sábado, 27 de abril de 2019

O que separa Bolsonaro de Guevara?Nada.

A primeira coisa que Guevara fez no inicio da Revolução Cubana foi o mesmo que Bolsonaro,nosso Presidente,quer fazer agora:jogar fora quem pensa com liberdade.
Os meus objetivos aqui ,como pesquisador,eu já expus inúmeras vezes ,e o seu fundamento filosófico faço questão de frisar novamente:Nietzsche temia que os alemães tivessem parado de pensar e vaticinava que isto os levaria ao caos,como a História confirmou.
Povos que não se dão o direito de pensar livremente,sem outras preocupações que não a busca da verdade,se condenam a atrozes problemas,de dificil reversão.
O Brasil,assim como outros povos ,se caracteriza por uma ojeriza aos intelectuais,até certo ponto justificada.Mas não há como progredir sem o trabalho profissional dos intelectuais.
O intelectual brasileiro(inclusive o comunista)é ibérico.Não gosta do povo(inclusive o marxista).Ele é elitista(o marxista também).Não gosta de esporte,muito raramente de praia.Então não interage com o mundo real.Os professores de filosofia então excedem!Mas eles não dizem aos alunos que filósofos gregos tinham o hábito de praticar esportes;que Platão tinha o corpo de Schwarzenegger;que Descartes vivia nas tabernas.Sem falar em Demócrito que não separava o pensamento da vida.Na minha opinião foi por isto que o Brasil não se tornou um país olimpico em 1996:o modelo brasileiro é como o dos Estados Unidos,unindo o esporte com as universidades,mas aqui os intelectuais não deixaram.
O intelectuais ,desde os gregos,oscilam entre o discurso de poder(ideologia[falsa consciência])e o trabalho profissional.O primeiro é ilegítimo porque serve a um propósito claro de poder,geralmente de um grupo e não de todos.O segundo é legítimo enquanto traz verdades e conhecimentos úteis que ajudam no progresso cultural e material(embora esta distinção[espiritual/material] não seja muita...).
Mas a minha preocupação maior é aquela que coloquei acima:um povo que não pensa é presa dos totalitarismos.Os alemães,que não ouviram Nietzsche,só começaram a pensar de novo quando a vaca tinha ido para o brejo em 1945.Para depois voltarem a não pensar na Guerra-Fria...
Há uma corrente de pensamento que entende que os povos bem sucedidos ,economicamente,como o dos países nórdicos,só o conseguiram porque abandonaram a competição cultural para atingir um sucesso individual a todo o custo,passando por cima do povo em geral.De novo digo:isto é parcialmente verdade.O discurso de poder,a competição desenfreada impede o progresso social.Aliás esta é uma das razões porque não acredito que o mercado,por si só,extremamente competitivo e excludente,seja capaz de garantir o progresso social,havendo necessidade de um controle social.Por isto ainda sou “ socialista”,num sentido amplo desta palavra.
Contudo, o trabalho intelectual legitimo,autêntico,referenciado à sua aldeia, cumpre este papel sem fomentar uma ideologia do sucesso,que iguala bons livros(?) com bundas bonitas(será?).
As necessidades econômicas têm prioridade sempre(isso é o que ficou do marxismo),na vida social,mas prioridade não é ruptura com os direitos de manifestação,produção cultural.
De outro lado também há um erro terrível do Presidente e uma revelação de sua personalidade(segredo de Polichinelo),quanto ao preconceito em relação ao intelectual( o mesmo que Guevara tinha):todo professor de filosofia e produtor de cultura é um militante.
Até certo ponto acho justas as mudanças na Lei Rouanet:porque não abrir possibilidades para conceder ajuda financeira para pessoas comuns?Existem sim artistas que ganham uma bilheteria enorme e esta ajuda.Se todo cidadão está submetido à leis do mercado porque só artistas consagrados precisam de mais ajuda?Assiste uma certa razão ao barata tonta Lobão quando faz críticas aos medalhões da MPB,mas isto vale para outros setores:quando o nicho de mercado se estabelece não há mais chance de mudar ,de buscar valores mais atuais para expressar,porque o mainstream entende ser ela um perigo para os ganhos.Ainda me lembro da luta de uma década de Erasmo Carlos para sair da Jovem Guarda e mudar o seu estilo.Esta análise eu faço também com relação a Amy Winehouse ,que morreu porque não soube dizer a este mainstream que ela não existia para ganhar dinheiro para ele,mas para produzir arte.
Estas contradições são abordadas de idêntica forma por autoritários de um lado e de outro.Estas últimas afirmações do Capitão confirmam a minha tese de que,no fundo eles são iguais,ele(não)e Guevara.
Em 1962,com o poder sobre a cultura,Guevara mudou os curriculuns,suprimindo as disciplinas sociais(John Lee Anderson)em favor das “úteis”.Isto me lembra o critério nazista de “ essencial” para o trabalho,que excluia dos guetos professores de literatura;isto me lembra como Stalin obrigou Shostakovitch a lavar carro e Brejnev,a Brodsky carregar esterco com carrinho de mão.E Marx também no segundo volume de O Capital em que põe ao lado do professor a prostituta,como trabalhadores improdutivos.É tudo animal.
A coisa tá feia.

