Dostoievski
em seu livro clássico
sobre os revolucionários,” Os demônios”(às
vezes traduzido no
Brasil como “ Os Possessos”),fazia
um acerto de contas com a sua
antiga militância radical.Ele
concluía e mostrava,através de seus
personagens,que o que motivava
os companheiros era ,na verdade,não a
abnegação,em nome da humanidade e dos pobres,mas acima de tudo,uma compensação
sensual e erótica,diante de uma inadequação
pessoal(carência)diante de um mundo injusto.
O
militante radical acredita piamente
que tem condições e método
para mudar o mundo,que é injusto com os pobres e com ele.Durante muito tempo,
a dialética,como método geral,
e a crença mística de que o povo deveria ser confrontado com a sua
exploração para adquirir consciência ,deram justificativas (o termo é
este)para insuflar de
qualquer jeito o vírus da revolução em quem estava debaixo
da ponte.Diante dos fracassos o revolucionário se confrontava ele mesmo com a
frustração e a impossibilidade de realizar
o seu” sonho”.
Alguns destes radicais procuraram,como pessoas sensatas e adultas,identificar os erros e respeitando a realidade e a
decisão das massas,encontrar outros caminhos.
Contudo uma
boa parte continua até
hoje a viver uma contradição ininteligível
para eles mesmos:se a realidade social,não entrou na
teoria,pior para ela,POIS EU
TINHA RAZÃO.
São estes os
radicais objeto da crítica
demolidora de Dostoievski.A grande
questão do radical
moderno(?)é que ele acredita(o termo é este
também)que a solução está de modo
científico e isto se torna para ele um dogma,não objetivo,mas subjetivo,ou
melhor,um dogma para o coletivo e para
sua vida individual,os quais estão irremediavelmente interligados(esta
análise é minha).Quando a realidade o contesta a vida do radical desaparece e ele
aí se divide em muitas
alternativas ,de todos os
jaezes,mas tendo em comum,a necessidade
sempre crescente e insatisfeita de preencher a carência ,individual,que ele
pensa coincidir com a
coletiva(dos pobres).
Neste
momento fica claro para ele o que ele “ sabia há muito tempo”:TUDO DEPENDE
DELE(rsrsrs)e assim ele continua
a praticar atos em que
(só)ele acredita que vão levar à realização dos objetivos,porque ele não pode admitir estar errado e também a
sua vida não se sustenta sem esta
certeza.Se admitir,se suicida,como
um dos personagens de Dostoievski.
Os grupos de
ação direta que
atuam agora no Brasil
são herdeiros desta tradição.Eles
são
transcendentais,transepocais ,como
a fada “ sininho “ da fábula do Peter
Pan,que Michael Jackson tanto
gostava.
Mas o radical
não aprendeu a lição
do mito de Dédalo e Ícaro,no
início do Ocidente:
Que não se pode compreender
tudo,mudar tudo,muito menos individualmente,porque senão as
asas se queimam.
A luta não é
individual,mas em conjunto,dentro de uma preparação,que leva tempo,que
consagra ganhos e aponta para uma melhoria definitiva.A luta
é de massa.
Há um autor ,Jon Elster,que na época em que Achille Ochetto decretou
o fim do comunismo,afirmou num
livro,que desde Hegel existe
uma ilusão de que usando a dialética,qualquer indivíduo pode
desencadear o movimento universal.Isso parece
com aquela música de Caetano
Veloso:” Há que mudar a sociedade,porquê?porque eu quero!”.
Na vida real,não
é assim.E a história demonstrou
que tais atitudes
só levam mais problemas.
O que está acontecendo no Brasil é o caso clássico de um governo,cada
vez mais continuista e contestado,de
suposta feição esquerdista e que acaba
por abrir espaço
para radicalismos que
ajudam mais à direita(que está à espreita e quiçá financia...)do que à esquerda verdadeira e à democracia,que
é sempre um entrave para os revolucionistas(no dizer de Max Weber).Sei que
é um chavão,mas ele cabe
agora:estamos naquele momento da
história como farsa,como comédia perigosa,a
repetição dos erros,dos erros de
64.
Não aprenderam nada os radicais e os partidos atuais,que se dizem tão democráticos não
deviam autorizar estas atitudes.Uma
coisa é a culpa jurídica,outra a responsabilidade política.Se
o PSOL não apóia estes métodos,deve expulsar estes radicais.