sábado, 29 de janeiro de 2022

A viagem do ogro à Rússia

 

Todas as análises que eu tenho feito aqui são confirmadas pelos colunistas da Folha de São Paulo.Me contratem aí!Bom,espera-se a ida de Bolsonnaro à Rùssia para discutir questões politicas e econômicas,mas no fundo a nova reordenação geopolitica do mundo está se fazendo,com o Brasil entrando perigosamente(e desnecessariamente)nos problemas do primeiro mundo.

Eu já tinha feito criticas ao governo Lula-Dilma por se alinhar demais ao Irã,correndo o risco de entrar na guerra-fria,sem ter porquê.Mas agora o outro extremo envereda pelo mesmo erro.Os extremos se interessam por eles mesmos e pelo seu adversário,mas não pelo Brasil.Aliás Claudio Manoel,aquele mesmo da Casseta e Planeta(massaranduba e seu creison),num videozinho aí no youtube,em que ele fala sobre o seu documentário extraordinário a respeito de Wilson Simonal,afirma que o extremista respeita mais o seu inimigo direto,do que o seu seguidor.Uma verdade que eu tive que aprender a duras penas durante a minha vida...O extremista ataca o seu adversário e ridiculariza o seu seguidor exatamente por isto,por ele ser apenas um sequaz.

Mas seguindo na nossa análise ainda tem gente aí que diz que não existe guerra-fria...Estes problemas em torno de uma esperada invasão da Ucrânia só se explicam dentro de uma geopolitica típica da guerra-fria.

A justificativa real de Putin é de que a Otan está cercando progressivamente a Rússia.Não morro de amores por Putin,mas ele tem razão.

A diplomacia de Putin podia ser diferente nestes anos todos,mais plural,estabelecendo relações com outros países,mas a verdade é que se acabou a guerra-fria,como disse o Bush-pai,não haveria nenhuma razão para se manter a Otan,já que o Pacto de Varsóvia não existe mais.

Já me referi a problemas colaterais desta insistência contraditória dos Estados Unidos em declarar o fim da guerra-fria e manter certos elementos dela em sua politica.

Aqui no Brasil Hèlio Luz ,ligado ao PT,fez uma vez uma declaração muito justa:porque os Estados Unidos se colocam contra o controle de armas se não há mais uma corrida armamentista,como na época da polarização com a URSS?

Nós todos sabemos a resposta:os governos dos Estados Unidos precisam do apoio dos cartéis da guerra,não só economicamente,mas também politicamente.

Contudo diante desta pressão,Putin,que é um filho da guerra-fria,só subindo ao poder por suas vinculações com ela,não consegue fazer uma diplomacia pós-guerra-fria,plural e democrática,porque assim ele se prejudica,tirando as suas bases.

Putin e a Rússia estão numa contradição,própria do seu sistema de governo autoritário,que só sobrevive com mais autoritarismo.Com qualquer abertura o desgaste de Putin é inevitável e ,à propósito,este desgaste já começou e prossegue agora.

A duplicação da pena de um dissidente há duas semanas atrás,o qual busca reparação para os crimes de Stalin,prova que a pressão da sociedade continua e o intento de dominar a Ucrânia e fazer uma “ grande Rússia”(como Stalin fez no tempo da coletivização)compõe este quadro de esforço do governo de se manter.

Putin não é comunista,como muito analista de araque aí em rádio proclama ,mas o governo dele só se sustenta com as mesmas técnicas ,finalidades e direções do passado.E eu já disse:o socialismo real nunca foi comunismo,mas socialismo nacional,totalitário.

Estes fatos mostram o desgaste cada vez maior de Putin,cujo reinado,por causa disto,pode estar no fim.Mas este fim não deve ser violento.Por isto não aceito a pressão da Otan.A atitude do Ocidente só reforça os perigos de uma guerra nesta região.

Se os Estados Unidos e os demais países tivessem assumido de vez o fim da polarização do passado,teria sido muito mais fácil tirar Putin do governo ou mesmo evitar que ele chegasse lá.

Para apressar o processo de dissolução da URSS os Estados Unidos empurraram um ferrabrás como Yeltsin,um oportunista e sub-produto fisiológico do regime e jogaram fora um Gorbachev,um gradualista,que ainda tinha chance de fazer uma transição não traumática no país.

A consequencia foram dez anos horriveis para a Rússia,os anos 90,em que milhões de pessoas caíram na miséria,na prostituição,no crime.Uma Rússia que Putin reprime.