sábado, 20 de abril de 2019

A danação das esquerdas

Historicamente as esquerdas é que se importam com a questão social.A partir daí toda a esperança bem como a frustração que esta conexão encerra,oscilaram regularmente.
Por mais bem embasada que seja a esquerda ,na hora da prática o que mais importa e o que mais se prolonga na sua atividade é a sua exigência de legitimação.
As teorias,os compromissos éticos,os valores da esquerda e do movimento social, sucumbem diante deste problema,porque as necessidades práticas e pragmáticas da politica pedem uma priorização.
É neste momento que toda a coerência da esquerda se esvai e a sua proposta de “ construir uma nova sociedade”,a utopia,desaparece, e a sua atuação se iguala com a da burguesia,classe frequentemente acusada de embarreirar este projeto.
Como as idéias não se efetivam imediatamente ,por melhores que sejam,os métodos tradicionais acabam sendo usados para manter os nexos entre a vanguarda,as lideranças de esquerda, e os “ oprimidos”.
Desta forma se a burguesia coopta determinados setores dos trabalhadores com vantagens,às custas da maioria,a esquerda reproduz este esquema ,com justificativas ilusórias e tolas.
Antigamente chá de caridade era visto como traição aos trabalhadores ,concessão de migalhas para enganar as massas.E chá de caridade era uma invenção burguesa,um carinho das classes altas nos despossuídos,para mantê-los nesta condição.
Mas o que é a prática politica das vanguardas reunidas no PT e no PSOL senão uma reprodução disto?
Ao invés de defender a famosa “ Razão Emancipatória”,que está na raiz do socialismo,as vanguardas destes partidos reproduzem a exploração mantendo catadores,negros,mulheres,numa condição de opressão,num circulo vicioso de representação da miséria,a qual não acaba,pois se acabasse acabariam as vanguardas.
O politico,qualquer um ,deve ser escolhido,eleito,por ter idéias e vinculações a um partido,não pelo fato de controlar os pobres,a miséria.É no mínimo anti-ético.E no máximo, infinitamente, uma exploração.
O PSOL e o PT estão inseridos naquilo que Hércules Correa definiu uma vez como “ Peleguismo vermelho”;por Lênin como “ aristocracia operária”(que apoiou o imperialismo).E que eu defino como “ Elitismo vermelho”.
Não sei até que ponto a prática de Marielle não acompanha tudo isto.

domingo, 14 de abril de 2019

A farsa do “ problema venezuelano”

