sábado, 30 de outubro de 2021

Desdobramentos de Biden e o Afeganistão

 

Algumas questões ainda ficaram para analisar da lambança de Biden.Relembrando o que eu disse:Biden fez uma inflexão à direita para esvaziá-la um pouco.Mas acabou indo com muita sede ao pote.

Ao fazer o artigo anterior sobre este tema ficou um vazio a ser preenchido por questões derivadas do fato e que eu não encaixei no artigo.

O problema do Afeganistão é o das armas e da relação dos países centrais com países do terceiro mundo.Acrescentaria a guerra-fria,mesmo que muita gente me ridicularize por insistir na sua permanência.

Mas o Afeganistão é uma prova de sua continuidade,apesar de ser um resto,um resquicio.Mas um resquicio decisivo e que não rompe com a realidade da politica.Desde que o mundo é mundo e desde o colonialismo as armas permeiam e dão suporte aos projetos hegemônicos do primeiro mundo.Que continuam.

A contradição essencial de Biden e dos democratas é que apesar de serem evidentemente à esquerda são nacionais,americanos e não têm como sair disto.

Devido ao radicalismo da direita que acabou de sair do Capitólio os processos politicos americanos se desbarataram ,mas o que ficou como influência até agora foi a visão nacional que permitiu a Trump ganhar a eleição.

Dentro de uma escala de possibilidades o peso deste “novo” nacionalismo americano pode ter impusionado Biden para uma situação inevitável, a comprometer os compromissos dos democratas com os itens programáticos universais,os direitos humanos universais.

O revérbero disto vai continuar e as noticias dos eua não são nada boas,porque na última semana Biden teve que recuar no plano de apoio financeiro à sociedade,pós -pandemia(?) para que ele possa passar.A força dos conservadores cresceu ou continuou, já manietando o novo presidente.Mau sinal.

Mas existe um outro item de programa democrata tanto ou mais grave do que este:a questão das armas,que já é dificil de passar e vai ficar ainda mais:e este item atinge a comunidade universal toda porque os Estados Unidos são os maiores produtores de armas e as armas viabilizam tudo o que está errado em termos de segurança ,que atinge também a questão social e a aprofunda nas suas condições e consequencias perversas.

A politica é como se fosse um jogo com uma atividade estratégica e em toda atividade deste tipo é no miolo,no meio-de-campo, que tudo se decide.

Então,nas minhas abordagens da politica,que,no meu entender se resumem na busca de solução para a questão social ,achar um miolo ,um meio,no qual se possa solucionar os problemas de maneira mais rápida(se possivel)é imprescindivel.

Nem sempre uma mudança rápida é boa ou possível,mas se o for,é de se fazer porque geralmente o sofrimento está presente nas questões politicas e sociais e toda a retardação é cruel.

A forma mais imediata de se solucionar o problema mundial da droga é retirar das mãos dos cartéis as armas.

Muitos pensam que a pura e simpels liberação da droga o conseguiria e eu penso que ajudaria,mas a verdade é que levaria muito tempo,enquanto que a supressão das armas poderia ser controlada e permitir uma previsão do momento no qual esta chaga moderna acabaria,procurando substituir este crime por uma proteção social de quem vive em torno da droga e sob o seu tacão.

Muitos anos atrás ,antes da Copa e das Olimpiadas,com a implementação das upas ,eu disse que na hora em que estes eventos acabassem tudo voltaria ao “normal” e este perigo há ainda.Mas as upas ficaram, esperando implementação das medidas sociais.Estas podem ser feitas ,mas a causa social que fomenta o crime do tráfico é algo que vai exigir outras medidas e portanto também será um processo mais lento.

A progressiva destruição das armas é que permitirá o guiar-se pela estrada da segurança.

Com o afeganistão “recuperado” para o terror ,as chances desta decisão ser tomada são nulas e com o recuo que haverá nos Estados Unidos chegaremos a uma paralisia.E se a direita voltar depois de Biden será o pior dos cenários.Com reflexos no Brasil.


