segunda-feira, 11 de julho de 2016

Glauber e a crise de hoje



Quando Glauber fez as suas afirmações  polêmicas  sobre Geisel todo mundo, e até justamente(até certo ponto)torceu o nariz.
Mas por trás delas havia algo de substantivo:se o Brasil se dividisse ele seria muito mais facilmente  dominável pelo imperialismo,que tanto o preocupava.
O Brasil ainda não é um país total e firmemente unificado e protegido de mãos estrangeiras ávidas,até porque  muitas das suas mazelas são “ obra do imperialismo e do colonialismo”.
Assim sendo Glauber associou a idéia da relação de classes ao problema da revolução e  da luta contra o imperialismo.
Foi um ato corajoso,mas científico(como todo ato cientifico e como todo ato cientifico=corajoso).
É preciso esclarecer de uma vez por todas estes radicais que estão por aí nas redes,que pensar na “ colaboração de classes”não  é traição ao marxismo.Ou por outra é uma traição à letra fria do pensamento de Marx,mas não em relação ao materialismo histórico que acompanha  o movimento da realidade e não ao pensamento do gênio,que não é mais importante  do que o movimento da vida(dialética).É a pergunta:quem é mais importante:a dialética ou Marx,a ciência ou Marx?
A mudança social se dá na luta e na relação das classes.às vezes uma prevalece ,outras as duas interagem claramente,mas a  mudança social  não se dá apenas pela crise,pelo confronto mas também ,pela colaboração e ,no seio das nações,certas divisões históricas entre as classes favorece àquilo que Glauber chamava de domínio imperialista.
Às vezes uma visão de unidade das classes contribui para o progresso.A luta de classes só não  é a única forma de progresso social e histórico.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Sean Penn é comunista? II



Não importa se a resposta  é sim ou não.O que importa é a situação narrada.Ninguém defende um traficante assassino,o que não é admissível é que só ele seja responsabilizado pelo problema.
El Chapo,como todo traficante,como todo fora-da-lei,é manipulado pela” boa sociedade”,que o financia e  e esconde quando ele é pego.Não existe crime sem a  conivência da “ boa sociedade” .Ela não resolve os problemas sociais e permite que as formas de crime surjam como compensação e continuidade do regime social de exclusão e exploração.
O “ charme” do bandido cria ,na mídia,as condições para sua reprodução(do charme)econômica ,em filmes ambíguos,em que o bem e o mal são baralhados e confundidos,no “ tudo junto e misturado inconsciente”,que dilui a culpa e torna tudo uma novela,provavelmente com o final feliz,isto é, o único culpado na cadeia e os bons vivendo felizes para sempre.
No inicio do século passado,para lembrar a profissão de Sean Penn,Erwin Piscator criou o Teatro Político ,que visava colocar o homem comum dentro da trama artística de modo a comprometê-lo com a solução de problemas que ,afinal,o atingiam cotidianamente.
Era o rompimento com o distanciamento típico de Aristóteles,em seu princípio da “catarse”.O espectador via uma tragédia,se compadecia e saia do teatro renovado pelo aprendizado moral do que não se devia fazer na vida social.
Embora nem em Piscator ,nem em Aristóteles houvesse uma ambigüidade moral(ainda que os critérios de cada um sejam discutíveis),no primeiro a questão moral torna-se um para-si em relação ao sujeito que associa a sua problemática com a ação resolutiva dos grandes dramas humanos.Neste processo,neste caminho,as mudanças morais e  éticas são admissíveis.Mas não se fala em “ falta de critério” e sim em construção.
Bertolt Brecht transformou o teatro político em dialético estabelecendo não só o diálogo do personagem com o público(e vice-versa)mas também entre as classes.
O problema da exploração não pode,se quisermos apontar uma solução,ser abordado dentro da visão vitimista,típica da “ Cabana do Pai Tomás”,que visa escandalizar o público para vender o texto.Ele tem que demonstrar  a sua complexidade,como se dá o processo,na relação entre o explorador e o explorado,entre o dominador e o dominado.A “ Cabana” chama  atenção,cria o fato,mas não dá continuidade.
Esta é a perspectiva quanto ao que aconteceu  no episódio de EL Chapo e que é comum a outros:é uma visão intencionalmente simplista de ocultação diabolizar só o bandido,mas a resposta para a solução do problema está nas mulheres glamurosas,na reprodução  capitalista,antiartística dos blocbusters,no consumo da classe média,que financia o seu vazio e mantém o regime social de exclusão no lugar dele.
Não sei se esta foi a intenção de Sean Penn,mas eu preconizo que ele o faça.Eu aqui já comecei.Por tudo isto é que eu não aceito que um dos critérios para ser de esquerda,hoje,no Brasil(e no mundo)e dar o tapinha,pois isto reproduz o capitalismo mais predatório  e  as esquerdas não são mais do que aquilo que chamou Trotski de  “ reação termidoriana”.

