sábado, 4 de junho de 2016

VIVA MUHAMAD ALI!



Morreu um dos meus formadores morais.Morreu um dos nomes da Utopia.Morreu um dos nomes do meu Panteão dos heróis da humanidade.
Um dos meus sonhos como intelectual é construir um pensamento que destrua a idéia tão tenazmente repetida ao longo do tempo e da História,segundo a qual “ Se Vis Pacem,Para Bellum”,” Se queres  paz,prepara a Guerra”.
Se vis pacem,Para pacem
O meu desejo era mostrar como era possível (como é)criar um discurso e uma prática que conduzissem a humanidade da relativa paz do cotidiano até a paz verdadeira.Relativa paz do cotidiano porque esta mediação oculta muitas violências,as quais devemos combater inclusive com o próprio corpo,com o boxe.A vida exige esta preparação na qual Ali era ( e é)um mestre.
Quem me chamou a  atenção para esta possibilidade foi exatamente esta  figura extraordinária,Muhamad Ali.
Ele que sabia lutar,na nobre arte,o pugilismo,e era um exemplo de luta no cotidiano,revelou-se também grande ,como tal,no plano geral da história ,e é  aí que ele me inspira ,para sempre.
Numa sociedade que glorifica a guerra,especialmente naquele momento,Ali se  recusou a matar pessoas inocentes .Ele poderia ganhar muito mais ,em termos materiais ,se associasse a sua atividade a este plano de agressão geral que muitos dizem ser geneticamente próprio da humanidade;mas não ,ele se colocou contra isto,arriscando a si mesmo,em nome de algo que é utópico e que se resume na frase acima,”Se queres  a paz,a prepare”.
A atitude de Ali pode não ser esta filosofia,esta ciência capaz de acabar com todas as guerras,mas ela é ,ad aeternitatem,uma condição imprescindível,mesmo para o homem que  ganha a vida brigando:começando ou terminado,esta nova “ ciência” da paz se mede,se fixa,com esta ação simples de recusa.
Num filme documentário da década de 80 “ Conta Comigo”,Ali é mostrado num momento sublime que cristaliza o seu pensamento ( socrático[simples]{discernidor}).Ele diz algumas frases,que para mim,têm o mesmo valor da estela de Epicuro:”Não vou matar pessoas de um povo que não está nos incomodando e que pertencem a uma raça tão explorada quanto à nossa”.
Para mim esta frase deveria ser colocada em algum lugar  do mundo considerado como representativo do que é a humanidade,talvez em algum da África,berço da espécie.Um homem brigador se negou a fazer guerra.Esta é a mediação essencial da futura(quem sabe)filosofia da paz,ciência da paz.
De cristão imposto a muçulmano livre                  
Muitos na época, e isto continua a ter relação com o assunto anterior,achavam que a conversão de Ali ao Islam era só uma jogada política.Diziam que como Ali,um atleta negro ,tinha ganho o seu primeiro titulo ,o stablishment estadunidense o obrigaria a ir à guerra para manipulá-lo e fazer a sua imagem jogar a seu favor,a favor do poder estabelecido estadunidense.Isto é parcialmente verdade,porque foi feito com figuras como Elvis Presley e Jimmy Hendrix.
Era preciso,segundo este stablishment ,mostrar a todos que eles ganhavam dinheiro,tinham sucesso por causa da sociedade americana e por isto,num momento em que esta estava supostamente ameaçada,era preciso devolver em termos de sacrifício pessoal a sua “ ajuda”.Era um pacto da “ liberdade”,às custas do camponês vietnamita.
Este tipo de raciocínio também foi muitas vezes feito em relação à Gandhi.Atribuía-se às suas atitudes religiosas de recusa e abstinência um propósito meramente político,não havendo base religiosa em sua caminhada.Mas tudo isto é falso,porque ambos comungavam de valores pacíficos que podem ser construídos no âmbito de qualquer religião,já que a religião é um produto humano.
Não há na posição de Ali qualquer forma de cinismo,mas afirmação verdadeira da sua humanidade e tal se prova pelo sacrifício que fez e pelo perigo que correu.Em outras épocas ele poderia ter enfrentado corte marcial,com grande chance de ser executado.Na segunda Guerra por exemplo.
O pensamento liberal americano admitia a recusa de participação em guerras,por motivo de fé religiosa.Os quakers nunca foram para a guerra,mas isto mudou na primeira guerra,no caso famoso do soldado York(tema de filme hollywoodiano,com Gary Cooper),em que este foi convencido a mudar a sua posição religiosa em nome da defesa,por parte dos Estados Unidos,da democracia e da civilização,que “afundava” na Europa.
Ali dialogou com as concepções liberais dos Estados Unidos.Ele não é um radical destrutivo,pois argumenta com ela ,usando os próprios fundamentos da nação que escravizou os seus antepassados,mas lhe permitiu ter dinheiro,fama e sucesso.
Ele usou dos mesmos fundamentos para a  independência dos Estados Unidos e da Índia :discordamos dos nosso dominadores ,mas não  queremos  ser seus inimigos.O que queremos é dar um exemplo axiológico transcendente,humano –universal,de que a guerra não era justa e de modo geral sempre atinge inocentes.A guerra por mais justa que seja tem a medida da sua irracionalidade nos prejuízos freqüentes que causa a pessoas inocentes,direta ou indiretamente.
Em Ali não há mediação política,mas humana e é ele e a humanidade,a utopia,que estão juntos.Da Paz para a Paz.
Um herói socrático
Com aquelas palavras supraditas ele repetiu a caminhada de Sócrates,mas num sentido ainda mais universal e melhor porque deixou uma mensagem de que não se tem o direito de matar pessoas inocentes e que o fato de ele ser um guerreiro cotidiano não autoriza a fundamentar a atividade profissional,a violência controlada,  para objetivos ilegítimos e que a recusa  vale a carreira,o sucesso,o dinheiro, a fama e a  si próprio.
MUHAMAD ALI HERÓI DE NOSSA GENTE!


Bem entendido,não só a nossa  gente  do Brasil,mas a do mundo todo da Humanidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário