quinta-feira, 13 de abril de 2023

Algumas consideraçoes de ordem pessoal


Todo mundo sabe dos meus critérios profissionais aqui nos meus blogs:nunca falei em termos pessoais ou intimos,mas agora eu terei que me desviar um pouco,devido a alguns ataques pessoais que recebo aí pelas redes.

O que eu estou realizando aqui é pela primeira vez uma pessoa de esquerda se dispõe a exigir reparação dos crimes da esquerda.

Quem me acompanha desde o inicio sabe que venho preparando este momento.Mas não esperava que a reação fosse tão baixa.Melhor:eu esperava sim,mas não tanta.

O que estes meus ofensores querem é me esvaziar.Sabendo que estão errados e eu certo,querem tomar de mim esta iniciativa e carreá-la para eles,no intuito cinico de preservar a sua visão ultrapassada.Dar os anéis para ficar com os dedos.

Na minha opinião isto não é mais possivel.Se quisermos ,como preconizou Luckacs um mês antes de morrer,retomar o socialismo e o comunismo,teremos que fazer esta cisão definitiva nas nossas fileiras,exigindo que tais cinicos não apareçam mais.

Outros têm enveredado por este caminho:o historiador Marco Antonio Villa capitaneia,mais ou menos,esta atividade(sem pretender reavivar).E em outras épocas e lugares pessoas como Semprun,Konder,já o haviam iniciado.

A impressão ,no entanto,é que eu disponho de condições melhores para fazer este trabalho,até porque possuo mais elementos de pesquisa e de análise,preparadas por outros.

E também por razões intimas eu vejo o socialismo e seus descaminhos dentro de uma perspectiva intima veraz ,capaz de dar mais legitimidade ao que eu penso.

Numa entrevista,há muitos anos atrás,Ives Montand fez algumas considerações pessoais sobre a relação com o pai dele,comunista e stalinista francês.

Às vezes vejo fotos da filha de Stalin,Svetlana,que morreu nos EUA recentemente,sendo carregada no colo pelo ditador e penso em Yves Montand,mas em mim mesmo também,pois sou filho de pai stalinista.

Goethe escreveu um famoso livro “As Afinidades Eletivas”,em que ele propõe a idéia de que existem circulos herméticos no mundo:pessoas com a mesma personalidade ou que tendem umas para as outras,que quando se encontram se encaixam perfeitamente.Os espiritas explicam de outro modo.

Estes circulos herméticos são naturalmente “ impostos” à pessoa mas ela tem a liberdade de se encaixar ou não.

Os filhos de stalinistas constituem um circulo hermético,obrigatório.Eu conheço três pessoas,que já foram citadas aqui e conheço outra que não vou citar porque não me autorizaram.E suponho que há outras pelo mundo com diversas experiências semelhantes.

Não chega a ser isto uma imposição,mas deriva do fato de o nascimento não ser um convite propriamente.

João Ubaldo em um de seus capitulos de “Viva o Povo Brasileiro”,se refere ao “ puleiro das almas”,em que que as ditas cujas ficam sentadas em puleiros,como passarinhos,aguardando o chamado.Elas parecem estar com expectativas e se frustram eventualmente.Não sei se isto é parte da mitologia da África e se estas almas se esquecem de tudo no momento do nascimento,não sei.Novamente os espiritas explicam que elas esquecem não é?Não sei.

Filhos de stalinistas deviam fazer o mesmo que os filhos de nazistas :fundar uma associação para discutir periodicamente o problema.Sim porque é um problema ser filho de stalinista.

Dependendo da experiência de cada um,o estrago é maior ou menor.No meu caso,eu não tive pai,tive camarada de partido e quando eu precisei dele como pai,ele era só,como tinha sido sempre e como foi sempre,stalinista.A casa e familia para ele eram extensões menores do partido,concepção totalitária e concentracionária.

O mesmo João Ubaldo Ribeiro ,no romance supra-citado,em outro capitulo ,intitulado sugestivamente de “Stalin José”,narra o fim de um satlinista( o do titulo),apegado a uma garrafa de cachaça.

O sentido é claro da metáfora:stalinista morre,sozinho,com o stalin e não admite os seus erros e...os seus crimes.

Muita gente vai me acusar de falar de coisas que não devia porque meu pai morreu há muitos anos e não tem como se defender,mas esta crítica deve ser feita também a quem me ataca,porque eles estão usando estes conhecimentos ,que eu passei para eles em confiança,para me esvaziar,dizendo que eu escrevo estes textos críticos ao socialismo real,que eu defendi na juventude por questões pessoais,por ser filho de stalinista.

