quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Marighella III

 

Ainda não tive tempo de achar uma brecha no meu ritmo de trabalho diário para assistir a este filme,mas,repito,com base em toda a minha experiência de vida acompanhando este episódio,inclusive em casa,posso sim emitir mais opiniões sobre a figura central do filme e o filme em si,com o todo seu significado atual:estamos diante da continuação da polarização que vem destruindo o Brasil,como destruiu outros países.

Tenho dito que a esquerda tem que se renovar,reconhecer os erros,mas como sempre ,insiste em enveredar pelos caminhos errados e tortuosos do passado.Há uma explicação complexa e psicológica para isto,mas eu vou tratar disto em outro artigo.Neste,alguns insights se apresentam,mas o que quero ressaltar é outra coisa.

O que me impressiona é que na hora H ,mesmo aquela esquerda que acertadamente considerou a atitude de Marighella como um erro histórico,que só ajudou a justificar a continuidade da ditadura,fique quietinha ,por um pragmatismo canhestro ,segundo o qual não é mau que um comunista(qualquer que seja ele)fique na crista da onda.

Este pragmatismo é uma das razões históricas do fracasso do movimento e que revela ,no final,o tipo de pessoa que o integrou e o fez:o oportunista universal.

Desde as dissensões entre China e URSS eu ouvia que no final estavam todos no mesmo barco,o que não era verdade(Ou seja :mentira).

Nunca,para um comunista,as questões de discernimento ou de valores,ou de adequação com a realidade,têm mais importância do que a prática de tomar o poder do estado,passar por cima dos outros e fundar a utopia finalmente.

Nem os comunistas italianos escapam deste pragamatismo boçal.

Só eu mantenho a necessidade de criticar e repudiar esta epifania em torno de Marighella.Não tem sentido,senão para fazer um culto à personalidade,que como o de Stálin,só visava esconder graves problemas(e crimes),produzir um filme que exalta um ato tresloucado que só forneceu a justificativa que a ditadura precisava para permanecer mais tempo.Mais do que isto este perigo vermelho que nunca existiu, passa a ser usado para conluios entre a pior burguesia e os órgãos de repressão,na operação bandeirantes por exemplo, e para matar,como pontuava Ferreira Gullar,pessoas ,comunistas,cidadãos inocentes que tinham uma visão diferente destes radicais.

Nâo há razão nenhuma para agora jogar para debaixo do tapete estas idiotices e criar um culto em torno de Marighella.

A esquerda,ao invés de propor soluções para o Brasil,se utiliza de certos dados de sua biografia,bem como da de outros radicais, para criar uma imagem que encobre o seu desinteresse em relação ao nosso país e os seus erros do passado e do presente:porque Marighella sentou-se ao meio-fio e chorou por ter sido enganado por Stalin fica provado o seu anti-estalinismo.Contudo,como óbvio,não é suficiente garantir a saída do stalinismo por algumas lágrimas.O radicalismo de Marighella É stalinismo sim,É falta de espirito democrático e o filme em questão é parte do(seu) culto à personalidade.


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