quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Entre a cruz e caldeirinha.



Este velho ditado expressa bem a situação   em que  estamos   para  as eleições.O  grande  problema  é  que  diante  do esquema  a que eu me referi  em outro artigo  estamos  um pouco reféns  dele.Como  o  próximo  governante conduzirá  estas pessoas que  saíram da classe média C para  a B?Não poderá  haver  um retorno desta política.Já  pensou  não  ter mais  rolezinho?.Eu    expliquei  que quando  o PT  de Lula,no seu segundo mandato,ficou  acuado  por  causa do mensalão teve  que  fazer um grande  acordo com os setores  conservadores  da  sociedade.Mas  para  manter  este  acordo o Presidente  Lula,que é realmente o único  carismático,com  o  povo atrás  de  si,teve que realizar  este  programa  demagógico, tirando,com a concessão  de empréstimos  ,pelo  consumo  apenas ,classes subalternas, desta condição.
Lula  realizou  em escala  menor  e dentro da  democracia o mesmo  que  Mao-Tsé  Tung,quando  em vias  de ser deposto.Recuperou  a sua  posição,pela  revolução cultural,aliando-se  à  pureza  dos  jovens  e elaborando um  programa  de    favorecimento  das  novas  gerações,supostamente  ameaçadas   pelos velhos  dirigentes  do partido.Assim  ele  pode  ficar  no poder para sempre ou até  à  morte.
O  que  aconteceu na China  é que  para romper  com  isso  foi necessário um  processo traumático,quase de golpe  e aqui no  Brasil a promessa de  crescimento    feita  pelo  PT,não vai poder  ser  deixada  de lado,a  menos  que nos programas,agora,alguma  alternativa  seja proposta,o que  eu  não  vejo como  possível.
Assim sendo, quem  quer  que ganhe esta  eleição  vai  ter  muitas  dificuldades  de construir  uma identidade  diferente da  do  governo,como estão afirmando aí e como tinha acontecido  com  o PT quando  ganhou  do PSDB:o seu  programa de então  não  era  nada  diferente do  do governo  Fernando  Henrique.
Hoje o  PT,forçado  a interagir  com  forças  reacionárias e  fisiológicas  deixará,se  sair,uma  herança  pesadíssima.
Os setores  do PMDB  que  ofereceram  aliança  quando  Marina  cresceu  nas  pesquisas  ,após  o acidente de  avião,são  minoritários,mas decerto que  o Partido  vai  se  oferecer a uma  Marina  vitoriosa .E    eu  pergunto:será  o PT  2?Será  a não-marina?E  se o PSDB  vencer  vai ser,como está sendo,o do Fernando  Henrique?
Num  país  ansioso  por  mudanças  este  quadro  é desolador  e estamos  entre a cruz e  a caldeirinha.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Marina=Dilma?



Esta    boa  disputa  presidencial   nos  coloca  grandes  e  complexas  questões  próprias  de nosso  tempo  e de nosso  país,de nosso  passado e possibilidades  de futuro.A  questão  que  se me apresenta  é  da  semelhança  de Dilma e  de Marina nesta  eleição.Todo  mundo  tem  falado  sobre  a mudança  de Marina  e sobre a possibilidade  dela  não  ter  governabilidade,por  estar  isolada.
Na  verdade  ela não  enfrentará  um problema  diferente  daquele  enfrentado  por  Dilma  até  hoje.Desde o  mensalão  formou-se  um  grande esquema político,cujo  fiador  é  o  presidente Lula.Dilma,com duas  secretarias,em  sua  vida  política,desempenha  um papel   muito  adequado  neste esquemão,muito  limitado,quero  dizer.
O  fato dela  ter  subido  um  pouco  agora,depois  da também  subida de Marina ,por  se  apresentar  mais  sozinha,não  acaba com o que  eu estou  dizendo,porque  na  hora  de governar,se eleita,terá  que  ser  isto  o que  tem sido.
Ora,este  esquemão,por  conta  dos  erros de Lula e  do PT,se  tornou  a chave  para entender  a  governabilidade  no Brasil hoje  em dia  e quem  quer que  ganhe,terá  sempre  que  se adaptar.
O  Brasil depois  do mensalão  ficou  assim,como Lula  e Dilma:refém.Então  a  questão da  mudança ,em  relação  ao continuísmo  do  PT,se  dilui  diante  do  fato de que  todos  terão  que  se entender  com  esta  situação.Se  Marina  se eleger,todos  estes  problemas de mudança de  programa,isolamento  dentro  do PSB(porque  o PSB  não expõe  isto  agora,mas  ficou  insatisfeito  com o modo  como Marina  ascendeu à  condição de candidata) ,pouca  representação  a  seu  favor,vão  crescer à estratosfera  e  exigirão  de uma  presidenta  enfraquecida  a  aceitação  dos  critérios  do  esquema.
Então estamos  entre  o continuísmo e  a  fraqueza se este  embate dicotômico  prosseguir  e mesmo  a  alternativa  Aécio não  deixará  de seguir  o  roteiro  assim  traçado.
Escolher  o  novo  presidente  se tornou  pior  do  que  o  continuísmo,porque  a questão  não  é  uma  agenda  positiva do  povo  que  foi à  rua  se manifestar ,mas  optar  por aquele  caminho  menos  perigoso  para a  sociedade  brasileira.Isto,a  meu  ver,poderá  causar uma  grande  frustração e pior  ,uma  instabilidade  institucional  diante da instabilidade  programática  de uma  eventual Marina  como  vencedora.Uma  eventual  Dilma  é  o  continuísmo,o rame-rame,a  falta de mudanças  estruturais.
A verdade  é  que estamos  diante  do  continuísmo,do  predomínio  do  mesmo,da  falsa  política  brasileira  que  substitui a  representação  e o debate  pelos  conchavos,como  aconteceu  no  Rio de Janeiro,no caso  da CPI   dos Ônibus.Diante da  pressão  das manifestações  o  nada,a  morte  da política,diante de demandas mais e mais  graves e diante da também  falsa  percepção  de que  tudo  vai bem,a  política  sem  estadismo.A  morte  da política é  o perigo  à  frente.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O princípio Esperança e as eleições




