O Brasil
é sempre o
mesmo país que
espera das lideranças,dos de cima,soluções
para os seus
problemas.Esta é uma característica de países
que não possuem
uma sociedade civil
organizada,segundo alguns
,que não
passaram pelas chamadas revoluções
burguesas,que se estruturaram
sobre sociedades civis
e reproduziram historicamente o seu poder e hegemonia.
Octavio
Ianni,num livro famoso “ O
colpaso do populismo
no Brasil” escrito
para analisar as razões do golpe
de 64,mostrou como o modelo populista,baseado em personalidades tutelares
fortes,não conseguiu levar adiante
as necessárias reformas que o
Brasil necessitava e necessita.
Muita gente
afirma,que nesses meus artigos
eu atribuo muita importância
ao golpe de 64 ,
que já
deveria estar esquecido.Contudo,é
exatamente porque muito do que
o golpe
fez ainda está aí,que eu valorizo
este problema.E é
também pelo desejo de superar
esta fase histórica que
eu analiso frequentemente este fato ,principalmente depois destas
últimas eleições e das suas
consequências,como a mudança
na LDO.
Shakespeare
tem uma
frase “ O passado é o
prólogo”.Claro,as relações com o
passado são complexas e ao longo
da História muitos pensadores discorreram sobre esta
relação.Cicero afirmou que a “ História é mestra
da vida”,contestada por
muitos cientistas sociais
do século XX,que
não acreditam que o modelo
do passado seja absoluto a
ponto de servir integralmente
como referencial do presente.
Maquiavel seguia
muito esta visão,tirada
do Eclesiastes(“ Nada há de
novo sob o sol”)e
elaborou os seus famosos conselhos
com base neste
padrão.
É claro que
o passado não secreta o futuro.Nos dias de hoje
temos muitas coisas
novas,que nada têm a ver com
64.Mas aprendi a analisar a vida
social e politica de um
modo que pudesse resumir sem vulgarizar os grandes
problemas que a sociedade política,isto é,a sociedade que toma consciência
de si e tenta se dar um sentido,tenta solucionar.
Eu vejo a
sociedade segundo um
principio de heterogeneidade
que busca se homogeneizar.Como um um caos que tenta
se organizar,um edificio que precisa
ser construido.
O que
diferencia os paises
do G-8 dos outros,digamos,do terceiro mundo,em desenvolvimento,é que
o movimento de homogeneização já se
cristalizou em bases políticas
e de cidadania que apontam para uma disciplina
social,capaz de dar sentido a uma determinada nação.
Certos povos alcançaram um
nível de organização,criando uma cidadania e evitando
uma tutela de
poderes ilegítimos.Cidadania e
autonomia dos cidadãos
marcam uma viragem em uma
detrminada sociedade.As coisas básicas,que são
estas,estão resolvidas.
No Brasil
as coisas mudam ao bel-prazer
dos de cima,como aconteceu na
questão da mudança
da lei orçamentária.Um deputado chegou
ao cúmulo de dizer que “ a lei
não é extática,muda com o tempo”,sem lembrar
que a mudança constante
destrói um dos fundamentos da vida
social,como eu disse:a
confiança.
Mudar demais
é sinal de descontrole,de despreparação,de interesse individual
que se sobrepõe ao
coletivo.
Nestas circunstâncias a tendência é a revigoração dos personalismos,dos populismos,das figuras
fortes,capazes de com “mão segura”
conduzir o país.É isto
o que se repete
em sociedades como
a brasileira,a falta de uma base
impõe um salvador,uma autoridade,o que nos
faz crer que talvez
Ocatvio Ianni estivesse errado
em falar de colapso do populismo e também que nós estejamos
errados em sepultar
o passado,64,já que ele
está aí,como fantasma,esperando que os impasses deste pântano
político que se
tronou o Brasil,o favoreçam de novo.
Aliás ,pode acontecer
o oposto,o pântano,a
acefalia, pode ocupar o
lugar do autoritarismo,mas isto é
outro assunto.
Assim nós temos
que dizer que a
relação com o passado continua na medida da sua
influência no presente e
isto é
uma questão a ser sempre
colocada,responsavelmente,não importando
que tal constatação seja usada políticamente.Se não
tiver influência não adianta
pedir a volta dos
militares que eles
não virão,mas se tiver,estamos em
perigo e precisamos nos prevenir.
O que me assusta
é que depois de tantas análises demonstrando
os erros cometidos,ainda se vê
radicalismo no Brasil e
muita gente não se interessa por História,como se isso fosse
provocar o passado,mas ,na
verdade,é a sua
não-consideração que
facilita sua repetição,como disse o filósofo
estadunidense George Santayanna:” Quem não conhece o passado condena-se
a repeti-la”.
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