quinta-feira, 26 de novembro de 2020

eu concordo mais com Maquiavel e o Eclesiastes

A lista de João Saldanha

 

Pouco antes de morrer ,no ano de 1896,o ano mirabilis de Diego Maradona,João Saldanha elaborou uma lista ,sem ordem,dos cinco maiores jogadores de futebol da História,no calor das discussões sobre quem era o melhor,Pelé ou Maradona:Pelé ,Garrincha,Puskas,Di Stefano e Maradona.

Quando eu era professor nas faculdades particulares costumava usar os jogadores de futebol para mostrar as diferenças de aptidão entre autores,realizadores,criadores de toda ordem.Eu usava também ,e comparava com,os mestres do renascimento:Michelângelo foi aquele que atingiu nas artes plásticas o máximo das possibilidades de seu tempo,enquanto que Leonardo Da Vinci avançou no máximo possível de recursos disponíveis,segundo uma ordem e critérios definidos.Usei muito Picasso,para explicar o nivel de universalização profissional de um realizador.

Os jogadores entravam neste contexto aí pedagógico explicativo,notadamente quando eu lecionava na zona oeste,mas não só.

Até mesmo para explicar a soberania popular eu usava o exemplo das torcidas,que funcionavam como o povo,que exigia dos seus representantes,o clube e os times ,que realizassem os “ fins” de governo:ganhar títulos.

Dentro desta premissa eu fazia uma ordem de qualificação que punha estes cinco jogadores assim,por ordem decrescente:Pelé,Di Stefano,Puskas,Garrincha e Maradona.

O principal critério é não julgar o jogador por Copa do Mundo:é no dia a dia do futebol que se apura a qualidade essencial do jogador.Copa do mundo é sazonal,eventual.No inicio eu achava que porque Garrincha havia ganho duas Copas deveria ficar logo atrás de Pelé,mas Di Stefano e Puskas integraram o clube considerado o maior da história ,o Real Madrid,muito justamente,por ganhar cinco titulos seguidos do campeonato europeu e o campeonato mundial.

Maradona ganhou uma Copa,mas Garrincha duas.Isto o coloca acima do argentino,que infelizmente morreu ontem.


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

O caso Boulos em São Paulo

 

A ascensão legítima de Boulos em São Paulo marca a ascensão do Psol e da esquerda no Brasil,depois deste ,espero,interregno de ultra-direita no Brasil.

Depois das eleições municipais todo tipo de análise se vê:umas apontam para o crescimento do centro;outras para a esquerda e a referida subida do Psol em estado-chave parece confirmar esta útima asserção.

Todos sabem que sempre defendi uma postura de centro esquerda aqui.Continuo sendo de esquerda,mas prefiro uma esquerda mais moderada ,que pulverize esta polarização,que,a meu ver,não traz beneficio nenhum para o país.

E digo isto porque eu não vejo o Psol muita coisa diferente daquilo que eu via quando era mais jovem e militava no antigo Partido Comunista Brasileiro.

A minha esperança ,há alguns atrás,é que repercutisse nas novas gerações todo o esforço de auto-reforma do socialismo e do comunismo,diante do stalinismo,da invasão da Tchecoeslováquia,etc,etc.,mas o contato com os novos me provou ser tudo agora como uma maquiagem,que esconde os mesmos propósitos ou descaso com a democracia.

Eu não faria como o historiador Marco Antonio Villa que perguntou a Boulos,em meio a este segundo turno de São Paulo,sobre a Venezuela.

Uma vez na eleição da Prefeitura do Rio ,no final dos anos 80,alguém perguntou ao nosso candidato João Saldanha ,na UERJ,sobre a questão dos indios,ao que o comentarista respondeu do seu modo sui generis:”Ora,indio no Rio de Janeiro,faça-me o favor!!!”,ao que o auditório prorrompeu em risada.

O entrevistador deve se ater aos temas próprios da eleição,mas após o que fez o PT e diante da esquerda ,como ele é,fica difcil confiar numa pessoa radical de esquerda.Dificil de acreditar no que ela diz.

