quarta-feira, 28 de abril de 2021

Cientista não pode sucumbir à politica

 

Se as noticias sobre a anvisa estiverem certas a situação fica pior ainda:se os cientistas estão rejeitando a vacina sputnik ,usada no mundo todo,por causa da pressão politica ou por decisão própria de participar dela ,o principío ético de toda a atividade de conhecimento fica derribado.

Foi Platão quem extrapolou os objetivos de todo o trabalho intelectual,fazendo dele um modelo de comportamento totalitário das cidades e sociedades.

O trabalho intelectual ,como qualquer outro,deve oferecer verdades para as sociedades crescerem e melhorarem,como é o escopo de qualquer trabalho honesto.

O intelectual já é obrigado a ter em mente esta limitação quando elabora os seus discursos,mas o cientista mais ainda,porque o cientista não pode falar daquilo que ele não provou.O intelectual deve ser assim também ,mas ele tem normalmente o beneficio da teoria:muitas vezes elabora teorias que causam impacto,têm influência na politica e no poder,mas são desmentidas depois e/ ou causam destruição mais do que benesses.

Quando um cientista ,no entanto,não consegue provar a sua hipotese ou teoria, ele não só se frustra ,mas perde um caminho de poder,de dinheiro e de prestigio e não raro sofre com ridicularização ou perde aquilo que conquistou na vida.

Aqueles que conhecem o meu trabalho aqui e o acompanham,sabem que nem como teórico eu me coloco:sou um pesquisador que faz uma investigação e procura descobrir pedrinhas,coisas novas,por pequenas que sejam.Sou,para usar um chavão,um garimpeiro do conhecimento.

Há outras formas,métodos,de se diminuir o desejo de fazer teorias que ganham fama,mas que não são provadas,mas o meu caminho é este aí.

Para evitar que o cientista se frustre e ultrapasse limites éticos,como parece ocorrer com a anvisa,eu propus sempre uma ideia que provém de um antigo epistemólogo francês da década de 70:Monod.Monod propôs um conceito: “ filosofia expontânea dos cientistas”.

Diante da frustração do cientista,sendo ele munido de capacidade intelectual,está apto,pelo menos,a transformar o seu esforço em algo útil.Até mesmo o seu fracasso,se analisado,tem como apontar caminhos de solução(para os outros).

Quando eu era professor eu dizia aos alunos que confiava tanto na educação,por causa deste fato:até da derrota se tiram lições.Clausewitz e Maquiavel ficaram famosos por transformar derrotas pessoais e profissionais em educação e construiram os seus nomes a partir daí.

Não sei se a motivação da anvisa é esta frustração.Acredito que indiretamente o seja,mas diretamente não.Se não for uma pressão o significado pode ser variado:necessidade de afirmação diante da pressão política;análise estratégica geral ,que procura afastar os russos do Brasil(e por tabela a Venezuela,apoiada pela Rússia).De qualquer modo se não há razão de rejeição da vacina,é anti-ético.


sábado, 24 de abril de 2021

Eu também fiz o meu DNA

 

O meu DNA indicou várias coisas:que eu tive antepassados paupérrimos e ricos;boa gente e salafrários;homens e mulheres.Mas num determinado momento alguém parece ter cumprido um papel desabonador num navio que não se sabe bem se ajudava no tráfico negreiro,se atuava na pirataria ou outra tentativa de sobreviver qualquer.

Ainda bem que um dos conceitos do estado de direito moderno,que acabou com as penas infamantes(como aquela imposta ao Tiradentes,cujo “ aniversário” comemoramos nesta última semana),dá conta de que a culpa do sujeito(de direitos)não se transmite pelo sangue ou por gerações.

O esforço do nosso movimento negro( e o de todos os lugares)de demonstrar responsabilidades de gerações passadas,de governos passados e de nações que ainda estão aí no tráfico negreiro,é muito legitimo.

Mas do modo como está sendo conduzido causa uma imensa confusão juridica e axiológica na cabeça das pessoas,as quais vão pensar justamente que os descendentes dos escravizadores são culpados do sofrimento dos escravos e devem pagar pelo que fizeram.Ledo e perigoso engano.

O objetivo do movimento negro é de obter reparações,mas do ponto de vista juridico, crimes cometidos num passado tão distante assim não têm como gerar fundamentos para esta reparação.

No caso dos judeus da Alemanha e da Europa,sim,porque os judeus foram admitidos naqueles países e depois ,por um ato ilegal de um governo ditatorial(por definição impositivo e ilegitimo)tiveram seus direitos(no minimo)ceifados.

Ainda que o alemão inocente(maioria?)possa reclamar desta reparação,por eventualmente depauperar o (seu)estado para favorecer outra nação,outro povo,o fundamento é seguro.

No caso dos negros e dos indios o fundamento é axiológico:é um principio de justiça,que um estado bem administrado tem como reparar.

Ma se isto é verdade e lógico,porque não ajudar os pobres de hoje que continuam como tal,por causa da exploração sobre seus antepassados?Porque não identificar pessoas brancas que foram injustiçadas em processos politicos(e juridicos) do passado?

