sexta-feira, 29 de maio de 2020

À propósito de Anita Leocádia Prestes II

Mas outras considerações  esta entrevista de terça-feira  me suscita.Desde  o final do primeiro governo Lula,com as denúncias de corrupção enfeixadas no processo do mensalão,que aquilo que já vinha acontecendo no Brasil,com a aceitação das regras do jogo politico brasileiro por parte do PT e denunciadas por César Benjamin(entre outros),se tornou ainda mais claro:a acefalia politica no Brasil.
Agora o que temos diante dos olhos é um misto de necrose ,distorção e perversidade,com o governo atuando diretamente para acabar com aqueles que o elegeram.Uma das  modalidades do estado totalitário de direita(mas que é comum nos de esquerda também)é este exterminio do povo,que a pandemia viabilizou e que o jumento presidente utiliza.
Mas o que eu queria me reportar na citada entrevista era um detalhe dela que me chamou muito  a atenção e que me relembra o elemento decisivo da atividade trans-histórica da esquerda:emancipar o oprimido,a razão emancipatória de Jurgen Habermas.
Há muitos anos fiz um artigo,elogiando as iniciativas do deputado Paulo Paim,do PT, e até recebi um email de agradecimento.O Estatuto do Idoso é exemplar e humanitário.Mas eu dizia que faltava algo mais para ser efetivado,num país em que a lei não pega.Num país em que a lei não pega,só quem usufrui do reconhecimento de fazer uma lei humanitária é o seu autor,não o destinatário.
Uma das características do socialismo(semelhantemente a governos teocráticos)é poder constituir um equipamento capaz de percorrer a sociedade como um todo(como se não fosse um regime totalitário)e resolver problemas práticos cotidianos do povo(por isso muita gente vive bem nos regimes totalitários e os defende).
Nos regimes democráticos há sempre o medo(fundado) de que uma iniciativa deste tipo acabe gerando um regime assim.Muitas considerações podem  e devem ser feitas a respeito dela e eu farei em outros artigos,mas não tem jeito:há que encontrar uma mediação democrática apta a ajudar o povo a usufruir de leis que lhe são mais do que úteis,porque o povo brasileiro não é uma instância ideal como muito populista no passado e no presente achou e acha:o povo brasileiro não tem acesso à escola,pois trabalha para sobreviver muito cedo;o povo tem desconfiança da cultura que não o reconhece;e o povo brasileiro não tem meios,inclusive financeiros,de implementar um direito que lhe é próprio.
Mas esta mediação é essencial no processo de superação do vanguardismo assistencialista da esquerda em geral em direção à razão emancipatória.