Por isto um esquerda mais centrista,mais fundada em principios ,valores e ideias ,mais preocupada com o Brasil,com a sua explicação e solução,seria o ideal.Mas quando o centro é Marina e Ciro,o que fazer?


sábado, 21 de novembro de 2020

O dia de Zumbi devia ser nacional

 

Este dia da consciência negra não devia ser só estadual,mas nacional.Algumas cidades fora do Rio de Janeiro já aceitaram este dia ,mas deveria ser o Brasil inteiro.E mais,deveria ser em várias partes do Ocidente.

Contudo ,muito embora seja absolutamente necessário ressaltar o caráter de crime contra a raça negra,porque este existiu realmente,ele não é sozinho,porque há outros grandes crimes a ser reparados,na historia da humanidade:contra os judeus,contra os pobres,homoafetivos e diferentes ,não encaixados.

Defendo a permanência deste dia,mas preferia um outro herói,não sei qual e também a existência de duas datas,desta de 20 de novembro e a mantença da de 13 de maio de 1888,porque assim como eu já expliquei,o impacto seria maior ,o problema negro não seria só o do negro universal ,mas o do negro brasileiro.E repararia em erro histórico do movimento negro brasileiro que é o de considerar que a lei áurea foi mera concessão das elites,quando a pressão dos escravos,através dos quilombos e outras ações,forçou esta decisão histórica,embora atrasada.

Em momento nenhum eu questiono a existência deste racismo negro,mas tenho demonstrado uma preocupação que demonstra que eu ainda tenho um pé na concepção materialista da história:o problema racial reside na questão social,mas , e eu aí divirjo do materialismo histórico e do movimento negro,possui algumas diferenças com o problema de classes ,tendo inclusive características precisas,que devem ser analisadas pelo movimento negro,que se preocupa mais com o negro universalmente(sem que isto seja ruim) não vendo a necessidade de estudar o problema negro brasileiro,coisa que é essencial para a sua ascemsão definitiva ao seu lugar devido.

Mas voltando ao problema da questão social não é só o problema do negro:a discriminação se dá quanto ao pobre,ao excluido por diversas razões.

Em outro lugar eu digo que não aceito o conceito oposto de branquitude.Ainda que seja verdade que as coisas no Brasil possuem critérios que favorecem os brancos,tal abstração inclui nela todos os brancos ,o que não é verdade.

No processo da luta politica estas generalizações ajudam ao seu incremento,mas ao arrepio da verdade e da complexidade do problema social.

Apesar de me colocar ao lado do movimento negro(muito dividido)temo que estas abstrações fomentem uma guerra,que eu absolutamente não quero.

O paradigma da luta de classes interfere nas questões raciais,mas o fato politico legitimo do negro querer se libertar por si mesmo não autoriza a exclusão dos outros e muito menos a desconsideração tática de que ganhar a maioria para a emancipação real do negro, para facilitar e apressar esta libertação.Todos,mesmo não negros, são chamados para acabar com estas injustiças sobre os negros e outros grupos sociais.


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

as idéias na história VII conservadores e revolucionários

Garrincha III

 

O paradigma nacional

A figura do jogador de futebol e particularmente de Garrincha,a partir de 38,se tornou um paradigma nacional,de comportamento médio(como sempre)nacional.

Ademir Marques de Menezes,contou certa vez que teve que visitar no hospital um menino com câncer terminal,pouco antes da final de 50,a qual o menino não asssistiu.Ademir ficou se perguntando:”Será que eu sou Deus?”

O jogador de futebol,no Brasil, se tornou uma figura tutelar,quase um deus efetivamente.O menino brasileiro se tornou igual ao homem grego,que se formava éticamente na relação com os deuses.

O jogador se tornou portador de valores,características(caráter),formadoras da nacionalidade.Eu não comungo da visão de Olavo de Carvalho de que os jogadores são falsos heróis,mas ,como seres humanos que são,carregam dentro de si o bem e o mal,o acerto e o erro ,e às vezes ,nem sempre predomina o melhor do jogador.

As classes mais favorecidas do Brasil,inclusive que se dizem de esquerda, ressaltam o lado inútil do futebol ou mesmo distorcido.Mas ,tirando a religião, não há mais nada que atinja mais o povo do que o futebol,e ele é republicano,laico e popular.E no passado só o futebol permitiu a ascensão de pessoas pobres,que sem ele,não teriam visibilidade ou chance de atingir o espaço das classes altas.

