sábado, 8 de fevereiro de 2014

O papel da religião

Ficheiro:Dürer Melancholia I.jpg
Ufa!,Vou parar um pouco de falar de comunismo,esquerda e tratar de temas culturais que eu gosto.Há muito queria tratar novamente do papel da religião e me lembrei novamente de Albrecht Durer, o maior pintor do Renascimento Alemão e que eu aprecio muito e sobre o qual já fiz outro artigo.

Nesta gravura aí acima nós vemos o famoso " anjo melancólico".Se vocês repararem no olhar do anjo


vocês verão a sua tristeza,mas um tipo específico de tristeza,uma saudade do futuro,como disse um amigo meu,uma vez, no petisco da vida,ouvindo um samba.

A melancolia é um tipo de tristeza,não é igual à depressão,pois ele tem como seu desencadeador algo mais profundo,mais extenso psicologicamente do que a depressão.É lógico que a depressão,quando se torna igualmente extensa e sem motivo aparente se torna muito perigosa ,levando não raro à uma fatalidade.A melancolia pode levar à depressão e pode reproduzi-la em níveis estratosféricos.

Mas a melancolia não é doença,ela é parte do patrimônio emocional e sentimental do ser humano.Não existe nada absoluto na vida humana.Buscar uma vida de alegrias não é possível,pois tornaria o ser humano em psicopata,e os que o são o são por isso.

Ainda que vivêssemos em plena utopia,todos vivendo em paz,sem fome,de mãos dadas,haveria necessidade e direito de em alguns momentos se entristecer,mas por um motivo que transcende a sociedade e a história:a finitude temporal e espacial do ser humano,bem como de tudo o que vive.

Goethe,no seu " Fausto",põe estas palavras na boca do Diabo," tudo o que nasce merce perecer",mas a discussão sobre este merecimento é  que faz natureza específica do ser humano que não aceita de forma alguma a cessação da vida e nós podíamos elencar aqui carradas de motivos para esta não aceitação.

A religião é um problema social,tem uso político,mas a crença é diferente ,porque ela radica nesta finitude inevitável que nos foi imposta pela natureza e neste sentido o papel da religião transcende também as épocas e esta constatação deveria ser o fundamento da atitude de todos ,inclusive os ateus como eu que se orgulham da não crença e da iminência do nada.Eu não conheço ateu nenhum,inclusive eu,que lá no fundo não aja como este anjo de Durer,lá no seu recanto,no seu íntimo,ou seja,não fique melancólico.

Uma coisa  é  o ateísmo,outra  a laicização.Voltarei ao tema.

 

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