ora!não eram  ilibados.
A minha postura  ,na época,era de  garantir as condições  futuras  da  transição ,fortalecendo    o PMDB e  não me  arrependo.
Em  circunstâncias  corriqueiras  da política    que  combater a corrupção,mas em  situações excepcionais,se  ela é inevitável e não atrapalha  o  escopo,há que aceitá-la ou,pelo menos,não alegá-la.Já imaginou  se  alguém    pensasse  assim  nos  Estados  Unidos?E  na transição brasileira?
A  ditadura  militar no Brasil  ,a  partir  de  74  ,raciocinou  que deveria  fazer a abertura,mas  quem  deveria fazer a    passagem”  era  a  oposição,porque ela  não  desejava  entregar  o poder.Entregar  o poder  era admitir  o  erro  e a culpa  do  Golpe(“revolução”)e  isso  nem  Geisel  e Golbery  queriam.Isto  quer  dizer  que  se  a  oposição  não  tivesse  força  ou  cometesse um  erro  o  regime  continuava,uma  vez  que tentou  através  de Andreazza.Se a  emenda Dante de  Oliveira  passasse  os  militares  aceitariam,mas se  Ulysses  ou Brizola  viabilizassem uma  eleição,não.
Brizola,em  seu primeiro governo no Rio de Janeiro  ,só era perigo em nível nacional.Na  sua  sucessão  era  preciso,por  causa  disto tudo,manter  o PMDB  e eu  apoiei  Moreira  Franco.Não mudo  de opinião por  salutar  pragmatismo político,em situações excepcionais.