sábado, 4 de dezembro de 2021

O nacionalismo de Bolsonaro

 

Freud teria chamado o que Bolsonaro disse sobre o enem como ato falho,mas que expressa,como todo ato falho,uma verdade que se quer esconder.

O enem não tem que ter a “ cara do governo”,mas a da nação.O pensamento totalitário do Presidente(como de outros também )sempre identifica a si mesmo com o real todo,no caso da direita aí ,o Brasil,a nação toda.

Nada do que é comum à república e à nação pode ser aparelhado por um partido.Ao aparelhamento do chamado “ trabalhador organizado” da esquerda e do PT não deve corresponder o mesmo por parte de um governo que acha que a nação é dele.

O “raciocinio” é este:se tenho maioria no Brasil como cristão eu governo como tal,o que é absurdo.Muito embora no discurso,todo mundo se diga laico,na prática e nas mediações em que a midia não chega, estas identificações acontecem o tempo todo,a corroer o processo politico,em todas as suas instâncias.

Quero dizer:a republica, a conexão entre o cidadão e a coletividade,que deveria orientar a atividade individual simplesmente não existe,muito pelo contrário,se faz tudo para passar por cima dela e tratá-la como um bobo.
Mas é aí que está a causa de todos estes males que o Brasil enfrenta(e outros países similares).

Não é cara do governo,é a da pluralidade do país e esta firmação de Bolsonaro define como ele pensa a questão nacional.Já discuti isto,mas é sempre bom relembrar:se se tem a maioria então ela se impõe e o resto que espere a sua oportunidade,mas o Brasil,como qualquer nação,vai além das eleições,vai além dos partidos.

Parece um joguinho,parecido com o futebol,a politica no Brasil,mas com isto a sociedade perde o rumo e o sentido cada vez mais,em meio às disputas.

Um presidente da república deve sempre ensinar esta relação obrigatória que cada cidadão deve ter com este coletivo,mediatizado por normas,ainda que isto não o favoreça:quando um cidadão sai de sua missa,de seu culto e volta para o espaço público,seja para exercer um direito ou trabalhar,deve pensar sempre naquilo que é melhor para todos,ao menos tendencialmente.

A lei assegura que nada pode ser feito contra os valores inidividuais,as crenças e costumes,mas a definição desta proteção é muito difcil de fazer,porque os ódios e preconceitos não têm fundamento,regra geral.

Uma lei que permita casamento entre pessoas do mesmo sexo agride o costume católico,mas este,como tal, não é senão um conceito privado sobre o comportamento de outrem.Então ele não serve de base para a proibição da sua promulgação ou recusa.

Um caso mais recorrente e mais conhecido e que nos remete para a definição de laicismo é a da religião dos adventistas de sétimo dia que proibem transfusão de sangue.O que deve predominar?O principio republicano de que o estado deve preservar a todo o custo a vida ,ou o direito de não ser violentado na sua religião e morrer, se for o caso, por ela?

Pelos conceitos emitidos mais acima(supracitados)é lógico que a vida é axiologicamente prioritaria,mas se a consciência do adventista divergir,se instala uma divergência e esta priorização passa a ser vista pelo como uma imposição,quiçá uma ditadura.

Há uns dois anos ,em uma das eleições no Vasco da Gama certa candidata contou que um menino esportista,ainda dependente juridico dos pais,precisou amputar a perna para não morrer,ao que os pais não permitiram ,por razões estéticas ,causando o desenlace fatal.Não sei o que aconteceu com o menino,mas se morreu os pais devem processados e o estado deveria ter se imposto.

Mas não há ilusões da minha parte:não é só a direita ou a religião que pensam e agem assim,a esquerda tem este viés proto-religioso,a partir de outras justificativas.Ela também não compreende a nação,a conexão individual/coletivo e impõe um setor nacional como se fosse isto o trabalho de um governo.Só o trabalhador organizado e que se coloca sob sua hegemonia é prioritariamente representado,mais ainda porque comunga de ideologias e conceitos teóricos.

Mas não é só a cara do governo não.


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