Quando
alguém quer me chatear,por este meu trabalho ,cita Umberto Eco.Eu já
respondi a isto,mas é sempre bom trazer novos dados do problema.
Nos
artigos anteriores eu me referira a duas questões:a da
interdisciplinaridade e a da imbecilidade que Eco dizia grassar na
internet.
Hoje
eu vou me referir à democracia e aos intelectuais.A democracia
moderna,que acompanhou o crescimento da ciência moderna e o
Renascimento,tem uma diferença essencial para a democracia
antiga:ela é para todos.Tem muita gente especializada em ciência
politica que não sabe disto e ainda fala em televisão,tem
satus,etc...
A
característica fundamental da democracia moderna é que é pelo
menos representativa e representativa de todos.Ainda que em
determinados períodos tenha sido censitária,isto é,exercível
apenas pelos endinheirados,havia ,na sua forma,no discurso,uma
abertura onde outros entraram.A democracia assim considerada se
amplia,coisa vedada no mundo antigo,ainda que alguns autores
identifiquem sinais de “fratura”.
Nos
dias que correm uma vitória total deste principio moderno de
democracia significa que não só não há mais voto censitário e
outro tipo eventual de barreira(racial,como no sul dos Estados
Unidos)mas qualquer pessoa,do mendigo ao presidente da
República ,pode e deve participar dela.Nem mesmo a condição de
trabalhador produtivo é limite ou barreira a esta participação(muito
pelo contrário).Porque aquele que é excluido,pela
democracia,retorna.
Desde
Confúcio,passando por Platão , ficou provado que a tentação maior
de todo intelectual é ser o poder incontestado.O intelectual sofre
de uma contradição psicológica muito recorrente entre a sua visão
quase completa do mundo e a impossibilidade de mudá-lo pela presença
dos outros ,considerados incapazes,inferiores e ignorantes.Uma
contradição entre o intelectual que é parte da vida e a vida(e os
outros).
Assiste
razão ao comum das pessoas em acusar os intelectuais de fomentar
ditaduras e de ter uma postura elitista(que é base da toda “
proposta”intelectual),mas falta a elas compreensão acurada de que
não é todo o intelectual que age assim.E que dialéticamente
falando(será que o povo sabe o que é isto?[alguns no povo se
interessam talvez]),o intelectual está na vida.
Uma
derivação desta contradição psicológica é que todo
intelectual,inclusive Umberto Eco,sofre por não ser entendido(por
isso inclusive propõe ditaduras[para ser])e às vezes procura ser
falsamente democrático ou palatável afim de ser querido e deixar a
solidão e a incompreensão.
Ao
obter,por causa desta habilidade,reconhecimento, se sente dono da
vida e muito mais do saber.A característica,no entanto,da vida é
estar sempre em movimento,propiciando novos fatos,novas pessoas ,que
trazem ideias novas e são,por elas mesmas,o novo.
Diga
o que se quiser da democracia,ela é o único regime plástico o
suficiente,ou formalmente,capaz de expressar o devir.
Para
alguns ,como Umberto Eco e bajuladores e sicários(“ donos” de
ongs financiadas pela Holanda aí...)o medo do novo é acachapante.O
medo de outras pessoas pensarem diferente e trazerem algo novo e
melhor é aterrorizante,porque o mandarinato
vive
da imobilidade.
Sempre
achei uma contradição engraçada(mas não raro trágica),em
Marx,Platão e Confucio,que seus ensinamentos não fossem o bastante
para ordenar o social:secundando suas ideias um aparato repressivo
vem sempre solicito e bem coordenado.A
justificativa(ideológica[consciência falsa])é que nem todos estão
aptos a entender,por serem incapazes no caso de Confúcio e Platão
ou pela consciência vir de fora para dentro,no caso de Marx(há
controvérsias).No caso de todos,ignorância pura e simples(dos
outros).
Certa
vez,quando eu era aluno do segundo grau,no Colégio Arte e
Instrução,disse a uma menina que o marxismo era a resposta da vida
e ela disse na sua candura: “então porque todo mundo não o
segue?”.Esta pergunta é a vingança da criança e expressa bem o
que eu disse acima...
No
final do Renascimento ,os estados nacionais ,vendo o potencial
crítico dos intelectuais os controlou de diversas
maneiras.Igualmente dominaram os cientistas que produziam riquezas.
