Muita gente
vai se irritar com o fato de um
tricolor falar isto,mas uma coisa
é o torcedor,outra o
cidadão.Ou,por outra:no torcedor existe
o cidadão,o qual deve ensinar ao primeiro
quem manda e a hora de
separar as duas coisas.
Principalmente
o cidadão do estado do Rio de
Janeiro,que vem sendo progressivamente esvaziado desde a transferência
da capital para Brasília,passando pela
cassação de Lacerda(o último político genuinamente do Rio de janeiro capaz de chegar à presidência)e chegando à
fusão.
O que restou
do Rio de Janeiro foi o espetáculo esportivo
do futebol e este já vem sendo,como eu tenho denunciado,manipulado ,no
interesse das elites,contra o povo
brasileiro mais humilde(que é o responsável pelo crescimento e estabelecimento
do futebol como manifestação nacional incomparável),num processo clássico
de usurpação.
Está lá em Gilberto Freire e Mário Filho:o Rio de
Janeiro é a síntese irradiadora da
nacionalidade;o Brasil é constituído de vastas solidões(como dizia Joaquim Nabuco),do interior em geral,paulista
em particular(o interior mais forte),do sul(populações meridionais -Oliveira
Vianna),o interior nordestino,mas o
centro psicológico do Brasil é o Rio de Janeiro.
Pelas
circunstâncias políticas citadas o Rio de Janeiro vem sendo despojado desta característica,que eu
considero que tem que ser
preservada.Muitos objetariam que a vida
é assim,o movimento social é assim(a História é assim).Mas,em primeiro lugar o
esvaziamento do Rio de Janeiro atinge a
população,economicamente,em todos os sentidos.Não se esvazia região nenhuma,mas se a faz
crescer para favorecer as populações.Esta é a história
verdadeira.
Em segundo
lugar, estas constatações dos intelectuais citados têm a ver,não só no
pensamento deles,mas na realidade,com o projeto nacional que eles queriam e propunham e são um referencial de discussão no seguinte sentido:se o Rio de
Janeiro é esvaziado o projeto nacional o é também.
São Paulo é
um grande estado,mas
egocêntrico,exclusivista,voltado para o seu interior.São Paulo nunca quis ser
um pólo irradiador para o interior do
Brasil,como um todo,porque isto tiraria a sua
primazia.Aliás foi este um dos
fatores que fizeram Getúlio Vargas vencer a” Revolução” Constitucionalista de
32:São Paulo não tinha projeto nacional para
oferecer.Falava-se até em
separatismo...A divisa de São Paulo,atribuída a Júlio César “ Duco non
Ducor”,que significa “ Conduzo,não sou conduzido”,deve ser mudada para o bem do
projeto nacional ,no qual São Paulo figura como elemento decisivo.
Quando
Juscelino transferiu a capital ele pensou neste projeto,mas pensou também em
desalojar a oposição conservadora,criar
as suas próprias(e
novas)lealdades,olhando a eleição de 1965.Tudo muito bom,mas era preciso
um projeto compensatório para o Rio de
Janeiro.
Até a fusão,na década de 70,o Rio,que
fora esteio decisivo do golpe de
64,foi uma pedra permanente no
sapato da ditadura militar,que
,então,montou um esquema político,a
partir do governador Chagas Freitas(que substituiu o realizador da
fusão,o brigadeiro Faria Lima),juntando
os políticos do interior fluminense com os da cidade-estado.Isto acabou com o lacerdismo no Rio de Janeiro e diluiu,no fisiologismo ,o furor oposicionista dos cariocas,além de prejudicar a arrecadação
da cidade-estado,cujos tributos passaram a ser divididos com o
interior,ou seja não mais aplicados no Rio de Janeiro,capital.Quer dizer ,havia
um propósito de destruir o Rio financeiramente,para
desencorajar políticos anti-ditadura.
Todos sabem
que eu prezo pela independência do
esporte em geral e do futebol em particular frente à política,mas esta não
é a realidade,nunca foi,e ,para
separarmos isto em definitivo e ambos
realizarem a sua vocação cultural e
educacional(dentro do projeto nacional)é preciso reconhecer que o desporto,como
manifestação cultural, é expressão da identidade do Rio de Janeiro,de sua
irradiação no Brasil e a situação dos clubes
do Rio de Janeiro,tanto grandes,quanto pequenos ,revela a verdade do
despojamento crescente do estado,como entidade política.
Com o
chaguismo o Rio de janeiro saiu ,até hoje,da disputa presidencial e das
grandes questões nacionais,exceto para
perder,como foi no caso dos royaltes do
petróleo.
A tentativa
de Sérgio Cabral de usar a copa e
a olimpíada para se lançar nacionalmente,esbarrou
na óbvia composição oportunista do PMDB fluminense e carioca(herdeiro do chaguismo),que,de olho nas benesses do governo Lula,deixou a questão do petróleo
seguir,desmoralizando Sérgio Cabral,o qual se
apartou em definitivo do PMDB,saindo antes ,para evitar um desgaste
de seu sucessor,Pezão,quem sofre com problemas de caixa ,que têm relação
com estes fatos todos.
Quando o
Brasil ganhou o direito de fazer a Olimpíada ,quem falou nos programas esportivos o dia
todo não foi o Sérgio Cabral,mas Dilma...
