sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Reinvindico reconhecimento,mas não obrigo


Ao dizer,artigos atrás,no espirito de Nietzsche,que há que separar o pensamento da política,quis expressar a preocupação do filósofo quanto aos alemães,de que esta associação levaria,como levou,a enormes cataclismos em seu país e na Europa.Uma das condições da cidadania,que serve de anteparo a qualquer intenção de intolerância,é a liberdade de pensamento.Pensar sem nenhuma preocupação que não seja esta:pensar.
A minha proposta aqui ,para a qual reinvindico reconhecimento,é fazer esta separação,ligando o pensar à sua liberdade.Gerardo Mello Mourão,de direita,mas corretamente,afirmava que “ só o pensamento puro[livre,digo eu])constrói a história,constrói sentido”.
O vaticínio de Nietzsche  para a Alemanha unificada pode ser o do Brasil,se estas verdades não forem reconhecidos.
Dentro ,no entanto,do espirito de liberdade,não tenciono obrigar ninguém a me reconhecer,mas se houver contato, o crédito das idéias tem que ser exposto e o meu nome tem que se constituir.Não há justificativa para não me reconhecer,alegando que eu tenho que fazer o meu próprio nome,porque aqui ,no Brasil,como na Alemanha,só se faz o nome se se condicionar a sua liberdade a um esquema de poder e eu não farei isto e preconizo que o povo brasileiro manifeste,como eu,o seu pensamento,o seu protesto,sem se ater a um esquema de poder limitador,mas a partir da sua condição de cidadão,que vota e paga impostos,sendo estas duas coisas,mais o esforço de trabalho,as bases da intelecção livre e produtiva.
Como diz o Presidente Bolsonnaro,citando a Biblia,” Conhceis a verdade e ela vos libertará”.” Só a verdade é revolucionária” dizia Gramsci.Só há progresso dizendo a verdade e esta só é dita com plena liberdade.Se você se limita,por um interesse,como construir progresso?      O cidadão se tornará um mero reprodutor de poder.
Não me importa ter um nome pelo nome,pois qualquer ator de malhação tem mais do que eu,mas para jogar um papel efetivo no processo politico e cultural do Brasil.É ter um nome,por causa de um conteúdo útil e em nome de uma colaboração em relação ao Brasil e à humanidade,no intuito do progresso,material e cultural, destas duas instâncias.
E se quero manter a coerência ,em direção e a partir da liberdade,não obrigo ninguém a me acompanhar,mas se alguém o fizer,tem que me reconhecer.Senão é deslealdade,covardia e deslealdade.