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Petição de Principio

 

Vira e mexe venho expressar e aprofundar os meus critérios de trabalho.Muitos criticam esta minha mania de responder.Por elas deveria deixar passar.Contudo eu digo que nestas ocasiões se me oferece uma oportunidade de mostrar o quanto tenho de conteúdo para mostrar,reforçando que não sou superficial,antes faço as coisas com conhecimento e bagagem.E com muito trabalho,crítica e autocritica.

Pela enésima vez digo que um dos desafios da minha escrita é adaptá-la à cabeça da pessoa comum,sem vulgarizar ,sem desbaratar os fundamentos e mesmo exigindo um pouco do leitor não treinado.

Acrescente-se que sou interdisciplinar e para cada assunto de que trato impõe-se um estilo,uma maneira:para os estudos do marxismo,um estilo estrutural/estruturalista;para os temas mais comuns a todos,um estilo mais popular e para a filosofia,a preocupação em ser claro,já que uma das coisas que mais me impressionam na filosofia é como ela é distorcida quando passa para o senso-comum.E como esta passagem tem eficácia na fundamentação de movimentos que,não raro,causam cataclismos na sociedade.No fundo isto prova a força da filosofia e sua atração pelo povo,mas isto deveria ocorrer não pela distorção,mas por seu rigor mesmo,o que a tornaria mais útil e progressista.

Aquilo que é variação na minha forma de escrever se explica pelos objetivos de meu trabalho,agora listados.Mas eu reconheço que eventualmente e principalmente na relação com o senso-comum,pode haver derrapagens e alguma coisa que não soa bem.

Outras que não soam bem ,no entanto,são meramente propositais.Aprendi que no discurso politico,uma das técnicas mais eficazes é a repetição.Napoleão dizia que o único método eficaz de discursar é repetir certas palavras,que se tornam meio mágicas e se fixam na mente da assistência.

Quem aplicou estes principios com maestria,aqui no Brasil,foi Lacerda,nosso maior orador:sempre que terminava uma frase a repetia .”Eu luto contra a venalidade e a corrupção” e aí:”a venalidade e a corrupção”.Em cada lugar da frase ou em cada momento do discurso,relacionando-a com certos conceitos ,a repetição acaba por ser um meio de conduzir a cabeça das pessoas.Dependendo de todo este contexto,de toda a técnica,constrói-se um mito.Na verdade,este processo de realização do discurso,é,no microcosmos,a formação do mito na história humana(macrocosmos).Abordarei este tema depois.Esta técnica é usada no senso-comum,pelos silvio santos aí:”vai para o trono ou não vai?!É ou não é?!!”(só uma observação...).

Pois bem,eu uso a repetição propositalmente para causar impacto na cabeça dos meus leitores.Uso eu constantemente para chatear a esquerda e os comunistas(nem sempre são idênticos).Uso expressões populares no lugar de expresões rigorosas para facilitar a aproximação da pessoa comum,mas não vulgarizo e sempre coloco o termo próprio no texto,é só olhar.

Erros são cometidos por todos em suas atividades profissionais(a minha é[não dou palpite não]).Mal comparando muitos críticos entrevêem problemas no estilo de Euclides da Cunha.Para eles ainda era um autor em formação que guardava contradições e dificuldades no modo de virgular,por exemplo.

Igual ataque sofreram Lima Barreto e Machado de Assis.Para José Veríssimo este último escrevia como gago(Machado era gago).Mas com ou sem nome o crítico só o é pelo criador.Sem ele o parasita morre.

Eu(olha aí...)procuro os critérios de prudência de Aristóteles para não ser totalmente erudito(só alguns textos) e nem excessivamente popular(no sentido de ruim).


sábado, 23 de outubro de 2021

Umberto Eco o mandarim dos mandarins

 

Quando alguém quer me chatear,por este meu trabalho ,cita Umberto Eco.Eu já respondi a isto,mas é sempre bom trazer novos dados do problema.

