domingo, 26 de fevereiro de 2023

o problema da herança no capitalismo

Lula e a herança

A questão dos bens herdados sempre foi um cavalo de batalha em todos os modos de produção,mas principalmente na luta do capitalismo contra o feudalismo e do socialismo contra o capitalismo.

Nas últimas semanas uma polêmica atingiu o governo Lula,porque o Presidente conversando com Leonardo Boff afirmou não aceitar a presença de pessoas que vivem a vida toda parasitando heranças deixadas notadamente pelos pais.

Este problema já é conhecido desde a época de Marx e Engels e sempre foi um diferencial bastante destacado do socialismo real na sua luta contra o capitalismo.

Na URSS quando morre um casal ou uma pessoa os bens que ela construiu passavam para o estado,que os distribuia para quem tivesse eventual necessidade.

É aquilo que Nelson Rodrigues coloca na boca de um dos seus personagens de “Vestido de Noiva”: “Meu pai deixou tudo funcionando direitinho para mim,eis que eu posso viver a minha vida fazendo o que mais gosto, pela ordem:mulher,chope e sinuca.”

Este item de programa acompanha a esquerda desde sempre e é uma questão realmente importante,que revela que a utopia é essencialmente paideia,educação,um novo homem,uma demiurgia.

Isto porque forçar um herdeiro a trabalhar fere um principio de liberdade.

Se assim for a sociedade se contamina com um processo cotidiano de ditadura,que é a pior forma de ditadura.Alceu Amoros Lima,na famosa entrevista ao Pasquim em 1983,pouco antes de morrer,afirmava que a ditadura que vem de cima para baixo,dos Stalins e Hitlers são fáceis,modus in rebus,de superar,mas aquelas pequenas imposições do cotidiano são mais dificeis,porque mais resistentes.

Na URSS e no socialismo real esta verdade se confirmou.Quando um bem passava para o estado este o usava em termos de conveniência politica,para obtenção de apoio para o estado,não havendo preocupação prioritária de justiça social.Os bolcheviques ganharam muito apoio,no inicio,quando não tinham,nem dos pobres,expropriando mansões e a entregando a trabalhadores,bem como a escroques e vagabundos.

No filme de Costa Gavras “ A Prova” fica evidenciado isto quando o personagem de Yves Montand,um comunista reconhecido até então,cai em desgraça e tem a sua casa tomada pelo estado e sua familia é jogada num cortiço(região pobre que existia sim no socialismo real).Nem havia a questão da herança.

Além do mais, aquele que não se encaixa no socialismo e recebe uma casa de presente também é um “ parasita”.Eventualmente uma pessoa assim poderia estar trabalhando e outra não fazendo nada,mas o problema é o mesmo:como incluir todo mundo e como caracterizar isonomicamente um “parasita”.

Aqui no capitalismo,vamos supor que um herdeiro trabalhe.Basta taxar a sua herança como já é feito.Mas para aquele que não trabalha incidiria crime de vadiagem.No entanto,para manter a isonomia,os mais pobres ,que não trabalham não por sua decisão,mas por falta de emprego,teriam que ser penalizados também.

Visto isto este problema está já no fulcro da utopia e a utopia é paideia,educação,um novo homem,porque é difcil de resolver se não for por consenso,se não houver compreensão humana do tema.

A aristocracia inglesa percebeu no século XVIII que mesmo não precisando trabalhar trabalhou,fez benfeitorias e se garantiu até aos dias de hoje.

Enquanto a utopia não vem a solução é esta aí.Não tem como penalizar parasitagem dos ricos sem atingir os que trabalham e dos pobres sem oferecer pleno emprego,que são os pilares da utopia(entre outros,segurança,ninguém na rua,etc.).

A tendência nas sociedades que não procuram melhorar é decair.No século XVIII a Espanha tinha 30% de pessoas pobres parasitando e vivendo da caridade pública e do estado; e nas classes altas,os mesmos 30% de aristocratas viviam com pensões do estado.

No século seguinte a potência espanhola acabou e junto foi esta aristocracia.Num país como o Brasil quem sustenta tudo são a classe média e a classe operária.O resto faz o quê?Parasita?O lumpesinato pobre vive para si mesmo para evitar a explosão da questão social,no subemprego,na venda de drogas ou em outras atividades;o lumpesinato rico o máximo que ajuda é pagando impostos,para não fazer nada.

A questão se resume em incluir os de baixo e fazer os de cima trabalhar.Enquanto a utopia não vem.


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