terça-feira, 26 de maio de 2020

À propósito de Anita Leocádia Prestes

Anita Leocádia Prestes ,que está publicando um novo livro,concedeu uma entrevista à Folha de São Paulo hoje e não pude deixar de ser influenciado por este reaparecimento.
Quando entrei no Partido,ou melhor,no periodo final da ditadura e começo dos anos 80 do século passado(quando entrei no Partido Comunista,que já era meu partido em casa),só se falava em Anita como a porta-voz do Prestes,especialmente quanto às suas posições rigidas em relação à forma de organização do partido,que,para ela e para seu pai,só devia aceitar pessoas que tinham conhecimento real do que era a doutrina comunista.
Na época esta posição era tida como a defesa de um “ partido de quadros” em oposição ao “ partido de massas”,que era o que o partido vindo do exilio queria implementar.
Esta dicotomia era parcialmente verdadeira,porque não havia propriamente da parte de Prestes e de Anita este tipo de percepção da oposição entre vanguarda e “ retaguarda” ou “ massa”.Eles pensavam em termos de uma identidade lógica entre o pensamento,a teoria e a prática(“não há movimento revolucionário sem teoria revolucionária”[Lênin]).
De outro lado o partido pensava que a mediação decisiva da democracia,como valor estratégico,isto é,como finalidade,devia admitir aquele que não tinha um conhecimento teórico.
Com o partido legalizado,mas mesmo antes(quando eu já atuava)havia uma discussão sobre o modo como esta segunda visão se implementava.De um lado Hércules Correa não aceitava que não-militantes participassem,no que se chamava “ circulo externo”;de outro Givaldo Siqueira,que preconizava esta participação.
No fundo, no tempo de Prestes estava presente este circulo externo:toda vez que ele perdia um debate politico no comitê central recorria a este circulo para criar um outro comitê,afeito a ele.
Nos anos 80 o objetivo da manutenção do circulo era favorecer o comportamento democrático do partido,mas ele serviu aos mesmos propósitos de Prestes e do comitê central:favorecer aos chefes do partido,quando contestados ,a manter o seu poder com a ajuda destas pessoas acriticas que só estavam lá demagogicamente por obra e graça deste chefe,que lhes oferecia algum tipo de vantagem.
Mas eu fiz este intróito para mostrar,a partir das análises feitas por ela na entrevista,a respeito do momento atual do Brasil,como o meu pensamento tem contatos com o dela,porque muito embora não seja mais comunista no sentido que tinha esta expressão no interior do partidão e que permanece na cabeça dela,em termos,como vimos acima.A atividade politica da esquerda,que eu penso ser a da esquerda, provém do processo de crítica da minha militância.
Em termos negativos,quer dizer,negando o que eu vi lá,construí o meu pensamento.Anita Leocádia afirma que a esquerda não tem fundamentos,não tem projeto,que faz leis que não pegam e precisa criar mecanismos para ajudar o povo a sair do sofrimento,que eram idéias do partido,mas que pertencem a todo aquele,de um ou de outro modo ,raciocina em termos de emancipação politica dos povos,e não apenas,assistencialisticamente,como fez Lula e faz a esquerda.
As vanguardas atuais da esquerda não se preocupam mais com isto,a razão emancipatória,mas repetem os esquemas das piores burguesias,fazendo caridade para obter vantagens financeiras e politicas,através do que se chama hoje de “ terceiro setor”.
É muito melhor viver numa sociedade preocupada com os pobres ,ainda que por esta forma caridosa,do que numa em que predomina o ódio,como no nazismo;mas não é suficiente ficar nisto aí e a tarefa histórica da esquerda não é imitar estas práticas manipulatórias.
Ajudar um catador de latas é muito bom,mas o terceiro setor e a esquerda em geral deviam usar isto para emancipar este oprimido e tirá-lo da sua condição social injusta.Não é preciso ser radical e comunista para dizer isto.
Pelo menos Anita tem este referencial e a leitura de sua entrevista me trouxe um passado que cada vez mais se esfuma neste presente desassisado em que vivemos.E que as discussões do passado ainda são válidas hoje,ainda que por contestação.

