sexta-feira, 6 de agosto de 2021

De novo a Fundação Palmares

 

Alguns esclarecimentos

À propósito do Presidente da Fundação Palmares ,que veio agora com a ideia do Museu da Vergonha,eu preciso fazer algumas reflexões para esclarecer a minha posição que não foi muito bem compreendida quando tratei dela a última vez.

Naquele artigo eu dizia que eu,como pessoa de esquerda, lia a direita e não proibia autores de direita numa fundação como a Palmares.E não volto atrás.Muita gente não gostou.Muita gente de esquerda.

Seria para muita gente de esquerda,um escândalo colocar um livro contestatório ,de direita,nas discussões sobre o negro,mas eu penso que exatamente por isso deveria haver lá na biblioteca.Muitos me chamam de ingênuo,liberal,por acreditar na pluralidade formal como algo essencial do progresso.Uma pluralidade formal que só existe com a democracia formal e que a esquerda não consegue incorporar de vez.

Para ela, permear a democracia,através de suas instituições ,de uma visão de esquerda é a democracia ,mas eu não penso assim.

Não é ser ingênuo acreditar que o socialismo cresce preservando aquele que é contra ele.Mantendo a mediação das condições materiais de existência eu penso que o mais importante é realmente democratizar a sociedade nos seus interstícios.

O acento de esquerda se dá com a conexão essencial com a questão social.A única luta que admito é esta.Quero dizer,a luta contra a direita é esta.Mas de resto a democracia e sua ampliação é o suficiente,com o adjetivo social ligado.

Tudo isto para acrescentar alguns conceitos àqueles que eu já emiti sobre esta situação toda:a esquerda tem que apresentar propostas para o país,não tendo o direito de usar artificios para chegar ao poder,como as comissões da verdade ou vitimizar o Presidente Lula.Eu não vou repetir isto aqui:não é que eu seja contra as comissões da verdade.Eu sou favorável às comissões na antiga URSS,no Camboja,em Guantánamo,contra os Estados Unidos ,contra o rei Leopoldo e assim sucessivamente.Mas isto não pode ser trampolim para ganhar poder,venha de onde vier esta intenção.

Sou favorável a que nos organismos da sociedade civil todo o arco de pensamento do país seja representado e que a questão do Brasil,dos seus problemas pode e deve ser abordado por quem quer que se interesse por isto e seja tocado pelo problema,como é o caso do negro.

Lá nestas organizações ,analisadas por Gramsci, podem e devem estar pessoas de partidos politicos de esquerda como os comunistas,mas eles devem subsumir a sua condição partidária na de cidadania ,não usando os sucessos para promoção pessoal ou partidária,muito embora,neste último caso seja quase impossivel separar.Ademais,o povo saberá.

Já que o Presidente da Fundação Palmares pretende fazer um museu da vergonha para expor os crimes dos comunistas,porque não o faz em relação aos crimes dos negros?Dos católicos na Inquisição e os problemas dos crimes de pedofilia?Dos evangélicos,os crimes financeiros,que assolam a África precisamente neste momento e os casos de pedofilia também?E os da ditadura também ,dentro do espirito plural que os organismos da sociedade civil devem ter?

A esquerda devia permitir que a contestação da direita fizesse parte da biblioteca da fundação porque ficaria claro a médio prazo o seu ridículo.Como ela(a esquerda) pensa partidariamente e monoliticamente acaba por favorecer a vitimologia da direita que quando toma poder faz este escarcéu.

O modo como a questão social é resolvida através das organizações sociais,respeitando a república e a pluralidade democrática é o meio moderno da esquerda atuar,não repetindo os erros do passado ,pela identificação do estado com a sociedade e com o(s) partido(s)


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