quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O que eu teria escrito na prova do Enem






Nunca fui uma pessoa demagógica e nunca tive apreço por  quem misturava (e mistura) política com mentira.É lógico                 que é de  causar indignação a  violência predominantemente masculina sobre a mulher,mas nós devemos ter em vista que esta questão é mais complexa do que pura e simplesmente aquilo que  ela pode  provocar em termos de escândalo coletivo(e político).
Porque  o problema da violência contra a mulher é um problema das relações  entre homem  e mulher e portanto,embora a lei Maria da Penha incida sob a  égide  do direito privado,ela é  um assunto privado e ainda que a intervenção,de  fora,seja mais que exigível,da lei,os  critérios desta intervenção devem atender à  necessidade de proteção da intimidade e  evitar o uso político da situação.A senhora Maria da Penha teve que buscar ajuda pública e  na política porque não teve ajuda , e agiu corretamente.As campanhas públicas têm um significado pedagógico e  de repressão para  inibir os  homens violentos e  modificá-los no sentido da paz.
Até mais ou menos o ano de  68  se falava muito (e com razão)na  questão do amor livre.Nós conhecemos opiniões  díspares como as de Engels,Comte ,Kardec e  Simone de Beauvoir(entre outros),mas todos estão de  acordo em afirmar que o “ amor  livre” significa aquele amor  que não sofre nenhum óbice ou imposição no seu elemento decisivo de  liberdade consciente de escolha(do parceiro).
A violência masculina contra a mulher não é apenas a  decisão de um sujeito perverso contra uma mulher inocente,ela é  resultado de todo um conjunto de imposições  arcaicas  a  esta associação da liberdade com o amor ,passando pela  maturidade e consciência das pessoas.
É lógico que é mais comum  esta violência do homem contra a mulher,mas dentro da família,dentro deste contexto referido,a  mulher ajuda na  sua inconsciência  e por reproduzir  muitas vezes o esquema arcaico que foi imposta a ela desde o berço.
A mulher,não raro,aceita o critério de masculinidade associado ao poder e  ao significado institucional do macho como chefe da casa(concepção paulina que muita feminista aceita por aí...e manipula...politicamente inclusive).
Desde Marcuse  que nós sabemos como se  deu na História da humanidade este processo de “patriarcalisação”.Quando a humanidade era nômade,predominava o matriarcado e a mulher sabia de quem era o filho e podia ser responsável pela linhagem da tribo.
Com a civilização e o surgimento das cidades,a  mulher foi confinada na casa,para que o marido vigiasse  a sua linhagem.Ao longo da História  este esquema  básico foi sendo “ atualizado”.No império romano a  mulher era tida como parte dos utensílios  da casa.Mas o cristianismo,através  de Constantino e  sua mãe  Santa Helena,conformou o quadro arcaico da relação homem/mulher,pelo menos,claro,no ocidente,que é onde se fazem estas discussões  que redundaram no problema da  violência  doméstica e na Lei Maria da Penha(a lei Maria da penha foi gestada na Igreja Católica).
No cristianismo católico(o mais hegemônico)existe um conceito de que tudo que a mãe (e  a mulher )faz deve  ser aceito.Este conceito  existe exatamente para  que a religião administre a família,quando ocorre  uma crise(a  mulher geralmente a chama para dirimir o problema).Esta confusão entre família e  religião, como entidade política, surgiu na relação de  Constantino com sua mãe  Santa Helena,que vemos abaixo:  


