quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Lembrança da luta contra a ditadura Para os de hoje



Será  que  não  aprendemos  nada?A  ditadura  militar  foi  implantada  em  grande  parte  por  causa  dos  erros  e  precipitações do  campo democrático  e  depois  ela  foi se  consolidando,diante de mais  e  mais  erros:a  frente Ampla  de  66,que  não    não  tinha  nenhuma  condição  de prosperar  como  ainda  justificou  cassações; e  a  luta  armada,que  justificou  sim  o  prosseguimento  da  ditadura,que  se  comprometera  ,através  de  Castelo  Branco,a  entregar  o  poder  aos  civis.
Esta  história de que  o  AI-5  foi  uma precipitação  de Costa  e Silva diante  das  manifestações  estudantis  é  falsa,porque  o  ministro  Gama  e  Silva já  vinha  pensando  num ato  excepcional  ,um  ano  antes,quando  elas  começaram.Imitando  Getúlio  Vargas  na  época  da  ANL,eles  deixaram crescer  um  movimento  de  protesto  desorganizado  e sem  muito  fundamento  e estratégia  políticas(além de nenhum  contato  com  o  povo)para  ,no  momento  certo,desferir  o  golpe,o  golpe dentro  do  golpe.
Lembrando  aqui a  atuação  de Ferreira  Gullar,naqueles  episódios  era   claro  que a  luta  era  política,e  necessariamente ligada  ao crescimento  da  participação  do  povo.
A  esquerda  radical  não compreendeu,como  os  seus  mentores  de  35,que  era  preciso  paciência e  era  preciso  ter  o  povo  mais uma  vez e  se jogaram na  luta  armada,que    prolongou  o regime  militar.
Não sou  daqueles  que  segue  integralmente a visão de Ferreira  Gullar.Ele  tem razão  em dizer  que  a radicalização  facilitou  para  a ditadura,mas  isto  esconde  também,transferindo  a  culpa total  para  os  radicais,a  responsabilidade  dos  velhos,que  viviam falando  em revolução  cinco  ou seis  anos  antes,numa  época  em  que  os estudantes  estavam  em casa  ouvindo de  seus  pais  estas  promessas  insurrecionais.
Não se muda a  cabeça de um jovem da  noite  para o  dia.Havia  uma  mudança  de 58  em diante,no sentido de abandonar a  revolução e trabalhar  dentro  da democracia,mas estes  jovens  não  tiveram  tempo de  absorver  esta  nova  concepção e partiram para a  morte,que  os  torna  vivos  hoje,a  colocar  as  mesmas  questões  perigosas    daquele  então.
E  o  que  se vê,o  que  eu  vejo, é  a repetição  dos  erros.Provocadores dentro  das  manifestações,afastando  o  povo.O  governo  pensando  em  punir e  a  direita  criando  situações  para  desestabilizar  este  processo e  ,enquanto  isto,  a economia,na mão  da burguesia  predatória  dos bancos,vai mal.Um  governo cercado  por  estes  problemas e  sem  força.
É  preciso  aprender  as lições  do passado  e não  enveredar  pelos  mesmos  erros.este  é  o  momento  histórico de  consolidar de vez  a  democracia.se  houver  um golpe  de força  nos  atrasaremos  mais  ainda,dificultando  o  nosso  progresso ,que  ficará para  as  calendas  gregas.


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Cuidado com as provocações da direita Olha a política de novo aí gente.



Tenho  recebido  nos meus  emails pedidos  para  entrar  em  abaixo-assinados    contra aquele  deputado do “ estupro”.Ocorre,meus caros,que eu conheço  este truque de muito  longe:a  direita  está provocando,provocando,provocando,para criar  uma  agitação e  um  estado dela  própria,de  vítima,de modo  a justificar  um ato de força  contra o governo,que  agora vai se preparar para julgar  os militares,de uma maneira mais semelhante  ao que aconteceu  no cone  sul.
Então prudência,crianças de todas idades,lembrai-vos  de 64!estamos vivendo como eu disse  em outros artigos  o período  da  História  como farsa  e não  aprendemos  aparentemente  com  os perigos e derrotas do  passado.
Milhões de votos não  são capazes   de garantir  um  governo,nem um continuísmo!Como se  pode  falar de  socialismo,num  governo cujo principal  ministro  é um representante dos  bancos,a  célula-máter  do capitalismo brasileiro?Que bolivarianismo é  este?
Lembrem  que  existe um outro candidato que,errado ou certo,tem um  número expressivo  de  votos.
É preciso não  dar repercussão  exagerada  a  isto porque  é isto o  que querem.Não  é agitação que vai favorecer um  governo mais popular.Não  adianta  dominar  a sociedade  política  sem ter  hegemonia na  sociedade civil,onde estão os bancos,que  estão no governo.
Não há  nenhuma  similitude  entre  o que ocorre  hoje  e  1917,este erro vai voltar?
Nós precisamos  é  recompor estes  partidos para que expressem  a modernidade  das  reivindicações brasileiras,demonstradas em junho de 2013.O trabalho  é árduo,não é um  ato de força.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Darcy Ribeiro a pós-graduação