terça-feira, 28 de junho de 2016

O Brexit ou Delenda Germania V



Todo mundo (?)sabe que a política da Inglaterra sempre foi a de manter o continente europeu dividido para que não fosse ameaçada.Esta situação mudou a partir da Primeira Guerra Mundial,que só teve este nome pela entrada dos Estados Unidos.A intervenção deste país assegurou,apesar do amuo dos europeus, uma condição de  término do conflito,sem que a Inglaterra tivesse algo a ver.
Ficou claro então que a relação da Europa com algo fora dela não era mais com a Inglaterra,mas com os Estados Unidos.E a velha Albion passava a ser ,de fato,dependente de seu “filho”.
Na segunda guerra esta situação só se aprofundou.A Inglaterra ou o “Reino Unido” é ,a longo prazo,uma província,anglo-saxônica,cuja metrópole é Washington.
Dentro deste contexto é que se tem que analisar a decisão de sair da comunidade européia.O nacionalismo falou mais alto.Em principio,se eu fosse inglês,eu seria contra,levando em conta o projeto de comunidade,como algo realmente progressista e humanitário,contudo examinando com mais cuidado e lembrando alguns artigos sobre a Alemanha que eu tenho postado aqui,fica claro que o projeto hegemônico nacional alemão em curso já colocou esta comunidade em xeque desde a “ questão grega”.
O normal,se o projeto de comunidade não estivesse já ameaçado,era que  o Reino Unido ficasse.Mesmo que ficasse o Reino Unido não se diluiria e se houvesse este perigo ele sairia em condições mais favoráveis,mais justificáveis.Na verdade para a ilha é melhor jogar com os dois ,Estados Unidos e Europa,aproveitando o bom dos dois,o favorável dos dois.
Sabendo que a comunidade Européia já é questionada  em muitos países,talvez a população tenha tomado a decisão possível,para não ficar para trás.Não é que o Reino Unido tenha desencadeado a saída,mas ela já era inevitável.
Analistas vão dizer que isto é um risco e que a obrigação de saída imediata é para provar o não oportunismo da decisão,mas a demora,já colocada,indica um medo do país de ficar isolado,de não haver o dominó e  a nação passará uma imagem de indecisão.Indecisão e manipulabilidade,que anuncia talvez o vaticínio de ela se tornar ,em futuro breve,um estado associado aos Estados unidos,como Porto Rico e como a Sicilia quis uma vez.
A saída para o Reino Unido continuar um país individualizado é a cultura,Shakespeare e Chaplin.A cultura é que pode ser uma barreira para a diluição ou dependência e o chamado “ concerto das nações” voltou,o que é ruim para o mundo,porque os critérios de relacionamento entre as nações não será o da cooperação,mas o do exclusivismo nacional.


No meu entender esta dicotomia transecular Inglaterra /Alemanha,substituída  às vezes por Inglaterra/frança(muito em função da ascensão da Alemanha é que explica este não-parlamentarismo(no meu entender)muito semelhante entre estes dois países.A essência(a meu ver)do parlamentarismo é  troca de governo segundo a mudança atual da soberania popular e isto não acontece nestes dois países.A derrota de David Cameron não o obriga  a sair,porque “ razões de Estado” o mantêm.Na Alemanha não há sequer consulta permanente ou moção de censura permanente.Culpa da História das dissensões destes países.

domingo, 26 de junho de 2016

Sean Penn é comunista?



Vendo o documentário sobre a entrevista de Sean Penn com El Chapo tive mais informações sobre a origem deste astro de Hollywood,que eu sempre soube ser de esquerda,mas que agora me parece mais radical,mais à esquerda ainda,quiçá comunista.
O pai de Sean Penn foi Black Listed na época do macartismo,ou seja,muito provavelmente comunista ou com condições para ser considerado como tal.
A postura radical inicial da carreira de Sean Penn o tornava mais um rebelde sem causa ,na linha mercadológica de um James Dean ou Marlon Brando de “ The One” e  ele o foi até este episódio e digo porquê eu acho isto.
Primeiro é uma atitude radical demais estabelecer relações(amistosas[por suposição]) com um criminoso e como Sean Penn tem sido um ativista de causas humanitárias isto seria ou psicose ou surto ou uma contradição difícil de sustentar.
Vendo o documentário outra possibilidade de explicação aparece,que é a de que a tentativa de entrevista gorou pela intervenção legítima do governo mexicano,que usou ,talvez,uma certa imprudência do ator,para chegar até El Chapo,mas o fato é que ele queria(Sean Penn)fazer perguntas especificas e não conseguiu.
As perguntas é que são este caminho de explicação.Parece-me que Penn  quis demonstrar as ligações entre o tráfico e as altas sociedades dos Estados Unidos e de todos os lugares,revelando o segredo de polichinelo das elites hipócritas,que fazem o discurso moral nós e eles.Os bons são as pessoas bem sucedidas ,os maus são os que não são.Mas o crime deve o seu crescimento em parte à adesão chique destas elites.
Mais do que isto,para mim,este episódio mostra como a esquerda moderna pode abordar o problema de classes de uma forma diferente da simples constatação de luta de classes,mas mostrando as perversas relações entre elas,não fazendo esta vitimologia,humilhados e ofendidos,exploradores e explorados,a questão é mais complexa.