Os
clubes do Rio de janeiro
estão sofrendo há décadas com tudo isto.É visível a disparidade entre os
clubes de São Paulo,Minas e Rio Grande
do Sul.Eles têm tantas dívidas
quanto os clubes do Rio,mas estão se modernizando a passos largos e entendendo a mudança do futebol brasileiro, que vai ter
que se conectar com o futebol mundial,sem perder a sua natureza
específica(coisa que não está acontecendo),nacional.
Quando que um
clube do Rio poderia construir uma arena
como a que Grêmio e Internacional fizeram?E também eu não acho que se o
fizerem( e eu entendo que devem
fazer,explico mais abaixo porquê)devem fazer arenas européias,mas estádios
modernos com características nacionais e
populares,numa reação ao que fizeram ao Maracanã,por ordem destes
eurocêntricos da FIFA.
A questão
é que ,como dizia João Saldanha,os campeonatos estaduais estão condenados ou não
servem mais como parâmetro de nada.Eu penso que eles devem ser reformulados,mas
o parâmetro é o campeonato brasileiro e
a inserção dos times brasileiros nas competições internacionais.
Eu seria
incoerente se,tendo esta perspectiva nacional(sem nacionalismo),eu desejasse o
fim dos estaduais.O Brasil é o único país que tem este tipo de competição e com ela foi tricampeão do mundo.Os estaduais podem
ter outra função e em outro artigo exporei o meu pensamento sobre esta função.
Eurico
Miranda ,ao ganhar o estadual deste ano,agiu como Napoleão,depois de voltar do
primeiro exílio,da ilha de Elba:perdendo o contato com a realidade acabou
avaliando mal a situação,pensando que
porque o Vasco foi campeão carioca não
teria problemas,mas teve e não dispôs de tempo para mudar a situação.
Eurico também
recebeu o clube de um torcedor,que
preferiu gastar em bons times ,para sair
da série B,do que fazer aquilo que está diante dos clubes cariocas:a necessidade de resolver os problemas financeiros em definitivo,para se modernizarem estruturalmente,mantendo
times competitivos.Roberto não viu toda esta
moldura e deixou para um Napoleão já
meio cansado,outras ilusões.
Mas estas
ilusões são as dos clubes do Rio.Diante
deste quadro vai ser inevitável para os clubes do Rio ter os seus próprios
estádios,para arrecadar soberanamente.A administração do Maracanã ou do Engenhão não vai ser
suficiente ,pois os lucros aí são divididos.
A Unimed ,no
Fluminense ,tinha a obrigação de apoiar esta modernização do clube e a
direção tricolor tinha que pressionar,mas como se vê ,a visão pessoal e pequena dos dirigentes atrapalha.A prova é que neste
campeonato o Fluminense estava certinho,podendo crescer e disputar lá em
cima,talvez o título,mas a ganância do
Sr. Mário Bittencourt pôs tudo a perder.
Vendo que o
time estava em ascensão e pensando na sua candidatura à presidência do
Fluminense,contratou Ronaldinho,que mesmo que fosse aquele do Atlético,tinha que se adaptar ao
time e não foi este o caso,porque o time se desencaixou.
Até hoje ,eu
não sei porque o Botafogo não processou o Engenhão pelo erro de engenharia
que deixou o clube sem fonte
arrecadadora e jogou o projeto Seedorf no lixo.
O Flamengo
nasceu do Fluminense para arregimentar as massas excluídas do nosso país.O eixo
de irradiação histórica do futebol brasileiro,e
da mentalidade brasileira,é o Fla-Flu.Em 2013,se não fosse a Portuguesa
errar,o Fla-Flu ia ser disputado na série B.Isto seria grave.
O Flamengo
necessita de uma nova reformulação,como a realizou Márcio Braga em 1976.
Como é grave
o Vasco cair de novo.O Bangu foi o
primeiro time a admitir negros nos seus
quadros,mas o Vasco representou o estabelecimento do primeiro passo da ascensão
não só do negro,mas do povo brasileiro ao proscênio esportivo,para jogar um
papel político.
Notem bem que
mesmo no segundo governo,Vargas,já de posse do Maracanã,continuou fazendo os
seus encontros com os trabalhadores em
São Januário ,porque lá o significado
histórico é muito mais importante e o
contato é mais direto.O gol 1000 de Romário tinha que ser lá,para amplificar
este significado.
Contudo o
Vasco é tradicionalmente,como dissera uma vez Oto Glória,um clube muito
dividido e todo este valor é jogado fora freqüentemente.O Vasco é neste fim de
semana o paradigma do futebol carioca e também do projeto nacional,porque se os
clubes do Rio continuarem nesta toada e
desaparecerem,o Rio desaparece
junto,perdendo as condições de reagir,bem como todo este caminho
democratizante e popular do Brasil,que
passa indelevelmente pelo nosso estado,que começará a ruir.
Portanto,o
Fred tem que jogar, o Fluminense tem que ser mais importante do que seu
dirigente e fazer o seu trabalho e o Rio
deve ajudar o Vasco a ser o último clube
do Rio a cair.Nunca mais isto deve acontecer.
E também
porque o Vasco é o nosso freguês de caderno,não o contrário como o Eurico diz.
O time do Vasco campeão de 1923
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