O surgimento de Garrincha reuniu em si todos estes valores de ascensão dos pobres e reação das classes altas.Estas últimas ressaltam as dificuldades pessoais de Garrincha para impedir esta ascensão e os menos favorecidos se identificam com Garrincha,de maneira acrítica.Mas o meio termo é que equilibra as coisas.

Se não assiste razão à classes altas atacar os pobres através de Garrincha,não há razão nos pobres em elevá-lo sem revelar os seus erros também.

Olhem,eu não posso ser acusado ao dizer estas coisas,de preconceituoso contra as classes menos favorecidas,porque eu já fiz um artigo revelando características criticáveis num intelectual de alto nível como Karl Marx.Se lerem este meu artigo,que está no meu blog A Ponte,verão lá os erros e algumas irresponsabilidades que ele cometeu e que o marxismo tem que mostrar também.A vida é assim.

Garrincha é uma ótima pessoa ,de boa indole,mas comete erros.Os pobres ao não expor também estas limitações,supostamente para evitar que esta crítica caia sobre eles ,perdem um elemento decisivo da luta pela sua emancipação:credibilidade,que é essencial na luta por justiça.

Eu me lembro de minha mãezinha,que era cafuza como Garrincha,ao lembrar de seus feitos futebolisticos,notadamente em 1962,quando nasci:os olhos dela brilhavam.Foi o ano do começo da ascensão dos mais pobres.


                                 minha mãe adorava o Garrincha

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Minha visão sobre Garrincha II

 

Considero Garrincha uma figura humano universal (ainda não reconhecida[talvez no futuro]),porque representa a vitória da humanidade,mesmo em estado bruto,sobre a tecnologia.

Nós vivemos numa época de capitalismo avançado,cujo princípio animador é a produção desbragada,tida e havida como a destinação da humanidade e sua salvação.A ideologia científica do progresso continua aí a destruir a natureza em nome da humanidade,que a ela pertence.

Esta ideologia que é hoje tão criticada,já havia sido objeto de discussões no esporte,na Copa doMundo,mais especificamente em 58.

Quando as circunstâncias da vida de uma pessoa encaixam com o que vai pelo mundo e pela história ela tem extrema vocação para ser um simbolo universal.

Garrincha tem esta vocação(como Pelé).Pelé e Garrincha terem estreiado contra a URSS não foi à toa:os fados contribuiram para uma partida cheia de significados.

Os soviéticos vendiam a ideia da certeza(dialética)cientifica.Usava-se pioneiramente computadores para melhorar o desempenho dos jogadores.Estatísticas davam como certa a vitória.

Mas quando Pelé,com 17 anos e Garrincha com as pernas tortas desmentiram estas previsões ,no meu modo de entender ,e com os estudos que faço do socialismo real quase a vida toda(menos no berço),começou uma erosão progressiva destas certezas,que culminou na década de 80,pouco antes do fim.

Garrincha é como a ginasta Olga Korbut:nas Olimpiadas do México,em 68,um episódio bastante interessante ajudou a mudar as coisas.No ginásio uma famosa ginasta Plisitchscaia(acho que era isto),acabou uma série de exercicios pulando firme no chão.Mas antes ,uma das traves caiu e ela nem olhou para trás,como a dizer que foi perfeita.A sua perfeição atingiu o mundo.A platéia ficou em absoluto silêncio.

Logo depois Olga Korbut ,excelente ginasta,cometeu um erro e prorrompeu em choro,momento em quê aquele mesma platéia principiou a gritar o seu nome ,a incentivá-la,para superar os seus problemas.O publico se identificou com a sua humanidade.

Os próprios jogadores da URSS,no dia seguinte à partida de 58 reconheceram o papel humano de Garrincha.

Hoje já se fala em clonar o cérebro humano para manter a vida indefinidamente,sem corpo.O assomo de tecnologia intoxica,porque o corpo,os desejos do corpo,não são levados em consideração.