domingo, 24 de maio de 2020

Apóstolos nos(me )ajudem III


O pacto do futuro

Continuo analisando os acontecimentos de hoje,pelo passado,ou a partir dele.”O passado é o prólogo”,diz Shakespeare.Compreendendo o passado é possível redirecionar o presente(dasein),especialmente quando ele é ainda influenciado pelo passado.Muitos fariam objeções a esta conexão:passado que é passado é aquele que não influencia mais,não tem mais efeitos no presente.Mas esta é uma questão escolástica,porque tendo eficácia ou não ele é sempre,ainda que potencialmente,essencial para quem vive no presente,seja como história ou seja como parte real do presente.
Após o governo de Dilma, 64 voltou,a guerra-fria voltou.Dilma comungava de uma visão de contestação da ditadura completamente diferente daquela que eu tinha quando participei do comicio das diretas.
Ainda que entendesse então e agora que as reparações são justas,digo e repito que o principio de colocar o Brasil e a sociedade acima dos interesses pessoais conflita com o da justiça que estas reparações representam.Mas há momentos na História que é preciso um aprofundamento maior nas questões para evitar que ,como agora,o presente (e a democracia)fique refém do passado.
Como a esta altura da vida solucionar o problema palestino/israelense?Como resolver os problemas de reparações na antiga iugoslávia?Os casos históricos de crimes politicos,perpetrados pelo estado devem ser reparados.Deve haver ressarcimento em relação às  vítimas,inclusive as vitimas da esquerda.Mas numa situação de crescente de delirio de vingança,não.
Mas ao longo da história estes ressentimentos são usados para os mais diversos fins politicos e acabam se prolongando de uma maneira infinita e … insolúvel.
A questão dos crimes cometidos contra os guerrilheiros brasileiros era para ser uma questão jurídica,histórica e acima de tudo  nacional.A esquerda  e os partidos comunistas,os mais atingidos,no tempo da redemocratização, se comprometeram a não  enveredar pelo caminho do revanchismo,da vingança,mas o que se vê é que toda a questão da violência do estado  contra o cidadão parece se resumir no problema partidário.Toda a  problemática de tortura institucional parece se resumir  ao problema destes partidos comunistas.Não parece ser um problema histórico do Brasil,muito antes do comunismo chegar no Brasil.
Quando vejo estas coisas eu me lembro que levou muito tempo para as pessoas entenderem que não só os judeus foram massacrados pelos nazistas,embora fossem maioria esmagadora.
É natural e compreensível que aquele que é injustiçado se vitimize   e que caia na onipotência de considerar tudo referenciado a si,mas a busca de reparações só se justifica,se não se quer cair no revanchismo,na defesa da cidadania e do estado direito,fato que é afeito a todos.
A luta para reparar os crimes da ditadura é para evitar que a cidadania no futuro seja golpeada novamente.Ela só tem legitimidade dentro da intersecção estado/sociedade,o corpo politico,onde aquilo que acontece a um cidadão atinge a outro,mesmo desinteressado.Mas a reparação não é uma forma de chancelar a proposta dos comunistas,assim como a tortura impingida a eles ,legitime co comunismo e o socialismo real.São coisas diferentes.
A presidente Dilma e a esquerda têm todo o direito de buscar esta reparação,mas dentro de limites que eles não reconhecem como necessários,a começar de uma visão consequente da cidadania.
A esquerda brasileira nunca abandona as premissas proto-marxistas de que a busca do  estado de direito e da cidadania no fundo encobre a exploração.A esquerda instrumentaliza a lei e a norma,só considerando cidadania aquilo que se conecta diretamente com os direitos sociais,menosprezando o aspecto formal.Ela só se adianta um tiquinho da visão de Lênin em “A doença infantil”:não usa a lei e a democracia,mas a submete a um critério externo a ela,que ,afinal,a põe em perigo ,abrindo espaços para uma “ democracia maior”,a ser obtida autoritariamente.
Este tipo de distorção que o PT e  a esquerda em geral não abandonam se viu no esforço do presidente Lula de abrir “ a caixa do judiciário”,atitude que desandou e que foi o inicio do fim de Lula.Eu vou tratar disto  em outro artigo.
O que quero ressaltar é a necessidade de um novo pacto para solucionar em definitivo o problema das reparações e de quebra desvincular o exército deste ranço de se colocar contra a cidadania.Em toda a crise existe uma oportunidade de delimitar uma época e construir outra.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

