domingo, 18 de agosto de 2019

À propósito da “Mei” afirmar o capital

Um dos cavalos de batalha da esquerda velha do Brasil é a microempresa individual.Para ela a Mei “ afirma o capital”.
Vamos por partes:a esquerda precisa entender que Marx condicionava o surgimento do comunismo à quebra das barreiras tributárias e institucionais da Idade Média.O comunismo nascia dos intersticios do capitalismo na medida em que este quebrava estes entraves à produção capitalista,modo-de-produção mais afluente da História.
Ora ,diante desta premissa não há contradição entre esta capacidade produtiva e a produtividade,esperada,no e do comunismo.É uma mudança de grau,que dentro da dialética materialista,implicaria numa mudança qualitativa.
Naturalmente estas questões não têm importância agora aqui.Eu falo isto para mostrar como no desenvolvimento do marxismo estas noções foram esquecidas e como este movimento se tornou mais uma religião do que uma concepção teórica e científica.
Não se trata de reunir as pessoas em torno da esquerda,dentro de uma perspectiva de classe,de uma classe produtiva em detrimento de outras.Trata-se de compreender o real,as mudanças que o tempo apresenta e dar uma reposta compreensiva necessária aos problemas que nos atingem.
Todo mundo sabe que eu defendo que a mediação transformadora do movimento social é a nação,a unidade cultural e de cidadania.Neste sentido a postura do militante de esquerda deve ser diferente daquela que veio de Marx e de Lênin.Ele deve saber em que momento a nação e o povo têm que ser respeitados apesar das dissensões que ela tem com um eventual governo,como este,de direita,no Brasil atual.
É claro que existe por parte desta direita uma intenção golpista.Ela usa a nação para atingir este fim.Vários fatos têm apontado para isto:crises de governo artificialmente criadas;choques e ruídos entre governo e ministros,que são substituídos progressivamente por militares.
Mas nos últimos dias um outro fato demonstrou um significado mais complexo ,que deveria ter sido percebido pela esquerda:a medida provisória chamada de “mp da liberdade”.Esta medida amplifica as possibilidades da lei da microempresa individual,cuja lei não foi feita pela direita,mas pelo PT.Assim como Bolsonaro amplificou o bolsa família instituindo o seu 13o salário,agora realiza algo inserido na lei da Mei:diminuir as barreiras capitalistas,que favorecem o comunismo!Estas decisões são nacionais,não são só de classe.
É evidente que esta flexibilização capitalista que já vem sendo implantada no Brasil,como nos países centrais,tem como objetivo pulverizar a organização dos trabalhadores,dos sindicatos.No passado foi assim,no periodo em que Marx localizou como a da chamada “ acumulação primitiva do capital” e ,como numa gangorra,acontece de tempos em tempos e mesmo o tempo todo nos países capitalistas,principalmente os mais atrasados,como o Brasil,em que a rotatividade da mãode-obra é constante.Os trabalhadores ficam à mercê do mercado,pensando que isto os libera,os torna mais livres,mas perdendo a necessária proteção sindical que corrige as irracionalidades do capitalismo(desemprego).Já está mais do que provado que a pura hegemonia do mercado evita o desemprego.Há uma dinamização,mas a longo prazo os problemas continuarão.Não é coisa de comunista.
Mas a atitude da esquerda não é simplesmente atacar o governo,mas entender que ,eventualmente,o seu ataque pode prejudicar o povo e mesmo os trabalhadores.
Continua a direita dando olé na esquerda.A direita sabe que a esquerda vai agir egoisticamente e oferece soluções para a enorme crise de desemprego criada pelo governo Lula/Dilma,esperando a óbvia recusa de interação com a oposição,que já está muito chinfrim.Como a oposição de esquerda não pensa na nação e só nas vanguardas sindicais,a direita vai passar por cima...de nada.
Assim a esquerda fica entre aceitar o governo ou se colocar contra o povo,entre a cruz e a caldeirinha.Do nada ela vai ao nada (e volta).
Nos anos anteriores quantas vezes eu disse que era melhor a esquerda reconhecer a derrota e se modificar,se atualizar?A insistência em confrontação subjetiva e vazia,usando o slogan “ Lula livre” está pondo em risco a integridade do ex-presidente inclusive.
Ninguém se iluda de que este slogan é mais essencial para os que o cercam do que para ele.Se Lula desaparecer politicamente esta entourage vai também.É o fracasso do sindicalismo de vanguarda tradicional que está na base do “ Lula livre”.Mas eu disse há muitos anos que Lula não tem condições teóricas de orientar uma renovação de seu partido e os dois estão,a passos largos,agonizando.
O próprio PT,portanto,sem entender a politica em sua complexidade,acaba por se voltar contra a sua obra,preferindo a personalidade,no lugar do programa.
A MP da liberdade afirma o capitalismo até certo ponto e a esquerda deveria atuar no sentido de evitar o desbaratamento da organização mas aceitar aquilo que ela mesmo começou.
E o pior é que os erros não são só do PT ,mas de seus apoiadores.O Psol que lançou esta consigna de “ a microempresa afirma o capitalismo”apóia o PT, o solapando pelas costas,numa repetição do receituário estratégico politico leninista que todo radical decora:apoiar a revolução burguesa para depois pular em cima dela e fazer a “ verdadeira” revolução,comunista.
Ocorre,que nas distorções históricas citadas acima aparece aquela confusão entre a teoria e religião:não é o caso de favorecer o capitalismo na sua capacidade produtiva,mas de apostar na crise,no quanto pior melhor,para (seguindo Lênin),se aproveitando dela ,tomar o poder.
A esquerda votou contra esta MP(Jandira Feghali,Alessandro Molon)ou se omitiu(Freixo)perdendo a oportunidade de obter uma vantagem moral ajudando o Brasil e seus desempregados e a oportunidade de começar a reformular seus conceitos e erros ultrapassados.
Era o caso de propor uma forma de controle dos sindicatos e não simplesmente virar as costas.


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