quinta-feira, 31 de julho de 2014

Vamos voltar à vaca fria: Ativismo preso



Dostoievski  em seu  livro  clássico  sobre  os  revolucionários,” Os  demônios”(às  vezes  traduzido  no  Brasil como “ Os Possessos”),fazia  um acerto  de contas com a sua antiga  militância  radical.Ele  concluía  e mostrava,através  de seus  personagens,que  o que motivava os  companheiros era ,na verdade,não a abnegação,em nome da humanidade e dos pobres,mas acima de tudo,uma compensação sensual e erótica,diante de uma inadequação  pessoal(carência)diante de um mundo injusto.
O  militante  radical acredita  piamente  que tem condições  e método para  mudar  o mundo,que é injusto com os pobres e com ele.Durante  muito tempo,  a dialética,como método  geral, e  a crença  mística de que  o povo deveria ser confrontado com a sua exploração para adquirir  consciência ,deram  justificativas (o termo  é  este)para  insuflar de qualquer  jeito  o vírus da revolução em quem estava debaixo da ponte.Diante dos fracassos o revolucionário se confrontava ele mesmo com a frustração e a impossibilidade de realizar  o seu” sonho”.
Alguns destes radicais procuraram,como  pessoas sensatas e adultas,identificar  os erros e respeitando a realidade e a decisão das massas,encontrar  outros  caminhos.
Contudo  uma boa  parte   continua até  hoje a  viver  uma contradição  ininteligível  para  eles  mesmos:se a realidade social,não entrou na teoria,pior  para ela,POIS  EU  TINHA RAZÃO.
São estes  os radicais  objeto da crítica demolidora  de Dostoievski.A  grande  questão    do radical  moderno(?)é  que ele acredita(o  termo é este  também)que a solução está  de modo científico e isto se torna para ele um dogma,não objetivo,mas subjetivo,ou melhor,um dogma para  o coletivo e  para  sua  vida individual,os quais  estão irremediavelmente interligados(esta análise  é  minha).Quando a realidade o  contesta a vida  do radical desaparece e  ele    se divide  em muitas  alternativas ,de todos  os jaezes,mas tendo  em comum,a necessidade sempre crescente e insatisfeita de preencher a carência  ,individual,que  ele  pensa  coincidir  com a  coletiva(dos  pobres).
Neste  momento  fica  claro para ele o que ele “ sabia  há muito tempo”:TUDO  DEPENDE  DELE(rsrsrs)e  assim ele  continua  a  praticar  atos em que  (só)ele acredita que vão levar à realização dos objetivos,porque  ele não pode admitir estar errado e também a sua  vida não se sustenta  sem esta  certeza.Se admitir,se  suicida,como um dos personagens de Dostoievski.
Os grupos  de ação  direta  que  atuam agora  no  Brasil  são herdeiros desta tradição.Eles  são  transcendentais,transepocais  ,como a fada  “ sininho “ da fábula  do Peter  Pan,que  Michael  Jackson  tanto  gostava. 
 

Mas  o  radical  não  aprendeu a  lição  do  mito de Dédalo  e Ícaro,no  início do Ocidente:

 
Que  não se pode  compreender  tudo,mudar  tudo,muito menos  individualmente,porque  senão as  asas se queimam.
A luta  não é individual,mas em conjunto,dentro de uma preparação,que leva tempo,que consagra  ganhos e aponta  para uma melhoria definitiva.A  luta  é  de  massa.
Há um autor ,Jon Elster,que  na época em que   Achille Ochetto  decretou  o fim do comunismo,afirmou  num livro,que desde  Hegel  existe  uma  ilusão de que usando  a dialética,qualquer indivíduo  pode  desencadear  o movimento  universal.Isso  parece  com aquela  música  de Caetano  Veloso:” Há que  mudar a  sociedade,porquê?porque  eu quero!”.
Na  vida  real,não  é assim.E  a história  demonstrou  que  tais    atitudes  só levam  mais  problemas.
O que está acontecendo  no Brasil é o caso clássico de um governo,cada vez mais continuista  e contestado,de suposta  feição esquerdista e que  acaba  por  abrir  espaço  para  radicalismos  que  ajudam mais  à direita(que  está à espreita  e quiçá financia...)do  que à esquerda verdadeira e à democracia,que é sempre um entrave  para  os revolucionistas(no dizer  de Max Weber).Sei  que  é  um chavão,mas ele cabe agora:estamos  naquele momento da história  como farsa,como comédia  perigosa,a  repetição  dos erros,dos erros de 64.
Não aprenderam nada os radicais e os partidos  atuais,que se dizem tão democráticos não deviam autorizar  estas atitudes.Uma coisa  é a culpa  jurídica,outra  a responsabilidade  política.Se  o PSOL  não apóia  estes métodos,deve expulsar estes radicais.