Todas as análises que eu tenho feito aqui são confirmadas pelos colunistas da Folha de São Paulo.Me contratem aí!Bom,espera-se a ida de Bolsonnaro à Rùssia para discutir questões politicas e econômicas,mas no fundo a nova reordenação geopolitica do mundo está se fazendo,com o Brasil entrando perigosamente(e desnecessariamente)nos problemas do primeiro mundo.
Eu já tinha feito criticas ao governo Lula-Dilma por se alinhar demais ao Irã,correndo o risco de entrar na guerra-fria,sem ter porquê.Mas agora o outro extremo envereda pelo mesmo erro.Os extremos se interessam por eles mesmos e pelo seu adversário,mas não pelo Brasil.Aliás Claudio Manoel,aquele mesmo da Casseta e Planeta(massaranduba e seu creison),num videozinho aí no youtube,em que ele fala sobre o seu documentário extraordinário a respeito de Wilson Simonal,afirma que o extremista respeita mais o seu inimigo direto,do que o seu seguidor.Uma verdade que eu tive que aprender a duras penas durante a minha vida...O extremista ataca o seu adversário e ridiculariza o seu seguidor exatamente por isto,por ele ser apenas um sequaz.
Mas seguindo na nossa análise ainda tem gente aí que diz que não existe guerra-fria...Estes problemas em torno de uma esperada invasão da Ucrânia só se explicam dentro de uma geopolitica típica da guerra-fria.
A justificativa real de Putin é de que a Otan está cercando progressivamente a Rússia.Não morro de amores por Putin,mas ele tem razão.
A diplomacia de Putin podia ser diferente nestes anos todos,mais plural,estabelecendo relações com outros países,mas a verdade é que se acabou a guerra-fria,como disse o Bush-pai,não haveria nenhuma razão para se manter a Otan,já que o Pacto de Varsóvia não existe mais.
Já me referi a problemas colaterais desta insistência contraditória dos Estados Unidos em declarar o fim da guerra-fria e manter certos elementos dela em sua politica.
Aqui no Brasil Hèlio Luz ,ligado ao PT,fez uma vez uma declaração muito justa:porque os Estados Unidos se colocam contra o controle de armas se não há mais uma corrida armamentista,como na época da polarização com a URSS?
Nós todos sabemos a resposta:os governos dos Estados Unidos precisam do apoio dos cartéis da guerra,não só economicamente,mas também politicamente.
Contudo diante desta pressão,Putin,que é um filho da guerra-fria,só subindo ao poder por suas vinculações com ela,não consegue fazer uma diplomacia pós-guerra-fria,plural e democrática,porque assim ele se prejudica,tirando as suas bases.
Putin e a Rússia estão numa contradição,própria do seu sistema de governo autoritário,que só sobrevive com mais autoritarismo.Com qualquer abertura o desgaste de Putin é inevitável e ,à propósito,este desgaste já começou e prossegue agora.
A duplicação da pena de um dissidente há duas semanas atrás,o qual busca reparação para os crimes de Stalin,prova que a pressão da sociedade continua e o intento de dominar a Ucrânia e fazer uma “ grande Rússia”(como Stalin fez no tempo da coletivização)compõe este quadro de esforço do governo de se manter.
Putin não é comunista,como muito analista de araque aí em rádio proclama ,mas o governo dele só se sustenta com as mesmas técnicas ,finalidades e direções do passado.E eu já disse:o socialismo real nunca foi comunismo,mas socialismo nacional,totalitário.
Estes fatos mostram o desgaste cada vez maior de Putin,cujo reinado,por causa disto,pode estar no fim.Mas este fim não deve ser violento.Por isto não aceito a pressão da Otan.A atitude do Ocidente só reforça os perigos de uma guerra nesta região.
Se os Estados Unidos e os demais países tivessem assumido de vez o fim da polarização do passado,teria sido muito mais fácil tirar Putin do governo ou mesmo evitar que ele chegasse lá.
Para apressar o processo de dissolução da URSS os Estados Unidos empurraram um ferrabrás como Yeltsin,um oportunista e sub-produto fisiológico do regime e jogaram fora um Gorbachev,um gradualista,que ainda tinha chance de fazer uma transição não traumática no país.
A consequencia foram dez anos horriveis para a Rússia,os anos 90,em que milhões de pessoas caíram na miséria,na prostituição,no crime.Uma Rússia que Putin reprime.
Conforme eu já expliquei,desde o Bush filho um resto de guerra-fria do lado esquerdo sobrou:o “ eixinho do mal”,segundo as palavras dele,Irã,Venezuela e Cuba.Bush pai colocara a Libia de Kadhafi,mas o filho já não se preocupava tanto...
Diante desta pressão foi inevitável para Putin buscar fora do circulo de ferro da Otan,alianças.Aqui na América Latina a presença atual da Rússia é melhor para ela,por fazer alianças com a Venezuela e o Brasil e não com a Siria ou o Irã.Porque estes dois últimos são lugares explosivos.Mas aqui as chances de ela aparecer com um poder progressista são grandes.Basta lembrar que a Rússia mandou e manda mantimentos para a Venezuela.
Com a defecção da Bolivia,o Brasil pode entrar neste eixo latino-americano e se tornar parte do “ mal”,do mesmo jeito que no tempo de Lula,que governava também para Cuba.
Embora a Bolivia nunca tivesse sido parte deste eixo,ela não era bem quista e o Brasil pode entrar neste vácuo.
Mas o fato é que se Putin não obtiver nada aqui seu isolamento se aprofundará e as consequencias serão mais graves em termos de violência.
Na primeira tentativa de tomar a Ucrânia,uma das coisas que o impediram foi a divisão interna do país,que tem uma população russa e outra genuinamente ucraniana.Os russos da Ucrânia quiseram se separar e se anexar ao projeto de Putin mas se isto se desse ,em outros leugares da Europa haveria uma avalanche de reinvindicações separatistas.
Agora ,depois de anos ,o problema parece ter sido superado,mas não há como negar que a divisão pode ocorrer com reflexos no continente.
O pior para o Brasil é se tornar parte do eixo do mal.