domingo, 20 de novembro de 2016

Cruz e Souza



No dia da consciência negra quero falar sobre um dos meus artistas preferidos e que encerra na sua biografia um caso(ou vários casos)de preconceito e excludência:o poeta Cruz e Souza.
Um homem intelectualmente superdotado e que por isso recebeu uma educação esmerada.Falava três idiomas,inclusive um antigo,o latim ,e que se notabilizou por ser um poeta simbolista maior do que muitos europeus,segundo a opinião do crítico Andrade Muricy,que na sua antologia dos poetas brasileiros o colocou num patamar superior a um Verlaine,por exemplo.
Mas o caso de excludência a que eu me referi foi o fato de que Cruz e Souza  passou num concurso para procurador em Laguna ,Santa Catarina,sendo recusado por ser negro.Viveu uma vida de pobreza e de intensa depressão por causa da perda dos quatro filhos,mortos em razão da tuberculose,doença que o mataria também.
É uma das cenas mais injustas da história do Brasil,da relação com os seus artistas autênticos,o último dia de Cruz e Souza,saindo de trem para a sua terra natal,já com tuberculose avançada,chorando pelo não reconhecimento de seu extraordinário valor,como pessoa e como artista.
Até mesmo o movimento negro o acusava (e quiçá o acusa)de não ter participado do abolicionismo,coisa que não é verdadeira,porque ,dentro das suas possibilidades manifestou contrariedade,nos jornais em que trabalhou,pelo modo ,lerdo,que a monarquia tratava o problema da emancipação dos negros.
Cruz e Souza critica ,à propósito disto,a figura de Machado de Assis,este mais aculturado às elites,mas não menos importante e valoroso para o Brasil.
Isto é,dentro das suas imperfeições,que são as de todos,Cruz e Souza é chamado por mim aqui para servir de homenagem à raça negra neste dia 20 de novembro,que cultua um lutador como Zumbi,o qual tinha imperfeições igualmente:Zumbi possuía escravos e era cruel com eles.
Demonstrei inúmeras vezes que  não sou contra este dia 20 de novembro,mas acho que não se deve deixar de lado o treze de maio,que foi uma dada também conquistada pela luta dos negros,pelos jornais e nos quilombos,nas diversas áreas de resistência.
Focalizar só em Zumbi diminui o impacto e a importância histórica de se discutir a questão da escravidão no Brasil,instituição imposta aos negros e que é a responsável pelas mazelas que ainda hoje imperam em nosso país.
Nós sabemos que o Brasil não vai se desenvolver se não incluir de vez a sua população pobre no processo social e econômico e no interior desta população avulta em  significados a raça negra,co-colonizadora e co-construtora do Brasil,junto com as outras raças formadoras.
Este conceito de co-colonização foi construído por Manoel Querino,grande intelectual popular da Bahia,que serviu de base a um dos grandes personagens negros da literatura brasileira, o Pedro Arcanjo,de Jorge Amado ,em “ Tenda dos Milagres”.
Assim sendo,de forma crítica, nós homenageamos a raça negra,neste dia.Axé.

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