No dia da consciência negra quero falar sobre um dos meus
artistas preferidos e que encerra na sua biografia um caso(ou vários casos)de
preconceito e excludência:o poeta Cruz e Souza.
Um homem intelectualmente superdotado e que por isso recebeu
uma educação esmerada.Falava três idiomas,inclusive um antigo,o latim ,e que se
notabilizou por ser um poeta simbolista maior do que muitos europeus,segundo a
opinião do crítico Andrade Muricy,que na sua antologia dos poetas brasileiros o
colocou num patamar superior a um Verlaine,por exemplo.
Mas o caso de excludência a que eu me referi foi o fato de
que Cruz e Souza passou num concurso
para procurador em Laguna ,Santa Catarina,sendo recusado por ser negro.Viveu
uma vida de pobreza e de intensa depressão por causa da perda dos quatro
filhos,mortos em razão da tuberculose,doença que o mataria também.
É uma das cenas mais injustas da história do Brasil,da
relação com os seus artistas autênticos,o último dia de Cruz e Souza,saindo de
trem para a sua terra natal,já com tuberculose avançada,chorando pelo não
reconhecimento de seu extraordinário valor,como pessoa e como artista.
Até mesmo o movimento negro o acusava (e quiçá o acusa)de não
ter participado do abolicionismo,coisa que não é verdadeira,porque ,dentro das
suas possibilidades manifestou contrariedade,nos jornais em que trabalhou,pelo
modo ,lerdo,que a monarquia tratava o problema da emancipação dos negros.
Cruz e Souza critica ,à propósito disto,a figura de Machado
de Assis,este mais aculturado às elites,mas não menos importante e valoroso
para o Brasil.
Isto é,dentro das suas imperfeições,que são as de todos,Cruz
e Souza é chamado por mim aqui para servir de homenagem à raça negra neste dia
20 de novembro,que cultua um lutador como Zumbi,o qual tinha imperfeições
igualmente:Zumbi possuía escravos e era cruel com eles.
Demonstrei inúmeras vezes que não sou contra este dia 20 de novembro,mas
acho que não se deve deixar de lado o treze de maio,que foi uma dada também conquistada
pela luta dos negros,pelos jornais e nos quilombos,nas diversas áreas de
resistência.
Focalizar só em Zumbi diminui o impacto e a importância histórica
de se discutir a questão da escravidão no Brasil,instituição imposta aos negros
e que é a responsável pelas mazelas que ainda hoje imperam em nosso país.
Nós sabemos que o Brasil não vai se desenvolver se não
incluir de vez a sua população pobre no processo social e econômico e no
interior desta população avulta em significados a raça negra,co-colonizadora e
co-construtora do Brasil,junto com as outras raças formadoras.
Este conceito de co-colonização foi construído por Manoel Querino,grande
intelectual popular da Bahia,que serviu de base a um dos grandes personagens
negros da literatura brasileira, o Pedro Arcanjo,de Jorge Amado ,em “ Tenda dos
Milagres”.
Assim sendo,de forma crítica, nós homenageamos a raça
negra,neste dia.Axé.
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