Segundo eles, outros filhos de stalinistas têm uma vida boa e correta.É o caso do filho de Marigella e mesmo Anita Leocádia.A culpa seria minha ( e em parte é)e que estou escondendo os meus erros e fraquezas.

Mas se observarmos a trajetória destas pessoas supra imediatamente citadas,os pais souberam separar a sua atividade politica do mundo das crianças ,dos seus filhos.

Se o filme sobre Lamarca está certo,este último sempre procurava enviar presentes para seus filhos,inclusive jogo de botão.Marighella deu de presente ao seu filho e edição clássica de Gustave Doré de Dom Quixote.

Contudo outros filhos não tiveram sorte idêntica:Yves Montand saiu brigado com o pai;eu praticamente não falava mais com meu pai e outras narrativas mostram que os filhos acabaram por pagar um preço terrivel em seguir os seus pais,confiando neles como pais e não como militantes.

Num famoso documentário da TV Senado “Crianças no olho do Furacão”,os problemas desta intersecção perversa entre totalitarismo e familia são expostos,com crianças que tiveram graves problemas e até se suicidaram.Ainda se consegue ver esse documentário lá.

Eu não sei as razões de cada caso e de cada familia e nunca vou vou ver,mas existem muitos fatos e há um padrão sim,que justifica uma discussão em público e num documentário,deste problema.

O segredo é quando o pai sabe separar estas duas esferas,familiar e politica,mas a maioria não sabe e ..não quer e .. tem raiva de quem quer.

Assim sendo esta minha exposição é válida e ética porque eu preciso me defender.Levei anos para montar esta base ética para este artigo pessoal e levaria mais se não fosse a necessidade de me defender,repito.

É como se não se pudesse julgar um crime porque a vida pessoal dos envolvidos seria exposta.

Embora neste meu caso não haja crime(em termos porque houve sim[não irei tratar disto])o uso pelos adversários,outrora meus camaradas,destes fatos, me autoriza a com parcimônia e critério usá-los também.

Se em muitos casos houve até suicidios,no meu caso especifico houve uma doença ,que atingiu um familiar meu e eu acusei a ideologia,como acuso hoje ainda mais,de tê-la propiciado.

O ambiente concentrário e não familiar gerou paranóia e quando acusei a ideologia diante dos meus antigos camaradas,usando Foucault,eles passaram a me responder sub-repticiamente ,alegando que eu estava e estou louco,paranóico.

Estas acusações recendem dos textos que me são enviados ,sem me citar.

Estes antigos camaradas encontraram uma forma de não revelar o preconceito de classes e de pessoa(e até racial)que eles também têm em relação a mim,porque eles justificam a sua covardia e a desonestidade de não me reconhecer,com estes fatos.

O Ernesto é só mais um maluco.Que é o que eles diziam aos antigos dissidentes e dizem ainda.

A questão não é esta:o fenômeno da Loucura pode ser neurológico ou mais frequentemente psico-social.

Se a pessoa ,no âmbito da dialética hegeliana e marxista se “ adequa” ,pela dialética ,ao real ,a tendência é enlouquecer,porque ninguém,como Kant mostra,pode abarcar o real.

Hegel previu este problema ,mas ficou preso a ele:o “ fora-de-si” é o momento da dialética em que o homem,o sujeito cognoscente,tem que que se ater ao real ,objetivo/vado,mas ele deve continuar o movimento dialético,porque ele não tem como,obviamente ,parar nesta observação,neste objeto,neste “ fora-de-si”,senão ele enlouquece.Ocorre que em Hegel e Marx o movimento dialético superava este momento,mas ela permanece nele ,em outros objetos,objetificando o mundo e a subjetividade,o que é pior,o tempo todo,vez que a dialética contém totalmente em si o tempo,o que é absurdo.O objetivo se torna o modelo do subjetivo,algo absurdo.

Por isto,no meu modo de entender,existe um elemento de distorção psicótica no hegelianismo/marxismo.Por isso que os hospitais psiquiátricos foram tão frequentes no socialismo real e quando reclamava, todos os camaradas diziam que estes dissidentes eram loucos,porque não entendiam nada de como funcionava (dialeticamente) o real.Por isto o socialismo real é regressivo em termos históricos.

Os velhos camaradas que estão por trás destas agressões saibam que eu conheço tudo isto aí e vou desmascarar a tentativa de me esvaziar e de me considerar um mero papagaio do que outros já disseram.

Eles mesmos afirmam que já falaram isto e que eu só quero paarecer com estas denuncias.Mas provarei em outros artigos como tal é falacioso e como o que eles querem é ficar,como disse acima,no mesmo lugar.

Eu quero deixar isto para trás e ir adiante.


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