quinta-feira, 16 de maio de 2019

O Guru

Eu normalmente não trato especificamente de pessoas,somente quando tal decisão implica em produzir um conhecimento ou valores importantes para a sociedade.
Quando eu terminei a minha especialização em 1994,na UERJ,me preparei para entrar no mestrado e aí,no topo de meu esforço pessoal de formação,percebi as diferenças com o meu passado.Não que o meu o passado fosse isento de problemas:a luta pela minha formação esbarrou em manipulação,influência da politica,injustiça pura e simples e até assédio,crime de assédio.
Ao entrar no mestrado,ao longo da vida,vi cada falcatrua inenarrável e todas as minhas tentativas de encontrar um lugar sério resultaram infrutíferas porque em todos presenciei as mesmas coisas.
Neste momento eu pensei que tinha caido do planeta Marte ou que continuava lá.A minha formação republicana ,desde antes de entrar na universidade, sabia pefeitamente que ia encontrar problemas deste tipo,mas o que achou foi uma completa devastação,que só se amplia.
Foi aí que a figura de Olavo de Carvalho apareceu.As mesmas pessoas,as mesmas curriolas que ele criticava eram as que me causaram horror naquele periodo.Quer dizer não posso negar que o prof. tenha sido um confortador pessoal meu.Eu me senti de volta ao planeta Terra.E não posso deixar de concordar com ele no que tange às críticas.
Eu esperava que a direita crescesse logo no final do século passado e que se identificasse com um certo republicanismo,mas ela se desvirtuou e enveredou por isto que estamos vendo hoje:a volta do regime militar.
Muita gente,pelo youtube,pelas redes em geral,faz análises sobre a personalidade do professor Olavo de Carvalho:muitos citam Freud,outros,como aquele general ,o chamam de desequilibrado ou “ Trotski da esquerda”,mas eu,que fui,como ele,comunista de carteirinha entendo o fulcro dos seus problemas psicológicos,que são o daquelas pessoas que mudam de visão diante do comunismo.
Aqueles que querem ter uma noção do que é esta passagem leiam o romance “Os demônios” de Dostoievski,ele mesmo um ex-radical e que viveu esta problemática na pele.
Entre outros temas da rica bagagem artística de Dostoievski,está a questão da dificuldade que é sair do movimento radical,mais especificamente da revolução.
Eu já tratei deste tema no meu primeiro livro sobre marxismo “A Ponte”,mas aqui eu aprofundo,com a passagem do tempo.
O insight que eu tive desta questão se deu há muitos anos atrás ao assistir à entrevista do general Leônidas Pires Gonçalves na Tv Senado,na qual ele explica que conseguiu obter informações de militantes oferecendo vantagens e não praticando torturas.É ele quem diz “ fica dificil sair”(do movimento)A pessoa que quer sair acaba dando cma língua nos dentes,porque seus antigos companheiros não permitem.Fui pesquisar isto e notei e expliquei que muitos militantes que entraram na luta armada o fizeram por confiar na politica e na honestidade de propósitos das organizações.Ao entrar nelas ou viram que não era nada disso ou verificaram qu enão era justa a politica e resolveram mudar.
Na democracia,propalada também pelas organizações de esquerda, isto é perfeitamente admissível e normal,só que não.Por vários motivos ,totalmente injustos,a pessoa não consegue sair:ora a necessidade de manter a coesão do grupo;ora manter a força do grupo;ora o perigo,não previsto,de delação,tudo é usado como motivo,não raro,de justiçamento,indo para as picas a “democracia interna”.
E o pior é que mesmo nos periodos de democracia,se você participa de algum grupo radical,nunca mais sai do movimento.Eu já citei uma cena do filme “ Memórias do Cárcere” em que um personagem diz a Graciliano que ele ia sair marcado da prisão.” se houver”,diz o personagem,”uma simples greve de barbeiros,você vai ser preso”.Na Alemanha nazista ,logo em 1933,muita gente que nada tinha a ver com a polarização esquerda e direita foi fichada pelo novo governo,para “averiguações futuras”,ou seja,para aporrinhações intermináveis.Este é o resultado do conceito ,emitido por Lênin de que comunista tinha que ser comunista “ a vida inteira” conforme citado por Éder da Silveira em sua tese sobre Jover Teles.Dizia Lênin “não tem esta de ser companheiro de viagem não”.
É uma lei quebrantável somente,eu acho,com a morte,que é a “ sorte” de muitos envolvidos neste caldo de cultura perverso.
Desde que me tornei centrista,a direita me ataca e a esquerda me chama de traidor.
No passado muita gente que fez esta mudança em sua vida teve que radicalizar para escapar desta verdadeira perseguição:Lacerda se tornou católico e radicalizou o seu anti-comunismo(muito embora a sua estrutura mental tivesse ficado muito afeita ao comunismo[na tentativa de golpes]).
O mesmo acontece com o professor Olavo de Carvalho,só que ele radicalizou na sede de sangue,no seu desejo de açular os militares a fazer coisa idêntica à 64 ,um massacre dos radicais.
Mas será isto porque ele é perseguido mesmo ou porque não consegue resolver em si mesmo as suas culpas por ter sido ,no passado,stalinista,com atos criminosos,como ele próprio confessa no youtube?
Eu especificamente,que tive uma experiência semelhante à dele,não introjetei culpa nenhuma,porque entrei no movimento já na época do compromisso pela desestalinização,que não veio,mas,como disse,sou aporrinhado,para não dizer perseguido.
E ele,quer fazer como o Presidente Suharto na Indonesia,como o Brigadeiro Joao Paulo Burnier,como Rafael Videla na Argentina e eliminar os radicais,os comunistas,para se redimir?
A minha resposta é que ele não consegue resolver esta “entorce” de si mesmo,esta atrocidade que fez consigo mesmo e só consegue imaginar a “ libertação” com a volta dos militares que é o que ele,como o Presidente(e como o vice) ,quer obter.
Agora ele diz que não vai se importar com a politica:não precisa mais,pois já obteve a agitação necessária para a via do golpe,já cumpriu a sua tarefa.Toda esta bagunça no governo,como eu já expliquei ,é de caso pensado e com agitação dos estudantes,o confronto e um eventual impeachment abrirão espaço para o que esta direita e o seu guru,sempre desejaram.

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