O PT(como o
Solidariedade na Polônia)surgiu das lutas operárias em meio à
dissolução da(-s) ditadura(-s).
Como pacifista e
reformista(reformista revolucionário) que sou, detesto associar
mudanças positivas com violência e brutalidade.A primeira vez que
fiz esta reflexão foi analisando o periodo da reforma protestante,um
dos meus assuntos preferidos e recorrentes.
A
Reforma,desencadeada por Lutero desencadeou igualmente muita
violência,com as guerras camponesas da Alemanha,com revoltas
subsequentes,mais divisões neste país e um assomo de
autoritarismo.Teria sido melhor que a reforma da igreja católica
tivesse sido uma auto-reforma, que era o que desejava Erasmo de
Roterdam,um pacifista capaz de talvez convencer a hierarquia
tradicional da igreja.
Erasmo e Lutero
chegaram a marcar um encontro,que não se realizou
lamentavelmente.Lutero disse que “ Deus evitou que este herético
caísse no meu redil”.
Mas foi uma
oportunidade perdida a meu ver,de fazer uma transição(e
transação)pacifica do mundo medieval para o moderno,sem
cataclismos,que é uma das virtudes das transições,como se viu na
passagem das ditaduras militares em muitos lugares(não só na
América Latina,mas na Grécia também por exemplo)para as
democracias.
O PT não participou
desta transição.Se eu qusiesse podia ironicamente relacionar o PT
com as ditaduras,mas eu não farei isto.Muito embora eu tenha dúvidas
sobre a história do PT e de Lula no que tange aos seus inicios,não
farei isto.Existe um zum-zum-zum quanto ao apoiamento de Golbery ao
recém-criado PT,para pulverizar a oposição em múltiplos partidos
e favorecer a hegemonia da ditadura no tempo da abertura.Mas isto
ainda é controverso.
O fato é que o PT
não participou da transição e isto me magoou profundamente in
illo tempore .Com
o tempo esta mágoa não só cresceu,mas se tornou constante
desconfiança,com a postura do PT na constituinte e a mudança no
final dos anos noventa ,motivada pelo desejo irrefreável de ganhar
as eleições presidenciais.O Partido da honestidade,o partido puro
abriu mão disto para jogar as regras do jogo “
democrático”(burguês) fazendo uso de caixa 2 ,campanhas
milionárias,todos os criticados truques burgueses,anti-operários.
O
PT nasceu não ligado umbilicalmente ao comunismo passadiço,que
viveu nas décadas de 70 e 80 a sua decadência final,iniciada em
68.Nunca foi um partido leninista,de centralismo “
democrático”,mas como calcado estritamente num clássico
operariado industrial contém desde os seus albores práticas e
conceitos muito aproximados com o citado movimento comunista.
Alguns
autores o definem como um herdeiro do antigo PCI,mas eu entendo que
isto só é válido na relação do PT com o cristianismo,com a
militância de esquerda (teologia da libertação)católica.Conceitos
provindos do comunismo italiano,como consenso majoritário,visão
nacional(inclusão da classe
média[Gramsci{nacional/popular}),alternância de poder,não estão
presentes no partido,exceto em alguns grupos,que ,às vezes
reverberam na cúpula.
Aliás
estes grupos acrescentaram a estas práticas operárias referidas
estes valores mal digeridos e misturados com um pragmatismo,que
constituem as características altamente duvidosas e criticáveis
deste partido.
Assim
como falei na auto-reforma da Igreja,acima,o PT expressa o mesmo
problema histórico,ou semelhante,mutatis
mutandi ,da
passagem secular entre o mundo medieval e o moderno:o peso do
passado,exigindo solução imediata, “ escolheu” o radicalismo de
Lutero em detrimento dos cuidados do humanista Erasmo.
Em
função das demandas reprimidas do movimento operário na década de
70,imprensada pelo arrocho salarial,fazendo desta classe o bode
expiatório financeiro do futuramente desmentido “ milagre
brasileiro”,ela se jogou no proscênio da politica,a partir de sua
agenda concreta de reinvindicações salariais.Isto já foi um
complicador,porque a politica e a abertura entraram como meio de
solucionar estas questões concretas ,não havendo um programa prévio
a dirigir as ações.Era um sindicalismo que se encorpava em meio às
lutas se fazendo meio que às cambulhadas.
Percebendo
esta situação e a decadência do movimento comunista,os antigos
militantes,até para se preservar deste fim d e festa,se dependuraram
neste movimento nascente para sobreviver e para sonhar com um
revivescimento do comunismo, a partir da classe principal,deixando de
lado toda a auto-reforma feita nos anos anteriores.
Como
Lutero/Erasmo,o comunismo/PT expressou a predominância das
exigências imediatas sobre o esforço de compreensão dos erros e
sua superação cuidadosa ,democrática,a garantir,quiçá,um futuro
mais firme e seguro.E esta influência dos antigos militantes fez e
faz do PT um partido hibrido,transicional:meio a se fazer e meio
preso a um passado ,digamos ,radical de esquerda(para não dizer
comunista).E como diz Gramsci ,enquanto o mundo velho não se vai e o
novo não aparece vive-se numa situação d e morbidez ,de
violência,incerteza,males que hoje se tornaram moeda corrente no
Brasil.
Lula
o egoísta,Dilma a sua herdeira
Este
exclusivismo do PT,exclusivismo de classe obreira(outra herança do
passado)se vê hoje num outro item que deve ser acrescentado:o
personalismo.O antigo personalismo(stalinista?populista?)se
cristaliza no Lula de sempre e de hoje quando põe os seus interesses
pessoais em identidade(forçada)com os interesses partidários e
nacionais(totalitarismo).O ataque à Moro,a luta por vingança não é
uma questão pessoal,mas da democracia.Se ele for vitorioso a
democracia será.