O programa de renda mínima universal

Em meio a este pandemônio em que se transformou a pandemia algumas noticias radicais,que são comuns nos momentos em que a humanidade confronta os seus limites,chamam a minha atenção:a proposta de renda universal,que,como já disse,é idéia da esquerda e da social-democracia,trazida ao Brasil pelo então senador Eduardo Suplicy.
O pessoal da Folha de São Paulo que lê meus artigos sem reconhecer,leu aquele artigo em que eu dizia estas coisas acima, e trouxe o agora vereador para uma entrevista,em que ele revela o sonho de antes de morrer ver a renda universal reconhecida no Brasil(e no mundo digo eu).
Mas a renda universal,básica universal é ,como eu também disse antes, uma extensão natural do estado previdenciário moderno.
Eu deixei de lado a discussão desta ideia,que acompanhei em reuniões com o próprio Senador,porque achava impossível economicamente os estados arcarem com esta obrigação com todos por toda a vida.
E igualmente eu refetia a minha posição radical comunista de então,que ainda é a de muita gente por aí,acreditando ser esta renda um meio de desviar a humanidade do comunismo...
Com a maturidade e com o mundo do jeito que está,sem garantir emprego a ninguém,mudei a minha posição e este é o objeto deste meu artigo:a renda básica universal pode ser um caminho para o Brasil chegar ao seu ideal de nação bem fundamentada e estruturada.Isto vale como padrão para os outros países,mas hoje falarei só do Brasil.
Um país estruturado e fundamentado,como já tenho explicado inúmeras vezes é aquele em que dois princípios o constituem:uma mediação unificadora e uma minima inter-relação entre suas partes formadoras,estatais e sociais.
Desde os gregos que ficou claro que uma sociedade,uma nação ,só prospera se tiver uma mediação cultural e politica comum a todos os cidadãos,ou pelo menos a toda média ética da sociedade.
Entre os gregos, a democracia;entre os romanos a repúbica.Nos Estados Unidos “ a igualdade de oportunidades”.
O Brasil tem uma característica muito afeita à sua formação cultural:o principio religioso,o que o torna muito semelhante aos países ibéricos.Nada contra pensar o Brasil como “ pátria do evnagelho” se isto significa,como significa,solidarismo,um solidarismo cristão,mas a relgião não é universal e é uma questão privada.Então a sua auto-constituição como mediação organizadora do país,não serve,porque mistura o estado,o público e o privado e aí nós entramos no segundo elemento essencial de qualquer nação:a estrutura de um país se forma e se mantém na medida em que cada uma das suas partes compreende a sua posição e se relaciona com os outros setores,inclusive admitindo desigualdades de importância no âmbito geral.Esta última asserção diz respeito à necessidade de o cidadão se abnegar pelo “ coletivo nacional”.
Só assim, com estes principios evidentemente inter-ligados e com preeminência do primeiro,uma nação adquire a homogeneidade necessária para realizar as transformações conjuntas que ela precisa.No caso do Brasil,antes das transformações, há que arrumar a casa,fazer e refazer os seus fundamentos.
Dentro de uma visão pacifista,que retém a experiência de outros povos,que evoluíram pacificamente(Japão),diferentemente de outros,através de revoluções e guerras sanguinolentas(Europa Ocidental),o principal instrumento(mas não único)é a educação.
Pensar que desde o nascimento a pessoa possa receber esta ajuda básica universal nos remete à possibilidade de habilitar financeiramente a próxima geração de condições econômicas para estudar desde sempre em boas escolas.Dos 0 aos 12 anos o estado teria amplas condições de se preparar para melhorar a escola pública e o dinheiro acumulado seria administrado com mais liberdade por esta geração,investindo em condições de vida melhores e numa qualificação de seus estudos desde o inicio da vida.
Como esta renda seria referenciada a cada pessoa individualmente,inclusive à criança,no berço ainda,ninguém,mesmo da família,a tiraria,para propósitos menos nobres,facilitando ao estado o controle com finalidade da vida dos cidadãos e planejamento de seu futuro educacional e existencial.Haveria uma confluência real entre o indivíduo e o estado,entre o particular e o geral.
A via de acesso ao progresso do Brasil pode ser esta renda básica universal.

