sexta-feira, 3 de maio de 2019

Separação entre Guevara e Bolsonaro:esclarecimentos

Diante das reações de incompreensão em relação a meu artigo anterior,devo esclarecer algumas coisas(como sempre):
É lógico que Guevara e Bolsonaro são em muitos aspectos diferentes:em termos sociais,históricos,politicos e em termos pessoais,psicológicos e de valores.Mas para o que interessa aos povos a repressão às ciências sociais(bem como a outras)tem o mesmo efeito e o mesmo fundamento de reprimir anti-democráticamente o cidadão e a criatividade humana ,que é uma exigência de progresso técnico e cultural.
Todos os regimes ditatoriais,autoritários e totalitários,de direita ou de esquerda,o fazem,não têm por onde escapar.
Um dos pontos nodais da relação entre a questão social e a democracia é a liberdade de pensamento,a liberdade para procurar o conhecimento e ser criativo.Como eu disse no artigo anterior Guevara,na revolução cubana,suprimiu as ciências sociais,como supostamente “ inúteis” ou não prioritárias(eufemismo).Anos depois faltou gente capaz de fazer a História da Revolução Cubana,conforme a exigência de Fidel e quando este último sentiu um crescimento da contestação e da violência no país,permitiu uma certa liberdade para escrever ,que tem reflexos até hoje,com uma literatura pujante e reconhecida no Ocidente(por interesse?).
A tese da direita,há muito consolidada,e representada pelo governo Bolsonaro, é que o setor universitário não pode ser gratuito.Esta visão foi sempre posta em destaque desde o primeiro governo Brizola:privilegiar a base e estabelecer relações da Universidade com o setor privado.No governo FHC esta tendência se manifestou quando Pedro Malan fechou a bica dos investimentos,de modo a forçar a área a fazer esta conexão.Naquele tempo a resistência da universidade valeu para evitar,mas esta direita que aí entrou tem um programa mais multifacetado,que não esconde o princípio mais que discutível de que o universitário e sua família têm condições de pagar pelo curso.
Há muitos anos atrás eu já me referi a estas questões:esta afirmação supra assinalada não é verdadeira.Só a classe média alta tem condições para pagar os seus cursos e ela já tem as suas escolas.O resto do povo brasileiro não tem estas condições e a privatização da Universidade não é admissível.
Por outro lado eu dissera que a autonomia universitária é problemática porque criava e cria uma corporação exclusivista e dissociada de um projeto e uma responsabilidade nacionais.
A propalada autonomia universitária cria grupos fechados sem ligação com a comunidade e quando não é assim o fracionamento é imenso ,como ocorre na UERJ.Ou seja os interesses politicos se sobrepõem aos objetivos de produção intelectual.
Esclarecendo o que eu disse no artigo anterior o intelectual brasileiro é ibérico.Ele é diferente do intelectual estadunidense ou dos países anglo-saxônicos e nórdicos,que pratica esportes e tem uma vida real,não de gabinete.Eu reitero isto aí e acuso esta postura de não ter permitido o Brasil de construir um modelo olimpico.
Contudo o modelo do Brasil é como o dos EUA,com a Universidade Pública.Podem existir ,como no norte,universidades particulares para a classe alta,mas a maioria do povo precisa da escola pública e outros mecanismos de ganhos econômicos,diferentes da dependência do Estado devem ser encontrados(falarei sobre isto em outro artigo),mas eu repudio a pura e simples privatização,que seria algo absolutamente catastrófico e que,como eu demonstro sempre,contraria a experiência de países capitalistas tradicionais,que têm uma politica pública coerente.
Só pensamento puro constrói sentido,história,mas eu não me refiro só à filosofia,mas à erudição.Erudição quer dizer interdisciplinaridade,conhecimento de línguas,arte e no seu âmbito estas disciplinas sociais.Na erudição até o conhecimento de ciências naturais é bom.
O mundo muda:não há como exigir de ninguém que estude obrigatoriamente Latim ou Grego,mas não se pode eliminar totalmente esta área do conhecimento,esta atitude pensamental,porque ela é tão importante quanto os outros saberes,pelas razões aludidas.
A História não provou que a contenção da erudição em favor das atividades concretas e úteis sirva ao progresso desejado.
É um erro do socialismo fazer uma crítica moralizante desta erudição ,supostamente inútil diante da miséria reinante.É certo,o socialismo reconhece,que a cultura européia foi absorvida,no capitalismo dominante,a partir de 1800,pelas classes menos favorecidas.Nós vemos um Faraday,um Thomas Edison,Fulton,pessoas que vieram de extrema pobreza e puderam ascender por qualidades de estudo e esforço.
Isto não prova a tese do liberalismo econômico(não constitucional)de que é assim mesmo,os mais aptos vencem e quem não tem capacidade de esforço deve ficar no seu lugar.Mas também prova que para progredir materialmente e culturalmente tem que haver liberdade de pensamento e de criatividade.
O ato de substituição da erudição e das ciências sociais pelo marxismo institucionalizado nos países do socialismo real causou estragos imensos que vão durar por muitas décadas ainda e aí nós temos que concluir que o equilibrio entre liberdade e necessidades sociais deve ser buscado por um novo socialismo.


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