domingo, 6 de janeiro de 2019

Dois artigos da Folha de São Paulo dentro do contexto de feminícidio


Neste domingo de Reis,a Folha de São Paulo publicou dois artigos sobre abuso sexual de crianças e a leitura deles me ajuda a explicar porque o método científico tradicional,dedutivo racional(aristotélico)não serve mais ao estudo dos problemas sociais humanos,coisa que eu tenho aplicado ao marxismo,para mostrar-lhe as insuficiências e vícios de origem.
É uma datação da metafisica tradicional considerar suficiente para obtenção do conhecimento formar padrões.A natureza do feminicidio,segundo padrões racionais e científicos,que fundam o seu caráter delituoso,é ser um  ataque destrutivo,fatal contra a mulher,pela sua condição de gênero.
Isto apresenta duas consequências:a condição da mulher como um todo se vê  ameaçada por um tipo de comportamento anti-social;e esta ameaça provém do outro gênero ,o masculino.
Tanto no caso do feminicidio como no dos crimes homofóbicos a maior crítica(inclusive neste último caso, da religião)é que não há  suporte fático para criação de uma norma,porque protege não a sociedade,mas um setor dela,o  gênero ,ferindo o princípio humanitário da universalidade da norma.O crime de homofobia não existiria,porque já existe o homicídio,não havendo razão para uma sua especificação,a privilegiar o movimento lgbt.
Igualmente o feminicidio seria uma ruptura desta universalidade(contra o espirito do direito),porque privilegia a mulher,o gênero feminino.
Devo dizer antes de mais nada que eu concordo com esta crítica,porque o rompimento da universalidade cria a falsa impressão de que a mulher é   sempre  o bem e o homem o  mal .
A separação transcendental(tomista e católica medieval)que distingue absolutamente o bem e o mal foi superada no plano das idéias(já que no real nunca houve),  a partir de Kant(seguindo a reforma protestante),no seu livro tão citado por mim “ A religião nos limites da simples razão”,no qual o autor diz  “o mal radica  na humanidade “.Isto é ,o homem contém em si o bem e o mal e luta para fazer predominar o bem.
A experiência humana é continua,não sofre rupturas.O perigo destas conceituações jurídicas é induzir a esta separação esdrúxula e favorecer uma vitimização muito conveniente para  interesses politico-eleitorais.Mas o direito não pode ficar ao sabor da ventania política eventual,sob pena de perder legitimidade.
No fundo os crimes de homofobia e feminicio são homicídios qualificados.Bastava qualifica-los no afã de maior punição.Criar uma forma de crime deste jaez é fazer uma ficção,uma idealização,que rompe perigosamente com o necessário liame social.
O que o movimento lgbti e o feminista precisam entender é que isto só aparentemente resolve o problema.Ele o  adia mas cria ressentimentos,na medida em que certos setores sociais são destacados na sua proteção social e jurídica.E outros não.
Porque não fazer o mesmo com crimes cometidos contra negros ou contra pobres ou mendigos(inter.).Há criminosos que se especializam no dolo contra estas pessoas.Por que não(inter.).
Da mesma forma que a esquerda acusa a direita de criminalizar os movimentos sociais ela própria age do mesmo modo,com uma estrutura de argumentação idêntica.
Estes crimes marcam o fracasso do judiciário em reprimir e evitar os homicídios e,na verdade,legitima a sua falta de intenção quanto a tratar disto.E o fato de reconhecer estas formas especificas de crime não me parece o meio de voltar a considerar o homicídio como um problema social.O retorno da questão é social é iniciativa de quem se preocupa com ela:a esquerda.
A base filosófica e científica destes quiproquós é só usar o método racional:formaram-se padrões de violência contra a mulher(bem como contra o lgbti),isto é suficiente para criar uma lei,uma norma.
Mas o lgbti não comete crime?.A mulher não comete também?.A resposta do feminismo é que a quantidade maior de crimes sexuais é praticada por homens,incluindo abusos de crianças,meninas.
Quando uma mulher comete um crime não é uma questão de gênero,mas de pessoa.Quando uma criança comete crime também.E eu acho isto justo,mas não se pode deixar de fazer uma eventual relação com o mal ,com o anti-social,nestes casos.Ainda que não se forme um padrão a existência do fato é inegável.
Ao lado da dedução racional,dos padrões ,a descrição e  compreensão sociológicas e psico-sociológicas,a indução,têm lugar,numa relação ,dir-se-ia,dialética,absolutamente necessária.
A dedução racional,abstrata, vem da análise da natureza. A manipulação da natureza,a indução,se dá pela experimentação laboratorial,pelo labor científico (Hannah Arendt).Tendo como objeto a sociedade,a cultura,ela não é,no entanto,suficiente para descrever e compreender a infinidade de fenômenos singulares,presente nela.
Gosto sempre de citar o exemplo clássico de Durkheim sobre o suicídio: a sociologia explica a razão de uma onda de suicídios ,mas não alcança eventuais motivações,mas elas existem e devem ser consideradas na abordagem social e politica ,no intuito de sua profilaxia e no interesse de evitar o uso politico  destes fenômenos trágicos.
Se é verdade que é mais raro a mulher praticar abuso,o fato existe e precisa ser considerado.Não há como se diabolizar o homem e sacralizar a mulher,dentro destes pródromos,mas parece que esta é a intenção.
Como é que fica aquele irmão menor da Isabela Nardoni,cuja mãe matou a irmãzinha?Como fica o irmão de Suzane von Richthofen que se desestruturou diante de um crime do qual não participou?

sábado, 5 de janeiro de 2019

Bolsonnaro é mais Lacerda do que Collor.


