segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A comparação com Getúlio



Dilma(Didi)se compara a Getúlio .Getúlio está dentro deste complexo salvacionista,a vida toda,no primeiro e no segundo governos,contudo há conteúdos reais na trajetória do líder gaúcho e que permanecem até certo ponto,em seu herdeiro político Jango:a perspectiva nacional,a relação entre as classes.Não existe nos dois, este conceito ultrapassado de hegemonia,que gerou esta bagunça que aí está.O PT “raciocina “ que basta tomar o estado e beneficiar um setor de classe para fomentar o desenvolvimento e deixar o outro lado da sociedade,o “ lado explorador”,em abandono.Foi sempre isto.Gastaram sem ordem e só com este critério.Não existe perspectiva nacional no PT,como pensa João Vicente Goulart e como querem fazer a identificação(oportunista) o próprio PT e Lula(e Didi).
Tenho explicado isto:a chave para um nova esquerda é aceitar a realidade da nação e que uma forma de uso do capital terá que se adequar ao pensamento socialista,abandonando a versão Oscar Niemeyer que sempre predominou nestes românticos:dar dinheiro a rodo como um papai bom.

Escolhi errado:Lula e o passado brasileiro



Desde “Os sertões” temos consciência do papel do salvacionismo no Brasil cujas características foram definidas a partir deste livro e aprofundadas ao longo dos anos:um salvador que vem para mudar o Brasil em definitivo,com poderes mágicos;mistura da política com a religião e com a superstição;o líder nunca sabe do que acontece à volta dele;os seus assessores é que são culpados,etc.,etc.
Quando Lula diz que se arrependeu de ter feito esta escolha quanto a Dilma,ele está naquele tempo de “ Os Sertões”,ou seja,no passado/presente do Brasil e  se coloca nas características  supracitadas do primitivismo brasileiro.
Eu escrevo estas linhas no momento em que Didi(Dilma)faz  a sua defesa,na presença de Chico Buarque e Leticia  Sabatella(a do Papa)e na de Lula,que foi lá para ver se se seu “aluno” reverte o processo ou ele terá que “ salvar” todo mundo.
Uma manipulação supersticiosa que,se fosse eu(ou qualquer pessoa de bem)jamais aceitaria(principalmente no plano político):eu admito ser chamadaode capacho incompetente para permitir que o PT e seu mestre continuem.Me sacrifico,quanto à minha honra,para dar continuidade ao “ projeto do povo brasileiro.ora!Francamente!Chegamos a um nível jamais imaginado de desolação política,necrose,podridão e loucura(ressaltada esta última pelo Presidente do Senado[que se incluiu no hospício]).É urgente que este impeachment se conclua para que pelo menos o futuro comece a entrar pelas janelas.
Um ptaco na fala de Juca Kfouri
É realmente certeiro que Juca Kfouri reclame de Nuzman que não fez o seu pleito de agradecimento a Lula e a Didi(Dilma)pela  Olimpíada .
Imagine um discurso assim:” quero agradecer ao Presidente Lula e à Presidente Dilma,que está sofrendo impeachment,por nos terem ajudado(e nós a eles[porque a olimpíada alavancou a candidatura de Didi{que não tinha expressão política nenhuma}])por este espetáculo e  ao primeiro,principalmente,apesar de correr o risco de ser preso e sobre quem dizem que está prestes a pedir asilo na Itália”.
Façam-me o favor.Paro por aqui.


sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Humildade III



Quando o Brasil perdeu a copa de mundo de 66 de forma bisonha e se anunciava que o futebol brasileiro era fogo de palha,João Saldanha foi chamado para ser o técnico da seleção.
A primeira coisa que ele fez foi levantar os ânimos depois da derrota,mostrando que aquilo era um acidente passível de acontecer,mas que os jogadores brasileiros eram os maiores do mundo e  não tinham porque não reconhecer isto e se impor.
O que ocorre com  o Brasil nas Olimpíadas  é exatamente a falta desta compreensão própria do que é ser humilde,conceito a que tenho me referido freqüentemente aqui.
A humildade é em função do concreto.Não tem sentido você se preparar,lutar ,adquirir conhecimentos ,demonstrar superioridade num determinado  momento e recuar para não humilhar o adversário numa inversão de valores éticos inaceitável de pois de tanto esforço.
Quando você procura bater em definitivo o adversário,isto é uma demonstração de  respeito a ele,porque se funda na consciência de que ele tem capacidade para reagir.Não tripudiar,mas garantir a vitória o mais rapidamente possível,de modo que o outro não reaja mais.
Foi o que correu com o basquete masculino,que teve vantagem  absoluta ,duas vezes, sobre os argentinos e recuou,para perder,no final.
E estas meninas do futebol,que vivem reclamando:a superioridade já tinha sido provada sobre as suecas,na primeira fase do torneio e no jogo o volume era muito maior,mas não houve iniciativa ou audácia(virtudes de quem não é franciscano e quer ganhar)para parar de bater na defesa adversária,fazer lançamentos tolos ou correria sem sentido.É aquele momento em que a  pessoa diz:eu sou melhor e tenho que achar uma solução para o problema.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Dr. Ivo Pitanguy e João Havelange