A manipulação dos povos

O leitor já reparou que depois do escândalo,do perigo iminente,o “ problema venezuelano” acabou?A manipulação dos povos.
Tudo isto foi apenas um arranjo entre países,tipico da guerra-fria,em que os interesses geopoliticos se sobrepõem aos interesses dos povos.
O povo venezuelano foi usado por seu governo e por outros para criar uma nova situação geopolitica na América Latina.
A cobiça das grandes potências encontrou nesta crise pretexto para fincar pé numa região até então infensa aos achaques da história.
E quem colaborou foram estes Maduro e Bolsonaro,cada um achando fazer o certo,mas ,no final,favorecendo a estas potências estrangeiras,de olho na Amazônia,na água abundante em nosso país e na América Latina:a Bolivia possui no seu subsolo um imenso e oceânico lençol de água.Há 10 anos empresários estrangeiros ,em conferência sobre o uso da água ,quiseram tomar da Bolivia este lençol,que pode tirar o povo deste país da miséria.
Mas o pior de toda esta história é que parte da população venezuelana precisou passar fome durante um tempão para,de repente,a Rússia,como aliado de Maduro,ter uma justificativa politica e geopolitica,para enviar mantimentos e “ ajuda humanitária”.
No passado as “ razões de estado” expressavam um drama atroz,mas hoje o cinismo delas ultrapassa os limites da decência humana.
Sempre sonhei que a Rússia poderia nos ajudar no futuro.A Rússia tem o poder geopolitico sobre o hemisfério norte e num eventual conflito com outras potências ela poderia nos ajudar.Já no Império as relações com a Rússia eram cultivadas.Agora a Rússia passa a ser um peão no tabuleiro de xadrez da AL com interesses iguais aos dos Estado Unidos(contra nós[é preciso ver de uma vez por todas se a Rússia ajudou Trump a se eleger]).Por causa deste alinhamento absurdo do Presidente.Não vejo diferença entre se alinhar com Cuba ou com os EUA.
Bolsonaro e Glauber Rocha
Este imbroglio todo favorece ao Presidente Bolsonaro,em sua pose de estadista,repetindo as manobras de Glauber na época do inicio do governo Geisel:Glauber perguntou em 1974,” se a URSS e os EUA promovem a distensão,porque não posso fazer o mesmo com Geisel e os militares?”.Bolsonaro disse :” Porque não posso negociar com Maduro?”Foi esta afirmação que me proporcionou o insight para entender toda a farsa que está por trás do “ problema venezuelano”:Voltamos à guerra-fria.Acho incrível que apoiadores de Bolsonaro acreditem que a postura dele é nacional ou nacionalista.
Mas o fato é que há que redefinir o mapa politico e geopolitico da América Latina a partir desta manipulação do povo venezuelano.

sábado, 6 de abril de 2019

Bolsonaro:governe

As tarefas da redemocratização não foram cumpridas,mas hoje continuam sendo necessárias e uma ligação,um traço de união com este passado truncado ainda permanece nos dias atuais na mais do que exigível obrigação do Presidente de levar o seu mandato até ao fim.
Não é justificável alegar que ele está secundado por gente capaz,principalmente militares,para defender ou naturalizar a sua substituição.
O voto é essencialmente,em qualquer época ,dado a uma pessoa escolhida pelo povo.Pode-se discutir se o voto pessoal,peronalista,é populista,por cima dos partidos,mas a responsabilidade fica como uma derivação da condição individual do eleito,que se candidatou supondo ter as qualificações para o cargo.
A sua inefetividade ou negação atinge não só a pessoa do Presidente,mas as instituições nacionais,notadamente os partidos que escolhem previamente os aspirantes ao cargo.
Toda esta brincadeira,este humor,vindo inclusive de figuras de ex-presidentes,ávidos ainda de influência,tem repercussões sérias no Brasil,que,depois dos jânios e dilmas se desmoraliza,ficando a confiança no regime abalada por muitos anos,não havendo porque pensar que a entrada das forças armadas evitaria este descalabro.
Eu disse há alguns anos que a tendência ,depois dos erros do governo Lula,era a de acefalia,mas de uma acefalia “ complexa”,” diferente”.
No caso de Dilma ela era manipulada com cordéis por Lula;no caso de Bolsonaro ele divide o poder com um monte de gente,principalmente generais,” representados” pelo vice.
No caso Dilma/Lula,havia uma ocultação,um fantasma dirigido nas sombras(nem tanto assim);agora temos dois presidentes que não dão um.
E é uma hipocrisia muito grande não ver que não adianta um general ter saido há muito tempo da profissão,porque existem no governo mais de vinte generais,os quais possuem ainda contatos com a tropa e mesmo que não tenham são capazes de fazer.