De tempos em tempos,ciclotimicamente,há uma cristalização
na mídia(principalmente rede globo)em que o drama da crise nacional clama po
soluções.Estamos diante de um momento destes. Diversas afiliadas da rede citada
começam a falar em documentários e em
histórias de pessoas que largaram o banditismo para se tornarem pessoas de bem.
Tudo muito bonito,mas eu já vi este filme,que mais
parece uma reinterpretação dos antigos chás de caridade,no sentido mais
elaborado de marcar a posição social de televisões que têm muita
responsabilidade no que de ruim acontece no Brasil e que passam por “ entidades
sociais e filantrópicas”,culpando só os governos.Isto sem falar na promoção da
mídia,quel he rende mais dividendos econômicos e financeiros.
A sociedade e a nação são problemas complexos que
só terão um encaminhamento seguro quando as causas e fundamentos dos seus problemas
forem identificados.
De nada adianta mostrar um caso de sucesso quando
outros tantos de insucesso são gestados de hora em hora(a coisa piora).
Tiradas de cena,as revoluções mundiais só causaram
mais quiproquós e então nós temos que partir das nações ,como questão
filosófica e científica.
Bolivar,no final trágico de sua carreira disse “ A
América Latina é ingovernável”.O que se deu historicamente para que o
libertador dissesse isto,foi que as elites latino-americanas(inclusive a
nossa)não incorporaram o seu projeto grandioso(demais)de nações republicanas
por um ideal comum.
Quando as elites “ criollas”,autóctones ,viram que
era melhor cuidar de seus interesses regionais fizeram nascer estes países
pobres que aí estão.Estas elites não têm projeto coletivo,mas os seus projetos,dissociados
dos interesses do povo.
Certa feita ouvi de um professor,não muito bom de
história,mas de introdução ao direito,dizer que o Brasil era o único país do
mundo cuja independência tinha sido feita
por um estrangeiro,mas não foi bem assim:foi feita pelo colonizador e sem objetivo real de independência,mas de
fazer uma monarqia dual(talvez)Brasil-Portugal,com hegemonia deste último,ou
seja,mantendo tudo como dantes no quartel de abrantes.
A verdadeira independência começou(repito:”
começou”)em 1831 ,como explicou outro professor mais antenado,na abdicação
,fato que jogou por terra aquele projeto e iniciou a derrocada de mais de 100
anos do império português.
De qualquer forma isto tudo mostra que,se as
nações são o nosso campo de luta ,nós precisamos entender a sua mecânica,os
seus fundamentos e causas de seus desvios para colocá-las no devido lugar e
isto ter as consequencias coletivas gerais que pedimos e precisamos.
A miséria da AL começa naqueles fatos citados e a
nossa miséria brasileira,na Independência e no modo como a abolição se
realizou.
O que dá condição a quem quer que seja ,de entender
estas causas e fundamentos são os saberes eruditos,a filosofia, a sociologia,que
alguns papanatas de facebook,usando poesia menor de Carlos Drummond de Andrade ,consideram
de somenos importância e até obstáculos ao processo de solução da crise moral e
social em que sempre estivemos.
Todo mundo sabe que uma das razões de nosso atraso
cultural é porque Portugal não colocou escolas desde sempre na colônia
brasileira.
Este tipo de desconfiança da criançada brasileira
quanto aos saberes eruditos,que eu propago aqui,sem medo,reproduz o esquema
colonial.Mal sabem eles que são os escravinhos do nosso tempo,os fantoches da
burguesia brasileira.
As elites brasileiras,como as da América Latina,pelas
razões aludidas,não têm projeto nacional.Um burguês estadunidense,como
Guggenheim ,sabe que o crescimento de seu país é o dele,então constrói
empreendimentos culturais nacionais,como seu museu.É verdade que muitos destes
projetos,como as Universidades de Harvard e Yale são para as classes altas,mas
num processo de mudança ,em que estas escolas se tornassem públicas, o nível cultural e de produção acadêmica poderia passar para
os estratos menos favorecidos facilmente e tal projeto consta do movimento
negro americano.
O que vamos oferecer ao povo,com poucas escolas
dedicadas à pequena alta burguesia brasileira,em cujas salas de aula não é transmitido
um projeto de nação,mas um hedonismo,que o povo brasileiro ,pobre,imita?Sim,se
o Eike Baptista expõe um cadillac rosa na sua sala de estar,porque o povão não
pode botar cordão de ouro e só se preocupar com balada?
Eu já disse em outro artigo “Os sinais da História”,que
a aristocracia britânica soube identificar os sinais de dissensão nas classes
baixas e soube negociar.A aristocracia francesa soube?O que aconteceu com ela?
Cuidado com os sinais da História.
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