Quando a esquerda mundial
compreendeu que a democracia podia ser um meio para fazer também as mudanças
revolucionárias que ela preconizava,a atitude desta foi mudando
paulatinamente,mas a verdade é que no inicio esta concepção consagrava uma
idéia de que a democracia(como o direito)era um instrumento para se
atingir os objetivos da revolução.Com o tempo esta perspectiva mudou e quanto
mais se trabalhou com a democracia,quero dizer,os círculos ditos
revolucionários,mais e mais se perdeu a perspectiva de virar a mesa num
determinado momento ,em que o inimigo piscava.Quanto mais se trabalha com a
democracia,quanto mais se evolui no processo político de mudança, mais fica
difícil perder tudo num ato de vontade tresloucado,que é no que se transformou
o princípio da revolução.
As recentes manifestações no
Brasil,deram a muita gente a impressão de que estávamos na mesma situação dos
bolcheviques entre fevereiro e outubro de 1917,com o povo na rua enfrentando a polícia.Parecia
que a hegemonia estava sendo conquistada ou perdida ali,quando se quebrava as
agências bancárias.
Ledo engano.Numa sociedade
complexa como a nossa,diriamos com gramsci,ocidental,o poder não está nas ruas
ou num lugar específico,mas em outros,em muitos,nos agentes da sociedade
civil,nas estruturas ideológicas de legitimação,os famosos aprelhos ideológicos
do Estado,nos espaços de poder cotidianos ,que devem também ser conquistados
daqui por diante.
É preciso informar a muitos que
quem criou o termo social-democracia foi Marx ,no século XIX,para designar um
partido,que ,durante anos deveria preparar a revolução na Alemanha,ganhando as
massas,lhes dando formação e entendimento do que deveria ser uma
revolução.
Marx nunca abandonou esta idéia
de " virar a mesa" que Lênin ampliou naquele livro que citamos em
outro artigo,mas ,contra ele,que não é um guru intocável,a realidade demonstrou
que,apesar de não ser mais necessário e bom " virar a mesa",as
conquistas e avanços da luta não se perdem,principalmente quando bem
fundamentadas,bem estruturadas e respeitando a democracia(e o direito).A
credibilidade daquele que quer,de fato ,abnegadamente,o progresso,não se
destrói quando o revolucionário não muda de atitude por conveniências
políticas,mas quando vê mais à frente os benefícios das contribuições bem
discutidas,levando mais e mais pessoas a fazer parte do processo geral de
mudança.
Mas não se pode ,ao final,jogar
fora este campo democrático que ajudou a mudar a sociedade,porque a democracia
não é uma mediação oportunista,passageira ,ela é ,também,parte do processo de
mudança,ela faz parte,como possibilidade cada vez maior de participação,da
revolução,da mudança.
A democracia não é o pior dos
regimes,tirando todos os outros,como dizia Churchill,ela é o único regime que
se une ao desejo existencial de todos de participação plena,é a única que põe
uma possibilidade sempre presente de crescimento,coisa que os outros regimes
não oferecem.A democracia é fim e meio,como o homem.
A perda do objetivo deixou muita
gente órfã da liberação,do triunfo,daquele momento supremo,que superará todas
as angústias,mas ficou,em compensação ,a ideía,de que a democracia começa
sempre,está sempre no agora,é sempre a atualidade,nasceu há 40 minutos antes do
nada,como o fla-flu.E está em todos os lugares,neste momento em que eu escrevo
e em que vc lê.
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