Nos artigos anteriores eu me referira a duas questões:a da interdisciplinaridade e a da imbecilidade que Eco dizia grassar na internet.

Hoje eu vou me referir à democracia e aos intelectuais.A democracia moderna,que acompanhou o crescimento da ciência moderna e o Renascimento,tem uma diferença essencial para a democracia antiga:ela é para todos.Tem muita gente especializada em ciência politica que não sabe disto e ainda fala em televisão,tem satus,etc...

A característica fundamental da democracia moderna é que é pelo menos representativa e representativa de todos.Ainda que em determinados períodos tenha sido censitária,isto é,exercível apenas pelos endinheirados,havia ,na sua forma,no discurso,uma abertura onde outros entraram.A democracia assim considerada se amplia,coisa vedada no mundo antigo,ainda que alguns autores identifiquem sinais de “fratura”.

Nos dias que correm uma vitória total deste principio moderno de democracia significa que não só não há mais voto censitário e outro tipo eventual de barreira(racial,como no sul dos Estados Unidos)mas qualquer pessoa,do mendigo ao presidente da República ,pode e deve participar dela.Nem mesmo a condição de trabalhador produtivo é limite ou barreira a esta participação(muito pelo contrário).Porque aquele que é excluido,pela democracia,retorna.

Desde Confúcio,passando por Platão , ficou provado que a tentação maior de todo intelectual é ser o poder incontestado.O intelectual sofre de uma contradição psicológica muito recorrente entre a sua visão quase completa do mundo e a impossibilidade de mudá-lo pela presença dos outros ,considerados incapazes,inferiores e ignorantes.Uma contradição entre o intelectual que é parte da vida e a vida(e os outros).

Assiste razão ao comum das pessoas em acusar os intelectuais de fomentar ditaduras e de ter uma postura elitista(que é base da toda “ proposta”intelectual),mas falta a elas compreensão acurada de que não é todo o intelectual que age assim.E que dialéticamente falando(será que o povo sabe o que é isto?[alguns no povo se interessam talvez]),o intelectual está na vida.

Uma derivação desta contradição psicológica é que todo intelectual,inclusive Umberto Eco,sofre por não ser entendido(por isso inclusive propõe ditaduras[para ser])e às vezes procura ser falsamente democrático ou palatável afim de ser querido e deixar a solidão e a incompreensão.

Ao obter,por causa desta habilidade,reconhecimento, se sente dono da vida e muito mais do saber.A característica,no entanto,da vida é estar sempre em movimento,propiciando novos fatos,novas pessoas ,que trazem ideias novas e são,por elas mesmas,o novo.

Diga o que se quiser da democracia,ela é o único regime plástico o suficiente,ou formalmente,capaz de expressar o devir.

Para alguns ,como Umberto Eco e bajuladores e sicários(“ donos” de ongs financiadas pela Holanda aí...)o medo do novo é acachapante.O medo de outras pessoas pensarem diferente e trazerem algo novo e melhor é aterrorizante,porque o mandarinato

vive da imobilidade.

Sempre achei uma contradição engraçada(mas não raro trágica),em Marx,Platão e Confucio,que seus ensinamentos não fossem o bastante para ordenar o social:secundando suas ideias um aparato repressivo vem sempre solicito e bem coordenado.A justificativa(ideológica[consciência falsa])é que nem todos estão aptos a entender,por serem incapazes no caso de Confúcio e Platão ou pela consciência vir de fora para dentro,no caso de Marx(há controvérsias).No caso de todos,ignorância pura e simples(dos outros).

Certa vez,quando eu era aluno do segundo grau,no Colégio Arte e Instrução,disse a uma menina que o marxismo era a resposta da vida e ela disse na sua candura: “então porque todo mundo não o segue?”.Esta pergunta é a vingança da criança e expressa bem o que eu disse acima...