O cristianismo foi uma grande  válvula de  escape para a mulher romana,que era muito reprimida.O cristianismo valorizou em muito esta figura emocional de pessoa que  só pensa nos filhos e Constantino usou a  famosa piedade da  mãe  para reunir em torno de  si os seus súditos,na maioria cristãos,em torno de  sua figura politica,porque supostamente ele comungava desta piedade ,deste emocionalismo(o que não era verdade).
Para beneficiar  o sistema  que o Imperador montara  era preciso  criar o culto desta “ mãe”,desta pessoa  intocável,que  depois “ evoluiu” para o culto(supersticioso)da Virgem Maria,que embora  seja  melhor  que Santa Helena,por ser mãe  de Cristo,cumpre  ,neste mecanismo,o mesmo papel.
Acrescente-se  a isto que a  mulher,ao nascer,é “educada”  para  se  constituir,para se  formar,como pessoa,dentro deste contexto,deste mecanismo e  é muito difícil,numa sociedade arcaica,organizada assim,ela se  modificar,pois ela,ao longo da História,não teve  sequer a rua para  encontrar novas possibilidades.Quando isso acontecia a  mulher se  transformava  numa  prostituta.
Raras mulheres foram aquelas que ao sair conseguiram uma alternativa diferente desta(Chiquinha Gonzaga,no Brasil).Neste  contexto evidentemente  repressivo contra a mulher(contra ela  só),a  sua reação  ao dominio do marido muitas vezes era(e  é)no sentido de  afastá-lo da casa,da  situação familiar,por  acusações  procedentes ou não e  pela atitude  vitimológica.Esta atitude  nem sempre  é  consciente,mas parte de uma patologia e  é  uma imposição quase que inevitável a ela.
O direito penal,a  criminologia,estudaram este fenômeno séculos a fio e  é claro que existe um acúmulo de conhecimento desta situação.Contudo,hoje ,em que  mulher muito justamente,adquiriu  o direito de expor  o corpo,de  fazer sexo por prazer(por causa  da pilula),tendo o direito de  se  divorciar(além de  outros legítimos direitos)esta  vitimologia  não tem mais lugar.
No passado,na época da tragédia de Euclides da Cunha  e de S´anninha,era admissível a  traição,por causa  da  presença dos  elementos  referidos acima.Mas hoje,  com estas imensas(ainda que  insuficientes)garantias, a postura de traição,de  manipulação da situação familiar,a  identificação da mulher como a  “ dona real da casa” não cabe.É como diz  Foucault:a  sociedade se modifica,progride,mas as consciências não.
Para mim,havendo o divórcio a  solução da incompatibilidade de  uma mulher com o seu marido se resolve desta  forma e  não com a traição.Trair e  provocar têm um significado, a meu ver,de preconceito e de  politica,no sentido de  amealhar  a  família  para si e de  obter aprovação social,espiroqueteando o escândalo da traição.De que adianta implantar o divórcio se  as pessoas não exercem os seus direitos.
Se é  verdade( e é  mesmo)que o marido,o homem,o macho,bate  na mulher por causa  do seu sentimento improcedente de  posse,de  poder,esta posse ,este  papel  institucional,que é  “ ensinado” a ele,desde pequeno , a  mulher,não raro,exige dele  que cumpra  este papel.
A mulher,de  modo geral,só entende  o critério de  masculinidade  associado ao  poder,à  sua condição de instituição dominadora da família,vista  dentro de um princípio arcaico,próprio das antigas monarquias,em que o pai é visto como o representante do rei,do monarca,já  que a família era o esteio deste regime politico.
A família,no entanto,não tem que ter  este papel,sendo a  sua tarefa a  construção da felicidade.Não me venham dizer que a mulher,principalmente a  latina não exige este  critério de maculinidade e quando o homem o questiona,o mundo desaba  sobre  ele.existem outras formas d e definir masculinidade.
O diálogo dificil na hora da violência é  porque o homem exerce  um papel imposto pela  sociedade e que a mulher  reproduz.
Se é verdade que ele agride por causa  disto,é  verdade que não raro,quando a  alternativa de  se  oferecer,como direito da  mulher,mais poder a ela,mais direitos  a ela,ela   o recusa,porque não foi preparada para pensar diferente e  os movimentos politicos e feministas acabam reproduzindo esta  realidade porque  raciocinam em termos só de  repressão ao crime,quando,antes  de  criar a delegacia da mulher era necessário  mudar a  relação homem e mulher,o que não acontece.Dá mais ibope (eleitoral)intervir num escândalo,do que evitá-lo no cotidiano através  de terapias e  do processo educacional,porque neste último caso a  televisão não vai.
A televisão mostra o homem matando,mas não mostra os erros do outro lado,quando,como mostra a criminologia,a  mulher,na busca de  atenção provoca o marido ou coloca os filhos  contra ele.(caso .O.J. Simpson e  caso Euclides  da Cunha).
Ao crime de  agressão do homem corresponde  o de  “ alienação parental” mais afeito às mulheres.
Assim como os  corifeus da esquerda não querem acabar com a pobreza ,fazendo mera assistência  social(a popular administração do capitalismo),pois sem ela eles mesmos desapareceriam,o movimento feminista não aprofunda as questões da violência  contra a mulher por que assim a  sua tutela desapareceria também.E as suas eventuais   lideranças correriam um risco sério de  questionamento.
No tempo das sufragistas,inicio do século XX,a  concessão  do  direito de voto às mulheres  era uma estratégia  machista de  manipular mulheres,que ,em sua maioria,não tinham consciência politica.Ao adquirirem progressivamente,foram obtendo este  direito legítimo(porque adquiriram consciência  politica).
Uma das razões  que eu acho causa da dificuldade em equiparar salarialmente a mulher com o homem,é que,no fundo,a  mulher ainda prefere o contexto familiar arcaico,como sua área de “ dominio”,do que  falar de  igual para igual como homem,na família e no trabalho e o movimento feminista,pelas razões  aludidas ,não toca no verdadeiro problema.
É muito melhor  ser tutelado do que exercer liberdade,porque a liberdade implica em responsabilidade.



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