Muita gente erradamente está fazendo uma comparação entre Bolsonnaro e Collor,mas quem acompanha a política sabe que a origem do Presidente é diferente.Ele vem mesmo diretamente dos problemas que geraram 64 e pretende recuar no tempo para fazer valer aqueles objetivos.
Do episódio de Herzog até ao Riocentro,passando por Manuel Fiel Filho,a postura resistente da ditadura militar se dá exatamente na suposta necessidade de lutar pelas conquistas do regime militar ou até ampliá-las.
Bosonnaro foi colocado para resistir ao eventual revanchismo da esquerda e como a esquerda não parou de exigir reparações,ele cresceu,como eu já expliquei,no contexto  da polarização e dos erros provocados por ela.
Não voltarei a isto,mas é importante lembrar,porque não só esta conjuntura permanece,como se aprofunda,agora já com a  direita,no poder.
A polarização aumentará na medida em que  uma identificação canhestra da direita com a tradição nacional crista católica,intentará a superação daquilo que ela considera uma ameaça:o comunismo.
Desde a guerra-fria,que começou com  a revolução russa,ambos os lados,direita e esquerda,criam bichos-papão para obter vantagens.Não se trata mais de ter idéias,mas de defender algum projeto salvacionista.Agora é   vez da direita criar o seu para assustar meninos que fazem pipi na cama...
Quando o Presidente se referiu a acabar com o socialismo é exatamente neste contexto  que a afirmação deve ser entendida:não tem significado nenhum o que ele disse,é só uma ameaça.Mas isto não implica em não haver um objetivo real.O que eu quero dizer  é que a expressão socialismo coopta mais pessoas,pela sua generalidade e pelo caráter fanático das pessoas a quem este discurso é endereçado.Mas o objetivo é ,e aí é que eu digo que a semelhança dele é com Lacerda ,se possível,destruir o esquema petista,que,de seu lado,deriva integralmente de Getúlio Vargas.
Vargas criou um sistema de aparente parceria entre a classe industrial burguesa moderna e os operários,que,de fato,mantinha o controle destes últimos.Só que Vargas tinha um projeto nacional/nacionalista,que admitia a ascensão dos operários,através dos sindicatos.Esta tendência era do seu tempo e vinha,também,  do fascismo.Mas ele sabia que a organização sindical ,embora controlada de cima,teria condições,no futuro,de ,por ela própria,formar um governo.
Daí surgiu a  idéia da “ República sindical”,que aterrorizava os setores tradicionais do Brasil em 64 e que baseava os discursos de Lacerda.Esta “ República “ era semelhante ao que se dava na Argentina de Perón e muitos anos depois,a campanha de Margareth Thatcher se viu vitoriosa com o tema da luta contra a  “ditadura dos sindicatos” no reino Unido.Uma linha une estes movimentos de direita e batem agora na nossa pátria tropical.
O PT não é socialista,nem comunista:ele é um seguidor(por falta de proposta e programa)desta estrutura  varguista que ele herdou em 79.Mas ,a partir da era Vargas,e por força do discurso,entre outros ,de Lacerda, a crítica ao sindicalismo passa obrigatoriamente pela crítica ao comunismo,já que o trabalhismo e o comunismo se uniram,não de uma maneira orgânica.
Os militantes do PT associam a  figura de Lula  à de Getúlio e isto é parcialmente verdade,como eu expliquei.No entanto,o que a motiva  é evitar a diluição histórica da figura de Lula,que não foi senão um continuador pálido de uma tradição de esquerda que já devia ter sido sepultada.
Politica de esquerda ,para mim,é aquela que se identifica  com a razão emancipatória:não se trata de eleger um político(qualquer um) para fazer alguma coisa(tirar da cartola)e depois chantagear o eleitor.A estrutura vanguardista da política de esquerda,seja do trabalhismo ou do PT não emancipa o trabalhador,mas o mantém com medidas pontuais de beneficio parcial,sob controle politico-eleitoral.
A minha posição já coloquei aqui inúmeras vezes:não sou contra ir além da Era Vargas,mas este movimento tem que ser a partir dela,não contra ela.
Lacerda ,Witzel(que citou Lacerda na posse) e Bolsonnaro se ligam,pelo liberalismo da economia de mercado a este  escopo destrutivo do sindicalismo,já em curso,com a extinção da justiça do trabalho.
No seu “ depoimento” histórico, Lacerda justificou a sua sanha golpista(que acabou por tragá-lo)alegando que as eleições no Brasil,após a construção do modelo varguista,eram “ viciadas” pela “ máquina do sindicalismo”.Assim ele justificou o golpe contra Getúlio em 1950;assim ele justificou o golpe em 64 contra Jango e assim querem os atuais donos do poder no Brasil justificar a sua predação.
Ao ler artigos como o de Vladimir Safatle sobre a não negociação com Bolsonnaro,fico preocupado que neste embate o problema real do Brasil,a emancipação do cidadão(trabalhador,operário,classe média),seja deixado de lado,em vista de interesses exclusivistas.
A discussão não é entre o esquema varguista-petista ou a economia de mercado,é a emancipação da cidadania,então a pura confrontação só ajudará a direita.A tarefa da esquerda é reforçar as instituições nacionais e garantir(pela negociação)a sua continuidade ,de modo a prosseguir no progresso político do Brasil.Ainda que algumas cláusulas sejam inegociáveis,se a confrontação vier, a direita,como nunca(nem na época de Lacerda)terá condições de desmontar este “ esquema comunista”,mas quem perderá é o Brasil,porque recuará quase ao nível da República Velha.