Conforme eu já expliquei,desde o Bush filho um resto de guerra-fria do lado esquerdo sobrou:o “ eixinho do mal”,segundo as palavras dele,Irã,Venezuela e Cuba.Bush pai colocara a Libia de Kadhafi,mas o filho já não se preocupava tanto...

Diante desta pressão foi inevitável para Putin buscar fora do circulo de ferro da Otan,alianças.Aqui na América Latina a presença atual da Rússia é melhor para ela,por fazer alianças com a Venezuela e o Brasil e não com a Siria ou o Irã.Porque estes dois últimos são lugares explosivos.Mas aqui as chances de ela aparecer com um poder progressista são grandes.Basta lembrar que a Rússia mandou e manda mantimentos para a Venezuela.

Com a defecção da Bolivia,o Brasil pode entrar neste eixo latino-americano e se tornar parte do “ mal”,do mesmo jeito que no tempo de Lula,que governava também para Cuba.

Embora a Bolivia nunca tivesse sido parte deste eixo,ela não era bem quista e o Brasil pode entrar neste vácuo.

Mas o fato é que se Putin não obtiver nada aqui seu isolamento se aprofundará e as consequencias serão mais graves em termos de violência.

Na primeira tentativa de tomar a Ucrânia,uma das coisas que o impediram foi a divisão interna do país,que tem uma população russa e outra genuinamente ucraniana.Os russos da Ucrânia quiseram se separar e se anexar ao projeto de Putin mas se isto se desse ,em outros leugares da Europa haveria uma avalanche de reinvindicações separatistas.

Agora ,depois de anos ,o problema parece ter sido superado,mas não há como negar que a divisão pode ocorrer com reflexos no continente.

O pior para o Brasil é se tornar parte do eixo do mal.


quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Perfil de Lula

 

Talvez eu tenha exagerado.O artigo que fiz sobre Lula,o último, talvez tenha um certo exagero em eu acusa-lo de entreguista,mas na verdade o que eu quis dizer(preciso esclarecer)é que o internacionalismo das esquerdas favorece indiretamente os entreguistas.É outra coisa.

No fundo os extremos são os defensores da burguesia internacional contra os da classe operária,cada um propondo a sua eternidade.

Mas de fato não se pode dizer que o PT seja entreguista muito menos o Lula.Mas o resto do que eu disse eu confirmo.

Realmente tenho admiração por Prestes ,apesar dos erros e um fundamento ideológico chinfrim,porque a postura dele exalava grandeza e grandeza num politico,qualquer um, começa com um valor que se coloca (que ele coloca)acima dele.Numa conjuntura de desemprego como agora ele estaria com um manual soviético tentando achar uma solução.

Em Prestes era a abnegação em relação ao seu conceito de povo.O desprendimento pessoal derivava desta premissa ética.

Em De Gaulle a grandeza era a abnegação pela França,como entidade quase-mistica.

Em Getúlio a visão de estadista ,que compreendia o Brasil numa perspectiva de longo prazo,a qual o levou ao auto-sacrifico.

Às vezes,não raro,um politico despercebido pode trazer inovações e realizações reconhecidas posteriormente.Brizola gostava de citar um operário australiano que colocou o seu país numa situação de estabilidade.

Os primeiros ministros social-democratas dos países nórdicos,no inicio do século passado trouxeram grandes conquistas e ninguém lembra o nome deles(nem eu).

Então,não é exigivel que um bom politico apareça na história e demonstre grandeza.Contudo,independentemente de reconhecimento geral ou não,o politico não deve colocar problemas pessoais à frente dos problemas coletivos.

As pessoas me perguntam porque bato tanto em Lula.Além das razões que tenho apresentado nos artigos,passei a ter uma desconfiança muito grande em relação a ele e ao PT,no tempo da redemocratização.Eu estava tão feliz que a democracia voltava,algo que eu não sabia o que era,que,como comunista que ainda era na época,desejava que a classe operária participasse daquele processo e fosse,no minimo,ao colégio eleitoral.

Mas a classe operária,tão importante para mim,virou as costas ao Brasil e às pessoas de outras classes,que ,como eu,tinham uma esperança muito grande no futuro.