Eu ia fazer o necrológio apenas do doutor Ivo Pitanguy,mas com o passamento  de João Havelange eu resolvi ampliar este artigo para o encômio de algumas qualidades que eu acho essenciais nas pessoas,apesar dos seus defeitos.
Eu vou dividir estas pessoas em dois grupos:Dr. Ivo Pitanguy,Flavio Rangel  e Isaac Karabtchevski ,este último ainda entre nós e o outro grupo se constitui só de João Havelange,porque são dois temas diferentes:política e processo educacional.
Comecemos pela política:
João Havelange,como qualquer político, é uma figura controversa,mas para mim o seu saldo é positivo.Sei que muitos da esquerda vão achar isto um despautério,mas eu entendo que João Havelange representou o progresso possível e inevitável do futebol mundial.
É lógico,que juntamente com os meus amigos da esquerda,eu queria uma internacionalização do futebol que preservasse a arte em primeiro lugar,depois do dinheiro e as características nacionais em detrimento da imposição deste modelo europeu que está aí e que o acusam de criar,exagerando sua culpa.
Só teria sido possível  garantir,pelo menos para o futebol brasileiro esta proteção, se o nosso futebol,internamente administrado não se interessasse só pelo dinheiro e  não tivesse(não sendo culpa dos péssimos dirigentes brasileiros)perdido a fábrica de jogadores,quando iniciou-se o período de especulação imobiliária,que acabou ,entre outros,com os campos de várzea.
Isto tudo não é culpa do Havelange.É um processo que vem se desenvolvendo à revelia dele e cá entre nós culpá-lo de europeizar o futebol é dose,porque Havelange nunca recebeu votos e apoio da Europa ocidental,inclusive universalizando o futebol(inevitável tendência histórica)favorecendo povos do terceiro mundo.Para isso cometeu exageros de colocar árbitros despreparados na copa de 90 na Itália principalmente em que um deles marcou impedimento de lateral.Mas eram árbitros das ilhas Fiji,Taiti,Arábia,Burkina faso ...que votavam nele.
Caberia a nós críticos lutar pela preservação nacional das fábricas de jogadores,porque aí nós teríamos condição de defender este produto,em nome do país e com grandes jogadores era possível  arrecadar mais pelos clubes brasileiros,os grandes produtores e preparadores destes jogadores.
Que havia tráfico de influência na FIFA isto é inevitável na política também.Não defendo nem banalizo esta responsabilidade,bem como as acusações últimas de corrupção,mas uma coisa é acusação outra prova.
O segundo grupo
No caso de Ivo Pitanguy,Flavio Rangel e Isaac Karabtchevski o que ressalto é  arte de expor,de ensinar,no seu verdadeiro e único sentido que é o de expor os fundamentos das coisas sem vulgarizá-los.
Hoje,com a  perniciosa influência de mestrados e doutorados ensinar é jogar catadupas de textos estrangeiros sobre os alunos,inclusive dos primeiros períodos das faculdades ,e  mandá-los ler para depois discutir em conjunto,mas para mim será sempre assim:professor tem que dar aula,tem que expor,tem que dissertar falando,mesmo que depois discuta com os alunos.
Eu não sei se já me referi aqui a Flavio Rangel.Uma vez eu comprei numa banca de jornal o primeiro volume da coleção “ Teatro Vivo”dedicado a Sófocles e  Édipo-Rei, da antiga Abril Cultural e lá no fundo,num posfácio ,havia um titulo assim “ Édipo-Rei um espelho de muitas imagens”,que me chamou logo a atenção e eu fiz como a maioria dos brasileiros quando compra um jornal:comecei de trás pra frente a leitura(no caso do jornal ,da página esportiva),do lugar que eu mais gostei.
Em duas folhas Flavio Rangel expôs o significado histórico e a estrutura do texto ,que me passou a ser inteiramente compreensível até hoje,bem como o posfácio,um modelo de exposição tranqüilo que uso até hoje também.
Nele Flavio expunha as camadas significativas do texto que deveriam  ser atentadas pelo leitor,notadamente jovem e  neófito como eu(era).
Depois ,ao longo da vida,venho assistindo  documentários das atuações como diretor de Flavio Rangel e o mesmo maravilhamento se dá,inclusive mostrando que lecionar não é só na sala de aula,mas nos ensaios teatrais e na vida.Uma pessoa que expõe com tanta facilidade um fundamento, que não é preciso gritar,ninguém se stressa e mais coisas belas deste tipo.
O doutor Ivo Pitanguy era  a mesma coisa.Cheguei a tentar entrar num congresso no Rio de Janeiro de cirurgia plástica para ver a capacidade expositiva do cirurgião,mas era muito (justamente)caro e fiquei com os documentários em que ele demonstrava além do mais ter uma vocação filosófica que não desenvolveu,porque sempre relacionava a necessidade de cirurgia plástica com a questão ética e estética,bem como psicológica à pessoa que ia ao seu consultório.Eu vou tratar disto mais proximamente.
E finalmente o nosso Maestro,que hoje reorganiza as partituras  de Heitor Villa-Lobos,revelou sempre a mesma capacidade expositiva.Lembro-me que no programa de Alberto Dines “ Observatório da Imprensa” comemorativo do lançamento das “ Bacchianas Brasileiras”,ao perguntar o jornalista sobre a essencial virtude de todo critico musical,aprendi com o maestro que o verdadeiro critico é aquele que é “capaz de ler uma partitura como se lesse um livro” e eu ,sacrílego,extendo este conceito para outras atividades.
Um bom critico de cinema,de pintura,de escultura,tem que ter esta virtude.
Todas as vezes em que me atrapalhava ou me atrapalho no meu processo expositivo eu ia (e vou)nestes documentários para readquirir fluência e recontatar psicologicamente  a verdadeira arte de ensinar e expor.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