O
intelectual moderno,como Eco,é produto deste controle,tão bem
descrito como fenômeno de “racionalização”por Max
Weber.Aquela liberdade do Renascimento acabara.Se analisarmos,porém,a
história subsequente,o outsider,o que não teve escola e não foi
devidamente controlado,sempre surge para inovar.
Na
própria revolução industrial,que é base sociológica da
racionalização weberiana,vemos figuras como James Watt ou
Faraday,provindos de fora da escola,mas produzindo inovações e
sendo recebidos por ela e pelas sociedades científicas.
Por
incrivel que pareça ,em todo este movimento, havia sensibilidade
para reconhecer que este pesquisador solitário ,se trouxesse algo
novo,poderia e deveria ser acolhido.
Nos
países anglo-saxônicos,por causas históricas,que já tratei em
outro lugar,a mobilidade social ascendente permitiu e permite tal
mobilidade.Nós vemos que a renomada Universidade de Oxford,no tempo
de Rutherford e Russell,achou um simples matemático
indiano,Ramanujan,pobre e esquecido numa aldeiazinha e o trouxe para
dialogar,diretamente, com os supracitados medalhões.Passou por um
processo de prova e exigência,mas com lisura e lá se estabeleceu
como professor e pesquisador.
Nos
países euro-continentais e seus colonizados,como o Brasil, a
racionalização se imbrica com o engessamento da sociedade civil
pelo estado,cujo objetivo histórico foi fundado,entre outras
razões,na necessidade de controle da mobilidade social
ascendente,mantendo-a nas mãos da classe hegemônica.Se ainda se vê
fraturas neste projeto hegemônico em alguns lugares ,em outros,o
panorama adquire contornos dramáticos de pura exclusão do
outsider,de todos, e favorecendo escracahdamente as classes altas e
seus filhos.
Atualmente
o quadro continua o mesmo,mas há que reconhecer que ,embora ainda se
encontrem fenômenos de liberdade criativa,as barreiras são maiores.
Do
meu ponto de vista os espaços para outsiders como eu devem c ser
buscados.Muita gente critica os exemplos que eu ofereço do
surgimento da cibernética moderna,a fundação da microsoft,mas eu
mantenho a minha interpretação de que o microcomputador foi
inventado numa garagem.
Dependendo
do grau de comprometimento com este controle e de suas disposições
pessoais,o intelectual pende para a liberdade ou para o controle;para
o debate democrático com o outsider ou com a sua repressão;pende
para uma convivência tranquila ou sofre com a inveja e com o desejo
de supressão do outro.Não é preciso pensar muito para saber para
onde vai Eco(e seus sicários).
A
democracia não são só eleições.O estado democrático não são
só os organismos de produção de conhecimento reconhecidos por
ele:é a oportunidade permamente dada a todos de produzir.Nem todos
chegam à escola e mesmo que cheguem ,o condicionamento da liberdade
de produção a um diploma fere a democracia.
Foucault
afirma que se hoje não há repressão física sobre a sociedade,há
outras ,inclusive o anátema dos intelectuais,da autoridade
intelectual,que assusta a muitas crianças(menos a mim).
E
este constrangimento não se restringe à direita não,mas à
esquerda,que é ,não raro,mais violenta.
Freud
explica:acima de tudo a manifestação de Eco,jogada frequentemente
na minha cara,revela inveja,desejo de poder e de não ser contestado
e ,acima de tudo,uma ignorância da sociologia ,tipica destes
scholars especializados modernos,porque se nas redes há os
imbecis,há outros produzindo,se manifestando com correção,exercendo
o seu direito de palavra.O problema é que a midia e as radios no seu
âmago,querem popularidade e dinheiro e só escândalos,algo
escabroso ,propiciam atenção dos assistentes às programações.É
um conluio entre a população desinteressada e a midia ,auxiliada
por estes intelectuais que não querem ser ameaçados.Há um traço
de união entre Umberto Eco e o apedeuta da rua,um nexo dialético
até.Mas setores da sociedade civil ,no afã de tornar a democracia
refém,incluindo a esquerda,se unem a esta aliança do mal.Do mal e
da burrice,pois bastaria ter um pouco de bom-senso e não
conhecimento sociológico para perceber que nas redes,tanto quanto
na vida,há bons e ruins.Umberto Eco falou uma burrice explicada(e
ocultada) pela exigência psicológica de excluir os outros.
Falar
em burrice e para terminar,ele não disse que nivelava(ouviu menezes)
,que as redes nivelavam,mas que pululavam imbecis,o que ,como eu
expliquei acima e volto a explicar até entender ,não é verdade.