No final do Renascimento ,os estados nacionais ,vendo o potencial crítico dos intelectuais os controlou de diversas maneiras.Igualmente dominaram os cientistas que produziam riquezas.

O intelectual moderno,como Eco,é produto deste controle,tão bem descrito como fenômeno de “racionalização”por Max Weber.Aquela liberdade do Renascimento acabara.Se analisarmos,porém,a história subsequente,o outsider,o que não teve escola e não foi devidamente controlado,sempre surge para inovar.

Na própria revolução industrial,que é base sociológica da racionalização weberiana,vemos figuras como James Watt ou Faraday,provindos de fora da escola,mas produzindo inovações e sendo recebidos por ela e pelas sociedades científicas.

Por incrivel que pareça ,em todo este movimento, havia sensibilidade para reconhecer que este pesquisador solitário ,se trouxesse algo novo,poderia e deveria ser acolhido.

Nos países anglo-saxônicos,por causas históricas,que já tratei em outro lugar,a mobilidade social ascendente permitiu e permite tal mobilidade.Nós vemos que a renomada Universidade de Oxford,no tempo de Rutherford e Russell,achou um simples matemático indiano,Ramanujan,pobre e esquecido numa aldeiazinha e o trouxe para dialogar,diretamente, com os supracitados medalhões.Passou por um processo de prova e exigência,mas com lisura e lá se estabeleceu como professor e pesquisador.

Nos países euro-continentais e seus colonizados,como o Brasil, a racionalização se imbrica com o engessamento da sociedade civil pelo estado,cujo objetivo histórico foi fundado,entre outras razões,na necessidade de controle da mobilidade social ascendente,mantendo-a nas mãos da classe hegemônica.Se ainda se vê fraturas neste projeto hegemônico em alguns lugares ,em outros,o panorama adquire contornos dramáticos de pura exclusão do outsider,de todos, e favorecendo escracahdamente as classes altas e seus filhos.

Atualmente o quadro continua o mesmo,mas há que reconhecer que ,embora ainda se encontrem fenômenos de liberdade criativa,as barreiras são maiores.

Do meu ponto de vista os espaços para outsiders como eu devem c ser buscados.Muita gente critica os exemplos que eu ofereço do surgimento da cibernética moderna,a fundação da microsoft,mas eu mantenho a minha interpretação de que o microcomputador foi inventado numa garagem.

Dependendo do grau de comprometimento com este controle e de suas disposições pessoais,o intelectual pende para a liberdade ou para o controle;para o debate democrático com o outsider ou com a sua repressão;pende para uma convivência tranquila ou sofre com a inveja e com o desejo de supressão do outro.Não é preciso pensar muito para saber para onde vai Eco(e seus sicários).

A democracia não são só eleições.O estado democrático não são só os organismos de produção de conhecimento reconhecidos por ele:é a oportunidade permamente dada a todos de produzir.Nem todos chegam à escola e mesmo que cheguem ,o condicionamento da liberdade de produção a um diploma fere a democracia.

Foucault afirma que se hoje não há repressão física sobre a sociedade,há outras ,inclusive o anátema dos intelectuais,da autoridade intelectual,que assusta a muitas crianças(menos a mim).

E este constrangimento não se restringe à direita não,mas à esquerda,que é ,não raro,mais violenta.

