Há tempos
atrás eu fiz uma provocação sobre a
necessidade de o Papa Francisco se portar de
forma idêntica a Al Capone,que vigiava o seu contador todos os dias.Era
só uma piada ,mas vendo,no contexto destes festejos natalinos, que,nas
televisões ,são mostrados filmes e documentários sobre o cristianismo,penso
que é preciso aprofundar este conceito.
No canal
History um documentário,em especial,me chamou
atenção:” Dinheiro Sagrado”.Pois fiquei impressionado com a quantidade de
dinheiro desviado do entorno próximo ao Vaticano.Eu disse: do entorno do
Vaticano,não numa diocese nas Filipinas,por exemplo.Também é incrível como esta
hierarquia não é obedecida de forma
alguma neste entorno:se o Papa resolveu seguir os conselhos da teologia da
libertação e usar de simplicidade,as
maiores autoridades em torno dele,não seguem,como deveriam,o seu exemplo,usando
rols royces,gastando dinheiro a rodo e
tudo o mais.Onde está o princípio de obediência ao Papa?Sempre fui acusado de ser fundamentalista,mas para
mim,em qualquer movimento você deve demonstrar coerência.Se eu fosse católico
seguiria o princípio de que o Papa é não só o seu chefe espiritual,mas
também,chefe político.Então de duas
maneiras o que ele manda você fazer,você tem que obedecer.Quem não quer entrar na
Igreja não entre.É assim para qualquer coisa.
Uma das
razões para a derrota do comunismo foi a
absoluta contradição esquizofrênica entre o que se é e o que se deve ser,segundo as palavras,segundo os
discursos.
Isso vale
para qualquer movimento e é a sua
condição de sobrevivência e
continuidade.Quando eu disse que o Papa deveria ser como o Al Capone não
era se tornar evidentemente um bandido,mas deveria cair no mundo,admitindo a
maldade humana.
Uma das características
da reforma protestante,expressas por seu fundador Martinho Lutero era romper
com esta tradição católica medieval de que o mundo era lugar de pecado e que portanto o comportamento deveria seguir
esta linha,dentro da qual deveria se temer o mundo ,como o lugar onde está o diabo,tentando as almas(como se dentro de casa não fosse mundo
também).Tenho certeza de que Lutero não acreditava na existência do
Diabo,mas para induzir o camponês alemão supersticioso a cair no mundo
e ver esta verdade,deixando de lado as superstições, o reformador,nos
seus textos,dizia que seguraria o diabo
pelo chifre e daria um soco no seu olho,pois ele era fraco diante da sua fé.De
noite Lutero atemorizava o diabo com
seus gases...
Algum tempo
atrás eu assisti a um outro documentário
em que o Papa bento XVI mostrava o seu cotidiano,o cotidiano de um Papa,de um
padre.Toda a concepção ,que se reflete
em Rousseau sobre a natureza
originariamente boa do
homem,deriva desta convicção de todo
sacerdote cristão-católico de que o
homem,sendo feito à imagem e semelhança
de Deus,é essencialmente bom,porque se assim não fosse Deus traria em si o mal,o que não é admissível.A
rotina de um Padre não é mediatizada pelo dinheiro,mas pelo aconselhamento,pelo
refinamento de idéias e valores virtuosos,na confiança de que o fiel o seguirá.
Às vezes este
Papa,quero dizer Francisco,bem como o anterior,demonstram um sofrimento muito
consentâneo com esta realidade que se coloca diante deles,pela primeira
vez.Antes a questão era saber se o Papa é um político ou pastor,ou os dois(o que
acaba sendo).Hoje a situação se tornou
mais dramática,porque fica claro dos
documentários ,que uma atitude ou outra não vai ser suficiente,porque o Chefe da Igreja vai ter que admitir a natureza má do homem,corruptível,
e criar mecanismos não de convencimento e persuasão,como normalmente a
teologia cristã defende,acreditando ser
possível reconduzir a ovelha desgarrada
ao regaço divino,substituindo esta confiança pelo ato de exclusão e punição.
É fácil
excomungar um comunista.Comunistas são poucos dentro da igreja.Mas é difícil achar
na conduta do católico uma natureza
humana corruptível.Não vai adiantar o Papa
dizer que uma coisa é pecado
,outra a corrupção.Corrupção não é
pecado?Este pecado não é passível de excomunhão?Claro que é,mas além de
isto,a corrupção,estar fortemente
presente na natureza do católico,ela demonstra
que não é possível separar a condição do católico,que não peca, do homem que se
corrompe.Esta separação,escolástica,serve,inclusive,de anteparo e
proteção para estas atividades
criminosas de pessoas comuns e de
batina que cercam o Papa.Não é toa que a máfia sempre procurou a Igreja.
É só esta a
explicação para que este Papa,que demonstra preocupação com estes problemas,não
entregue pedófilos da Igreja para os países
em que aturam,puni-los.Esta é a única
explicação de porque a Igreja se
manifesta politicamente,mas exige,num segundo momento respeito a ela,como mundo
à parte e de pureza.
Mas não tem
saída,o Papa vai ter que unir ao pecado o símbolo atual da mundanidade,a
corrupção,criando as condições para uma laicização de proporções mundiais,conforme a força da
Igreja,transformando este momento num momento crucial(crucial vem de cruz...).
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