Para mim,in illo tempore,não participar era ficar do lado da ditadura e reitero hoje.Psicologicamente,virar às costas ao parlamento e à democracia caracterizam uma pessoa vocacionada para a ditadura.Isto eu mantenho.


sábado, 22 de janeiro de 2022

Meu temor para o final do ano

 

Desta vez eu vou entrar num delirio total,apenas para expressar um temor que eu tenho para a eleição deste ano:como existe armação em todo o lugar e foi o que houve no caso do processo de Lula,um fato me chamou a atenção neste periodo prévio.Moro disse que Lula deveria estar preso.

Até que me provem o contrário todas estas idas e vindas dos politicos,outrora ligados,não são senão manobras diversivas e ocultativas ,programadas.Doria contra Bolsonaro,Moro contra Bolsonaro e vice-versa.

Quando Moro disse que Lula devia estar preso,me correu um friozinho na espinha porque vai que esta direita prenda legalmente Lula e consiga dar o golpe?

Porque ninguém se iluda:o golpe foi deflagrado no final do ano passado,mas vai ser retomado na época da eleição e uma das condições para que Bolsonaro tenha uma chance é que Lula,que está à frente dele,não possa mais participar do pleito.

De repente esta preocupação se instalou na minha cachola e apesar dos esforços para tornar isto uma bobagenzinha,o meu tempo de vida indica que as possibilidades disto acontecer são grandes.

Do jeito que as coisas estão bolsonaro vai sair,mas a direita em volta dele,vai continuar pelos próximos anos.Como eu disse,após muitos anos,pela primeira vez ,nós “ temos” uma direita no sentido próprio desta expressão e ainda que nos livremos imediatamente deste descalabro,as chances dela voltar podem crescer nos próximos anos.

Aqui no Brasil e nos Estados Unidos é este o quadro que se apresenta:a direita agitativa consegue perturbar o processo democrático e até ameaçá-lo de extinção.

A tendência nos EUA,com a vitória de Biden,é que o sistema indireto eleitoral fosse progressivamente substituido pela eleição direta,mas os republicanos,já agora dominados pela direita(um fato grave)se movem com sucesso para impedir que amplos setores ,menos favorecidos,tenham direito a voto.

A tentativa de golpe serviu então para revirar o cotidiano da democracia americana.Ela ainda não acabou,mas poder-se-ia dizer,segue em processo.

Aqui em nosso país drama semelhante se desenrola,me fazendo crer num golpe em processo,que seria uma nova modalidade de golpe para a ciência politica analisar.E o povo temer.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Marighella V

 

o que ficou da luta armada

O que fica destes atos tresloucados é a honestidade dos propósitos da maioria dos radicais que se jogaram na luta armada ,sabendo ou não das consequencias.

Eu não sou daqueles que acham isto tudo suicídio revolucionário,inconsequente.John Lee Anderson em seu alentado livro biográfico sobre Che Guevara,bem no final,tratando da viagem que ele fez conta que ele teria dito ao Presidente Nasser que iria à Bolivia porque não conseguia viver mais uma vida normal e tinha “ prejudicado duas familias”.

Muitas pessoas acusam Marighella de ser um aventureiro,mas não é isso não.Como eu disse em outro artigo todo revolucionário é meio mosaico,ou seja,como Moisés:não vê a terra prometida.E tem que ter esta consciência.Não é fácil ser um revolucionário,que pretende construir uma utopia final para ,simplesmente,toda a humanidade.Se de um lado é claro que todo revolucionário pensa pelo menos saber do ônus de sê-lo,por outro tem um desejo inenarrável de não presenciar mais as injustiças do mundo em que vive.Mas não tem jeito não.

Reconhecer a finitude no tempo e no espaço é uma condição do eventual sucesso trans-histórico da utopia.Então o que fica são os atos praticados e os valores e conceitos ,válidos para o futuro.O revolucionario é como um estadista que vê no imediato o mediato.

Neste sentido Getúlio,Cromwell,Lênin são revolucionparios,mas nem sempre seus atos ,valores e conceitos atingem as finalidades objetivadas.Muito pelo contrário ,como no caso da luta armada no Brasil,que,afinal,forneceu o pretexto para o endurecimento do regime,a sua prolongação.

A visão ,contudo ,da terra prometida ,em que não haverá mais miséria ou sofrimento,que animava a todos é algo a reter como parte do futuro.

Marighella me passa a impressão de um descontrole,algo inconcebível num lider.Se de um lado esta emocionalidade e desprendimento temerário provam a sua conexão com o movimento,de outro compromete a frieza necessária a quem vai se jogar num empreendimento desta natureza.