Freud explica:acima de tudo a manifestação de Eco,jogada frequentemente na minha cara,revela inveja,desejo de poder e de não ser contestado e ,acima de tudo,uma ignorância da sociologia ,tipica destes scholars especializados modernos,porque se nas redes há os imbecis,há outros produzindo,se manifestando com correção,exercendo o seu direito de palavra.O problema é que a midia e as radios no seu âmago,querem popularidade e dinheiro e só escândalos,algo escabroso ,propiciam atenção dos assistentes às programações.É um conluio entre a população desinteressada e a midia ,auxiliada por estes intelectuais que não querem ser ameaçados.Há um traço de união entre Umberto Eco e o apedeuta da rua,um nexo dialético até.Mas setores da sociedade civil ,no afã de tornar a democracia refém,incluindo a esquerda,se unem a esta aliança do mal.Do mal e da burrice,pois bastaria ter um pouco de bom-senso e não conhecimento sociológico para perceber que nas redes,tanto quanto na vida,há bons e ruins.Umberto Eco falou uma burrice explicada(e ocultada) pela exigência psicológica de excluir os outros.

Falar em burrice e para terminar,ele não disse que nivelava(ouviu menezes) ,que as redes nivelavam,mas que pululavam imbecis,o que ,como eu expliquei acima e volto a explicar até entender ,não é verdade.




sexta-feira, 8 de outubro de 2021

À propósito da Fundação Palmares de novo

 

                                     continuando o centro é sempre fraquinho

Continuando o artigo anterior esta questão da fundação Palmares oferece uma oportunidade exemplar de explicitar o meu pensamento,que se conecta com as convicções e bases conceituais que eu tenho exposto.

Há muitos anos tive uma dissensão com (ex-)amigos meus da esquerda que aparelhavam a fiocruz.Hoje posso agregar este meu conceito republicano de repudiar a identificação partido/sociedade/estado que grupos de esquerda ,oriundos da tradição do socialismo real,faziam e fazem no Brasil.

Em artigo anterior me referia a isto como característica distintiva do PT,mas que é de grande parte da esquerda,inclusive a que eu pertenci na juventude(embora eu ainda me considere jovem).

A minha trajetória na esquerda desaguou numa concepção social-democrática que era o que predominava no antigo PCI.A verdade é esta.E como o PCI era profundamente crítico à tradição bolchevique ,que juntava o estado ,o partido e a sociedade, a sua prática alternativa e italiana se fundava na luta cotidiana,por meio da sociedade civil e seus agentes.Não era,seguindo Gramsci,o caso de tomar o estado e impor socialismo à sociedade civil,como faz o governo venezuelano,mas de mudar a sociedade de baixo para que ela se expressasse melhor “ em cima”.

Contudo esta luta “ por baixo” não é conspiratória:ela leva em consideração as características do país,da nação e a ordem juridica,respeitando a cidadania,o principio republicano da cidadania.

Ninguém tem o direito de atribuir a todos os comunistas a nemesis stalinista,mas o reconhecimento desta corrente de pensamento obriga-a a respeitar sempre a ordem juridica.

A verdade é que a prática dos comunistas revela que eles sempre seguiram a Lênin na “Doença Infantil”:instrumentalizar a democracia dita burguesa para alcançar o poder.O mesmo fizeram e fazem com o direito:quando lhes serve vale,quando não,não.

Enquanto participantes legítimos da cidadania os comunistas não podem sair dela sem uma boa razão,mas isto não vale só para eles,mas para todo mundo.

Se a esquerda aparelha uma instituição pública ,a direita e qualquer outro grupo têm o mesmo direito.

Lembro-me de quando militava entre os comunistas, que ao receber uma crítica de que o movimento era sedicioso e queria tomar o poder do estado para se impor aos outros,eu respondia:a nossa luta se dava na cultura,nas instituições ,nas mediações do estado e da sociedade e na intersecção entre os dois.

E naquele tempo ficava claro para mim que a postura de esquerda devia ser republicana,ou seja,de não levar o partido e a sua condição politica e pessoal para esta atividade.

Ainda pretendo me extender nas questões da história da luta comunista ,mas agora dou uma palinha ,procurando distinguir a ilegitimidade do uso da força para a implantação do regime, da legitimidade que é consegui-lo pela democracia.

