domingo, 27 de junho de 2021

Eu leio a direita

 

sobre a fundação palmares

Apesar de eu fazer normalmente críticas à direita e à esquerda há que reconhecer que a esquerda brasileira nunca teve esta atitude imbecil,desta direita imbecil no poder:de modo geral,eu,como outras pessoas de esquerda,nunca deixamos de ler a direita.

Há exemplos clássicos de diálogo entre o pensamento de direita ,em suas várias “denominações”, e o de esquerda.Quantos de nós leram Nelson Rodrigues e reconhecemos o valor de suas críticas?Quantas vezes dialogamos no plano do cristianismo com pessoas conservadoras(mas não tanto)como Alceu Amoroso Lima?

A turma do Pasquim,tão reprimida e censurada,fez entrevistas históricas com Tristão de Ataíde,com católicos como Nelson e conservadores como o advogado Sobral Pinto.

Nunca houve da parte da esquerda prevenção ou repressão sobre figuras da direita.

Em 1978,com 16 anos e já comunista,deparei-me com a revista de domingo do Jornal do Brasil que fazia uma entrevista com Gustavo Corção,o ultra direitista católico,que despejou o seu fel sobre tudo o que eu acreditava piamente na época:” Se aparecer um comunista aqui ,eu mato!”;”problema de indios eles resolvem lá entre eles!”;”O melhor presidente do Brasil?Campos Sales!”.

E assim ia destilando o referido fel sobre a esquerda em geral e os comunistas em particular.

A imagem de um velho escritor ,por sobre uma mesa cheia de livros e recortes de jornal,com uma imensa lente de aumento e uma luz a iluminar a escrivaninha,em meio à escuridão,apesar de totalmente contra mim ,me atraiu,por aquilo que hoje constitui a minha visão de mundo e serve de base à minha atividade de pesquisador:o direito individual de seguir o seu caminho e o direito de divergir.

Em outros artigos eu já expliquei como entendo a história da direita,que eu pesquiso desde este ano,há quase 50 anos atrás:uma coisa é a direita no seu nascedouro,como oposição à Revolução Francesa e seus excessos,outra é aquela que nasce em 1848,como oposição ao socialismo.

A contribuição mais decisiva da direita nascente,válida até hoje é a prova de que as revoluções não são capazes de solucionar tudo de uma vez(isto é mentira) só e que não há como suprimir a individualidade.Esta direita continuou até aos dias de hoje fazendo críticas às revoluções e ao socialismo.

Quando Nelson Rodrigues diz: “a unanimidade é burra “,ele está reinterpretando uma afirmação de Xavier de Maistre na primeira metade do século XIX.

Mas ,no plano da cultura a esquerda sempre dialogou com estas figuras.

A atitude desta direita ,infelizmente no poder aqui no Brasil,de poribir Karl Marx,retirar nomes nacionais ,e acabar com homenagens na Fundação Palmares tem a ver com a direita de 1848,a que redundou no nazismo e que defende o puro e simples predominio do mercado,a incluir uma minoria e excluir a maioria.

Eu continuo lendo a direita,no entanto.

terça-feira, 22 de junho de 2021

Minha interdisciplinaridade

 

Como continuo sofrendo críticas e acusações a respeito de minha capacidade interdisciplinar de tratar de muitos assuntos,vejo como necessário responder mais uma vez,um pouco a contragosto,porque já explicara isto em muitas outras ocasiões passadas.

Além das explicações já dadas por mim sobre a impossibilidade de se estudar certas disciplinas sem outras ,fundamentais e sobre o caráter naturalmente interdisciplinar das chamadas ciências humanas,quero afirmar que existe um tipo de procura que é inevitavelmente tão interdisciplinar quanto estas referidas matérias:a utopia.

Eu sou que nem Marx e outros utopistas, que no seu cotidiano pensam sempre em como tirar a humanidade deste inenarrável sofrimento em que se encontra na maior parte da história.

As reflexões que faço em meus textos e artigos buscam fundamento nos saberes que ajudam em última análise a consecução deste objetivo.

Mas eles se interconectam como uma unidade legítima.Há diversas formas de interdisciplinaridade,mas uma delas é aquela que conduz à utopia,ou,pelo menos,a apresenta e lhe serve de base para a luta.

As ciências sociais,a compreensão epistemológica das ciências em geral e naturais em particular.Politica naturalmente,não só como teoria,mas como perfis dos politicos,psicologia social.Mas tudo,sob a óptica do conhecimento(inclusive a arte)serve ao propósito teórico-prático de obtenção da utopia.