O modelo olímpico



Depois do sucesso brasileiro em Atlanta o então  presidente do COI  Juan Antonio Samaranch se prontificou a ajudar o Brasil a criar o seu modelo olímpico e fazer de nosso país uma potência no esporte,como é de desejo de todos aqui há muitos anos.
Porque isto não aconteceu até hoje?Porque só existe um modelo possível para um país se  tornar uma potência olímpica:a relação do esporte com a  universidade,com  a escola.Não existe outro,porque esporte é  formação e nação.
As empresas privadas não têm condições de sustentar um objetivo desta natureza,porque elas precisam do lucro que o patrocínio dado oferece.Nação e formação vêm muito depois.
É natural que  nos Estados Unidos as faculdades privadas sirvam   eventualmente de modelo para um país capitalista emergente como o Brasil.Contudo os Estados Unidos possuem uma sociedade civil avançada e mesmo as universidades privadas são fortemente formadas dentro do espírito  protestante de construção de uma nação com determinados valores,fundamentos que ,eu venho dizendo aqui,não existem no Brasil.
Não é questão de ser uma universidade particular,uma empresa particular:é que ambas tenham um forte sentimento do que é ser público,na relação com uma nação cuja sociedade civil,forte e pujante,pode dar sustentação econômica a qualquer projeto.
Afora os nadadores que são filhos de homens ricos,muitos chegam à universidade descontando o pagamento de suas mensalidades com trabalho ou com esporte e quando alguns,lá onde vivem ,demonstram ser dotados de especial aptidão,são buscados por estas universidades,que,como outras instituições estadunidenses,estão longe do corporativo,do exclusivismo e  da egocentria,que são coisas corriqueiras aqui em nosso país.
Em universidades ,públicas ou privadas,em que o interesse próprio vai além dos coletivos e nacionais é inadmissível fazer uma grande parceria com os esportes.
Em instituições em que a política  se sobrepõe ao profissionalismo,como aceitar as regras rígidas e  éticas,em que “vence o melhor” e não aquele que tem cupinchas prévios nas bancas examinadoras?
Num país em que o mestiço,maioria  da população,não tem como,por diversas razões,condições de ascender à universidade,como massificar o esporte,como criar as condições para achar aquele que tem uma aptidão especial?
É isto o que eu digo freqüentemente não só em relação ao Judiciário,mas às outras instituições nacionais:elas são corporativas,desinteressadas do projeto nacional.Juntá-las em obrigações e parcerias é um modo de construir um modelo nacional,pelo menos começar.
Eu acho um absurdo que ainda predomine no Brasil uma visão positivista do século XIX,segundo a qual a norma jurídica só tem a função de punir.Porque ela não pode ser vista como um caminho para a educação?
Para mim é obrigatório que em certas instâncias criminais alguém que cometa um delito seja não enviado para prisões ,as escolas do crime,mas para escolas de verdade e que ainda se busque a redução da maioridade penal.Existem tentativas,lutas,mas de modo geral o Brasil ainda é este país medieval.
Assim também ocorre com a universidade e a  escola em geral:ela não quer abrir as janelas ao povo,mas reproduzir poder contra ele e no interesse de interesses privados que atingem as próprias escolas públicas.