domingo, 10 de maio de 2020

A culpa dos chineses

A guerra esperada entre China e Estados Unidos era para 2022 ,ano em que os chineses estariam ,segundo eles,no mesmo pib dos americanos,iniciando assim uma competição em termos de igualdade pela primeira vez na história.
Sempre foi desejo da China se vingar das potências ocidentais por causa do imperialismo que lhe impuseram no século XIX.Napoleão dizia:” Deixem a China dormir,porque quando ela acordar,o mundo vai tremer”.
A China vive de sua organização milenar e de seu complexo de inferioridade.Nem o periodo comunista,de Mao Tsé Tung,que deveria insuflar um espirito de colaboração e camaradagem socialista,paralisou estas exigências nacionais.O internacionalismo comunista se rendeu ao fato real da nação, a empurrar uma forma nacionalista de expressão.Mao raciocinava em termos nacionais,principalmente em relação à URSS,protagonizando um inicio de competição,que só antecipa este atual,com os EUA.
Nem o capitalismo,nem o comunismo,de certa forma herdeiros do iluminismo e da indústria moderna abandonam o projeto de prover à humanidade de bens suficientes ,capazes de lhe garantir um bem-estar definitivo.
Desde a revolução soviética o esforço de construção deste bem-estar está associado a um princípio que já vinha do processo de estabelecimento do modo-de-produção capitalista:acumulação.
A acumulação capitalista visava foverecer a classe dominante,burguesa,mas ,com o tempo,a “ questão social” “ ensinou” esta mesma necessidade ao capitalismo,no afã inclusive de sua legitimação diante do socialismo.
Mas estes dois posicionamentos são questionados,hoje,por esta pandemia,jogando água no pensamento ecológico que cada vez mais adverte a humanidade dos perigos que o esforço continuado,obsessivo,de acumular,pode levar o planeta a um desastre irreversível.
Não acredito que os chineses tivessem elaborado um virus para espalhar,dentro de um propósito politico,porque eles mesmos foram atingidos.Mas esta obsessão de produzir,que faz fábricas trabalharem vinte quatro horas por dia,isto sim,a meu ver,é a causa destes desequilibrios,sem falar no regime alimentar,de que já tratei.
Desde Mao,a China propõe soluções gigantescas para problemas gigantescos.O “ Grande Salto para a frente” era um projeto faraônico e megalomaníaco que redundou em fracasso do mesmo tamanho.E no interior dele ficou clara a ignorância e irresponsabilidade ecológicas dos chineses e de Mao.Quantas vezes ouvi em casa elogios à organização e obediência do povo chinês em seguir as orientações do partido comunista de não deixar os pardais dormir,porque estavam comendo frutas das árvores e prejudicando as lavouras.Mas só ouvi depois de adulto que aquilo ,a morte destes passarinhos,resultou em crescimento de gafanhotos,que destruiram do mesmo jeito as plantações...
Conta-se que numa das últimas reuniões dos partidos comunistas em Pequim,alguém teria alertado Mao para o perigo da guerra nuclear,ao que ele teria retrucado “ E daí?” “ o povo chinês,muito populoso,sobreviveria e a humanidade continuaria vivendo...”.Este “ e daí” lembrou alguém?
A direita radical e a esquerda radical se igualam na destrutividade e na desconsideração dos outros.Disputam quem é mais paranóide e quem é mais descompromissado com a humanidade.
Repito:acho que a sucessão destas pandemias vindas da China precisam ser investigadas,mas de plano,há que estabelecer certos protocolos para enfrentar pandemias ,mas acima de tudo para evitá-las,porque já não é a primeira vez e cada pandemia vem mais forte,o virus vem mais forte.E como será o próximo?
A China vai alegar que esta ideia é para impedi-la de progredir,coisa que já afirmou para recusar as decisões da conferência do clima.Mas uma conferencia assim deve lever em conta a obsessão geral de produzir e por isso não deve incidir sobre a China somente,mas sobre os EUA também( e sobre todos) ,porque não é um problema nacional,mas da humanidade como um todo.