Esta é a interdisciplinaridade que me toca,que me informa.Esta é a que eu sigo e penso que cada pessoa que busque o mesmo sonho deva escolher as partes constituivas dela,segundo as suas aptidões,interesses e temperamento.Em próximo artigo eu vou explicar como estas partes se escolhem,se interpenetram e se são inevitáveis.

sábado, 19 de junho de 2021

Lula e Fernando Henrique IV

 

o programa

Construindo uma frente nacional,unindo as classes fundamentais do país estes dois principios politicos poderiam remontar a base social e politica que levou o brasil pré-64 a crescer no plano do desenvolvimento,sem,agora,estar acossado.

A revista economist semana passada fez uma previsão sombria para os próximos dez anos brasileiros,mas estas já são comuns desde o fim catastrófico do governo Dilma.

Naquela ocasião eu afirmava que só com o sacrificio dos atores sociais e politicos brasileiros seria possível encurtar este sofrimento.

Hoje acrescento que é esta base que serve para este programa imediato e mais aduzo:com uma aliança mais firme entre os setores produtivos do país é factivel exigir(ou pedir?)um sacrificio dos de cima ,em favor dos de baixo.

Nesta selvageria atual cada um vai continuar vendo o seu lado apenas,mas a economia não é abstrata,é politica e ela só vai melhorar se o pacto politico de sacrificio prosperar.A unidade do Brasil é a condição de sair da crise.

Arrefeceu um pouco a aliança entre Lula e Fernando Henrique,mas não importa,porque para mim é o desenho de classe ,o significado histórico o que me atrai.O que eles viabilizam é o que me chama a atenção e não é de agora.

Com a união dos dois estaria na ordem do dia uma social democracia,com grandes chances de se tornar moderna se conseguir um programa que deixe de lado os erros do passado, o radicalismo das esquerdas e se foque numa preocupação prioritária com o Brasil,fato que permitiria a elaboração de um programa,um programa civil e bem articulado.

No entanto,como ainda estamos no processo de achar uma solução e tirar esta direita horrivel daí,não vejo como sendo este momento de pensar num programa mais alentado.

O que eu quero é que o mais rápido possível se equacione o problema da derrota da direita que se apresente meses antes das eleições.



petição de principio o livre pensamento

terça-feira, 8 de junho de 2021

não é só um ato de vontade,mas é compreender a realidade

Fernando Henrique e Lula III

 

O programa

Levando-se em conta que no meu modo de entender a conjuntura atual é semelhante(mas não igual)ao periodo de transição,de redemocratização,o programa de uma aliança deste tipo tem que consagrar os imperativos de passagem de uma situação politica para outra com as necessidades do futuro.

A primeira coisa,pois,é acertar as contas com o passado.O passado é o prólogo,como diz Shakespeare.E eu digo que não existe criação sem imitação,sem mimesis e a mimesis está sempre no passado.

Só que a relação com este passado,com esta mimesis é variegada.Contudo,o essencial entre todos os nossos problemas com o passado,está na relação com o golpe de 64.De lá para cá como tenho dito não saimos mais do confronto que o gerou e chegou a hora de superar esta situação.Como?

Procurando comprometer os dois lados com a democracia:as forças armadas e a esquerda precisam ser “ trabalhadas” para não atentarem de alguma forma contra a democracia.

Mas não é só isto:para evitar que tudo retorne novamente àquele passado que não foi modificado há que solidificar de vez esta aliança do mundo do trabalho,as classes média e operária,porque esta é a condição dos grandes países chegarem onde chegaram.

Os fatos que são o estopim destes meus artigos mudam a cada momento,mas eu não me preocupo com isto porque ,como já expliquei,analiso o significado histórico,social e politico do problema.

Inicialmente e percorrendo todos os meus argumentos está o problema das classes.Aprendi a analisar este problema a partir da leitura de “O Dezoito Brumário” de Luis Bonaparte,mas mudei de finalidade,de objetivo.

Incluo a classe média que não era objeto de análise,pelo menos favorável,dele,de Marx.O mundo mudou e é preciso pensar de modo diferente.

O trabalho das forças politicas democráticas e republicanas é superar o resto supradito do passado e completar a transição e fazer um projeto de nação.Próximo artigo.


quinta-feira, 3 de junho de 2021

Uma análise de um artigo da Folha

 

Como sou um pesquisador ,leio de tudo na internet e notadamente os jornais diários,como a Folha de São Paulo,que parou de me enviar a revista sobre História.Neste dia de corpus christi topei com um texto de uma articulista, Aline Ramos, sobre esta polêmica em torno das falas da atriz Juliana Paes.

Como o que ela diz lá é dito contra os meus artigos aqui ,resolvi fazer uma análise de um trecho do texto,para me defender.Não dela,mas de outras pessoas que fazem acusações contra mim,de favorecer a direita atacando o governo Dilma,que foi o inicio deste descalabro que vivemos hoje.