No meu entender a perspectiva leninista de manipular a democracia(e o direito,digo eu)é relativismo,moral e politico, e não tem mais lugar,a não ser se algum cataclismo ocorre(um nazismo tenta se impor por exemplo).Não cabe mais em nossa época, em que o estado ocidental predomina,prescindir do processo democrático.Mesmo naqueles países onde ainda é possível pensar numa revolução de tipo “ oriental” (África)não é desejável, porque as consequencias seriam idênticas às do passado.A primeira antinomia de Gramsci está superada.

Quando Kruschev lançou a coexistência pacifica ainda chancelava a visão de Lênin,porque deixou aos ocidentais a liberdade de fazer socialismo pela democracia,mas prosseguiu apoiando atividades revolucionárias em outros lugares,no que é: relativismo.

Toda a linhagem comunista que aceitou estas verdades buscou uma legitimidade no interior das nações e a obteve.O caso mais elucidativo é o italiano.

Os crimes e violências cometidos pela outra linhagem dos comunistas repercutiu negativamente em outras sociedades(como a brasileira)que os repudiaram definitivamente.

Num país como a Itália ,fortemente católico e cujo catolicismo apoiara fortemente o fascismo e Mussolini,era de se esperar que a ascensão pós segunda guerra dos comunistas fosse rejeitada sobejamente por esta média ética e no inicio foi assim.Mas logo o diálogo cristão-comunista se aprofundou e as atitudes de respeito permanente à democracia dadas pelo PCI cimentaram a confiança do povo italiano nos comunistas.

Sempre é bom lembrar que,na década de 50,quando a miséria causada pela guerra ainda campeava,os militantes quiseram passar por cima da direção e de Togliatti e tomar o poder de estado ,mas a liderança negou,afirmando que era uma precipitação que poria abaixo tudo o que o PC havia conquistado até então.Togliatti chegou a ser baleado e o seu ofensor,depois,passou a ser seu amigo,quando Togliatti,no hospítal,lhe explicou o que estava de fato acontecendo.

Nos dias de hoje,só é possível,no meu entender,adquirir legitimidade e confiança se esta atitude republicana for permanente.Só assim ,mostrando que a esquerda(não vale só para os comunistas)não quer melhorar o mundo sozinha e não respeitando a média ética,os valores e as instituições de determinado lugar,é que poderá ser efetiva novamente e não causar esta bagunça que o país enfrenta.

Tenho noticias e conhecimento de que na Fundação Palmares havia um aparelhamento e se é assim não há diferença entre o dela e o da esquerda,me desculpem os companheiros.

Num país como o Brasil nós vemos midias apoiarem candidatos e partidos,bem como sindicatos.A única diferença para o socialismo real e que lá era um grupo só,aqui vários,que vendem a ideia de que isto é democracia.



depoimento sobre assédio o complexo de cinderela

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

O centro é sempre fraquinho

 

Nestes meus estudos de marxismo que me levaram a adotar uma atitude politica centrista e reconhecendo o papel da nação,algumas constatações eu fiz.

Uma delas,entre outras,é que o centro é sempre fraquinho.Prepocupado com regras e valores(muito justamente)ele custa a se movimentar e normalmente é superado por figuras de ferrabrazes ,como Lênin,que passam por cima destas hesitações(supostas)e cristalizam o desejo de coletividades que os seguem,no final.

Sem retornar aos temas que tenho discutido aqui,fica claro que a via mais moderada para o socialismo e o comunismo é a que venceu ,porque a precipitação de Lênin fracassou.

Eu acho muito engraçado que até hoje o radical ortodoxo de esquerda teça loas aos sucessos de 1917 sem se referir ao fracasso de 1991...Só pode ser psicose...

No entanto,persiste o problema de que porque esta via sempre custa a lutar e às vezes,não raro,sofre as consequencias de sua ,não digo,inação,mas demora,digamos assim.