O
presidente tem o direito e até o dever de lutar por sua carreira e
vida pessoal,tudo bem.Mas esta luta não é identificada,como a de
nenhum politico,com as carências nacionais.Isto é um assomo de
delirio totalitário típico do stalinismo e mais de Chavez e Maduro
e marca uma continuidade dramática(porque já devia ter sido
superado)com o populismo brasileiro,o que configura um atraso na
vanguarda do movimento operário,uma tragédia para o Brasil(se a
vanguarda é assim o que se dirá do resto).
Será
que o PT e Lula não vêem a jogada da direita?Colocar os militares
no poder e os evangélicos na mídia ,no mainstream?Que bater em Moro
e na Rede Globo ajuda a este projeto?Se a Globo acabar(que é o que
Bolsonaro quer)onde o movimento LGBTQI vai arranjar emprego?Na Tv
record?
A
politica não são só as pessoas,a vontade da vanguarda não,é o
movimento cotidiano,como Tancredo e o movimento de auto-reforma do
comunismo,ensinaram.
Dilma,herdeira
de Lula,entrou no PT dentro daquilo que eu citei acima,a guarida dos
grupos sem rumo do radicalismo de esquerda,que se dependuram num
grande hospedeiro,para sobreviver a qualquer custo,sem ideias novas e
tentando provar que o que fizeram no passado ainda vale.
Dilma
participou do vaguardismo comunista que se jogou irresponsavelmente
na luta armada.O desejo irrfreável de continuísmo do PT e de Lula
fê-la ,com pouca experiência politica,um joguete igualmente
irresponsável no processo democrático e foi o que se viu.
Não
sou contra a reparação dos crimes da ditadura.Assinei as listas
para defender este direito das famílias,mas é preciso,como eu já
expus em outros artigos,não misturar esta problemática do passado
com o Brasil,com os problemas do Brasil.
O
problema da tortura não é um problema da esquerda,mas do
Brasil,como formação histórica.Fazer esta identificação é
desinformar o povo e vender a falsa ideia de que só a assunção dos
comunistas ao poder o resolve,quando tal é tarefa da cidadania,como
um todo,inclusive da classe média.
Sofro
muito com o receio de que esta incompreensão,que só reforça a
confrontação direita e esquerda que vemos hoje,leve o Brasil a uma
guerra civil(não agora ,mas no futuro),que para muitos radicais é a
condição de mudança no Brasil.Necas!
Digo
eu.Não se trata de colocar um governo de maioria no poder,mas de
congregar o maior numero de setores sociais para compreender as
questões de fundamento da nação e mudar.Não é dificil tomar o
poder.Lênin mostrou que com minorias é possível mudar o mundo,mas
não para melhor.O mais importante é o que vem depois da tomada do
poder e saber o que fazer se constrói bem antes(no
cotidiano,sempre).
Temo
que não havendo reparação aos crimes da ditadura a
esquerda,representada aqui por Dilma,insista neste caminho ad
infinitum o
que seria uma tragédia.
Num
artigo de muitos anos atrás delimitei que se os comunistas
reccorriam ao direito para defender os seus de cidadania não terão
nunca mais o direito de ofender a norma,num propósito
revolucionário.Não poderão “ virar a mesa” como eu ouvi
milhares de vezes na minha militância de jovem.
Se
não houver reparação a justificativa desta “ virada” estará
dada.Tratarei deste problema em próximo artigo.
Apostolos
Pedro e Paulo da democracia brasileira nos(me)ajudem daí de cima.
Em
função destas prévias reflexões ,que dão continuidade ao “
virar as costas” à transição em 85,é que posso afirmar que a
transição não acabou.Neste caso não há que s e culpar só o PT.A
morte de Tancredo pôs no poder o último chefe parlamentar da
ditadura.Muita gente diz que isto foi um complicador ,mas na verdade
facilitou as coisas para o regime anterior:seria muito dificil para
Tancredo ignorar as reparações como lider civil e democrático que
era e Sarney,politico profissional,soube entender esta realidade e
jogou tudo na economia,nas ameças da economia,unindo o Brasil em
torno de uma plataforma monistica,o que mandou para debaixo do tapete
as questões morais.Sarney propôs um item de programa
nacional,coisa que o PT nunca soube fazer,não faz e tem raiva de
quem sabe.
Tancredo
era como Sanguinetti no Uruguai:os militares o cercaram.A Argentina
foi um outro caso ,porque a ditadura se desmilinguiu na guerra das
malvinas e teve que pedir ajuda à esquerda ,que comandou a
transição e entrou na nova fase dando as cartas.Outro assunto.
Até
Lula e seus dois governos,um de esperança e outro de
debacle,imaginava-se prosseguir com o Brasil somente,mas com Dilma se
retomou a reinvindicação não reconhecida pelo governo Sarney e
tratada parcimoniosamente por Fernando Henrique e pelo próprio
Lula(e um pouco Itamar)e ,entre outros erros,desandou.
Então
estamos naquele periodo de 85 e temos que recomeçar daí,propondo
uma solução definitiva para o ter e o haver da ditadura e do novo
regime ,se quisermos,como eu quero,sair da guerra-fria,de 64 e
entramos no século XX e no Brasil.Abordarei isto em próximo artigo
e explicarei a uns beócios das redes o meu entendimento do que é
nacional.