As pernas tortas e a imaginação de Garrincha são inarredáveis.Mas isto não nos permite idealizar,deificar uma pessoa.Em ocasião nenhuma disse que Garrincha fosse má pessoa,fizesse certas coisas por dolo,mas há problemas éticos em sua trajetória.


sábado, 14 de novembro de 2020

pluralidade da dialética

Esclarecimentos sobre minha visão de Garrincha

 

Houve muitas incompreensões sobre o que eu digo nos meus artigos.Houve sempre.Tirando a má-fé,considero normal isto aí,porque muito embora eu procure trabalhar com as diversas faixas de compreensão do povo brasileiro,sem excluir aquele que é menos versado nos assuntos que eu trato aqui frequentemente,os temas são dificeis e complexos,exigindo um certo esforço e determinadas referências.

O caso de Garrincha é bastante elucidativo:jamais eu fiz ou farei um julgamento moral de uma figura assim como a deste jogador,a deste esportista.Quando abordei a sua figura antropológica jamais passou pela minha cabeça que as análises desembocariam numa sua condenação.

O julgamento moral é válido quando a natureza objetiva daquilo que é observado o exige.E quando os atos praticados por alguém justificam um julgamento moral.Mesmo assim,a dosimetria deste julgamento é real e deve ser feita dentro de um sistema de valores que permita entender aquela verdade exposta por Kant em seu livro sobre a religião “ A religião nos limites da Simples Razão”:o mal e o bem estão arraigados na pessoa humana,que luta para que predomine o bem.

Garrincha é um gênio da humanidade.Ele tem um significado histórico e humano universal(embora ainda não reconhecido senão no plano esportivo),mas isto não quer dizer que ele,como qualquer um,eu,Karl Marx,seja invulnerável,impermeável à crítica.Ainda mais porque é uma figura pública.

Muito menos se há de dizer que acerta sempre.Não é verdade que apesar de às vezes sair à noite ele sempre resolvia no campo.Isto é idealização.Há exemplos enormes aí na trajetória dele ,em que o Botafogo perdia jogos e ele não fazia nada.Isto diminui a importância dele?Não.Mas revela o óbvio:que ele era uma pessoa não um Deus.

Garrincha era uma criança,como os psicólogos da seleção identificaram.Isto não quer dizer que ele era má pessoa.Pelo contrário, ele era uma pessoa boa de demais.Na vida é preciso ter um pouco de malicia para enfrentar certos problemas.É preciso pensar em si mesmo às vezes,para defender os seus direitos.Porque Garrincha nunca questionou o seu salário,que devia ser muito maior,pela importância que tinha?Talvez(disse talvez)porque fosse bom,respeitasse a autoridade dos dirigentes demais.

Não existe na vida nenhum princípío absoluto.Nem a bondade é absoluta.Não há como ser totalmente abnegado:isto é auto-destruição,auto-negação.

Quando eu era pequeno ouvi muitas histórias sobre o joelho (sagrado)do Garrincha,que ceifou a sua carreira ,que poderia ter sido longeva e mais bem sucedida.A acusação era contra os dirigentes do Botafogo,que,por causa disto,saíam correndo da sua presença,mas será que o doutor Nova Monteiro,permitiria que fossem feitas infiltrações?

Assiste razão à Otávio Pinto Guimarães em exigir que o jogador chegasse na hora,fizesse o seu trabalho.E esta atitude é o que permite ao trabalhador reinvindicar melhores condições.

Nunca fiz e farei acusações à figura de Garrincha,mas não há invulnerabilidade não.


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

porque falo tanto em proudhon 2

Depois de Evo Morales

 

Há muito tempo vinha querendo tratar desta figura histórica que nunca me agradou(e os motivos explico logo).Desejava tratar de alguns aspectos de seu governo longevo,especialmente a reforma agrária que foi feita sobre a vontade do congresso boliviano,o qual teve que decidir sob pressão de sicarios de Evo,quase sentados nas cadeiras.

A Bolivia sempre foi assim:fez ,de tempos em tempos,reformas agrárias que depois retrocederam,como todas que se baseiam só na entrega pura e simples das terras aos camponeses,que,sem dinheiro e sem ajuda do governo,as perdem depois.Quando Guevara esteve lá os efeitos de um destes retrocessos eram visiveis.

Estas reformas visam apenas ganhar apoio e legitmidade e foi com ela que Evo Morales sustentou uma de suas reeleições.

Nunca apreciei Evo Morales porque logo no inico de seu governo lançou uma invectiva contra o Brasil e esta invectiva me reporta a algo que eu ouvira em casa atribuído a Guevara:o Brasil é um país de fala e origem portuguesas,cercado de uma América Hispânica.