Existem elementos que justificam esta situação:a postura voluntarista e revolucionária de Lênin é,no final,mais fácil de fazer.Manipular a democracia ,como ele preconizou na “ Doença Infantil” é um modo de fazer politica revolucionária fácil,principalmente se as circunstâncias ajudam.

Mas a história provou que os objetivos desejados pelo voluntarismo ,pela iniciativa individual e coletiva,não são alcançados,por mais força que se tenha.

O alternativa social-democrática,que veio do tempo de Marx e por inspiração dele ,pretendeu diluir esta iniciativa e esperar o advento da utopia como algo inevitável.Pertence a outro artigo a discussão deste contexto,mas também esta concepção padece de um vicio de origem e não demonstrou sucesso,muito embora,esteja na origem da social-democracia moderna,que,apesar dos pesares,trouxe mais progressos sociais.

O evolucionarismo socialista é tão inócuo,quanto o leninismo que produz as violências e distorções que produziu.

A questão,e é isto que me move como pesquisador destes temas e militante,é que não há como mudar a sociedade sem a sua compreensão,minima que seja.

O nexo teoria e prática continua ,mas eu não estou me referindo à obrigatoriedade de seguir um modelo marxista ou filosófico.Estou dizendo que deve haver uma base ,uma compreensão de como funciona a sociedade para mudá-la.

Seguindo Kant como eu sigo,a filosofia,Marx podem participar do processo prático e cotidiano dos povos,mas não têm um caráter obrigatório e muito menos único,modelar único.Eles se inserem na experiência dos povos.Esta é a forma de associar a pessoa comum com a vanguarda.Não é só a democracia ,mas a prática cotidiana dos povos.

Por mais comum e sem formação que uma pessoa seja tem a prática diuturna no seu local de vida e esta prática pode passar para politicas,no esforço de apresentação de soluções.

O verdadeiro internacionalismo é o da comunidade universal,dos direitos humanos,não proletário somente.Eu vou tratar disto depois,mas o que eu estou falando aqui é para mostrar que o erro da esquerda em geral e da brasileira em particular é não incluir o problema nacional e não fazer um esforço de compreensão das relações entre as classes.

Isto torna o centro sempre fraquinho,principalmente a esquerda que se propóe a fazer a utopia.Se nós repararmos,na história,sempre o elemento de conflito é o que cria mais movimentos e cataclismos,que de um jeito ou de outro fazem as coisas mudarem.

Mas a perspectiva rupturista é hobbesiana,no sentido de que as iniciativas se fazem usando determinados grupos,pessoas,paises e situações.Em vários momentos da história a manipulação do outro é o que impulsiona.

Aqui mesmo no Brasil atual a direita só botou as manguinhas de fora porque a esquerda se complicou.A revolução russa começou a se viabilizar quando Lênin manipulou o desejo de paz dos russos,em meio a uma guerra inconclusiva e sangrenta.

Bismarck conseguiu unificar a Alemanha às expensas da Áustria e da França.

Mas então,não há possibilidade de se fazer mudanças politicas e históricas,a partir de uma base bem fundamentada sem recorrer aos outros?Porque faço esta pergunta?Porque o modo hobbesiano de se construir uma politica é sempre manipulatório,falso e destrutivo. E tudo o que é destrutivo deixa sequelas que prejudicam o futuro e mesmo inviabilizam.

Houve mudanças positivas derivadas das guerras napoleônicas e também da revolução russa,mas anos foram necessários para estabilizar a França,basta ver os comentários de Tocqueville.E a obra da revolução russa se esboroou.

A social-democracia,sempre moderada,desde o século XIX e no século XX,bem como setores democráticos especificos,parecidos ou não com ela,sempre tiveram dificuldades para se projetar e ganhar o povo.

Hoje no Brasil a busca de uma terceira via confirma esta avaliação e as ridículas manifestações de ontem coorroboram esta assertiva.No próximo artigo eu vou aprofundar este meu pensamento.


polêmica sobre Marx