O Golpe
Estamos a relembrar(não
comemorar)o golpe de 64 e de novo me sinto chamado a fazer comentários que eu considero
importantes para um cidadão que opina e que é tocado pelos acontecimentos de seu
país.
Coisas importantes
já foram ditas sobre o significado desta data e eu mesmo já me referi a isto
colocando a contraposição entre esquerda e direita como perigosamente capaz de
fazer acontecer aquilo que Hegel e Marx chamavam de a “ história como farsa”.
Sobre esta base
quero começar discutindo a idéia hoje tão repetida de que é preciso conhecer a
história para não repeti-la ,máxima do filósofo estadunidense George
Santayanna.
Isto é verdade
sim,mas é preciso entender bem o conceito para não ficarmos presos a ele ,sem
condições,portanto,de construir o futuro,que eu acho ser o mais decisivo nos
dias de hoje.E de sempre,porque se anda é para frente.
Ficar no
passado também é repetir a história e se
corre ,com isso, os riscos que os seus erros mal compreendidos venham a causar novamente danos
ao presente.No caso do Brasil,um golpe.
Há que mostras às
novas gerações o que foi o golpe para evitar que elas sintam um desejo de ditadura,coisa
que parece estar ocorrendo agora,mas também é preciso não super-dimensioná-lo
para alcançar fins políticos atuais.
Não é legítimo usar
o sofrimento destes cidadãos brasileiros para fins político-partidários.
Contudo é lógico,que
seguindo este raciocínio de cidadania ,há sim o direito de reparação frente aos
atos praticados pelo Estado.
Para os que ficaram
aqui e os que voltaram do exílio conhecer o passado impõe,se quisermos encarar
o problema da maneira certa,o dever de acabar com o entulho autoritário que
ficou da ditadura,cujos exemplos são a
ausência de uma reforma agrária,um ensino básico ruim,o sistema
político-eleitoral,criado no pacote de abril de 1977.
Ao mesmo tempo que
constatar isto nos coloca diante do fato de que estamos ainda no dia 31 de
março, mostra que a única forma de sair é enfrentar o problema,o que não
acontece desde os idos de Sarney.
O sistema partidário,embora
feito já no final da ditadura, consagra esta contradição terrível,esta
fatalidade que todos os sistemas políticos e pessoas ,na sua vida
individual,devem encarar para crescer e se não encaram ,desde Sarney é porque
não querem e se não querem existe a possibilidade real de uma ditadura.
Se formos aos partidos
brasileiros, veremos que a sua estrutura , oscila entre o fisiologismo e a
ditadura e o autoritarismo,já que ambos se interpenetram criadoramente.
A tentativa de
Fernando Henrique de acabar com o legado de Vargas,sem sucesso,demonstra que
também em toda esta relação com o passado está a verdade de que não se quer a
ruptura, porque o programa de Jango e de Vargas ainda são referências essenciais
de uma política que se pretenda mudar realmente os fundamentos sociais do
Brasil,porque isto é o fulcro da análise sincera de Jango e seu governo:ele foi
o único que colocou,até mais do que Vargas e sem paralelo com Juscelino ou
Geisel,o problema de rever os fundamentos do país,como nação.
Tem gente hoje que
acha que liberar o crédito vai criar em definitivo uma classe, a qual vai sustentar o fim da pobreza e a independência econômica do Brasil frente
ao exterior,acabando de vez com a possibilidade de crise,mas isto tudo não
passa de ilusão,porque a reforma agrária ,a educação,a mudança do sistema
político são as condições reais para fazer uma reforma na sociedade.
O último reformista
foi Jango.
Juscelino mudou o
país,mas sem mexer nestas questões,porque trouxe a indústria do exterior,não
criando a nossa.Modernizou as estradas,mas não criou um sistema produtivo
interno capaz de justificar estas obras,como escoadouros essenciais do PIB.
A verdade é esta ,Jango
foi o último que buscou mudar os alicerces estruturais do país e isto ainda é a
tarefa de nosso tempo.
Associando inclusive
o desenvolvimentismo coma questão social,posta na vida política,a partir de
1930.
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