O processo da Independência da América Hispânica incluiu também a do Brasil:foi um processo latino-americano,mas sem que isto signifique uma unidade do continente.Este era o sonho de Bolivar,para os hispânicos,mas nem nos de fala hispânica e nem nos de portuguesa,este sonho se sobrepôs aos interesses mesquinhos,particularísticos ,de cada região e de cada elite.

No intuito de estabelecer um poder local ,estas elites,na maioria republicanas(o Brasil era uma monarquia) e mais preocupadas com este conceito do que com o de nação,procuram outras regiões,inclusive no Brasil.

Foi assim na Confederação do Equador,que pretendia reunir Venezuela e Colômbia com o norte e nordeste brasileiros.Mas o que prosperou progressivamente e ao longo do século XIX,mais e mais,foi a percepção de que às expensas do Brasil se poderia unificar de vez a América Hispânica ,realizando o sonho bolivariano.Na Europa ,a Alemanha conseguiu se unificar às custas da Áustria e isto se repetiria aqui.

Ao assumir o primeiro governo, Evo Morales citou um fato histórico que marcou um ponto de inflexão nesta história toda:o modo como o Acre foi “ tirado” da Bolivia,em troca de um cavalo.Porque este fato é um ponto de inflexão?Porque a Bolivia e parte da hispanidade acusou o Brasil de ter uma postura imperialista.Se isto se consolidasse haveria um pretexto de unidade destes países em relação ao Brasil.

Por isso falo tanto em nação:Morales palrava tanto em comunismo,internacionalismo,mas na hora H ele usa nação para propósitos internacionalistas,mas também de seu país e de ...sua eleição...Este politico nunca me enganou...Sempre reproduziu um oportunismo tipico de esquerda...

Mas esse artigo aborda a parte final de sua carreira politica, justamente travada pelo congresso boliviano e é sobre os desdobramentos desta feliz realidade que eu teço alguns comentários,não percebidos(intencionalmente)pela esquerda nacional...

Houve nova eleição e quem ganhou é alguém ligado à esquerda.Para a esquerda nacional foi um golpe,para tirar o povo do poder etc,etc.Mas a democracia quis seguir o seu curso,dentro do estado de direito e não fechou as portas para a esquerda boliviana, a qual tomou uma decisão que eu considero importantíssima nos dias que correm:o governo Morales não é igual ao de Maduro,mas privilegiou os setores mais pobres da população.Até aí tudo bem,acho normal e necessário,mas o comceito mais importante para a esquerda mundial entender,que só lê orelha de livro de Karl Marx,é que não há mais lugar para,em nome da luta de classes(orelha),romper com a estrutura institucional,de cidadania,de um país,de uma nação.

Não há razões e condições de um rupturismo milenarista,de salvação dos pobres.Faz parte do processo de emancipação do trabalho,o reconhecimento da nação e da cidadania.Não adianta ficar quarenta anos no poder e não entender isto.Está aí o México,governado por um partido só,que não o tirou da extrema miséria e dependência.

O traço mais distintivo do discurso do novo presidente é “ governar para todos” e há um outro politico,cujo nome me foge,que expressou princípio idêntico.

A visão rupturista de luta de classes acabou e a esquerda do passado também.



segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Trump foi só acidente

 

Ufa!Deus é pai(e eu nem sou religioso).Trump se foi,quiçá para sempre.

Esta eleição apresenta ,no entanto,vários problemas para analisar a situação dos EUA e do mundo.Isto porque se Trump vencesse as condições para a fixação do neonazismo americano melhorariam,sendo uma desgraça para todos.

Uma Rússia governada por um autoritário e um fascismo fincado nos Estados Unidos seria um quadro aterrorizante.Mas felizmente tudo mudou para melhor.

Eu não sou daqueles que pensam que se o povo americano escolhesse Trump apoiaria o fascismo.Não se o infere do complexo sistema eleitoral americano.Mas certamente a direita encontraria espaço para crescer.

Também não vejo o povo americano propriamente dividido.Os setores de extrema direita tiveram uma chance em alguns erros de Obama,quatro anos atrás,mas foi só um acidente.

Agora nós sabemos que a força do pensamento liberal médio dos Estados Unidos é real e que quando quer realmente prevalecer,consegue.