domingo, 3 de maio de 2020

Apóstolos Pedro e Paulo da democracia brasileira nos(me)ajudem daí de cima II

Começar de novo

Aos 23 anos eu estava esperançoso no comicio da diretas.O meu fervor era pela democracia,que renascia a olhos vistos depois de anos repressivos e perigosos.
A minha felicidade era imensa ,exceto por um fato: a falta do PT no palanque,uma atitude que eu considerei na época infantil(doença infantil),mas que,agora,à luz da maturidade,considero tudo,menos uma criancice.
Para mim ,até hoje,isto foi mais do que um exclusivismo do PT,mas um descompromisso permanente com a democracia.Dom Quixote,numa das suas primeiras aventuras libertou pequenos meliantes enjaulados.Sen refletir na culpa deles, o sonhador revelou sua admiração sem travas pela liberdade,acima da justiça dos homens.
O PT revelou a sua desconfiança(bem como de outros setores de esquerda),para dizer o mínimo,em relação à democracia ,como irmã gêmea que é,da liberdade.


O que significou historicamente e realmente,o PT?

O PT(como o Solidariedade na Polônia)surgiu das lutas operárias em meio à dissolução da(-s) ditadura(-s).
Como pacifista e reformista(reformista revolucionário) que sou, detesto associar mudanças positivas com violência e brutalidade.A primeira vez que fiz esta reflexão foi analisando o periodo da reforma protestante,um dos meus assuntos preferidos e recorrentes.
A Reforma,desencadeada por Lutero desencadeou igualmente muita violência,com as guerras camponesas da Alemanha,com revoltas subsequentes,mais divisões neste país e um assomo de autoritarismo.Teria sido melhor que a reforma da igreja católica tivesse sido uma auto-reforma, que era o que desejava Erasmo de Roterdam,um pacifista capaz de talvez convencer a hierarquia tradicional da igreja.
Erasmo e Lutero chegaram a marcar um encontro,que não se realizou lamentavelmente.Lutero disse que “ Deus evitou que este herético caísse no meu redil”.
Mas foi uma oportunidade perdida a meu ver,de fazer uma transição(e transação)pacifica do mundo medieval para o moderno,sem cataclismos,que é uma das virtudes das transições,como se viu na passagem das ditaduras militares em muitos lugares(não só na América Latina,mas na Grécia também por exemplo)para as democracias.
O PT não participou desta transição.Se eu qusiesse podia ironicamente relacionar o PT com as ditaduras,mas eu não farei isto.Muito embora eu tenha dúvidas sobre a história do PT e de Lula no que tange aos seus inicios,não farei isto.Existe um zum-zum-zum quanto ao apoiamento de Golbery ao recém-criado PT,para pulverizar a oposição em múltiplos partidos e favorecer a hegemonia da ditadura no tempo da abertura.Mas isto ainda é controverso.
O fato é que o PT não participou da transição e isto me magoou profundamente in illo tempore .Com o tempo esta mágoa não só cresceu,mas se tornou constante desconfiança,com a postura do PT na constituinte e a mudança no final dos anos noventa ,motivada pelo desejo irrefreável de ganhar as eleições presidenciais.O Partido da honestidade,o partido puro abriu mão disto para jogar as regras do jogo “ democrático”(burguês) fazendo uso de caixa 2 ,campanhas milionárias,todos os criticados truques burgueses,anti-operários.
O PT nasceu não ligado umbilicalmente ao comunismo passadiço,que viveu nas décadas de 70 e 80 a sua decadência final,iniciada em 68.Nunca foi um partido leninista,de centralismo “ democrático”,mas como calcado estritamente num clássico operariado industrial contém desde os seus albores práticas e conceitos muito aproximados com o citado movimento comunista.
Alguns autores o definem como um herdeiro do antigo PCI,mas eu entendo que isto só é válido na relação do PT com o cristianismo,com a militância de esquerda (teologia da libertação)católica.Conceitos provindos do comunismo italiano,como consenso majoritário,visão nacional(inclusão da classe média[Gramsci{nacional/popular}),alternância de poder,não estão presentes no partido,exceto em alguns grupos,que ,às vezes reverberam na cúpula.
Aliás estes grupos acrescentaram a estas práticas operárias referidas estes valores mal digeridos e misturados com um pragmatismo,que constituem as características altamente duvidosas e criticáveis deste partido.
Assim como falei na auto-reforma da Igreja,acima,o PT expressa o mesmo problema histórico,ou semelhante,mutatis mutandi ,da passagem secular entre o mundo medieval e o moderno:o peso do passado,exigindo solução imediata, “ escolheu” o radicalismo de Lutero em detrimento dos cuidados do humanista Erasmo.
Em função das demandas reprimidas do movimento operário na década de 70,imprensada pelo arrocho salarial,fazendo desta classe o bode expiatório financeiro do futuramente desmentido “ milagre brasileiro”,ela se jogou no proscênio da politica,a partir de sua agenda concreta de reinvindicações salariais.Isto já foi um complicador,porque a politica e a abertura entraram como meio de solucionar estas questões concretas ,não havendo um programa prévio a dirigir as ações.Era um sindicalismo que se encorpava em meio às lutas se fazendo meio que às cambulhadas.
Percebendo esta situação e a decadência do movimento comunista,os antigos militantes,até para se preservar deste fim d e festa,se dependuraram neste movimento nascente para sobreviver e para sonhar com um revivescimento do comunismo, a partir da classe principal,deixando de lado toda a auto-reforma feita nos anos anteriores.
Como Lutero/Erasmo,o comunismo/PT expressou a predominância das exigências imediatas sobre o esforço de compreensão dos erros e sua superação cuidadosa ,democrática,a garantir,quiçá,um futuro mais firme e seguro.E esta influência dos antigos militantes fez e faz do PT um partido hibrido,transicional:meio a se fazer e meio preso a um passado ,digamos ,radical de esquerda(para não dizer comunista).E como diz Gramsci ,enquanto o mundo velho não se vai e o novo não aparece vive-se numa situação d e morbidez ,de violência,incerteza,males que hoje se tornaram moeda corrente no Brasil.