O caso das reparações aos negros ou indios é mais de axiologia,de ética e moral, do que necessariamente de direito,no sentido juridico deste termo.

Pais e Filhos

 

Da inveja

É uma grande hipocrisia imaginar a família como um lugar ideal,permeado só de felicidade.Geralmente quando alguém alcança uma certa felicidade(uma certa felicidade)acha que o seu modelo,o seu “ método” ,serve para a humanidade.Faz parte do delirio da alegria se inflar e se sentir o modelo do mundo.Nós perdoamos.

Mas como os antigos analistas da politica,Aristóteles e Platão,mostraram,em se tratando de humanidade não há modelo completo e definitivo de conduta:alguns conceitos permanecem e se juntam,mas modelo até hoje,definitivo,não há.

Assim também ocorre com a família:Tolstoi em “Ana Karenina” define bem isto,dizendo logo na primeira frase de seu extraordinário romance(que eu quero analisar no meu blog),que “todas as famílias felizes o são por igual.Mas as infelizes o são a seu modo”.

A infelicidade,no entanto,obedece a padrões e a principios que são muito recorrentes.Um deles ocorre no fundamento mesmo das famílias:o casamento.

Muita gente se casa pressionada por motivos externos ,os mais variados,mas de modo geral a pressão dos pais avulta.

A partir desta pressão, famílias disfuncionais se formam:estas se caracterizam por possuirem pais que não desejam exercer os papéis próprios da família,uma vez que se sentem “obrigados” ou acham que foram “ obrigados” a constituí-la.

Mas pior do que isto há um elemento destrutivo e desagregador que nasce desta distorção geral:a inveja.

Os pais acabam por desenvolver um sentimento de inveja em relação aos filhos:eles (os pais)se tornam “ prisioneiros” da familia e dos filhos e a tendência é que decaiam,fundamentalmente no plano sexual,enquanto que os filhos se encaminham para o apogeu.

Variadas formas de mais ou menos harmonizar este imbroglio ou desatar este nó aparecem:dar dinheiro aos filhos para que eles não nos aborreçam;inventar que eles são extraordinários e têm tudo na mão para que não nos chateiem;dar liberdade sem trava para que...não nos chateiem.

Mas todas estas formas de abandono psicológico podem ser acrescidas de manifestações de crueldade moral e fisica,tornando os filhos objeto de sadismo,onde despontam cárcere privado e escravidão ou...algo pior:eliminação pura e simples.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Análise de conjuntura

 

O temor

O temor que sinto é que diante das circunstâncias este governo se prolongue para um segundo mandato.Senão vejamos:o centro por natureza não tem elementos de personalismo e ideias vigorosas.O centro é sutil e exige mais tempo para que suas ideias peguem no breu da popularidade,entre o povo.Além do mais não é sua característica interagir com este desejo de personalismo que o povo brasileiro,lamentavelmente,sempre segue,nos momentos eleitorais.

Esta última é uma das razões,porque apesar de tudo Lula retorna com força.Certo:ainda é muito cedo para garantir que Lula ficará assim na ponta.Por enquanto o povo não está pensando nas eleições.Mas é um mau sinal ,uma pessoa que foi tão criticada e que deu azo ao anti-petismo,pudesse recuperar terreno assim.É um fenômeno próprio dos personalismos.

E eu só acreditaria no fim de Bolsonnaro se houvesse uma queda bastante acentuada,nestes momentos em que vivemos agora.E isto ainda não aconteceu.O povo não entende a formalidade da democracia e não vê a pletora de crimes que este presidente cometeu ,e que já é suficiente para fazer o impeachment.Um impeachment que só colocaria algo pior diante de nossos olhos.

A mesma coisa que eu disse no tempo da candidatura de Roseanna Sarney eu digo agora:se não houver mais força,se as oposições não se adiantarem de alguma forma ,só uma ventania de última hora impedirá a continuidade deste descalabro.

Parece-me um erro ficar assim na surdina,sem atacar,esperando mudanças.Se houvesse uma queda seria um erro atacar,mas o quadro relativamente estável exige uma participação maior da oposição,para garantir a democracia e fazer o povo confiar numa alternativa.Parece-me que a oposição joga no quanto pior melhor.Isto é uma faca de dois gumes:na hora do desespero o discurso populista vence,mas não se sabe com certeza se o de direita ou de esquerda.

O interesse eleitoral se me afigura como vencedor na cabeça do centro:se Lula tem condições de vencer,sendo ele de esquerda,é melhor dar força a ele,mas a vitória de Lula não significa melhoria na situação,porque ele é o responsável remoto por toda a situação,que pôs a direita no poder.

Parece-me que o centro se contenta com forçar Lula,um Lula acossado pelo passado ,a aceitar um programa ,e esta análise é até certo ponto justa.Mas eu repito:Lula não é o fim dos problemas do Brasil.Ele é a continuidade da polarização.O mais importante é acabar com a polarização e a guerra-fria.