A primeira coisa que Guevara fez no inicio da Revolução Cubana foi
o mesmo que Bolsonaro,nosso Presidente,quer fazer agora:jogar fora
quem pensa com liberdade.
Os meus objetivos aqui ,como pesquisador,eu já expus inúmeras vezes
,e o seu fundamento filosófico faço questão de frisar
novamente:Nietzsche temia que os alemães tivessem parado de pensar e
vaticinava que isto os levaria ao caos,como a História confirmou.
Povos que não se dão o direito de pensar livremente,sem outras
preocupações que não a busca da verdade,se condenam a atrozes
problemas,de dificil reversão.
O Brasil,assim como outros povos ,se caracteriza por uma ojeriza aos
intelectuais,até certo ponto justificada.Mas não há como progredir
sem o trabalho profissional dos intelectuais.
O intelectual brasileiro(inclusive o comunista)é ibérico.Não gosta
do povo(inclusive o marxista).Ele é elitista(o marxista também).Não
gosta de esporte,muito raramente de praia.Então não interage com o
mundo real.Os professores de filosofia então excedem!Mas eles não
dizem aos alunos que filósofos gregos tinham o hábito de praticar
esportes;que Platão tinha o corpo de Schwarzenegger;que Descartes
vivia nas tabernas.Sem falar em Demócrito que não separava o
pensamento da vida.Na minha opinião foi por isto que o Brasil não
se tornou um país olimpico em 1996:o modelo brasileiro é como o dos
Estados Unidos,unindo o esporte com as universidades,mas aqui os
intelectuais não deixaram.
O intelectuais ,desde os gregos,oscilam entre o discurso de
poder(ideologia[falsa consciência])e o trabalho profissional.O
primeiro é ilegítimo porque serve a um propósito claro de
poder,geralmente de um grupo e não de todos.O segundo é legítimo
enquanto traz verdades e conhecimentos úteis que ajudam no progresso
cultural e material(embora esta distinção[espiritual/material] não
seja muita...).
Mas a minha preocupação maior é aquela que coloquei acima:um povo
que não pensa é presa dos totalitarismos.Os alemães,que não
ouviram Nietzsche,só começaram a pensar de novo quando a vaca tinha
ido para o brejo em 1945.Para depois voltarem a não pensar na
Guerra-Fria...
Há uma corrente de pensamento que entende que os povos bem sucedidos
,economicamente,como o dos países nórdicos,só o conseguiram porque
abandonaram a competição cultural para atingir um sucesso
individual a todo o custo,passando por cima do povo em geral.De novo
digo:isto é parcialmente verdade.O discurso de poder,a competição
desenfreada impede o progresso social.Aliás esta é uma das razões
porque não acredito que o mercado,por si só,extremamente
competitivo e excludente,seja capaz de garantir o progresso
social,havendo necessidade de um controle social.Por isto ainda sou “
socialista”,num sentido amplo desta palavra.
Contudo, o trabalho intelectual legitimo,autêntico,referenciado à
sua aldeia, cumpre este papel sem fomentar uma ideologia do
sucesso,que iguala bons livros(?) com bundas bonitas(será?).
As necessidades econômicas têm prioridade sempre(isso é o que
ficou do marxismo),na vida social,mas prioridade não é ruptura com
os direitos de manifestação,produção cultural.
De outro lado também há um erro terrível do Presidente e uma
revelação de sua personalidade(segredo de Polichinelo),quanto ao
preconceito em relação ao intelectual( o mesmo que Guevara
tinha):todo professor de filosofia e produtor de cultura é um
militante.
Até certo ponto acho justas as mudanças na Lei Rouanet:porque não
abrir possibilidades para conceder ajuda financeira para pessoas
comuns?Existem sim artistas que ganham uma bilheteria enorme e esta
ajuda.Se todo cidadão está submetido à leis do mercado porque só
artistas consagrados precisam de mais ajuda?Assiste uma certa razão
ao barata tonta Lobão quando faz críticas aos medalhões da MPB,mas
isto vale para outros setores:quando o nicho de mercado se estabelece
não há mais chance de mudar ,de buscar valores mais atuais para
expressar,porque o mainstream entende ser ela um perigo para os
ganhos.Ainda me lembro da luta de uma década de Erasmo Carlos para
sair da Jovem Guarda e mudar o seu estilo.Esta análise eu faço
também com relação a Amy Winehouse ,que morreu porque não soube
dizer a este mainstream que ela não existia para ganhar dinheiro
para ele,mas para produzir arte.
Estas contradições são abordadas de idêntica forma por
autoritários de um lado e de outro.Estas últimas afirmações do
Capitão confirmam a minha tese de que,no fundo eles são
iguais,ele(não)e Guevara.
Em 1962,com o poder sobre a cultura,Guevara mudou os
curriculuns,suprimindo as disciplinas sociais(John Lee Anderson)em
favor das “úteis”.Isto me lembra o critério nazista de “
essencial” para o trabalho,que excluia dos guetos professores de
literatura;isto me lembra como Stalin obrigou Shostakovitch a lavar
carro e Brejnev,a Brodsky carregar esterco com carrinho de mão.E
Marx também no segundo volume de O Capital em que põe ao lado do
professor a prostituta,como trabalhadores improdutivos.É tudo
animal.
A coisa tá feia.