Lula o egoísta,Dilma a sua herdeira
Este exclusivismo do PT,exclusivismo de classe obreira(outra herança do passado)se vê hoje num outro item que deve ser acrescentado:o personalismo.O antigo personalismo(stalinista?populista?)se cristaliza no Lula de sempre e de hoje quando põe os seus interesses pessoais em identidade(forçada)com os interesses partidários e nacionais(totalitarismo).O ataque à Moro,a luta por vingança não é uma questão pessoal,mas da democracia.Se ele for vitorioso a democracia será.
O presidente tem o direito e até o dever de lutar por sua carreira e vida pessoal,tudo bem.Mas esta luta não é identificada,como a de nenhum politico,com as carências nacionais.Isto é um assomo de delirio totalitário típico do stalinismo e mais de Chavez e Maduro e marca uma continuidade dramática(porque já devia ter sido superado)com o populismo brasileiro,o que configura um atraso na vanguarda do movimento operário,uma tragédia para o Brasil(se a vanguarda é assim o que se dirá do resto).
Será que o PT e Lula não vêem a jogada da direita?Colocar os militares no poder e os evangélicos na mídia ,no mainstream?Que bater em Moro e na Rede Globo ajuda a este projeto?Se a Globo acabar(que é o que Bolsonaro quer)onde o movimento LGBTQI vai arranjar emprego?Na Tv record?
A politica não são só as pessoas,a vontade da vanguarda não,é o movimento cotidiano,como Tancredo e o movimento de auto-reforma do comunismo,ensinaram.
Dilma,herdeira de Lula,entrou no PT dentro daquilo que eu citei acima,a guarida dos grupos sem rumo do radicalismo de esquerda,que se dependuram num grande hospedeiro,para sobreviver a qualquer custo,sem ideias novas e tentando provar que o que fizeram no passado ainda vale.
Dilma participou do vaguardismo comunista que se jogou irresponsavelmente na luta armada.O desejo irrfreável de continuísmo do PT e de Lula fê-la ,com pouca experiência politica,um joguete igualmente irresponsável no processo democrático e foi o que se viu.
Não sou contra a reparação dos crimes da ditadura.Assinei as listas para defender este direito das famílias,mas é preciso,como eu já expus em outros artigos,não misturar esta problemática do passado com o Brasil,com os problemas do Brasil.
O problema da tortura não é um problema da esquerda,mas do Brasil,como formação histórica.Fazer esta identificação é desinformar o povo e vender a falsa ideia de que só a assunção dos comunistas ao poder o resolve,quando tal é tarefa da cidadania,como um todo,inclusive da classe média.
Sofro muito com o receio de que esta incompreensão,que só reforça a confrontação direita e esquerda que vemos hoje,leve o Brasil a uma guerra civil(não agora ,mas no futuro),que para muitos radicais é a condição de mudança no Brasil.Necas! Digo eu.Não se trata de colocar um governo de maioria no poder,mas de congregar o maior numero de setores sociais para compreender as questões de fundamento da nação e mudar.Não é dificil tomar o poder.Lênin mostrou que com minorias é possível mudar o mundo,mas não para melhor.O mais importante é o que vem depois da tomada do poder e saber o que fazer se constrói bem antes(no cotidiano,sempre).
Temo que não havendo reparação aos crimes da ditadura a esquerda,representada aqui por Dilma,insista neste caminho ad infinitum o que seria uma tragédia.
Num artigo de muitos anos atrás delimitei que se os comunistas reccorriam ao direito para defender os seus de cidadania não terão nunca mais o direito de ofender a norma,num propósito revolucionário.Não poderão “ virar a mesa” como eu ouvi milhares de vezes na minha militância de jovem.
Se não houver reparação a justificativa desta “ virada” estará dada.Tratarei deste problema em próximo artigo.