Quando   Darcy  Ribeiro  voltou esperando morrer  de câncer no seu país,ele tomou conhecimento,depois   de superar o  problema(ainda bem!)desta  questão da implantação  da pós-graduação no  Brasil.
Ainda  muito  abalado ele fez alguns  comentários  a  favor  do  modelo.Mas com o  tempo ficou claro  que este tipo de profissionalização  causava  os males a que  me referi  no  artigo anterior,inclusive Darcy nunca deu aula  nas universidades  brasileiras e como Gilberto Freyre e tantos outros ,ficou  de fora,por  picuinha  dos     de dentro”.
Um  país  que  prescinde de  professores  deste  tipo não  tem futuro!
Desde  que o Estado  apareceu  na  humanidade ele  sempre se sustentou com o trabalho  de todos,principalmente  dos  “ de baixo”,chamados  hoje  de subalternos(Gramsci).Mas  o Estado,para além  das  inúmeras  críticas justas que sofreu  ao longo  da História,não tem como( e na maioria das vezes não  quer)absorver todas as  pessoas  e  criou,para justificar, a  ideologia de  que todos os que são selecionados  para   entrar  nas  instituições,inclusive  universitárias,são  os  capazes  de fato.Isto  gerou  um  paroxismo  da ideologia(como consciência  falsa)pelo  qual os outros  que estão fora não  são capazes.E  mais ainda, a partir daí outras  ideologias ,raciais,sociais,de  classe,aprofundam  esta enxúndia   de  besteiras,que visa  a  demover os  excluídos  e impedi-los de rebeldia.
A meu  ver quem  percebeu esta  realidade  primeiro na História  foi o anarquismo,entrevendo na  realidade pura do estado os  mecanismos ideológicos   de convencimento  dos outros quanto  a  ser  ele,Estado,a única  medida  do  saber  e  do poder.O marxismo  original foi por  este caminho,mas  com  a  URSS,reinventou esta mentira,de  modo  a lhe  causar inveja.
Não  é verdade que o estado  seja esta medida.A religião cristã ajuda-o  de forma soberba  neste convencimento,mas  não é verdade.O estado absorve  o que é possível.Coopta   o que é possível,mas  o  que  acontece  na  sociedade  não passou,continua,permanece,como o seu fundamento último.
Então  o cidadão comum,quando entra na  escola deve saber que  o conhecimento  pode ser obtido fora  da escola,sempre,porque  é  dele.O  estudo permanente,continuado,profissionaliza,capacita, e  a  inserção    no  estado obedece  a uma  finalidade  somente ,que  é  a de cumprir tarefas coletivas prioritárias que a sociedade através  do sociedade pede,mas que não são as únicas.
Se a Sociedade pede profissionais de segurança,ela precisa  de indivíduos autônomos para inventar.Se  ela precisa de professores  para transmitir  o conhecimento,precisa  de liberdade  para  que  estes  mesmos indivíduos  criem  novas idéias sem  preocupação  acadêmica,que geralmente,os  poda,como podou  Darcy.
A  separação entre a  universidade brasileira e  Darcy (e  Gilberto Freyre),expressa este tipo de problema,que continuaremos  a analisar nos  próximos artigos.



sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Aloisio Ferreira



Uma vez  na ABI,fiz  um bom debate  com  o  falecido  reitor da UFRJ de então  Aloísio  Ferreira,o  qual  com  a  sua palestra prévia,cristalizou  em  mim  a convicção  maior do  que  tinha se tornado  também na  minha visão a  pós-graduação  no  Brasil.
Segundo  ele  o  Mestrado e  o  Doutorado  no  Brasil  tinham  sido  montados  pela  ditadura militar  para  com o  seu  perfil  especializado,tipicamente  estadunidense,podar de  vez  aquele  humanismo  crítico  tradicional,que era ,inclusive uma  das características  da esquerda  brasileira,a  qual deveria  ser  cooptada.
A  esquerda,quando  voltasse  do  exílio,teria  a possibilidade  de fazer a  sua  profissionalização de um  modo  aparentemente  moderno,mas  que  era  uma  forma  de garantir  o  emprego de  pessoas  que  iam ter  influência  depois  da abertura e  que estavam  em condições  financeiras  precárias  e necessitadas  de um emprego  regular  controlado.
Golbery  do  Couto  e  Silva  ,junto  com Geisel ,montou  toda a  estratégia  da  abertura,mas  o  primeiro  ficou  encarregado  de  tomar  medidas  para quando  ela  se  concretizasse  ,a  situação anterior  à  64  não  voltasse  e  realizou  algumas  mudanças,algumas  atitudes ele  tomou para  que  isto  não  acontecesse.
No  âmbito  do  pluripartidarismo  que  ele  mesmo  criara,ajudou a  fazer  o  PT.Ajudou  a  candidatura  Maluf  porque  assim facilitava  uma  transição moderada.Mas  no  caso  da  universidade,ele,entre outros,importou  o  modelo  a  que  nos  referimos  acima,trazendo  para o  Brasil a  figura  do Schollar,vulgo,em  Cascadura,escolarino.
Este  tipo  de  profissional      aquilo  que  lhe  é  próprio  da  profissão não  a relacionando  com  nenhum  outro  saber,o que o desumaniza,sem que  ele  se importe,já  que  se   preocupa  em  ganhar  dinheiro  e cumprir  o seu  papel  sem ter  mais  a  preocupação  crítica  que poderia  levá-lo  à  rebeldia.
Eu  quis  fazer  este artigo  porque  assisti  na última  segunda-feira  um  dos últimos  grandes  intelectuais  da  época  anterior  a esta  de  especialização:o  historiador  Carlos  Guilherme  Motta  que  se referiu  exatamente  ao  fato  de o seu  mundo  estar  completamente  acabado.
A  maioria  dos professores,segundo  ele  disse  na  entrevista,não se preocupa senão  em cumprir  o  horário  de  sua aula  e  ir   embora,sem  nenhum  questionamento.Golbery  conseguiu  mais  do  que impedir  o retorno de 64,ele  conseguiu  destruir  a consciência  humanística  dos intelectuais  brasileiros .Eu  espero que  não  para  sempre.
A  ser  continuado...