O  grande filósofo  alemão  Ernst  Bloch  cunhou  para  aquele  que  não  tem  crença  em Deus  uma  expressão  do  significado  simbólico  desta palavra:o  princípio  esperança.Deus  seria  uma  esperança  de  realização de unidade  da  humanidade,um  outro nome  para  utopia.
Eu  quero,nestas  eleições fazer  o mesmo  com a  palavra  Brasil,que  tem o  mesmo  significado.Sei  que  muita  gente,principalmente da  esquerda  vai  me  criticar,mas  é  que  não  acredito  mais  em visões  somente  rupturistas,que,ao  longo  da história,só  fomentaram  violência  com  quem  era mais pobre  e desprotegido.Além  do mais  acho  que  é  preciso  antes  de tudo  desenvolver  o  Brasil e dividir  a riqueza antes de pensar  em saídas  utópicas radicais.
Nestas  eleições  ,como  em todas,o  princípio  Brasil deve  se  construir  a  partir de muitos  discursos  e propostas.Como  na relação com  Deus  cada  crente  tem o  seu  próprio  caminho    para chegar  à  sua  graça.No caso  do  Brasil e  de uma  eleição  o  que deve ser é  resolver  os  problemas  sociais  básicos e que  não  são resolvidos  nunca apesar  de  sempre  se  oferecer  as  respostas,nos  discursos,que  os  eleitores querem.
Qual  seria  o  discurso  ou  quais  seriam  os  para  se  encontrar  a adequação definitiva  entre eles  e os  eleitores,entre  o  Brasil e  a utopia,que  os  eleitores  e os  representantes(será?)querem?
Pergunta  difícil,cheia  de obstáculos ,mas  eu tentarei  aqui  dar  uma resposta  evidentemente  pessoal e que pode  valer  como  experiência  coletiva  da  cidadania brasileira.
Eu  vou  focalizar  o  Brasil,  portanto  parto  dos  candidatos  à  Presidente,sabendo,claro  que o  ocorre  nos  outros  níveis  é tão  importante  quanto.
Qual o discurso que pode  fazer um cidadão que vai  votar  perfazer o  caminho  deste símbolo da  utopia brasileira?
O objetivo é um Brasil   socialmente justo.Vamos supor   estes   candidatos  presidenciais:Marina  é renovação,negra,mas tem uma ligação   com   a  religião  que fere   um  programa   moderno  e laico;nos    últimos  dias   o seu  programa  tem mudado ao sabor das  necessidades.Aécio   expressa   uma  social-democracia   que  não existe e fica ao sabor   de compromissos  ainda  mais atrasados.Dilma  é  a  esquerda  que  não existe  mais.Também  é  refém  de interesses.
E os Partidos  de esquerda?Até  têm  razão em muitos diagnósticos,mas como vão governar com estas  propostas radicais,senão  recorrendo  à revolução?Que não vai acontecer.
De tudo se   depreende  que senão houver  uma ampla reforma política que acabe com  o fisiologismo  que  a  tudo   assiste  e  a  tudo   domina,não  será possível  votar em  alguém,em  um  programa  factível de realização.
Na hora das negociações a escolha dos  eleitores vai toda  por água abaixo,por causa da”  governabilidade”.
Votamos  sempre na  “ governabilidade”,que não significa nunca  o progresso que os programas e o povo pedem.
Deste jeito,votamos não na construção da utopia,mas em expectativas dependentes    do humor  e  dos interesses dos políticos e não   do povo.Onde está   a soberania  popular?As  manifestações, de que serviram?Como construir uma linguagem,um  caminho,um discurso que nos faça chegar lá?