Apostolos Pedro e Paulo da democracia brasileira nos(me)ajudem daí de cima.
Em função destas prévias reflexões ,que dão continuidade ao “ virar as costas” à transição em 85,é que posso afirmar que a transição não acabou.Neste caso não há que s e culpar só o PT.A morte de Tancredo pôs no poder o último chefe parlamentar da ditadura.Muita gente diz que isto foi um complicador ,mas na verdade facilitou as coisas para o regime anterior:seria muito dificil para Tancredo ignorar as reparações como lider civil e democrático que era e Sarney,politico profissional,soube entender esta realidade e jogou tudo na economia,nas ameças da economia,unindo o Brasil em torno de uma plataforma monistica,o que mandou para debaixo do tapete as questões morais.Sarney propôs um item de programa nacional,coisa que o PT nunca soube fazer,não faz e tem raiva de quem sabe.
Tancredo era como Sanguinetti no Uruguai:os militares o cercaram.A Argentina foi um outro caso ,porque a ditadura se desmilinguiu na guerra das malvinas e teve que pedir ajuda à esquerda ,que comandou a transição e entrou na nova fase dando as cartas.Outro assunto.
Até Lula e seus dois governos,um de esperança e outro de debacle,imaginava-se prosseguir com o Brasil somente,mas com Dilma se retomou a reinvindicação não reconhecida pelo governo Sarney e tratada parcimoniosamente por Fernando Henrique e pelo próprio Lula(e um pouco Itamar)e ,entre outros erros,desandou.
Então estamos naquele periodo de 85 e temos que recomeçar daí,propondo uma solução definitiva para o ter e o haver da ditadura e do novo regime ,se quisermos,como eu quero,sair da guerra-fria,de 64 e entramos no século XX e no Brasil.Abordarei isto em próximo artigo e explicarei a uns beócios das redes o meu entendimento do que é nacional.