Em função da discrepância da última eleição ,entre os delegados e a maioria da população,que tinha votado em Hillary,estes setores fizeram um esforço em massa para evitar nova catástrofe.

Está certo:a pandemia ajudou,ou melhor,o modo como Trump não reagiu a ela,mas era esperado que um quase neonazista agisse assim e ademais o que valeu nesta eleição salvadora de agora foi o empenho da consciência liberal americana de aprender com os erros do passado.

O estrago foi feito,mas não acho que esta direita que pôs as manguinhas de fora vá ter condições de se fixar,como aconteceu aqui no Brasil,a não ser que estes setores democráticos americanos não continuem com seu trabalho essencial,não percebendo o significado da eleição de Biden:que o sentido da história hoje não é este de Trump,de reviver por vias transversas a guerra-fria,o isolacionismo nacionalista ,mas o de uma relação cada vez mais respeitosa entre as nações na busca de um paradigma social mais justo,a partir da ecologia,do respeito aos limites da terra e dos homens.

Penso que Biden pode fazer inclusive recuar a pandemia: a unidade das nações e o respeito às recomendações da ciência podem sim marcar um recuo da pandemia e uma paralisação das mortes e da contaminação.

Mas uma coisa eu acho que Biden tem que respeitar ,se quiser evitar a volta deste acidente:apesar de as plataformas internacionalistas serem importantíssimas ,principalmente para esta nação lider do planeta,um novo paradigma de abordagem da nação deve nascer,para que um eventual vazio quanto a esta realidade seja preenchido no futuro pela extrema direita.



sábado, 7 de novembro de 2020

O apelo das Revoluções

 

Continuando o artigo anterior:as revoluções surgem por três motivos ou causas:quando os fatos históricos e sociais encaixam;quando existe uma pressão dos de baixo ,imensa, e quando oferecem uma suposta resposta imediata aos problemas sociais.

De qualquer forma é a pressão dos de baixo ou de quem está s e sentindo oprimido ou excluido,que,no final,dá legitimidade ou efetividade às revoluções.

Mas o principal é supor que as revoluções apressam o processo de mudança e constróem de fato a utopia.O socialismo real vendeu esta ideia como definitiva:as carências de todos são garantidas pelo estado e daí todos podem cuidar de sua vida.

Mas não há realmente nesta ideia a certeza e a prova de que este ato imenso de vontade seja capaz de apressar o processo histórico.

As mazelas da sociedade são causadas por um processo histórico longo e multi facetado,que não podem ser superadas por um ato de vontade.A questão do tempo se apresenta também para a utopia.

Esta discussão colocou muita gente na esquerda em xeque porque existencialmente alguns ativistas forçam a porta ,passam por cima das pessoas em nome das revoluções e coletivos,mas na verdade,a motivação é grandemente pessoal.

O revolucionário,em qualquer época ,tem que saber que seu percurso é como o de Moisés.Todo revolucionário é um pouco mosaico:a terra prometida não é necessáriamente algo que ele vai ver.O caráter mosaico da atividade revolucionária impõe ao ativista tranquilidade e compreensão dos limites de sua atividade.

A consequencia pessoal é esta,mas do ponto de vista da atividade propriamente dita não é verdade que o problema da miséria,da injustiça se resolva com a pura e simples tomada do poder,a pura e simples tomada do estado.

Mas muitos ativistas entendem que mesmo assim é melhor garantir este dominio e apontar para o futuro,do que não ter nem esta possibilidade.

A realidade histórica,no entanto,mostrou que não só as mazelas não acabam como outras se acrescentam e que regimes sem legitimidade caem,causando mais problemas.



quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Porque prefiro o termo social-democracia ao socialismo

 

O termo social-democracia é atribuído a Ferdinand de Lassalle ,politico próximo a Marx e Engels.Numa carta, Engels disse deste termo:” a pig of a name”,”a porcaria de um nome”.Mas não é verdade.

Hoje,mais do que nunca,este termo ainda vale e oferece mais condições de ser seguido por todos.As violências cometidas no século XX foram por incompreensões do papel real da democracia,regime que pareceu ser responsabilizado,à esquerda e à direita,pelas mazelas sociais.

