quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Adeus Fascista

 

Na reta final da campanha eleitoral fiquei quietinho.Sabia que o meu viés crítico prejudicaria a eleição daquele que eu queria:Lula.Menos mal,a esquerda está de volta e o discurso da vitória de Lula foi alvissareiro.

O Brasil teve o dissabor de ter por quatro anos um nazista como seu presidente.É um desvio e um erro histórico,que eu analisarei depois.

Quero tratar agora do problema futuro do governo Lula:o seu significado histórico.

Ironias da História:Lula,que se recusou a ir ao colégio eleitoral,hoje tem a tarefa de completar a redemocratização,nos elementos que eu destaco aqui sempre,o da unidade do país,perdida com o governo Dilma.A esquerda de modo geral fala muito no nivel de consciência do povo brasileiro,assim em abstrato,mas  o fato é que o povo distinguiu a figura de Lula da de Dilma e isto representa uma compreensão bem evoluida dele,apesar de não se questionar o personalismo próprio de nosso país.

Mas não só a unidade do Brasil deve ser recuperada:nem pensar em tolerar corrupção.Agora o povo tem condições de pressionar um governante cuja responsabilidade histórica é imensa,não só no plano interno como no externo,para que contenha o processo de corrupção e esta discussão vicejará no plano nacional.

Além da unidade e como consequencia dela as oportunidades para um projeto nacional se apresentam bem mais claras.

Lula falou  en passent  no seu internacionalismo ,quando destacou que o PT ajudou o desenvolvimento de outros países.Há tempos vinha querendo aprofundar um conceito que eu emiti  em artigos passados:Lula sempre defendeu a ideia de que todos devem ser de classe média e Dilma criou as condições para que setores da classe média baixa e do operariado  ascendessem e tal é muito justo.

Acompanhei este processo de aceitação democrática do consumo,desde o inicio dos anos 90,quando surgiu o direito alternativo pelas ações de muitos juristas,como Paulo Goldracht.

Era e é injusto que as classes menos favorecidas  não pudessem consumir num nivel mais próximo das outras classes.

Este modelo é o quem vem da China.Há certos exageros ,pois alguns radicais afirmam que foi criada uma classe média igual  ao que existe em Nova York.Não é bem isto não.

O que se obteve na China e no tempo de Dilma foi  a criação de condições de consumo para certos setores mais pobres.Numa entrevista naquele periodo Carlos Augusto Montenegro argumentou o óbvio:o que guinda um setor de classe pobre para uma camada acima em definitivo não é o consumo,mas  emprego de alto nivel e tal só se consegue com educação.

Estou rememorando estas constatações para descortibnar que quando Lula faz esta afirmação de que todos devem ser de classe média,isto não está dado agora e que na verdade tal conceito o faz desconsiderar aquela classe média  firme ,estabelecida.

Ele pensa  que basta só ajudar aos mais pobres,mas que a classe média  não tem necessidade de um governo.

Segundo Skidmore em seu livro “De Getúlio a Castelo” uma das razões da queda do primeiro é que cometeu erro semelhante.

Ainda  que a classe média tenha condições de viver para si sem eventuais preocupações(o que não é bem verdade)desenvolvendo um certo indiferentismo que irrita outros setores,ela necessita sim de um governo e de outro modo ela sempre paga impostos,tributos que devem ser transferidos,em projetos e idéias sociais ,para as camadas subalternas.

Certa vez ,e em entrevista na TV Senado, o ex-deputado Luiz Henrique Lima se referiu a um conceito marxista que normalmente é aplicável ao operariado,mas que serve também para a classe média:da classe em si para para-si,segundo Hegel.Lima cita as figuras de Ulysses e Tancredo  como representantes de uma classe média  que adquiriu finalmente a sua auto-consciência,que não é só objetiva,mas subjetiva,quando defende os principios republicanos de uma sociedade moderna:austeridade,respeito à lei,valores democráticos e interlocução com outros grupos sociais.

Em cada época ou lugar a classe média pode ser assim,como pode não ser.Pode ser extremamente revolucionária,como já o foi um dia  e extremamente reacionária.Depende da politica,depende de setores democráticos lutarem para trazerem esta classe para seu lado.Depende de época e lugar.

As sociedades que conseguiram progredir num periodo relativamente rápido de tempo são homogêneas e isto só se obtém se houver no minimo união entre estas classes,média e operária.

Não ficou claro no discurso da vitória se Lula mudará seu pensamento,mas os seus governos passados pelo menos não tiveram o caráter divisionista de Dilma,uma pessoa mais radical.Vamos torcer para  que ele aprofunde estes conceitos equilibrando mais as classes.

Mas ninguém se iluda quanto ao problema da redemocratização:não tem  jeito,uma das tarefas,senão a tarefa  dos proximos quatro anos é diluir esta direita para sempre,de novo.

Eu gostava de citar sempre Tancredo,que dizia que o Brasil não tinha direita:agora tem.Mas tem que não ter outra vez e só se vai chegar a este objetivo se a classe média e o brasileiro descolarem dela.

Há um equivoco nas análises sobre os eleitores de Bolsonnaro:o povo brasileiro não é de direita,mas se ele identifica um perigo simile ao vermelho ,ele opta por estes monstros neonazistas.Sem a polarização o povo brasileiro fica como é,de centro e basta levá-lo para a questão social.

Se Lula governar como de centro ele tem grande chance de superar de vez 64.

O problema é que muitos entendem que a punição dos criminosos da ditadura é algo inegociável,mas ainda que este problema continue ,de alguma forma,era preciso separá-lo dos problemas nacionais.

A forma de fazê-lo é ter um programa,é trazer já o futuro para o presente,de modo a desmontar a direita,que sem um espantalho não existe.

 

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