Ela diz neste trecho:

Esse discurso, na verdade, faz coro à narrativa bolsonarista que ressalta o medo de uma suposta extrema esquerda comandar o país. Esse foi um dos fatores que ajudou a eleger o atual presidente, amparado por inúmeras fake news. Basta um pouco de boa vontade para saber que o Brasil passou longe de virar uma ditadura comunista.... -


Ela critica uma das falas da atriz,que afirmou que embora não seja bolsonarista tem medo dos maleficios da esquerda(me lembrou o Marechal Castelo Branco no discurso de posse).E aí põe este comentário.

A vanguarda (ou auto-proclamada vanguarda)da esquerda brasileira sempre foi dissociada do cotidiano do povo.Ela pensa representá-lo pouco depois de ler alguma a mais da orelha de livro de Karl Marx.Mas para todos os fins a preocupação dos intelectuais de esquerda,pelo menos no Brasil é ler livros,fazer ciência e a partir daí aplicar estes conhecimentos para explicar o que é o povo brasileiro.Sem estudá-lo ou consultá-lo.

O povo brasileiro não tem nivel de consciência para entender se existe ou não o perigo de uma ditadura comunista.Ponto.Mas ele tem a informação sobre o que certas experiências comunistas em todos os países causaram a determinados povos.

Exemplifico:não há perigo de uma ditadura comunista no Brasil,mas quando o povo brasileiro vota numa comunista como Dilma,espera que ela governe para o Brasil e não para Cuba(o mesmo raciocinio fez o povo chileno quando Allende trouxe Fidel Castro para uma festança internacionalista naquele país).

Reitero o que digo desde 2013,no tempo das manifestações:quem ofereceu pretexto para a direita voltar foi a ação do Sr. Lula,quando desmentiu a sua propalada honestidade,bem como a do PT;foi a escolha de Dilma,uma politica sem experiência,para manter um continuísmo ilegitimo,secundada por uma raposa como Temer.

Quem conhece bem história sabe que foi sempre assim:o que motivou a marcha sobre Roma em 1922 foi a certeza de que os bolcheviques permaneceriam na Rússia,fundando a URSS.Isto foi pretexto para Mussolini dizer ao Rei que a única forma de proteger a Itália e a Europa do avanço comunista era ele e o fascismo.O Rei apenas exigiu uma demonstração de força,mas já tinha decidido nomear Mussolini para o cargo de Primeiro Ministro.

Costuma-se dizer que a quebra da bolsa em 1929 criou as condições para a ascensão do nazismo ,mas isto é parcialmente verdade:o que Hitler usou para ascender foi o perigo do bolchevismo para a Alemanha.Quer dizer:a continuidade da URSS ,acrescida da coletivização forçada em curso(cujo ápice é em 1932)ajudou também o fascista subsequente à Mussolini.Foi o que ele vendeu às classes altas da Alemanha e foi isto o que o legitimou para o governo,seu anti-comunismo feroz.

O povo brasileiro não conhece nada disto,mas a esquerda brasileira (aí pelas redações)devia saber,devia conhecer,para poder dizer as coisas com fundamento.

Foram os erros de Dilma que forneceram o pretexto para a direita tomar o poder.Foi sim.Dilma tem a mesma cabeça de 68 e 69,com a luta armada.Embora o compromisso com a democracia seja real,os revérberos destas atitudes comunistas ditatoriais se fizeram presentes e estas são conhecidas pelo povo e justificaram a escolha do jumento presidente,como sempre acontece.Confrontou a média ética da sociedade brasileira,apresentando um internacionalismo que não ajuda ao Brasil.às vezes internacionalismo oprimem o Brasil,vindo da direita ou da esquerda.

Esta análise da articulista mostra que a esquerda brasileira quer se preservar usando os mesmos argumentos insuficientes do passado:não há ameaça de golpe comunista!

Ora,em 64 Prestes disse na semana do golpe que o Presidente devia dar um o mais rápido possível,favorecendo o comunismo.

Allende defendeu a democracia chilena mas legitimou uma ditadura,o que o fez perder apoio.

Nós estamos vivendo um periodo de necessária renovação da esquerda e se este tipo de comportamento auto preservativo continuar a direita vai prosseguir neste “ trabalho” de destruição.

A confrontação prossegue sim.A esquerda está diluindo esta verdade para poder se eximir de responsabilidade,mas a direita faz a mesma coisa.Cada lado nega a confrontação atacando o outro ,mas os dois lados são culpados.

O discurso bolsonarista é diferente daquele que quer o Brasil livre de falsas e passadiças propostas.É uma provocação tola e infantil fazer uma associação do pensamento alternativo com Bolsonaro,mas isto já é conhecido de outras épocas e provém sempre de radicais desinformados ,mas interessados,pessoalmente,em não perder poder.

a guerra´fria continua no mundo sim