Como consequência,regimes “ fortes”,executivos,foram trazidos à baila para apressar a solução destas mazelas ,passando por cima de regras democráticas ,jurídicas,as quais foram novamente chamadas,depois que os efeitos desta pressa se tornaram conhecidos.

O termo socialismo,o próprio Marx o dissera ,iguala desiguais,força esta igualação falsa que só repirme e oprime,sendo ele o responsável pelo que aconteceu no socialismo real,aquele sistema que caiu como um castelo de cartas,porque fraco e mal fundamentado.

A social-democracia não faz menção explicita ao complexo problema social,que continua,mas pelo menos mantém o compromisso tantas vezes esquecido por parte da esquerda com a democracia e seus atributos essenciais,como o estado de direito,barreira essencial contra os crimes.

A democracia não é só forma.Não sou daqueles que acham ser suficiente afirmá-la.Penso que é muito importante adjetivá-la e comprometê-la com este objetivo supostamente utópico,mas ela é o único inteiramente plástico,isto é,capaz de admitir a participação de todos no processo de constituição e construção da sociedade e neste caminho,neste contexto,neste campo de batalha que as maiores e melhores transformações ,sem violência,ocorreram.

Àqueles que,como Lênin,entendem que a democracia é um regime dos parlamentos,que discutem,discutem e não resolvem nada,eu responderei em próximo artigo.



domingo, 1 de novembro de 2020

Crivella e o comunismo

 

Numa entrevista numa radio aqui do Rio de Janeiro,à propósito de sua reeleição,Marcelo Crivella se referiu a um fato que pouca gente sabe ,mas que é a pura verdade:a origem da ideia comunista moderna não é de Marx,mas do cristianismo primitivo.

Eu já me referira a isto em outros artigos:o comunismo também faz parte da tradição judaico-cristã,que passou para o iluminismo alemão(aufklarung) e daí para Marx,que tentou dar-lhe um sentido científico,sem conseguir.

Ele se referiu à Ananias,um personagem do novo testamento e revelou como se deu este “ comunismo”:todos ,na comunidade,abriram mão de seus bens para dá-los a igreja que os administrou distribuindo-os entre os fiéis.Mas o mais importante é o critério que se tornou universal,e que não é cientifico,mas lógico e humano.Talvez esta seja a única adequação pura entre um discurso lógico e o real(passando pela emoção):” de cada um segundo a sua capacidade,a cada um segundo sua necessidade”.

O comunismo é uma ideia antiquissima na história da humanidade e um conceito polissêmico,ou seja,plural,como plural é a sua realidade.

Há muitas formas de comunismo.Colocar bens e instrumentos de trabalho em comum,é uma forma,como aconteceu em Canudos.O Contestado não tinha esta comunização de bens,mas não deixava de ser um outro tipo.Os novos baianos passaram anos numa comunidade,dividindo o pouco dinheiro que obtinham.

De qualquer maneira o comunismo,seja nas versões tradicionais,em que seus participes se despojam de posses ou interesses,é diferente do que foi projetado por Marx e pelo Iluminismo,pois estes últimos queriam um comunismo da superabundância econômica,a divisão de muitas riquezas produzidas pela indústria,por todos.

Neste tipo de comunismo a desigualdade natural do homem não sofre pressão de um regime politico:o socialismo ,por definição,é uma fase preparatória apenas do comunismo,em que,num periodo esperadamente pequeno,admite-se igualar desiguais,para fazer um aumento da produção e garantir o objetivo acima explicado.Este sacrificio socialista é só inicial,para a partir da base capitalista ,apressar o desenvolvimento e a produção de riquezas.Quando ele se prolonga ,como na URSS,no socialismo real,ou ele entra em processo de necrose,empobrecendo a população ou torna-se um totalitarismo,uma revolução nacional,uma revolução confinada num lugar,estiolada e repressiva,em que o trabalho fica exaustivo e sem finalidade e onde a individualidade desparece,como no romance “ Nós” de Zamiatin.

No comunismo,em que as pessoas possuem riquezas e podem se liberar da faina exaustiva,tendo tempo livre,a desigualdade natural é respeitada,bem como as diferenças.Assiste razão à Hannah Arendt ,que em “ A Condição Humana” estebeleceu uma ligação entre os liberais clássicos como Locke e Marx.Coisa que muito radical aí não entendeu até hoje.