terça-feira, 24 de novembro de 2015

O almirante negro





No último domingo comemoramos os 115 anos da Revolta da Chibata,um episódio bem parecido com aquele que ocorreu em 1905 na Rússia ,com a diferença de que no Brasil o elemento racial se  somava ao problema  social.
O motivo da superação dos  castigos  físicos não deve nos enganar quanto ao significado real deste extraordinário fato histórico.Este  significado é importantíssimo e multi facético,porque vai do já referido problema racial ao problema educacional.
Este  último elemento é o mote deste meu artigo:porque  chamar o chefe da revolta de Almirante?Porque  fica  claro que   a capacidade de  aprender se faz na prática e  a qualquer tempo por  aquele que tem interesse em prender,mesmo sendo do povo,ou seja,sem escola.
João Cândido e  seus seguidores  foram capazes  de  manobrar  conscientemente  navios  complexos,durante a revolta.Não importa  que a  Marinha até hoje  diga que isto não é justificativa para considerar João Cândido um almirante pois  o que ressalta é  que ele era capaz  de  aprender,de  seguir na sua atividade profissional,se não tivesse  sido impedido.
Como dizia Anísio Teixeira,nosso maior educador:” O homem aprende na escola,fora da  escola e  apesar da escola”.


E uma das maiores  contribuições  da esquerda em todos os tempos foi demonstrar que  a  separação entre o trabalho intelectual(das classes  altas)e o prático é  uma invenção da sociedade de  classes,com o fim óbvio de afastar as classes subalternas do processo de  conhecimento.

Até na Inglaterra ,que deve muito à  Shakespeare,existe um resquício de preconceito,afirmando que o bardo ,para ser genial tinha que pertencer às classes  altas,como se nas classes menos favorecidas não aparecessem super-dotados.
Em qualquer lugar do mundo há diamantes  a serem lapidados e  é só procurar.Seria um dever do Estado  achar,mas este ,preso à hegemonia das classes altas não  cumpre com esta tarefa.
Não que João Cândido seja um gênio(talvez),mas um líder e  alguém que  demonstrou que  poderia  crescer profissionalmente,não importando  a  cor de  sua pele.
João Cândido e os seus seguidores procuraram a vida toda a  possibilidade de  indenização,sem conseguir,numa  flagrante continuidade antropológica e histórica com o posicionamento dos  governos de hoje  quanto  à  excludência  dos tempos passados(passados?).







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